O Aspirante e a Solidão
A maioria das pessoas, pouco interesse sente de saber das Verdades ligadas a Realidade espiritual. Assim, em sua busca da Verdade, o aspirante deverá, às vezes, separar-se dos que praticam “vidas normais”, isto é, de acordo com os modismos de seu tempo, ou das congregações seguindo essa ou aquela interpretação religiosa e prosseguir o seu caminho rumo a Verdade, sozinho. O ser humano comum não está disposto ainda a esquecer-se de si mesmo, erguer voluntariamente a sua cruz e seguir a Cristo (Mt 16:20); não interessa, tão pouco, “entrar pela porta estreita” já que “é difícil o caminho que leva à Vida”. Assim, “são poucos que o acham” (Mt 7:13-14). Portanto, o aspirante deve estar preparado, se realmente quiser seguir a Cristo, trilhar o Caminho da Iniciação sem companhia, sozinho.
A Separação daquilo que é socialmente aceito, em nível de crença, ou de comportamento, trará problemas. Disse Max Heindel: “Meninos passam indiferentes, por uma árvore sem fruto, porém, se estiver carregada ricamente, jogarão pedras para despojá-la das frutas. Assim é também com os seres humanos: enquanto ocos, andando com a turba, não há problemas. Quando, porém, atitudes conscientes são tomadas, as mesmas serão sentidas como o caminho certo pela integridade interna das outras pessoas e o aspirante se torna, sem querer, censura viva, mesmo se os seus lábios não proferirem uma palavra de censura sequer. Para efeito de auto justificação, a sociedade costuma unir-se na cobrança das “excentricidades”, daquele que não reza pela sua cartilha. As lideranças, religiosas ou não, também se sentem ameaçadas em suas posições de poder por seres com foro íntimo independente, e pressões serão exercidas aos que não se encaixam devidamente com os seus ditames, que, afinal, podem, ou não representar a verdade. As críticas e as chacotas recebidas, após ousar a separação do que é tradicional, trarão sem dúvida, um ardente desejo de se afastar do mundo que não o compreende, a fim de ingressar no primeiro monastério que lhe permitisse continuar a sua vida espiritual em paz. Porém, adverte o Sr. Max Heindel, “o prêmio do vencedor é ganho quando se vence o mundo e não quando se foge dele”. “o meio ambiente em que fomos colocados pelos Anjos do Destino, foi de nossa própria escolha, quando no ponto de retorno a Terra, do Terceiro Céu, em estado de espírito puro, sem o empecilho da cegueira produzida pela matéria”.
Assim, o nosso ambiente contém lições preciosíssimas, e cometeríamos um grave engano evadir do mesmo por completo. Da mesma forma, a comunidade oferece oportunidades de serviço, que não poderão ser encontradas em monastérios ou em topos de montanha. É bom lembrar também que o serviço é um componente importante na Senda da Iniciação”.
Quando estamos à procura da Verdade através do caminho iniciático, encontramos também forças que nos se opõem, das quais também não devemos fugir. Como então, nos fortificar para essas batalhas com as quais devemos contar? Para resistir à crítica, devemos aprender a efetuar a nossa autocrítica, o julgamento de nós mesmos. Quando soubermos, sem sombra de dúvida que estamos certos, não deveremos permitir o ingresso, em nosso pensamento, do corrosivo da crítica alheia. Disse até Abraham Lincoln: “É difícil à tarefa de derrubar uma pessoa quando ela se sente digna e apoiada no parentesco com o Grande Deus que a criou”. Quanto a resistir às pressões daqueles que desejam nos tornar espelhos deles mesmos, nos armaremos com a Verdade e tentaremos diferenciar claramente, em nossas mentes, o certo do errado, nos capacitando, então, a uma explicação coerente dos motivos que impulsionam as nossas ações. São Paulo exortou os seguidores de Cristo assim: “Vistam toda a armadura de Deus… para que possam resistir no dia ruim, e tendo feito tudo fiquem de pé. Estais, pois, firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade e vestido a couraça da justiça e calçados os pés com o zelo do evangelho da paz (Ef 6:10-15). É também alentador saber seguramente que no meio da tribulação Deus está presente e se “Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rom 8:31).
Cristo-Jesus sabia que os Seus seguidores seriam perseguidos por causa da sua fé e assim mesmo os encorajou a permanecerem firmes porque também sabia que o ganho espiritual pesaria muito mais do que o sofrimento causado pelas tribulações na Terra. No Sermão da Montanha Cristo-Jesus disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”. Bem-aventurados sóis vós quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus, porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós” (Mt 5:10-11). São Paulo ainda disse: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (II Cor 4-17). Sustentando aquilo que achamos ser a Verdade e o Certo abaixo de todas as circunstâncias, desenvolvemos uma força interna que tornará possível a nossa ajuda no trabalho de erguer a humanidade das trevas espirituais e do sofrimento em que se encontra, já que no final o certo e a Verdade vencerão.
Quando caminhamos sozinhos, quando deixamos de colocar a nossa confiança em convenções, regulamentos ou indivíduos para nos mostrar o caminho certo, deveremos ser os nossos próprios guias e para isso, deveremos desenvolver a Luz interna. São Paulo conhecia as tentações que aparecem nesse ponto, porque escreveu: “Porque vós, irmãos, fostes chamados a liberdade, só não useis essa liberdade para dar ocasião a carne, mas servi-vos uns aos outros pelo Amor. Porque toda a Lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”…. “Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos” (GaI 5:13 e 6:10). Também Max Heindel advertiu: “o maior perigo que ameaça o aspirante nesse caminho é que fique preso na rede do egoísmo, e a sua única salvaguarda é o cultivo da fé, devoção e irradiação de amor sem restrições”.
O Cristo disse aos Seus discípulos quando os enviou ao serviço: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos; portanto sedes prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas” (Mt 10:16). Em nosso andar nos passos de Cristo-Jesus e para sustentar o que é Verdadeiro e Justo, poderemos ganhar forças através desse pensamento-chave: “Se és Cristo, ajuda-te a ti mesmo”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/84 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Qual o Exercício que se segue após o Exercício Esotérico da Concentração?
Pergunta: Sabemos que o primeiro exercício a ser praticado tendo como finalidade a organização dos veículos internos é a Concentração. Qual o exercício que se segue após a Concentração?
Resposta: Praticando o exercício de Concentração o Aspirante à vida superior habituar-se-á a focalizar a Mente em um determinado objeto, construindo uma forma de pensamento vivente por meio de faculdade de imaginação. Aprenderá tudo a respeito do Objeto enfocado, por meio da Meditação.
Pergunta: Qual o objeto mais indicado para a prática da Meditação?
Resposta: Suponhamos que o Aspirante à vida superior tenha por intermédio da Concentração fixado sua Mente na figura de Cristo. Torna-se fácil a Meditação, relembrando os incidentes de Sua vida, Seus sofrimentos, Sua ressurreição etc., porém, a Meditação levará o Aspirante à vida superior a alcançar conhecimentos jamais imaginados, inundando sua alma, com inefável luz. Mesmo algo que não desperte muito interesse ou suscite quadros maravilhosos poderá ser objeto de Meditação. Pode-se escolher, por exemplo, uma mesa comum.
Pergunta: O que poderá alguém imaginar a respeito de uma mesa?
Resposta: Inicialmente devemos formar uma imagem clara de uma mesa. Depois pensemos na espécie de madeira de que é feita e de onde veio. Volvamos até ao tempo em que, como pequena e delicada semente, caiu na terra do bosque, desenvolvendo depois a árvore de cuja madeira a mesa foi construída. Observe-se a arvorezinha, ano após ano, coberta pelas neves do inverno ou acalentada pelo Sol estival, crescendo continuamente, enquanto as raízes constantemente penetram na terra. No princípio era um tenro broto. Depois tornou-se um arbusto, crescendo gradativamente, dirigindo sua copa ao ar e aos raios do Sol. Com o passar dos anos a fronde e o tronco tornam-se cada vez maiores. Por fim chega o lenhador e a derruba com seu machado.
Pergunta: Quais os detalhes a serem evidenciados e desenvolvidos?
Resposta: A nossa árvore encontra-se tombada e despojada de sua ramagem. Tendo sido descarregada de um caminho, foi arrastada até a margem do rio, a fim de aguardar a primavera e o consequente degelo das correntes fluviais. Então nossa árvore, juntamente com outras que se encontram à margem do rio, será transformada em uma grande balsa e a correnteza levá-la-á ao seu destino.
Pergunta: Como reconheceremos a nossa árvore?
Resposta: Conhecedores de todas as suas pequenas particularidades, reconhecê-la-emos imediatamente entre milhares de outras. Temos a observado tão clara e minuciosamente, seguimos o curso da balsa pela corrente, observamos as paisagens e familiarizamo-nos com os homens que cuidam da balsa ou jangada e dormem dentro de pequenas cabanas construída sobre a carga flutuante.
Finalmente chegamos à serraria. Uma a uma as toras são retiradas da água, e encaminhadas à grandes serras circulares.
Pergunta: Devemos apenas observar em tais circunstâncias ou também “ouvir”?
Resposta: Sim, devemos “ouvir” também o chiar da serra sobre a madeira. A imagem deve ser vivente em todos os seus detalhes.
Pergunta: Os detalhes alusivos à fabricação devem ser considerados?
Resposta: Exatamente. Observemos os dentes penetrando na madeira, dividindo-a em tábuas e pranchas. As melhores são enviadas a uma fábrica de móveis onde são cortadas e aplainadas. Pedaços de diversos tamanhos são colados para formar os tabuleiros das mesas, sendo as pernas feitas com os restos mais finos. Todo o móvel é lixado, envernizado e polido. Assim acabada em todos os seus pormenores, a mesa é enviada à loja para ser vendida.
Dessa maneira, por meio da Meditação familiarizamo-nos com os vários ramos da indústria que convertem uma árvore do bosque em uma peça de mobiliário.
Observamos todas as máquinas, os homens e as peculiaridades dos diferentes lugares visitados. Vimos também o processo da vida que fez surgir a árvore da delicada semente, e aprendemos que atrás de toda aparência, por simples que seja, há sempre uma história do mais alto interesse.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/68 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Preparação para o Casamento
Os Essênios, que viviam em suas próprias comunidades privadas no Egito e na Terra Santa, deram ensinamentos superiores como parte do seu trabalho no Templo. Antes de entrarem no casamento, homens e mulheres, igualmente, seguiam certas práticas de purificação e por um ano todos comiam comidas especiais prescritas pelos mais velhos. Outras prescrições eram dadas para as mulheres no estado de gravidez. A abençoada Maria, mãe de Jesus de Nazareth e Elizabeth, a mãe de João Batista, eram duas mulheres que receberam essa educação e elas deram à luz as mais maravilhosas e desenvolvidas crianças que o mundo conheceu. Elas não tinham dúvidas quanto à escolha de se tornarem os instrumentos para as vidas de dois seres que desempenharam um papel tão importante na história do mundo, por causa da pureza de pensamentos e treinamento espiritual delas.
O espiritual é a compreensão do amor onipotente e onipresente, que está dentro de cada Espírito vivente. Quanto mais a mãe envolver o Ego que está para vir com amor, mais a criança será capaz de vibrar em uníssono com o mais Alto.
Assim, através da mãe, os mais elevados tipos da humanidade podem ser incorporados e ela deve estar absolutamente consciente disso. Honestidade e bondade devem começar em casa, onde toda a verdadeira reforma começa. Deve começar com a própria pessoa, nesse caso a mãe, e seu desejo deve ser o de trazer para o mundo físico O mais elevado ser humano.
Os pais não estão isentos de responsabilidade. A condição mental da mãe depende muito do tratamento que seu marido der a ela durante o período de gestação. É dever do ser humano, nessa fase especial, provir a mulher de todas as necessidades e conforto da vida que estão ao seu alcance e demonstrar-lhe a maior ternura e carinho. Ele deve procurar desenvolver suas mais nobres qualidades da Mente e do coração, pois a impressão que ele marca na mãe durante esse período será, em última análise, o que ele imprimirá sobre a criança, através da mãe.
A vida e a obra de Maria, José e Jesus são proféticas da Nova Era, quando todo Ego será bem nascido, concebido em Amor pelos pais que são puros e castos. Somente então haverá uma raça de novos seres unidos em amizade e amorosa fraternidade que farão manifestar um mundo novo, onde habitarão a paz, a alegria, a saúde e a abundância. Será verdadeiramente mostrado no futuro “santidade perante o Senhor”.
Nós reconhecemos que somos de natureza Tríplice – física, mental e espiritual – e que essas 3 partes de nosso ser devem ser desenvolvidas juntas e equilibradas. Devemos considerar isto também quando pensamos nas influências pré-natais, devemos tentar equilibrar o desenvolvimento espiritual com o mental. Quando pensamos sobre tais manifestações da vida, como nós as vemos no fenômeno do nascimento de uma criança e nas influências pré-natais, devemos considerar isto ao lado dos fatores físicos e materiais que a ciência descobriu por meio de longos e pacientes estudos. Há também verdades espirituais e mentais que têm igual importância e que devem ser consideradas. Se cada um pudesse saber sob que condições pré-natais ele nasceria, estaria mais habilitado a explicar muitas coisas a seu próprio respeito.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 06/85 – Fraternidade Rosacruz –SP)
O Ciclo: o fim não existe, somente um contínuo eterno, uma existência eterna
Deus emite o Som! Harmonia total que atrai do absoluto todos os componentes pertencentes a Ele. Os diferentes sons agrupam-se em formas diferentes. Não existe matéria morta, todos são carregados com a vida do Absoluto.
O Som mantém sua vibração ritmada e sua duração é o tempo da vida do Universo.
O Som potente desperta a vida no ser inconsciente. Responde, mas a sua consciência não é plena, sua resposta não é o som absoluto. Desafina. Assim a vibração muda e diferencia. As formas já não são perfeitas, a dissonância cria defeitos e na luz absoluta aparecem as sombras. Criam oposições. Positivo-negativo, luz e sombras, bem e o mal, harmonia-dissonância. A luta começa. Respira-expira, recolhe o erro e devolve restaurado.
A harmonia ressoa e a criação com mais consciência tenta vibrar em uníssono, mas seu tom é lento e pesado. Submerge pelo peso e cria novas camadas na sua involução. Cria dor e sofrimento, erros, doenças que aguilhoam para despertar e descobrir sua origem divina.
Uns aumentam sua vibração atinando o som. A luz deles aumenta. Não está tudo feito nem aprendido, mas o ciclo termina. O som extingue, o arquétipo tem seu colapso. O Absoluto absorve o bem, o mal, as lutas, os fracassos e os êxitos. Para preparar o próximo dia da criação, uma nova luta, uma nova oportunidade.
O fim não existe, somente um contínuo eterno, uma existência eterna. A consciência humana não atinge a razão da criação. Ainda não. Agora somente podem existir confiança e fé na Vida Eterna, onde nós vivemos, movemos e temos o nosso ser.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 11/84 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Correto Uso do Conceito Poder
A riqueza, o amor, o poder e a fama são quatro fatores determinantes de toda ação humana. Em si mesmos não são bons nem maus. Apenas não podem ser considerados como fins, mas como meios.
Infelizmente essa ordem foi subvertida: a humanidade luta para adquirir fortuna, poder, prestígio e apreciação como se fossem a razão de ser da própria vida ou a sua finalidade. Poucos, pouquíssimos mesmo utilizam esses talentos para espargir bem-estar, oportunidades.
Tomemos como exemplo a ideia de poder. No “Conceito Rosacruz do Cosmo”, Max Heindel afirma tratar-se de uma força cujo uso legítimo deve dirigir-se à elevação da humanidade. Quantas vezes encontramo-nos em situações em que o poder está em nossas mãos? De que maneira o usamos? Essa pergunta devemos nos fazer com frequência. Independentemente de nossa formação cultural ou de nossa posição socioeconômica sempre temos algum poder em nossas mãos, sempre exercemos autoridade sobre alguém, sobre nossos filhos, colegas, empregados e até animais.
Estamos empenhados em elevar os que se encontram em situação inferior ou, pelo contrário, procuramos usá-los com o objetivo de mantê-los escravizados aos nossos desejos pessoais? No ambiente de trabalho, aceitamos sugestões dos nossos subordinados ou negamos-lhes qualquer oportunidade de expressarem sua criatividade? É comum pessoas em posição de mando fazerem uso de ideias ou até apropriarem-se de criações de seus subalternos como se fossem de sua autoria. O pior é que nem sequer lhes reconhecem o mérito.
Não entendemos o poder se não como uma forma de distribuir justiça e oportunidades de crescimento a todos os seres humanos. A simples leitura de um jornal de grande empresa nos dá a ideia de como o poder é exercido no mundo. Nem sequer precisamos aprofundarmo-nos no texto. As manchetes, as chamadas sugerem como o poder é exercido de forma pessoal, egoísta e cruel. A afirmação, muito comum em nossos dias, principalmente na esfera política, de que o “poder corrompe” é absolutamente incorreta. Os seres humanos é que são corruptos antes de se guindarem ao poder. Apenas fazem mal uso dele. O poder em si mesmo não tem força para corromper ou redimir ninguém.
O aspirante à vida superior não pode deixar de meditar sobre esse assunto, pois alguma autoridade ele deve estar exercendo. Na pior das hipóteses ele a exerce em sua casa, sobre seus filhos. Se não agir com amor e equanimidade, causará infindáveis sofrimentos. Muitos adultos desajustados e infelizes foram crianças reprimidas, maltratadas e humilhadas. Sua criatividade inibida por uma educação ortodoxa e conservadora; sua liberdade violentada; seu direito de expressão amplamente negado. O resultado não poderia ser outro: um indivíduo amargurado, revoltado, tímido, preconceituoso, cuja tendência é descarregar todos esses sentimentos negativos em cima do cônjuge e dos filhos. Desse encadeamento formam-se legiões de infelizes.
Se isso ocorre no âmbito familiar, imagine-se nas consequências de um poder equivocadamente exercido em nível de governo. O desastre assume proporções aterradoras, infelicitando todo um povo.
Surge, então, um ponto interessante para meditação: quem não é justo e magnânimo nas pequenas coisas poderá sê-lo nas grandes? Vê-se, pois, como o uso distorcido do poder nos pequenos episódios do cotidiano já faz antever as futuras desgraças. O correto exercício do poder, portanto, deve principiar no seio da família. Ali se forja o mundo do futuro.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/85 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Pergunta: Uma alma que nasceu como mulher permanece sempre mulher nas vidas futuras e nunca pode se tornar homem? Qual o período entre os renascimentos?
Resposta: Não, o espírito é bissexual e costuma expressar-se em suas vidas futuras alternadamente, uma vez como homem e outra como mulher. Há, no entanto, casos em que, de acordo com a Lei de Consequência, é preferível que um espírito se manifeste em várias vidas sucessivas com um sexo determinado.
A lei é a seguinte:
Como o Sol se move em sentido retrógrado entre as doze constelações com um movimento chamado precessão dos equinócios, o clima da Terra, a flora e a fauna vão sofrendo uma mudança lenta, criando assim um meio ambiente diferente para a raça humana e cada era sucessiva. O Sol leva cerca de dois mil anos para passar por um dos signos pela precessão e, nesse período, o espírito nasce geralmente duas vezes, um como homem e outro como mulher. As mudanças que ocorrem nos mil anos decorridos entre os renascimentos não são tão grandes que o espírito não possa extrair as experiências daquele ambiente, tanto como homem ou como mulher.
No entanto, há casos em que este período pode ser mudado. Nenhuma destas leis é tão inflexível como as leis dos Medas e dos Persas, pois elas são administradas por Grandes Inteligências em benefício da humanidade, de modo que as condições possam ser modificadas para atender às exigências dos casos individuais. Por exemplo, no caso de um músico. Ele precisa encontrar o material com o qual construirá o seu corpo, em um lugar específico.
Necessita de uma ajuda especial para formar os três canais semicirculares do seu ouvido, de modo que eles apontem, tão próximos quanto possível, para as três direções do espaço. Precisa também de ajuda para construir as delicadas fibras de Corti, pois a sua habilidade em distinguir as variações de tons dependerá destas características.
Em tais casos, quando uma família de músicos está em condições de dar à luz a uma criança, esse espírito pode ser conduzido para lá, embora devesse permanecer no Mundo Celestial ainda por uns cem anos. Mas, talvez outra oportunidade para renascer não se apresentasse antes de duzentos ou trezentos anos, se a lei fosse observada. Naturalmente, tal pessoa terá ideias muito avançadas e não será apreciada pela geração com a qual irá conviver.
Será mal interpretada, mas, mesmo assim, será melhor do que se tivesse nascido após o período estabelecido.
Neste caso, estaria atrasada no tempo.
É por isso que, frequentemente, constatamos gênios desconsiderados pelos seus contemporâneos, embora altamente apreciados pelas gerações seguintes, as quais podem entendê-los melhor.
(Perg. 14 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
O Sentido Metafísico da Expressão Corporal
A dança, como arte, ainda não foi entendida nos seus aspectos mais profundos. Seu aprendizado conquistou grande popularidade nos dias atuais, devido principalmente a razões de ordem estética. Pela cabeça de ninguém passa a ideia de que essa arte maravilhosa tenha conotações metafísicas.
Na expressão corporal encontramos a primeira forma de comunicação do ser humano. E como as primeiras sociedades humanas eram teocráticas, encontramos a dança inserida nos rituais religiosos, como meio de comunicação com a divindade. Mediante o do movimento o ser primitivo exprimia seus sentimentos e aspirações.
Platão, na Grécia, vislumbrava na dança a possibilidade de se erigir uma nova ordem social. Mas, à sua visão, essa arte só poderia atingir seus elevados objetivos se considerasse o ser humano em todos os seus aspectos: físico, emocional, mental e espiritual.
Com o passar do tempo a expressão corporal perdeu o sentido místico. Por ser considerada uma política pagã e mundana, acabou sendo abolida da ritualística nos templos, até permanecer como simples arte ligada apenas à beleza plástica.
No final do século passado surge nos Estados Unidos a figura de Isadora Duncan1, revolucionando a dança na tentativa de dar-lhe um alcance social.
A natureza foi a principal fonte de inspiração de Isadora, tendo ela, por ter vivido muitos anos no litoral, atribuído ao ritmo das águas a sua primeira ideia de movimento.
Essa mulher extraordinária foi uma autodidata, procurando inspiração artística e filosófica em luminares como Platão, Shakespeare e o grande poeta americano Walt Whitman. Ela imaginava, tal como Platão, que o filósofo e o dirigente político ideal, pois sua ação enseja a formação de valores em cada indivíduo. E esse objetivo, pensava, só se atinge por meio de um sistema educacional integrado em que o ser humano fosse tratado também como um ser integral. Chegou até a adotar quarenta crianças para ministrar-lhes uma educação especial, onde se destacava o uso de vestimentas adequadas (túnicas leves e sandálias) e alimentação vegetariana.
Sobre Walt Whitman, um de seus inspiradores, ela assim se expressou: “Descobri a dança. Descobri a arte que estava perdida há dois mil anos. O senhor conseguiu criar um magnífico e artístico teatro. Entretanto, nele falta algo que fez a grandeza do antigo teatro grego. É a arte da dança – o trágico “chorus grego”. Sem isto, ele tem apenas o tronco e cabeça, faltando-lhe pernas para ir adiante. Trago-lhe a dança. Trago-lhe a ideia que há de revolucionar totalmente a nossa época. Onde foi que a descobri? A beira do Pacífico, junto das ondulantes florestas de pinheiros da Serra Nevada. Eu vi a figura ideal da mocidade americana dançando no alto das Montanhas Rochosas. O poeta supremo da nossa terra é Walt Whitman. Em verdade, sou filha espiritual de Walt Whitman. Para as crianças da América quero criar a dança que seja a expressão da América. Trago para o seu teatro o sopro vital que lhe falta, a alma da dança. O teatro nasceu da dança. O primitivo ator foi um dançarino. Foi assim que nasceu a tragédia. E, enquanto o bailado, na espontaneidade de sua grandeza não voltar ao teatro, este não poderá viver a sua verdadeira expressão”.
Para Isadora Duncan a dança é um meio do ser humano descobrir seu corpo e conhecer-se a si mesmo. É importante o ser humano conhecer-se primeiro para melhor conhecer seus semelhantes. Isadora desencarnou em 1927.
_____
[1] N.R.: Isadora Duncan era o nome artístico de Dora Angela Duncanon. Precursora da dança moderna, ela propôs uma dança livre de espartilhos, meias e sapatilhas de ponta, apresentando-se com trajes esvoaçantes, cabelos soltos e pés descalços.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/85 – Fraternidade Rosacruz)
Pergunta: Por que é necessária a nossa passagem por esta existência física? Não poderíamos aprender as mesmas lições sem estarmos aprisionados e limitados pelas densas condições do mundo material?
Resposta: O Novo Testamento foi escrito originalmente em grego, e a palavra Logos significa tanto o verbo quanto o pensamento que precede o verbo, de maneira que quando São João nos diz, no primeiro capítulo do seu Evangelho: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”, podemos também traduzir aquele versículo como: No princípio era o pensamento, e o verbo estava com Deus, e Deus era o verbo. Tudo existe em virtude daquele fato (o verbo). Naquilo está a “vida”.
Tudo que existe no universo foi primeiro um pensamento. Então, aquele pensamento manifestou-se através de uma palavra, um som, que construiu todas as formas, sendo ele próprio a manifestação da vida dentro daquelas formas. Esse é o processo da criação, e o ser humano, que foi feito à imagem de Deus, cria, até certo ponto, da mesma forma. Ele tem a capacidade de pensar; ele pode exprimir seus pensamentos e, assim, quando não for capaz de executar sozinho suas ideias, pode conseguir o auxílio de outros para realizá-las. Mas, aproxima-se o tempo em que criará diretamente através da palavra emitida pela sua própria boca. Atualmente, ele está aprendendo a criar por outros meios, mas quando estiver capacitado a usar sua palavra para criar diretamente, ele saberá como fazê-lo. Esse treino é absolutamente necessário. No momento presente ele cometeria muitos erros. Além disso, ainda não é suficientemente bom – poderia dar forma às criações demoníacas.
Nos primórdios, quando o ser humano esboçava os seus primeiros esforços, ele usou os sólidos; a força muscular era o único meio do qual dispunha para executar seu trabalho. Com ossos e pedras colhidos no solo, produziu os primeiros instrumentos grosseiros com os quais manipulou objetos. Em seguida, numa rude canoa feita de um tronco de árvore, aventurou-se às águas, um líquido, e a roda d’água foi o seu primeiro maquinário. O líquido é bem mais poderoso que o sólido. Uma onda destruirá completamente o convés de um navio, arrancará os mastros e torcerá as mais sólidas barras de ferro como se fossem um fino arame; mas a potência da água é uma força estacionária, portanto, restrita a trabalhar em sua adjacência imediata. Quando o ser humano aprendeu a usar a força ainda mais sutil que chamamos ar, conseguiu erigir moinhos de vento para trabalhar por ele em qualquer lugar, e embarcações à vela estabeleceram a comunicação pelo mundo afora. Portanto, o passo seguinte do ser humano em seu desenvolvimento foi realizado pelo uso de uma força ainda mais sutil que a água e mais universalmente aplicável do que aquele elemento. O vento era inconstante e não se podia depender unicamente dele. Em consequência, o avanço realizado, até então, pela civilização humana tornou-se insignificante quando o ser humano descobriu como utilizar um gás ainda mais sutil chamado vapor; o qual pode ser produzido em qualquer e em todos os lugares, e o progresso do mundo tem sido considerável desde esse advento. O seu emprego, no entanto, requer um maquinário de transmissão de força, o que representa uma desvantagem. Mas essa foi praticamente eliminada pelo uso de uma força ainda mais sutil, mais facilmente transmissível, a eletricidade, que é, ao mesmo tempo, invisível e intangível.
Vemos que o progresso do ser humano no passado dependeu da utilização de forças de sutileza crescente, cada força conseguindo maior capacidade de transmissão que as outras antes disponíveis. Assim, podemos perceber facilmente que um progresso futuro dependerá da descoberta de forças ainda mais refinadas e mais facilmente transmissíveis. Sabemos que a telegrafia sem fio é realizada até sem o uso de fios. Mas, mesmo esse sistema não é o ideal, pois depende da energia gerada numa usina central, que é estacionária. Envolve o emprego de um maquinário de custo elevado e está, portanto, fora do alcance da maioria. A força ideal seria uma força gerada vinda do próprio ser humano no momento que desejasse e sem maquinário.
Algumas décadas atrás, Júlio Verne fez-nos vibrar ao fazer aparecer magicamente o submarino, a viagem ao redor da Terra em oitenta dias etc., estimulando, assim, a nossa imaginação. Hoje, todas as ideias concebidas por ele concretizaram-se, superando até a sua imaginação. Chegará o dia em que teremos à nossa disposição uma fonte de força igual àquela sobre a qual falamos acima. Bulwer Lytton, no seu “Raça do Futuro” (Coming Race), descreveu-nos uma força chamada “Vril”, que certos seres imaginários possuem e podem usar para locomover-se sobre a terra, através do ar e de outras várias maneiras. Tal força está latente em cada um de nós e, por vezes, referimo-nos a ela como emoção. Sentimos seu poder de longo alcance como temperamento quando desencadeado, e dizemos: “aquele ser humano perdeu o autocontrole”. Nenhum trabalho, por mais cansativo que seja, pode esgotar o corpo físico e prejudicá-lo tão seriamente quanto a enorme energia do Corpo de Desejos quando está solta num acesso de raiva. Atualmente, essa força enorme está, em geral, adormecida, e é bom que continue assim até que tenhamos aprendido a usá-la por meio do pensamento, que é uma força ainda mais sutil. Este mundo é uma escola que nos ensina a pensar e sentir corretamente, e assim tornar-nos aptos a usar estas duas forças sutis – o poder do pensamento e o poder da emoção.
Uma ilustração tornará claro como este mundo serve àquele propósito. Um inventor tem uma ideia. A ideia não é ainda um pensamento. É quase como um lampejo que ainda não tomou forma. Mas, gradualmente, ele a visualiza dentro da sua mente. Ele concebe em seu pensamento uma máquina, e diante da sua visão mental aparece aquela máquina com as rodas girando, conforme a necessidade requerida para a realização do trabalho. Em seguida, começa a esboçar o projeto da máquina, e mesmo no estágio de concretização surgirá certamente a necessidade de fazer modificações. Desse modo, vemos que as condições físicas mostrarão ao inventor em que ponto o seu pensamento não estava correto. Ao construir a máquina com material apropriado para a realização do trabalho, geralmente mais modificações serão necessárias. Ele poderá ver-se obrigado a inutilizar a primeira máquina, reformular inteiramente seu conceito e construir uma nova máquina. Desse modo, as condições físicas concretas permitirão detectar a falha do seu raciocínio; elas o forçarão a fazer primeiramente as modificações necessárias em seu pensamento original para concluir a máquina requerida. Se existisse apenas o Mundo do Pensamento, ele não chegaria a saber que havia cometido um engano, mas as condições físicas concretas mostram-lhe onde o seu pensamento estava errado.
O Mundo Físico ensina o inventor a pensar corretamente, e suas bem-sucedidas máquinas são a corporificação do pensamento correto. Nos empreendimentos comerciais, sociais ou filantrópicos, confirma-se o mesmo princípio. Se as nossas ideias concernentes aos vários assuntos da vida são errôneas, elas são corrigidas quando aplicadas nas chamadas experiências empíricas. Consequentemente, este mundo é uma necessidade absoluta para ensinar-nos como manipular o poder do pensamento e do desejo, sendo atualmente estas forças controladas, em grande parte, pelas nossas condições materiais. Mas, com o passar do tempo, e à medida que aprendermos a pensar corretamente, iremos adquirindo um tal poder mental que seremos capazes de emitir o pensamento correto imediatamente, em todos os casos, sem ter que passar pela experiência, e seremos também capazes de expressar o nosso pensamento através de uma manifestação real, como uma ação. Houve um tempo, num passado bem longínquo, em que o ser humano era ainda um ser espiritual e as condições da Terra mais moldáveis. Então, ele foi ensinado diretamente pelos Deuses a usar a palavra como meio de criação, e assim trabalhava formativamente sobre os animais e as plantas. A Bíblia diz-nos que Deus trouxe os animais para o ser humano e este os nomeou. Essa designação não se limitava simplesmente a chamar um leão de leão, mas era um processo formativo que conferia ao ser humano um poder sobre aquilo que ele nomeava, e foi só quando o egoísmo, a crueldade e o ódio desenfreado tornaram-no incapaz de exercer o domínio correto, que a palavra do poder, sobre a qual falam os maçons, perdeu-se. Quando a santidade tomar novamente o lugar da profanação, a palavra será reencontrada e tornar-se-á o poder criativo do ser humano divino numa era futura.
(Perg. 3 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
Pergunta: No Capítulo XVII – subtítulo: O Voto do Celibato, do “Conceito Rosacruz do Cosmos”, lê-se o seguinte parágrafo: “O voto de absoluta castidade relaciona-se unicamente com as Grandes Iniciações. Mesmo nestas, um só ato de fecundação pode ser necessário como um sacrifício, conforme aconteceu quando se “preparou o corpo para Cristo”. A religião Cristã ensina que Jesus, o Cristo, nasceu de uma virgem, o que é expresso, de outra maneira, como uma imaculada concepção. Tais ensinamentos, e sua estrita relação com a definição “divino”, indicam que o nascimento de Jesus foi assim, e como esses ensinamentos são considerados pelos Rosacruzes?
Resposta: De acordo com os Ensinamentos Rosacruzes, é necessário fazer uma distinção rigorosa entre o Cristo e Jesus. Quando pesquisamos na Memória da Natureza, verificamos que o Espírito que nasceu no corpo de Jesus era um Ego muito avançado, que tinha atingido uma espiritualidade elevadíssima mediante muitas vidas de santidade e auto sacrifício, e é possível investigar os nascimentos anteriores desse Ego com a mesma facilidade com que pesquisamos as experiências passadas de qualquer outra entidade pertencente à raça humana. No entanto, procuraremos em vão por qualquer encarnação prévia do Cristo porque Ele não pertence absolutamente à nossa evolução. Ele foi o Iniciado mais elevado do Período Solar, e a humanidade comum desse passado longínquo evoluiu agora a um estado de alta espiritualidade. Podemos chamá-los de Arcanjos.
Até há 2.000 anos (excluir ‘atrás’), a Terra era governada com mão de ferro por Jeová e Seus Anjos, que eram o produto evolutivo de um período passado. Sob Seu regime, o temor gerado pela lei antepunha-se aos desejos da carne. Toda transgressão exigia olho por olho, dente por dente. Isto, não obstante, não proporcionava oportunidade para a evolução do amor e do altruísmo. “O perfeito amor expulsa todo medo”, e Cristo veio ao mundo para salvar a humanidade da lei e do egoísmo, por meio do cultivo do amor e do altruísmo.
Não obstante, há uma lei inexorável na natureza, segundo a qual ninguém pode criar um corpo com matéria que, através da evolução, não aprendeu a manipular e, no passado longínquo, quando os Arcanjos estavam no estágio humano, o mundo habitado por eles era composto de matéria de desejo. Da mesma forma que o nosso corpo físico denso é feito dos componentes químicos da nossa terra atual, o corpo mais denso de um Arcanjo é feito de matéria de desejo. Por muitos séculos, antes de vir realmente a nós, o Espírito de Cristo trabalhou na Terra externamente, purificando o Corpo de Desejos da Terra, para que pudéssemos obter material para criar desejos e emoções mais elevados e puros. Obviamente, isto seria realizado de maneira mais eficiente por um Espírito interno se houvesse um meio de garantir-lhe a entrada na Terra. Foi missão de José, Maria e Jesus fornecerem esse veículo constituído de um Corpo Denso e um Corpo Vital, aos quais o Corpo de Desejos e os outros veículos superiores do Cristo pudessem unir-se por um breve período, enquanto Ele cumprisse Sua missão.
Quando o ato gerador é realizado de uma forma baixa e brutal, quando é maculado pela luxúria e pela paixão, certamente degrada aqueles que participam desse ato de profanação. Por outro lado, quando os futuros pais se preparam por meio de orações e de aspirações elevadas para realizar o ato como um sacramento, indiferentes para com o gratificar-se, a concepção é imaculada. É evidente que não é a virgindade física que é considerada uma virtude, pois todos nós encontramo-nos nesse estágio durante os primeiros anos de vida. É a pureza e a castidade da alma que fazem o virgem puro, tanto o pai como a mãe.
Segundo os Ensinamentos Rosacruzes, endossados pelas pesquisas na Memória da Natureza, era essa a condição de José e Maria quando foi concebido o corpo que se formou ao redor do átomo-semente de Jesus. O Espírito Solar, Cristo, não poderia construir tal veículo. Além disso, teria sido um desgaste inútil de energia valiosa para esse grande Espírito ter de passar pelo útero e educar um corpo durante os anos de infância até atingir a idade madura, quando só então poderia ser usado. Por conseguinte, essa missão foi outorgada a Jesus que usou o corpo até a época do Batismo, quando sabemos que o Espírito desceu sobre ele na forma de uma pomba. A partir desse momento, Jesus deixou o seu corpo, que passou a ser habitado até o fim pelo Espírito de Cristo, após isso, durante os três anos de ministério, temos a ação de uma entidade composta, Jesus, o Cristo.
Deveríamos entender que as grandes Hierarquias, que nos ajudaram em nossa evolução, trabalham sempre de acordo com as leis que estabeleceram para nossa orientação e não contra elas já tendo desenvolvido o método de construir um corpo pela união do homem e da mulher, não pensariam em suspender essa lei da mesma forma que não pensariam por um único momento em suspender a lei da gravidade. Podemos imaginar facilmente o caos que adviria se as pessoas, casas, veículos e demais coisas não estivessem solidamente fixadas na terra e rolassem no espaço. De maneira semelhante, podemos imaginar o desastre que resultaria para a nossa estrutura social, se a lei da fecundação também fosse abolida. De fato, os relatos inseridos tornam claro que José tinha a intenção de repudiar Maria. Tal seria o procedimento natural de um marido comum que não acreditasse ou desconhecesse um milagre. Temos uma prova adicional da alteração dos tradutores em relação à genealogia de Jesus que é reconstituída até José, e se ele não fosse o pai, isso seria um absurdo; pois não se poderia dizer que Jesus procedera do tronco da linhagem de Davi.
Contudo, há outros meios de proporcionar um corpo ao Adepto, sem que seja necessária sua passagem pelo útero. Antes de descrevermos esse método, queremos deixar claro que o termo “Adepto” não deve ser aplicado aos egotistas ou charlatães, que assim se intitulam nos anúncios de jornais ou entre a turba de incautos. O verdadeiro Adepto é aquele que atingiu um alto grau de espiritualidade, e para melhor entendermos esse estágio, podemos comparar o vidente comum com o Iniciado.
O vidente é uma pessoa que desenvolveu a visão espiritual. Se ele não tem controle sobre tal faculdade, vê as coisas no mundo invisível sempre que elas se apresentem a ele. Não pode escolher o que vê nem quando ver, não tem o poder de afastar uma cena que lhe seja desagradável. O vidente voluntário é aquele que pode, à vontade, evocar paisagens e cenas dos mundos invisíveis e dirigir sua visão espiritual para qualquer objeto ou acontecimento pelo tempo que desejar.
A maioria das pessoas, que não pensa realmente no assunto, acredita que todo aquele que for capaz de ver coisas nos mundos invisíveis é, por assim dizer, onisciente, sabendo tudo a respeito do que ali se passa. Na realidade, a capacidade de ver coisas nos mundos invisíveis não traz consigo a faculdade de conhecer tudo que concerne a ele, assim como a visão de uma máquina no mundo físico não nos confere o conhecimento de como ela funciona.
O Iniciado tem não somente a habilidade de ver as coisas dos mundos invisíveis, mas também a faculdade de abandonar o seu corpo conscientemente e operar ou pesquisar esses elementos. Assim, gradualmente, ele adquire um conhecimento sobre o trabalho que faz internamente e de como unir essas forças, que chamamos de leis da natureza, à carruagem do progresso evolutivo.
O Adepto é aquele que vê e sabe e, além disso, tornou-se hábil no uso das leis da natureza para a produção daquilo que, aos olhos da pessoa comum, parece mágica.
Na realidade, é apenas a aplicação mais elevada das mesmas leis que regem o curso ordinário da vida.
Estamos todos familiarizados com o fato que o alimento proporcionado ao nosso sistema é largamente desperdiçado devido à nossa ignorância a respeito das reais exigências desse veículo, associado ao fato de que a maioria de nós come mais o que agrada ao paladar do que aquilo que alimenta o sistema. Isto interfere no metabolismo e o alimento é muito mais desperdiçado do que assimilado.
Mesmo a parte do alimento que assimilamos nem sempre se transforma em tecido sadio, mas em carne flácida, que representa um peso morto em nosso organismo, e o Corpo Vital está em luta constante para expulsar os resíduos supérfluos indesejáveis. Após uma lauta refeição, o vidente pode observar ao redor da região abdominal do glutão, uma faixa preta, de consistência elástica e gelatinosa, formada de éter. Este é o veneno gerado pela fermentação do alimento prejudicial ingerido em excesso, que é expelido pelo Corpo Denso através das correntes radiantes do Corpo Vital, no esforço que faz este último veículo para limpar o sistema obstruído.
Também desgastamos tecido orgânico ao entregarmo-nos aos prazeres por meio de movimentos e emoções desnecessárias, levando o Corpo Denso a um envelhecimento e a morte antes do tempo.
O Adepto é diferente. Ele sabe como controlar suas ações e emoções, poupando-se a toda tensão física desnecessária. Ele sabe também quais os elementos requeridos para a conservação do seu corpo e a quantidade exata a ingerir. Assim, ele assegura a máxima nutrição e o mínimo de desgaste.
Por essa razão, ele pode manter o seu corpo com uma aparência jovem e saúde plena por centenas de anos.
Dizem os Irmãos Leigos dos Rosacruzes, que Christian Rosenkreuz está usando hoje um corpo que vem sendo preservado por vários séculos. Isso pode ou não ser assim, o autor não tem meios de o saber, pois o nosso augusto líder nunca é visto pelos Irmãos Leigos que se reúnem no Templo para o Serviço da meia noite. Sua presença é apenas sentida, e é o sinal para o início do trabalho.
No entanto, em conversa com alguns Irmãos Leigos que estiveram a serviço no templo por vinte, trinta e quarenta anos de suas vidas, ficamos sabendo que os Irmãos Maiores, aos quais nos referimos como sendo os nossos Mestres, têm hoje exatamente a mesma aparência que tinham há trinta ou quarenta anos. A julgar pelos padrões humanos ordinários, diríamos que os Irmãos Maiores atualmente aparentam ter mais ou menos quarenta anos, e isto é uma prova dos ensinamentos dados anteriormente.
Sabemos que os Adeptos podem preservar seus corpos por séculos, talvez milênios, mas eles também têm o poder de criar novos veículos se, por qualquer razão, isso se tornar conveniente, e este é um dos métodos descritos pelos Irmãos Maiores.
Segundo uma lei da natureza, a vida celular inerente a cada partícula de alimento deve ser sobrepujada pelo Ego antes de ser assimilada. (Vide o capítulo sobre assimilação no “Conceito Rosacruz do Cosmos”). Portanto, é impossível a um Adepto formar um extrato dos elementos com os quais deve construir um corpo, plasmá-los em um veículo e depois abandonar o antigo corpo pelo novo. Primeiramente, ele deve absorver esses elementos em seu próprio corpo para que se harmonizem com o átomo-semente e sejam adequadamente assimilados. Então, depois de terem sido incorporados por ele da forma prescrita pelas leis da natureza, ele pode extraí-los novamente e usá-los para criar um novo corpo. Consequentemente, o Adepto inicia essa tarefa intensificando a sua dieta e extraindo dela o excesso de alimento. Possuindo um absoluto autocontrole, ele também tem o poder de controlar e subjugar os elementos vivos do alimento que ele usará, gradualmente, para criar um corpo. Este veículo é geralmente colocado em um aposento no qual ninguém tem acesso. Quando está concluído, e o Adepto deseja realizar a mudança, ele simplesmente sai do seu corpo antigo e penetra no novo.
O uso desse método fornece a solução para os mistérios que cercam os primeiros anos de vida e as vidas anteriores de homens como o Conde St. Germain, Cagliostro etc. Eles eram Adeptos que deixavam um meio onde não eram mais úteis e passavam para outra esfera de ação. Os corpos que deixavam abandonados não tinham identificação, e ninguém suspeitaria que o Espírito que neles habitava, não havia passado pelo processo “post-mortem” normal.
É também uma lei da natureza que ninguém pode criar um veículo a menos que tenha aprendido a fazê-lo através da evolução. Apesar de grande e poderoso, Cristo, o Espírito Solar Cósmico, não podia criar um Corpo Denso, seja através de um útero ou pelo método mágico acima descrito, pois nunca tivera essa experiência na vida celeste onde são criados os arquétipos de corpos, e nem Ele havia passado pelas experiências reais pelas quais a humanidade passou durante o decorrer das eras. Portanto, era necessário que alguém fosse escolhido para criar-Lhe um corpo. Esta honra e privilegio coube a José, Maria e Jesus, que forneceram o Corpo Denso e zelaram por ele durante os primeiros anos até a maturidade, juntamente com o Corpo Vital necessário para manter vivo o instrumento denso e assim completar a união com o Corpo de Desejos de Cristo.
Quando corretamente entendido, percebe-se o quanto é verdadeira a afirmação de que Jesus nasceu de uma virgem e que a concepção foi imaculada. O erro está em confundir Jesus com Cristo. Lembremo-nos que o Anjo Gabriel ordenou que Ele devia ser chamado Jesus. Christos significa “ungido”, e refere-se a um cargo, uma função e não a uma pessoa. Por essa razão, é só depois do Batismo, ao ser ungido pelo Espírito, que ele é chamado Jesus Cristo, ou em inglês (the anointed Jesus), o ungido Jesus. Também é um erro considerar o nascimento de Jesus como único. Temos a palavra de Cristo que as coisas que Ele fez, nós também as faremos e até maiores. A Imaculada Concepção, o Batismo (o batismo ou unção), o período de serviço e ministério, a Cruz e Coroa, tornar-se-ão, por sua vez, experiências pessoais para cada um de nós, pois todos somos Cristos em formação e devemos crescer um dia até a plena estatura da Divindade.
(Do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Pergunta Nº 76 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Pergunta: Se a vida na Terra é tão importante e realmente a base de todo o crescimento da nossa alma, sendo este o resultado das experiências por nós adquiridas aqui, por que a nossa existência terrena é tão curta em comparação à vida nos Mundos Internos, que corresponde, aproximadamente, a mil anos entre duas vidas neste plano?
Resposta: Tudo que existe no mundo, feito pela mão do ser humano, é pensamento cristalizado; as cadeiras nas quais sentamos, as casas nas quais moramos, os vários confortos materiais como o telefone, o navio, a locomotiva, etc. foram antes um pensamento em sua Mente. Se ele não tivesse emitido aquele pensamento, a criação nunca teria aparecido. De forma similar, as árvores, as flores, as montanhas e os mares são formas de pensamento cristalizado das forças da natureza. O ser humano, quando deixa este corpo após a morte e entra no Segundo Céu, torna-se um com as forças da natureza. Ele trabalha sob a direção das Hierarquias Criadoras, criando para si mesmo o meio necessário para o próximo passo do seu desenvolvimento. Aí ele gera, na “substância mental”, os arquétipos da terra e do mar. Maneja a flora e a fauna, tudo que há em seu meio é criado por ele como pensamento-forma. Na medida em que muda as condições, assim elas lhe aparecerão quando renascer.
Mas, dar forma às coisas na matéria mental é bem diferente do que trabalhá-las concretamente. Na atualidade, somos pensadores medíocres e, por isso, levamos tão grande período de tempo para modelar os pensamentos-forma no Segundo Céu. Além disso, temos que aguardar um período considerável antes que esses pensamentos-forma se tenham cristalizado no atual e denso meio físico, ao qual temos que voltar. Portanto, é necessário que fiquemos no Mundo Celestial por um período bem mais longo daquele que permanecemos na Terra. Quando tivermos aprendido a pensar corretamente, seremos capazes de criar coisas aqui no Mundo Físico num tempo bem mais curto do que aquele que levamos para produzi-las penosamente. Nem será necessário permanecer à margem desta vida terrena por tanto tempo como ficamos hoje.
(Perg. 4 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. I – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)