Fraternidade: ajudar o seu irmão, e quem falta dita qualidade
Entre os ensinamentos de Cristo Jesus está em posição de relevo o que diz respeito à Fraternidade. Como é belo vermos, por exemplo, o Sol nascer para todos, indistintamente. Iluminar permanentemente sem fazer distinção alguma. Semelhantemente atuam os seres que trabalham na Vinha de Cristo. São bons e irradiam, constantemente, em todos as direções, simpatia o amor. Fazem-no de maneira espontânea e simples, jamais pensam em estardalhaço, igualmente não se preocupam com glória, e, menos ainda, com palavreado empolado.
Suas palavras tem o colorido da sinceridade, estão revestidas da pureza de sentimentos e da naturalidade. Onde caem, é indiscutível a sua fecundação, pois têm algo do Verbo.
Assistimos, há alguns dias, a uma palestra de um irmão realizada na Fraternidade Rosacruz, que muito nos alegrou, pois sentimos, nitidamente, todos as características que aludimos acima. Igualmente, temos assistido com imenso prazer excelentes preleções de outros companheiros.
E, como cada Ego é um pequeno Sol que se destacou do sol Central, vai, à medida que com este se afina, crescendo automaticamente seu brilho, e, em maior proporção passa a fazer o bem aos demais, imbuído de desprendimento mais elevado. Nesta altura dos acontecimentos poderíamos dizer que a nobreza de sentimentos, aliada à Pureza da Mente, consubstanciados na ação, fizeram com que se confundisse Fraternidade e Amor.
Viver fraternalmente é ser bom, saber perdoar as faltas alheias, ser rigoroso quando for o caso, mas também saber ser brando quando necessário, pois tudo na vida é faca de dois gumes.
Quem tem uma qualidade boa, quiser viver fraternalmente, e, portanto, dentro do amor, não pode deixar de ajudar o seu irmão, e quem falta dita qualidade. Assim, o forte ajuda o fraco, e, juntos, todos seremos fortes, ou pelo menos possibilitará a extração de uma média. Procedendo assim estará dando prova segura, por meio de seu viver, de estar integrado nos Ensinamentos de Cristo e seus Apóstolos.
(Hélio de Paula Coimbra; publicado pela Revista Serviço Rosacruz de maio de 1966)
Espiritualidade: tudo que façamos seja indício dos ideais que professamos
“Todo aquele que trata de cultivar esta reta virtude da espiritualidade, deve sempre começar por fazer tudo para a glória do Senhor, porque fazemos todas as coisas como para o Senhor, não importa que tipo de trabalho façamos”. (do Livro: Ensinamentos de um Iniciado – Max Heindel)
Perguntamo-nos: Quantos de nós lutamos conscientemente em fazer tudo para a glória do Senhor? Quantos de nós consagrarmos todo pensamento, toda palavra, toda ação, todo momento de trabalho pago, serviço voluntário, e ainda atividade ociosa para Ele? Duvidamos que muitas pessoas possam responder afirmativamente.
E, no entanto, que benção será quando finalmente tenhamos aprendido a fazer assim. Quando nossa atitude se faça de tal maneira que automaticamente lutaremos por fazer tudo com o melhor de nossa capacidade, porque deste modo estaremos servindo a Ele e a seus filhos, já não poderemos abusar de nossos talentos, desperdiçá-los e nem os usar para o mal.
Há um refrão que diz: “Se algo é digno de fazer-se, é digno que seja feito”. E igualmente é certo que “se algo é digno de fazer-se, é digno que seja bem feito para a glória de Deus”, e ao contrário, se algo não é digno de fazer-se para a glória do Senhor, não é digno que seja feito de nenhuma maneira.
Quando falamos da glória do Senhor, nos referimos ao que lhe honra em qualquer forma. Somente lhe honra o melhor do que somos capazes. Uma tarefa servil feita com espírito de amor e de serviço inegoísta só pode falar em honrar-Lhe; um sermão, brilhante e muito bem pronunciado, é uma desgraça para Ele, ainda mais se o orador for motivado em sua eloquência por um desejo de autoglorificação.
Fazer tudo para a glória do Senhor significa não somente obras, mas também todos os pensamentos, emoções e palavras que expressamos. Somos ou deveríamos ser conscientes do poder latente nas formas de pensamentos que criamos. Assim como o poder de nossos bons pensamentos aumentará a glória do Senhor, assim também o maligno poder dos pensamentos condenáveis atua como um obstáculo para o Plano Divino, um obstáculo que deverá ser superado com a ajuda de Seres Superiores e, finalmente, eliminado pelo próprio pensador.
Portanto, devemos ser demasiadamente cuidadosos em conservar nossas atitudes e ideias constantemente puras e elevadas. Um aparente e breve deslize, como resposta ao impulso da natureza inferior, nunca vem só, geralmente principia uma reação em cadeia com outros erros e continua até que o Ego possa de novo se corrigir suficientemente para obedecer aos impulsos do Eu Superior e trabalhar uma vez mais para a glória do Senhor. Isto é igualmente válido para o estorvo inofensivo e impensado, e também para as ações sujas, efetuadas com intenção.
Como estudante dos Ensinos Superiores, temos uma responsabilidade especial de conduzirmo-nos, de modo que tudo que façamos seja indício dos ideais que professamos.
Que todos possamos viver de maneira a que todos os momentos de nossas vidas sejam um reflexo desses ideais.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Maledicência: Com nossas palavras curamos as feridas ou ferimos
“Há algum tempo um homem trabalhador da lavoura, ao tentar remover um enxame de abelhas de um lugar para outro, estas se enfureceram com a interferência em seu trabalho. Picaram o agressor severa e dolorosamente, em uma porção de lugares. A abelha quando pica, perde o seu ferrão e morre”.
Automaticamente mata-se a si mesma, quando fere a outrem. Veja que não é um Deus vingativo. É o retorno do próprio ato praticado.
E nós, se morrêssemos ao ferir alguém com palavras estaríamos ainda com vida? Se alguém soubesse que o mau uso da palavra causaria a morte, será que não refrearia a língua, em benefício próprio e também das pessoas afetadas? Seguramente que sim.
A leitura do 3º capítulo do Salmo de São Tiago, de quando em quando, muito nos ajudará neste sentido. É grandemente proveitosa. É bom ler, reler e meditar.
Vejamos aqui:
“Se alguém não ofende pela palavra, este é um varão perfeito, que também pode com freio governar todo o corpo. Nós colocamos freios na boca dos cavalos para que nos obedeçam e governamos todo o seu corpo. Vejam-se também as naus (um certo tipo de navio, redondo), que embora tão grandes e levadas por impetuosos ventos, são governadas por um pequeno leme para onde quer que queiramos que sejam guiadas. Assim também, a língua é um pequeno membro e se gloria de grandes coisas. Veja-se como um pequeno fogo pode incendiar um grande bosque. E a língua é um fogo, um mundo de maldade. Assim, a língua está colocada entre nossos membros, a qual contamina todo o corpo e incendeia tudo à nossa volta e é a chama do inferno”.
“Porque toda a natureza de animais, aves, serpentes e de seres do mar se amansam e são domadas pela natureza humana; porém, nenhum ser humano pode domar a língua, que é um mal que não pode ser refreado; plena de veneno mortal. Com ela bendizemos a Deus Pai; e com ela bendizemos aos homens, os quais são feitos à semelhança de Deus. Irmãos meus, não convém que estas coisas sejam feitas. Porque onde há invejas e rivalidades, ali há a perturbação e toda a obra perversa. Mas a sabedoria que vem do alto primeiramente é pura, depois pacífica, modesta, benigna, plena de misericórdia e bons frutos. E o fruto da justiça é sementeiro de paz para aqueles que fazem a paz”.
São Tiago nos alerta: semeando a paz, paz colherá; semeando a maledicência, sua consequência colherá. Observemos atentamente o efeito das nossas palavras. Elas nos trarão a colheita de frutos que nos alimentem, ou de espinhos que ferirão nossos pés na caminhada da vida. Com nossas palavras criamos um clima de amor ou de ódio, de alegria ou de dor, de esperança ou de desespero. Com nossas palavras curamos as feridas ou ferimos.
É muito difícil, impossível talvez, dominar a língua. Mas, a tentativa de dominá-la, o desejo sincero de educá-la, já é uma coisa positiva e de enorme proveito,
Vamos tentar! Tentemos com fé e boa vontade, e com perseverança.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 07/83 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Trabalho de Equipe e o Prazer de Servir
Entre os sistemas de se organizar para um trabalho, parece-nos o mais recomendável aquele que se constitui de uma EQUIPE. Esta começa por congregar, através de sua constituição, seres humanos que estejam acima do personalismo. Já superaram em apreciável nível, a vaidade pessoal.
Assim, colocam o bem da coletividade muito além do pessoal. Reúnem-se para que o conjunto produza melhor do que qualquer um deles, isoladamente.
Nos debates e demais atividades, entendem-se perfeitamente, pois todos compreendem que deve, sempre, prevalecer o que for melhor. Jamais, portanto, perdem tempo em pensar qual deles, seria mais ou menos importante. Sabem que todos são valorosos e que, cada um, espontaneamente, dá, de coração, o que estiver ao seu alcance. Não pensam, de maneira alguma, nessa ou naquela recompensa, por mais tentadora que pareça. Trabalham, harmoniosamente, tendo em vista um único objetivo.
É oportuno recordarmos aqui a extraordinária EQUIPE constituída por Cristo-Jesus e os Apóstolos.
Nada mais justo e acertado do que tomarmos essa EQUIPE como MODELO.
O “Trabalho de Equipe” nos faz lembrar, também, de algo fraterno, concretamente falando. Encerra, por isso mesmo, vivência Aquariana. E, dita vivência representa, seguramente, união, à qual, como se diz correntemente FAZ A FORÇA. Por fim, diríamos, assim procedendo, estaremos vivendo o maior mandamento de Cristo: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.
(Hélio de Paula Coimbra; publicado pela Revista Serviço Rosacruz de abril de 1966)
Extensão de Consciência
No capítulo do Conceito Rosacruz do Cosmos, que trata do Esquema da Evolução lemos: “Os três e meio Períodos que faltam serão dedicados ao aperfeiçoamento destes veículos, e a expansão de nossa consciência em algo semelhante à onisciência”. Esta lição trata desta importante fase da evolução. Já caminhamos um grande percurso desde a consciência do sono profundo, do Período de Saturno ao estado de consciência de vigília atual, e estamos nos preparando para a elevada consciência espiritual que obteremos no Período de Vulcano. Este é o grande plano que nosso Criador traçou para nós, os Espíritos Virginais.
Através das diferentes fases da Involução fomos guiados por Seres Elevados, de variados graus de poder, porém, hoje, no tempo atual, nos encontramos no caminho evolutivo de desenvolvimento, e ampliando a Consciência de Vigília, cujo desenvolvimento está em nossas próprias mãos, dependendo de nossa iniciativa e diligência, a fim de que cresça ou permaneça estacionado.
Como Estudantes, sinceros e humildes, temos plena consciência de nossos muitos defeitos. Como crescer em graça e alcançar o crescimento anímico é o objetivo de nossos esforços diários, porque o crescimento anímico aumentará a nossa consciência. Frequentemente sentimos que não podemos nos concentrar e meditar à vontade, ou tão profundamente como desejaríamos, porque influências externas nos perturbam e, com facilidade, nos dizemos a nós mesmos: “O mundo é demasiado para nós”. É, então, que somos tentados a excluir-nos, e permitir-nos o desejo de fugir para a nossa individual torre de marfim; sabemos que, sem importar quão sedutor possa nos parecer este projeto, não é o caminho certo para nós. Experiências anteriores nos têm demonstrado que o crescimento anímico não se acumula fugindo da vida e das nossas obrigações para com a sociedade no mundo. A consciência se produz pela guerra entre o Corpo de Desejos, que destrói, e o Corpo Vital, que constrói. O Espírito renasce para obter experiências, e esta só se pode alcançar pelo contato com nossos semelhantes, no Mundo Físico de ação e reação.
A razão para a edificação de nosso intrincado sistema de veículos eficientes, durante a involução, foi para obter consciência própria. Pelo uso destes, conscientemente, durante nossa jornada evolucionária, conseguimos poder anímico que é o alimento que o Espírito requer. Desde o mero princípio, este nosso espírito foi uma parte de Deus, e agora, como sempre, “vivemos, nos movemos e temos o nosso ser” em Deus, porém, tem que se converter em um espírito humano individualizado, consciente. Como tal, no devido tempo, deve dar-se conta de sua própria história passada, suas possibilidades atuais, e suas futuras potencialidades.
Cristo advertiu a Seus ouvintes: “Sê tu, portanto, perfeito como teu Pai é perfeito nos Céus”. EIe compreendia que nenhum de Seus ouvintes possuía a perfeição de Deus no tempo em que Ele lhes falou, porém, sabia o que é possível ao ser humano conseguir. Por Suas palavras desejava impressionar e recordar a humanidade que, pelo esforço constante e exercício incansável da vontade, o ser humano poderá, ao final, alcançar a perfeição. Ele quis elevar os não sensitivos, porque Ele sabia que nosso adormecido Espírito tem que ser despertado, frequentemente por dolorosas experiências.
Reunimos material para o crescimento de nossa alma por meio de nossas experiências diárias; como tratamos estes acontecimentos que enfrentamos em nossa existência diária, será nossa contribuição individual para com a vida. Cada um de nós experimentou um meio ambiente distinto e se equipou com um Átomo-semente mais ou menos poderoso no começo da vida, e, por conseguinte, a reação de cada um é diferente, individualizada, e assim enriquecerá a obra da vida. Carecemos de poder suficiente apreciável sobre os sucessos com que temos de nos defrontar em nossa jornada desde o berço até o túmulo, porém, podemos determinar COMO reacionar ante eles. Temos liberdade em demonstrar, face aos problemas da vida, debilidade ou valor ao enfrentá-los. Nesta luta divina, a alma é enriquecida, e a quinta essência deste crescimento anímico é extraído vida após vida, armazenando-se como poder vibratório. Este poder reunido pelo Espírito durante muitas vidas, é o que sentimos quando nos colocamos em contato com nossos semelhantes, é o poder vibratório que com frequência cria imediatos gostos e aversões. O poder anímico obtido se imprime em nossa própria alma e sentimos o seu efeito. Ricardo Wagner, em sua Ópera Parsifal, teve um esplêndido êxito ao dar-nos um quadro novo, revitalizado da velha lenda que fala da jornada do ser humano através da vida, conforme enfrenta os perigos e domina as tentações. Finalmente, chega à conclusão de sua pesquisa com a alma enriquecida e a consciência expandida. Quando, pela primeira vez, Parsifal aparece em cena, é puro e sem malícia, e surpreendentemente inocente. Deseja ser de alguma utilidade no Castelo de Graal, porém, antes de fazer isto, tem que enfrentar as realidades da vida e do mundo com seus perigos, porque tem que aprender a discernir. Este é o único meio de demonstrar-nos onde somos débeis. Parsifal, em sua inocência, passa através de seus encontros com as donzelas astutas e a tentadora Kundry sem prejudicar-se. Em seu doloroso encontro com ela, obtém novo conhecimento que resulta em uma maior consciência. Ele viaja através de todo o mundo, encontra sofrimentos e fadigas e, agora, quando chega de novo ao Castelo do Graal, está em condições de ajudar e seus esforços são aceitos prazerosamente, porque conseguiu dominar-se. Ele diz a seus amigos: “Vim através do erro e do sofrimento, através de muitos fracassos e incontáveis angústias”. Isto deveria dar a todos aqueles que procuram conseguir fazer o trabalho do mundo, e a todos aqueles desejosos de aprender, novo alento e a segurança de que nada se perde, e se ganha com o esforço sincero.
A essência de nossas experiências, vida após vida, se acumula e não se perde. O amor e o entendimento adquiridos farão nossa jornada, para o alto, mais feliz e mais proveitosa a todo aquele que tentar.
(Mensagem de Mount Ecclesia – publicada na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Os Conceitos do Direito onde Estamos Inseridos
Grande é o número de significações do vocábulo Direito, tanto no sentido etimológico, quanto no figurado. Em ambos, de maneira sintética, podemos dizer que Direito significa o que é certo.
Na concepção dos romanos, mesmo antes da era atual, o Direito representava “a arte das coisas divinas e humanas”. Aliás, tinham as razões suficientes para tanto, pois, numa primeira grande divisão, temos o Direito Divino, o Direito Natural e o Direito Positivo. Adotamos aqui, na discriminação dos grandes ramos da árvore do Direito, a ordem descendente.
O Direito Divino, criado por Deus, tomado o vocábulo Deus em seu sentido absoluto, consiste nas Leis Cósmicas que regem o Universo, não apenas o planeta Terra, o qual habitamos, ou o sistema Solar, a que pertencemos.
Como exemplo típico desse Direito, temos o livre arbítrio que recebemos de Deus. Por intermédio do germe mental. Antes de recebermos esse germe, éramos guiados em tudo, portanto, não havia o que falar em livre arbítrio.
Consistindo este, na liberdade de praticar atos, e, ao mesmo tempo, de se responder por eles, surgiu então, na mesma ocasião, o que se chama destino, que pode ser bom ou mau, segundo nossas obras. Por isso mesmo, todo cuidado que se tiver, ainda é pouco.
Ora, seja que pessoa ou grupo for, não importa se filosófico, religioso ou não, que deixar de respeitar o livre arbítrio, usando espírito autoritário ou quaisquer outros meios, está violando lei, cuja matéria é de Direito Divino. Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz têm, por exemplo, um profundo respeito ao referido livre arbítrio de cada um. Mostram os caminhos e a escolha fica a cargo dos Estudantes. Assim, a boa vontade e a espontaneidade que cada Estudante dispensar, ao agir, é que tem importância maior. Como dissera Cristo-Jesus: “O maior no Reino dos Céus é o que for o servo de todos”.
O Direito Natural vem a ser as mencionadas Leis Cósmicas, inscritas na Natureza, seja qual for seu aspecto. Em consonância, o apóstolo São Paulo dissera bem, quando afirmara que a Lei Divina está inscrita no coração do ser humano. Por sinal qualquer pessoa do povo tem uma noção interna do que seja o Direito. Percebe o que não está certo, e, embora, não saiba explicar o que ocorre, sente o problema.
O Direito Positivo, inspirado no Direito Natural, é constituído pelos Códigos Civil, Comercial, Penal, etc., existentes nos diversos países do globo terrestre. Esse Direito regula as relações jurídicas que se estabelecem entre os homens, não só, no campo privado, como também no público, bem ainda no cível e no militar. Regula, finalmente, as relações jurídicas entre as nações, no âmbito internacional, através de um Direito chamado Internacional Público.
Desse ligeiro bosquejo, percebe-se que estamos, em quaisquer mundos ou regiões, sempre sujeitos a Leis regulando todas as nossas atividades. Portanto, quando sofremos alguma coisa, embora não saibamos, a maioria das vezes, somos, indiscutivelmente, os únicos culpados. Por outro lado, há um grande conforto, tudo depende de nos engendrarmos bom ou mau destino. E, agora que conhecemos as coisas, é, claro, tomaremos os necessários cuidados.
(Hélio de Paula Coimbra; publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/66 – Fraternidade Rosacruz – SP)
As Eras Cristãs
Os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental nos ensinam que a “Mensagem Mística da evolução do ser humano está marcada com caracteres de fogo nos céus, onde todos àqueles que podem lê-la os terão”.
Para nos familiarizarmos com o tópico que diz respeito à religião cristã, essa mensagem nos informa que a religião cristã assinala o seu desenvolvimento em três Eras.
A primeira abarca o tempo em que o Sol, em seu Movimento de Precessão, transitou através do Signo de Áries, o Cordeiro. Jesus nasceu quando o Equinócio de Março estava ao redor dos sete graus de Áries. Os 24 graus precedentes são dos períodos relatados no Antigo Testamento, tempo em que o povo escolhido estava no cativeiro e perdido no deserto da materialidade, e a nova religião ainda não tinha sido revelada.
Então, o Cristo emprestou os Corpos Denso e Vital de Jesus quando esse estava com cerca dos 30 anos de idade.
No Gólgota, através do sangue derramado, inaugurou definitivamente um novo ensinamento, dando à humanidade algo mais elevado, já que as antigas profecias e a lei tinham sido cumpridas.
Considerando que o Signo oposto a Áries é Libra, a Balança da Justiça, a nova religião fala de um futuro dia do juízo, quando Cristo recompensará a todo ser humano de acordo com os atos praticados com o corpo.
A segunda Era abrange o tempo em que o Sol em precessão transitou pelo Signo de Peixes. Como o Sol é mais forte no signo seguinte, por estar na cúspide, tal como estava naquele tempo, Cristo chamou a Seus Discípulos de “pescadores de homens”, como está relatado no Novo Testamento, onde se lê que Ele alimentou a multidão com pescado (Peixes) e com pão (Virgem), daí então a religião do Cordeiro continuou tendo proeminência através dessa Era, de Peixes, cujos ideais ensinados e fundamentos são os seguintes: um sacerdote celibatário que adora uma Virgem Imaculada (Virgem), e a abstenção da carne em certos dias. Ambos os ideais são proveitosos para o crescimento anímico da atualidade. Entretanto, o altruísmo vem sendo fomentado.
A terceira Era nos deparará no futuro. Diz respeito ao período precessional, em que o Sol transitará através de Aquário. Teremos então uma nova fase da religião Cristã, exotericamente. O ideal então que deverá ser alcançado está simbolizado pelo Signo oposto a Aquário, Leão.
Todas as Religiões de Raça exigem uma vítima sacrificial pela transgressão da Lei, porém, ao vir, Cristo revogou o sacrifício de OUTROS, oferecendo-se a SI MESMO COMO UM SACRIFÍCIO PERPÉTUO para remissão dos pecados.
Contemplando o Ideal materno da Virgem durante a Era de Peixes, e o exemplo de Cristo através da ação de sacrificar-se para servir, a Imaculada Concepção converte-se em uma experiência real para cada um propiciando que o Cristo, Filho do Homem (Aquário), nasça dentro de nós.
Dessa forma, gradualmente, a terceira fase da religião Ariana será manifestada – o novo ideal está simbolizado pelo Leão de Judá. A coragem oriunda da convicção, a força do caráter e das virtudes afins, tornarão o ser humano digno da confiança das ordens inferiores de vida, bem como do amor dos Hierarcas Divinos que estão acima de nós.
Os precursores da raça já estão sentindo o impulso a esses ideais. Meditemos sobre a Fortaleza de Caráter.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 05/83 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Aquaria – As Últimas Horas de um Espião
“Há mais coisas no Céu e na Terra do que sonha a nossa vã filosofia” –William Shakespeare
Ele estava sentado no jardim em ruínas de um antigo mosteiro, olhando para a mistura de flores e ervas daninhas, crianças bem cuidadas e crianças abandonadas; as últimas pareciam estar levando a melhor desde que a guerra afastou os antigos proprietários, pois os soldados que aí acampavam no momento não tinham tempo para flores.
Ele não era um deles; ele era um prisioneiro, um espião. Apanhado com importantes documentos, foi sentenciado a ser fuzilado e estava, então, aguardando o pelotão de fuzilamento que iria dar fim a tudo. Porém, iria tudo terminar? Que pergunta tola. Ele foi educado a acreditar em algo posterior, mas logo após entrar na Universidade, ele adotou a atitude mental comum, a da mente científica que prevalecia naquela instituição. O criticismo superior tinha provado a falácia da Bíblia. Na sala de dissecação, a maquinaria mecânica do corpo ficou evidente e a química podia explicar as ações e reações do organismo. A psicologia oferecia uma explicação suficientemente ampla sobre as maravilhas da Mente; em resumo, foi provado que o ser humano era uma máquina pensante móvel, capaz até de se perpetuar por meio de sua descendência, que assumia os trabalhos quando a máquina genitora estava gasta e era despachada como sucata ao cemitério. Soberano ou vassalo, mestre ou aprendiz, santo ou pecador, todos eram senão sombras sobre a moldura do tempo.
Mas, de algum modo, ele não estava tão certo disso desde que a guerra o tinha colocado face a face com a morte em massa. Ele tinha observado centenas morrerem no campo de batalha, nas trincheiras e nos hospitais, e a convicção absoluta deles sobre a vida após a morte era, no mínimo, perturbadora. Poderia haver algo de verdadeiro na asserção deles de que tinham visto “Anjos”, quer nos campos de batalha, quer em seus leitos de morte? Qual, isso era uma alucinação devida à tensão causada pela situação. Entretanto, tantos tinham presenciado estas coisas, companheiros como o Tenente K e o Capitão Y, intelectuais e frios, sendo que o Capitão nunca mais praguejou depois desse dia no Marne1; mais do que isso, passou a carregar consigo um livro de orações e pregou um verdadeiro sermão a um sargento por sua língua ferina. E existiram outros exemplos.
Bem, ele cedo saberia; às cinco ele estava destinado a enfrentar o pelotão de fuzilamento.
Ele foi ao quarto onde tinha dormido a noite anterior. O guarda, que tinha permanecido na entrada do aposento enquanto ele estava fora, seguiu-o, de rifle na mão, e observou-o enquanto ele se atirava sobre o rude catre. Ele olhou para cima e viu uma cópia da famosa tela de Leonardo da Vinci, “A Última Ceia”. Ele nunca tinha sido particularmente aficionado da arte, mas algo parecia atraí-lo ao Cristo naquele momento. Ele tinha sido indubitavelmente um nobre caráter. Ele foi um mártir por uma causa e esse quadro da Última Ceia evidenciou a analogia entre Cristo e o homem no catre, pois ele também estava compartilhando da generosidade da Terra pela última vez.
Então, veio à sua mente, a história de como Leonardo da Vinci tinha pedido a um amigo para criticar a pintura quando concluída e o amigo advertiu-o sobre a incongruência dos copos dispendiosos em que os apóstolos bebiam. Da Vinci esfregou seu pincel sobre eles e suspirou; ele tinha posto todo o seu coração e toda a sua alma na face do Senhor, e tinha tido esperança que essa face gloriosa atrairia a atenção dos espectadores e ofuscaria as demais coisas; em vez disso, um dos detalhes mais insignificantes tinha atraído a atenção de seu amigo, excluindo até o Senhor da Glória.
“Será esse o meu caso?”, pensou aquele que jazia sobre o catre. “Será que concentrei meu olhar sobre as coisas sem importância da vida? Tenho pensado sobre a morte muito frequentemente para sentir temor agora que minha vez chegou; entretanto, há tanto ainda a fazer neste mundo que é desagradável pensar no esquecimento”.
“Cristo disse: ‘Mas somente uma coisa é necessária’, e se Ele estiver certo, então eu fui como o amigo de Da Vinci, minha atenção foi dirigida a coisas não essenciais. Em vez de buscar as coisas eternas, eu comprometi todo o meu tempo com tarefas materiais”.
“Hei, para que esse devaneio? Se eu continuar assim, meus joelhos começarão a tremer quando o pelotão de fuzilamento aparecer”.
Ele se levantou e, seguido pelo atento guarda, voltou ao jardim onde foi atraído por um antigo relógio solar. Ele leu a inscrição: oros non numero nisi serenas (eu registro somente as horas ensolaradas).
“Que ditado bom, esquecer todas as coisas pequenas e sórdidas da vida e reconhecer somente o bom, o verdadeiro e o belo!”. Olhando para sua vida, agora prestes a terminar, quão próximo ele viveu desse ditado? A consciência o obrigou a confessar que ficou distante disso. Mas, agora era tarde. Perdido na contemplação, seus olhos ficaram presos à sombra projetada pelo sol no mostrador. Havia algo misterioso em torno de seu silencioso progresso, rastejando em direção às fatais cinco horas quando o pelotão deveria aparecer.
Ele não estava preocupado com a morte, mas começou a agarrar-se ao problema da vida, apossando-se dele um insuportável desejo por uma solução. Mas havia essa sombra no mostrador do relógio, “este nada intangível”, rastejando-se cada vez mais com lenta, mas fatal força. Ó! Bem que ele poderia ter a chance de buscar luz para lançar sobre o problema da Vida!
Era costumeiro executar ao amanhecer os condenados sob a lei marcial, mas ele fora polidamente informado que uma movimentação ordenada repentinamente para a divisão que o mantinha prisioneiro tinha ocasionado um inesperado atraso, que faria com que ele tivesse que enfrentar o pelotão de fuzilamento ao pôr do Sol. Na ocasião, ele respondeu com um menear de cabeça e um dar de ombros. O que importava? Mais cedo ou mais tarde, ele estaria preparado. Agora estava começando a desejar essas horas a mais em que poderia raciocinar.
Quando se afastou da sombra da morte no mostrador do relógio, seu silencioso progresso parecia mais eloquente que qualquer sermão sobre a evanescência da vida e a inexorável certeza da morte.
De novo, estendeu-se sobre o catre para pensar sobre o problema de sua existência. Em menos de meia hora, estaria sabendo tudo ou nada; se seria aniquilado tão logo a luz da vida fosse extinta pela bala, que inevitavelmente atingiria seu coração, ou, então, seria um espírito livre. Tudo dependeria de qual das duas teorias seria a verdadeira. O sentimento de “suspense” estava crescendo com maior intensidade a cada momento e o anelo pela vida sendo tão grande a ponto de tornar-se doloroso. De todas as pessoas que professaram sua fé na imortalidade da alma, nenhuma parecia saber o assunto; todos acreditavam – isto é, todos com exceção de um.
E, então, irrompeu em sua memória a lembrança de um encontro com um homem de uma estranha e fascinante personalidade, em uma popular estância de praia em que foi descansar, em certa ocasião, quando seus nervos não suportavam um extenuante estudo de um assunto científico. Esse homem, tranquilo, refinado e modesto, atraiu sua atenção desde o início e, em uma ocasião em que a conversa de ambos derivou para as teorias da vida, ele adotou um ponto de vista materialista, tendo o estranho confrontado com um número de argumentos aparentemente irrespondíveis. Todavia, não era a força dos argumentos que o impressionava agora e sim a lembrança da voz de autoridade, das maneiras e da conduta daquele que sabia do que estava falando, o que o fez ficar possuído de um ardente desejo de investigar.
“Será que o estranho saberia de tudo, real e verdadeiramente?”.
Ele tinha falado de seres humanos que “deixam seus corpos à sua vontade do mesmo modo que nos despojamos de um roupão quando mergulhamos na água para nadar”. “Assim”, disse ele, “procedem também aqueles que entram em certos Mundos invisíveis”.
Ele tinha chamado isso de: “A Terra dos Mortos que Vivem” e tinha afirmado que os assim chamados mortos ali funcionavam em um veículo mais sutil, de posse de todas as suas faculdades e com pleno conhecimento e memória das condições que existiam em torno deles, quando viviam esta vida. Ó, se esse estranho pudesse estar aqui, agora, e ele pudesse falar com ele de modo a descobrir mais sobre esse assunto que assumiu, então, tamanha importância em sua mente…
Mas, o que foi que apareceu no canto? Seria o estranho, aquela nebulosa e difusa forma no canto escuro distante? E agora parecia ouvir uma voz dizendo, “eu o encontrarei quando você deixar seu corpo”. Então a figura desapareceu.
Ó! Isso deve ter sido uma fantasia de sua imaginação, uma alucinação de seu cérebro desordenado, ele pensou. O desejo deve tê-lo feito ver coisas; ele não mais especularia. E, de novo, ele voltou ao jardim para observar o mostrador do relógio solar, à medida que sua sombra se arrastava em direção às cinco horas fatais.
Ali o encontraram, com um vivo sorriso em seus lábios, quando saudou o oficial do pelotão e pediu para ser poupado do ignominioso processo de vendar os olhos. Juntos, caminharam em direção ao muro no extremo do jardim, onde ele se voltou para enfrentar o pelotão no momento em que o oficial se perfilou e rapidamente deu a ordem de comando, que fez lançar a bala que encontrou seu coração.
* * * * ***
Ele ouviu a detonação dos fuzis e sentiu uma pontada de dor como se um ferro em brasa tivesse secado sua alma. Em seguida, sentiu um forte puxão e, involuntariamente, sua mão procurou seu coração, mas, que estranho, antes de ela ter alcançado seu peito, a dor já havia passado e, rapidamente, ele retornou seu braço à posição alinhada ao longo do corpo. Ele não podia deixar que os inimigos de sua pátria pensassem que ele era um covarde.
Novamente, ele voltou sua atenção para o pelotão de fuzilamento, aguardando momentaneamente sentir o impacto das balas que ele já havia sentido por antecipação, pois, de nenhum outro modo ter-se-ia dado conta do impacto e da dor em seu coração.
Mas, o que significava isso? O pelotão de fuzilamento permanecia perfilado e o oficial dele se afastava, abandonando o local.
Teriam sido tiros de festim? Não, isso seria impensável. Ele examinou suas roupas e encontrou três furos em seu casaco bem acima do coração. Introduziu seu dedo em um deles até onde pôde e retirou-o novamente, admirado com a ausência de sangue ou dor. Evidentemente, ele havia sido atingido por três balas e, de acordo com todos os cânones da experiência, ele deveria ter desabado como um fardo e morrido instantaneamente e, no entanto, ali estava ele mais vivo do que nunca. Como poderia ser?
Num impulso, ele correu atrás do oficial que se afastava, agarrou-o pelo braço e pediu uma explicação, mas o oficial parecia não se importar, nem com a mão que o segurava nem com a inflamada pergunta, continuando a caminhar na direção de seus homens como se nada tivesse ouvido ou sentido.
“Estarei sonhando, louco ou o quê?”.
“Nada disso, meu amigo”, respondeu uma voz a seu lado, e ele, ao se virar, viu que lá estava o estranho. “Sou um Rosacruz”, ele se identificou. Com um profundo sentimento de alívio, o espião voltou-se para o estranho. Talvez ele pudesse derramar alguma luz sobre aquela desconcertante experiência.
“Mas como você chegou até aqui? Não o vi entrar com o pelotão de fuzilamento”.
“Seus olhos ainda não estavam sintonizados com as vibrações do Espírito; você estava cego pelo véu da carne”, veio a resposta, mas sem que, com isso, o espião demonstrasse o menor sinal de compreensão, o que o fez começar a duvidar da sanidade mental de sua companhia.
“Vejo que você não está entendendo; o que eu lhe disse só fez aumentar sua perplexidade”, prosseguiu o estranho; “você não percebe que está morto”.
“Morto! Com toda a certeza você deve estar louco. Como posso estar morto se estou aqui diante de você e ainda conversando?”, perguntou o espião, mais perplexo do que nunca.
“Não me expressei de modo adequado; deveria ter dito: ‘o seu corpo está morto'”, respondeu o Rosacruz.
Mas o espião olhou-o espantado, no mais profundo abandono e desesperança; tudo estava cada vez mais desconcertante; um dos dois havia perdido a razão, senão ambos.
“Meu corpo está morto! Mas como você pode afirmar tal coisa? Não estou eu aqui, de pé, movendo meus lábios e lhe falando? Posso mexer os braços e pernas e caminhar tão bem quanto você, embora tenha que confessar que estou atônito por saber que estou vivo com três balas no meu coração”.
“Percebo sua perplexidade, meu amigo, e logo lhe darei explicações, mas primeiro venha comigo ao lugar onde você esteve de frente para o pelotão de fuzilamento; há algo lá de seu interesse”.
Juntos caminharam para o lugar.
“Olhe ali entre as flores, meu amigo”, disse o Rosacruz.
E, quando seguiu a direção do olhar do outro, o espião viu, parcialmente escondido pelas plantas altas e pelas flores que cresciam tão compactamente no jardim, o que parecia ser ele mesmo de bruços. Ele dobrou-se e procurou virar o corpo caído para resolver esse dilema impossível, porém, perplexidades pareciam se acumular sobre perplexidades, indefinidamente, pois, quando tentou segurar a forma inerte pelo ombro para levantá-la, sua mão penetrou através dela como se fosse feita de ar e não de carne e osso.
Novamente, levantou-se e virou-se para sua companhia.
“Pelo amor de Deus, desembarace este emaranhado para mim, pois se já não estou insano, enlouquecerei no próximo minuto!”.
“Paciência, meu amigo”, respondeu o Rosacruz, “está tudo bem e o deixarei à vontade em poucos minutos. O que aconteceu foi o seguinte:
‘Quando o pelotão de fuzilamento disparou os tiros fatais, três balas entraram em seu coração com tal efeito que você sentiu a dor por uma fração de segundo antes que o corpo etéreo, que você está agora usando, fosse libertado de seu corpo físico, que caiu então para frente, de rosto para o chão. Desde então, este corpo etéreo lhe servirá tão bem, ou melhor, que o Corpo Denso do qual você se desfez com a morte'”.
“Corpo etéreo”, balbuciou o espião, ainda sem poder entendê-lo.
“Sim, meu amigo. Parece assim tão estranho que o ser humano possua um corpo etéreo? A ciência formula a hipótese de que todas as coisas, desde o mineral mais denso ao gás mais rarefeito, acham-se permeadas de Éter, e essa é uma hipótese correta. O corpo humano não é uma exceção à regra; também está interpenetrado de Éter. Quando ele escapa, a morte ocorre, como foi demonstrado pelo Dr. Mc Dougall há uma década atrás no Hospital Geral de Boston, quando ele colocou na balança um certo número de pessoas prestes a morrer e eles acusaram, invariavelmente, uma perda de peso no momento em que expiraram.
O que os médicos e cientistas não sabem é que esse Éter permanece na mesma forma e semelhança do Corpo Denso do morto e continua sendo a morada do Espírito eterno, embora invisível para aquele que ainda está em seu corpo físico”.
Uma grande luz e um olhar de intenso alívio brilhou na face do espião. “Mas como o Éter passou através de minhas roupas, já que estou usando o mesmo traje do meu corpo inerte, e como os furos das balas reproduziram-se em minhas roupas atuais?”.
“Trata-se de um truque da Mente subconsciente , meu amigo”, respondeu o Rosacruz. “Embora você não esteja ciente do dano sofrido por seu corpo, as circunstâncias exatas foram registradas num pequeno átomo localizado em seu coração quando você deu seu último suspiro ao morrer, pois, a cada inspiração que fazemos, levamos aos pulmões o ar que contém o Éter que carrega uma imagem de tudo o que nos cerca, seguindo o mesmo princípio da fotografia que é levada para a placa sensível existente na câmera. O Éter entra na corrente sanguínea que o leva ao coração. Lá, o Átomo-semente corresponde ao filme fotográfico, cada inspiração sucessiva produzindo uma nova imagem e, assim, acha-se impresso sobre esse pequeno átomo uma série de quadros da vida desde o berço até a sepultura. Isso modela o nosso destino após a morte e é a base oculta do ditado: “Como o homem pensa em seu coração, assim ele é”. Quando a chamada ‘morte’ o retira de seus Corpos, o Éter reproduz suas roupas; reproduz as peculiaridades físicas com absoluta fidelidade, seguindo o modelo da última imagem gravada no Átomo-semente, a alma do qual o ser humano leva consigo como o árbitro de sua vida no futuro”.
O espião permaneceu em silêncio e perdido em seus pensamentos por algum tempo, analisando a explicação do Rosacruz de todos os ângulos. Pareceu-lhe perfeitamente correto, lógico e em harmonia com as novas descobertas da ciência. Nem era uma insuperável dificuldade o Átomo-semente mencionado pelo Rosacruz ser de dimensões tão diminutas. Não tem o olho de uma mosca numerosas facetas, cada uma delas tomando uma imagem do ambiente, e o microscópio não revelou o mundo das coisas diminutas? Quem se atreveria a estabelecer o limite?
“Mas eu tenho que ficar para sempre com furos em minha roupa e ferimentos no meu peito, ou eles vão se curar e eu vou poder procurar outra roupa?”.
“Nada disso, meu amigo. Como já lhe falei, aqui na Terra dos Mortos que Vivem é lei que o que o homem pensa em seu coração, assim ele é. Os pobres rapazes que tombaram aos milhares nos campos de batalha, horrivelmente mutilados, no princípio da guerra estavam terrivelmente angustiados com seus estados até lhes ensinarmos a pensar neles como eram antes de virem para a guerra, fortes e saudáveis. Foi uma tarefa difícil fazê-los acreditar que isso era tudo o necessário para restaurar-lhes a uma condição sadia e foi um serviço moroso, pois eram muitos os necessitados e nós, muito poucos. Mas, aos poucos, eles foram ficando convencidos e em condições de ajudar outras vítimas da guerra até que, agora, há centenas de ajudantes prontos para cuidar e ajudar centenas de mortos”.
“Ah! Você é um aluno perspicaz. Vejo que já remendou sua roupa e sarou seus ferimentos”.
“Sim”, respondeu o espião, “e muito obrigado. Nunca poderei pagar-lhe pelo alívio que me deu. Mas tenho uma dificuldade. Como é isso de meu corpo parecer o diáfano ar e minhas mãos passarem através dele? Eu sei que ele é sólido”.
“Pois é! Isso é engraçado; as pessoas no Mundo Físico pensam que os chamados fantasmas são compostos de matéria intangível e diáfana como uma espiral de fumaça, isto é, se é que eles tomam conhecimento de sua existência. Pensam que seus Corpos são sólidos como uma pedra. Mas, uma vez que transpassam o véu para a Terra dos Mortos que Vivem, ficam chocados ao descobrir que as pessoas ainda em seus corpos físicos são tão imateriais para nós como somos para eles, e que é tão fácil para nós atravessa-los com um braço quanto é para eles passarem através de nós. De fato, eles tanto parecem fantasmas para nós quanto nós para eles.
Você é agora um cidadão da Terra dos Mortos que Vivem. Venha, vamo-nos daqui para conhecer o lugar. Mas primeiro, há alguém com quem gostaria de falar? Pois o seu corpo espiritual estará mais denso nas próximas horas do que em qualquer outra ocasião durante sua existência post-mortem e, portanto, será mais fácil você se dirigir a seus amigos agora do que em qualquer outra oportunidade”.
“Tenho uma irmã, porém, ela vive na cidade X que dista daqui uns dez mil quilômetros. Por aqui, não tenho ninguém que me conheça e que se importasse com a minha morte”. “A distância não é barreira para o Espírito”, disse o Rosacruz. “Imagine-se nesse lugar, que estaremos na casa de sua irmã em dois minutos”. E eles se deslocaram juntos, embora para o espião não parecesse muito grande a velocidade quando sobrevoaram cidades e aldeias umas após as outras. Pareceu-lhe ter tempo bastante para observar os vários detalhes da região, a arquitetura das casas, o modo do povo se vestir, etc. Ao passar sobre uma grande extensão de água, notou muitos navios com suas tripulações e passageiros envolvidos em diversas tarefas e lazeres. Na verdade, o tempo não se lhe afigurou longo ou curto; o tempo pareceu inexistente à sua consciência e maravilhou-se consigo mesmo por ter encarado tudo isso tão naturalmente, como se em toda a sua vida tivesse estado flutuando pelo ar, vendo as coisas que agora observava.
Mas algo lhe pareceu estranho e o incomodou um pouco a princípio: o fato de o espaço parecer povoado de espíritos, tal qual ele mesmo e o Rosacruz, flutuando através deles. No princípio, ele tentou evitá-los, mas percebeu ser impossível; ele se retesou diante de uma colisão quando, para sua surpresa, verificou que aquelas pessoas passavam flutuando através dele e de seu companheiro como se eles não existissem. No momento, isso o encheu de consternação e perplexidade até que o Rosacruz, observando seu dilema, riu confiantemente e ordenou-lhe que não se preocupasse, acrescentando que aquele era o costume na Terra dos Mortos que Vivem, pois lá todas as formas eram de certo modo plásticas, que se interpenetravam facilmente todas as vezes, e que não havia perigo algum de alguém perder a identidade.
Chegando à casa da irmã dele, encontraram-na sentada numa confortável sala de estar. O espião correu impulsivamente para abraçá-la apenas para constatar, para seu desalento, que ela estava absolutamente inconsciente de sua presença e que as mãos dele, em vez de apertar as dela, passaram direto através das mesmas.
De novo, ele se virou para o Rosacruz e perguntou-lhe o que poderia fazer para tornar-se percebido. “Fique de pé nesse canto aqui onde a luz é fraca, pois as vibrações etéreas da luz são mais fortes que as vibrações que você pode emitir. Então, organize com firmeza, em sua Mente, a mensagem que você quer transmitir e pense nisso com toda a intensidade de que seja capaz. Foi a intensidade de seu pensamento, antes de enfrentar o pelotão de fuzilamento, que chegou a mim em minha casa e me fez deixar, por certo tempo, meu corpo físico para poder vir a você e lhe dar uma ajuda em sua hora de transição. Se você puder, com intensidade semelhante, pensar na mensagem que deseja transmitir à sua irmã, ela vai recebê-la e seus olhos dirigir-se-ão para você”.
Assim instruído, o espião formulou a seguinte mensagem: “Encontro-me na Terra dos Mortos que Vivem; eu atravessei o véu”. Olhando fixamente para sua irmã, permaneceu ali, imóvel, reiterando a mensagem por alguns minutos. Subitamente, os olhos de sua irmã procuraram o canto onde ele se encontrava e, percebendo ali a presença do irmão, ela começou a tremer e caiu desmaiada no chão. Imediatamente, o espião correu para levantá-la, quando, com um grito de alegria, ela atirou-se em seus braços.
“Ó, como você chegou, Bob? Faz poucos dias que eu recebi uma carta dizendo que você fora enviado em perigosa missão, e aqui está você. Como foi que isso aconteceu?”.
Uma vez mais, o rosto do espião ficou tomado por pálido espanto. Ele havia visto sua irmã cair, e aqui achava-se ela de pé! Ela também estava morta?
“Não”, explicou o Rosacruz, enquanto dava um passo à frente e se apresentava a ela como um amigo de Bob.
“Não, ela não está morta; apenas desmaiou e terá que retornar a seu corpo. Lá está o corpo dela, caído no chão, tal qual o seu corpo, Bob, após lhe terem desferido o tiro fatal. Provavelmente, ela não terá nenhuma lembrança de ter falado com você, nem ficará sabendo que você está na Terra dos Mortos que Vivem, mas terá apenas a impressão de ter visto o seu fantasma e de que algo se passou com você; quer dizer, a menos que você tenha conseguido impressioná-la o suficiente com sua mensagem quando afirmou que você transpassou o véu e acha-se, no momento, na Terra dos Mortos que Vivem. Todas as noites, porém, quando ela for dormir, você terá a mesma chance de falar-lhe como agora, pois, quando estamos dormindo, vamos para o mesmo lugar daqueles que o mundo chama de ‘mortos'”.
Nesse momento, a irmã do espião parecia ter caído no sono e foi irresistivelmente atraída para o corpo que jazia no chão. Gradativamente, o espião viu que ela se desvanecia e desaparecia dentro daquela forma que, em seguida, começou a gemer e a mover-se.
“Vem, vamos embora”, disse o Rosacruz. “Enquanto você falava com ela, eu trabalhei sobre o corpo dela, fazendo tudo o que podia para facilitar o seu retorno ao estado consciente. Não há nada que possamos fazer por ela. Vem, vamos embora daqui”.
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[1]N.T.: A Primeira Batalha do Marne foi uma batalha da Primeira Guerra Mundial que durou de 5 de setembro a 12 de setembro de 1914. Foi uma vitória franco-britânica sobre a Alemanha, em um dos momentos decisivos da Primeira Guerra Mundial.
(Escrito por Max Heindel e Publicado na Revista Rays from Rose Cross de fevereiro de 1918)
Idealismo: corajosa e sincera disposição para trilhar o caminho do Serviço
Vez por outra dirigimos, através desta revista, apelos aos estudantes, exortando-os a cooperar com o Movimento Rosacruz. Não o fazemos unicamente pela necessidade de ajudar em nossa tarefa de disseminar os ensinamentos da Fraternidade. Não. É verdade que a Obra carece de um número maior de trabalhadores. Muita coisa ainda deve ser feita. Há um imenso campo de ação pela frente exigindo maiores recursos materiais e humanos. Não podemos, contudo, deixar de enfatizar com a mais elevada motivação, o inigualável privilégio de servir à humanidade.
Não importa o grau de cultura: toda pessoa de boa vontade encontra, dentro da Fraternidade Rosacruz, setores onde pode empregar suas aptidões. Todos podem dar alguma coisa ou um pouco de si.
No transcurso de diversos renascimentos vimos aumentando nosso cabedal de conhecimentos, a par do desenvolvimento de qualidades. Temos acumulado, por meio de experiências, as mais variadas, uma dose considerável de energia. Cabe-nos, agindo de conformidade com as leis cósmicas, canalizá-la em finalidades construtivas, por meio do uso adequado de nossos talentos.
Somos inerentemente seres ativos, face ao princípio divino de MOÇÃO-ATIVIDADE – característica do Espírito Santo – palpitando em cada espírito. A inércia e inutilidade não existem na Natureza. Ao órgão que não se emprega só resta o caminho da atrofia. Diariamente nossa capacidade de ação é testada pelos mais variados desafios. São estímulos necessários. Quanto a isso, não pode haver omissão: ou agimos construtivamente e progredimos ou paramos e retrocedemos. Eis aí o verdadeiro conceito de mocidade e velhice; no sentido interno, quem desiste e para, morre para a existência, cuja finalidade é o desenvolvimento, a graus ainda inconcebíveis para o entendimento humano, das faculdades que herdamos do Criador.
O indivíduo consciente e sincero esforça-se ao máximo para harmonizar e aperfeiçoar tudo o que esteja ao seu alcance; no lar, na sociedade, em sua lida diária, etc. Sabe muito bem que ao retardar o cumprimento de seu dever ou negligenciar suas tarefas, a si mesmo negligencia. Isto é válido para os indivíduos, para as empresas e para os agrupamentos sociais. Quanto mais produzem, construtiva e legitimamente, tanto mais crescem em todos os sentidos.
Sempre é tempo de edificar alguma coisa. E a Fraternidade Rosacruz constitui uma excelente oportunidade de formar um mundo melhor. Se crescermos em harmonia, o nosso cresce conosco.
A tônica do Movimento Rosacruz é SERVIR. Mas, é preciso uma corajosa e sincera disposição para trilhar o caminho do Serviço. Os desafios surgem em momentos inesperados, caso o estudante não esteja atento, poderá sentir abalado seu idealismo. É uma vereda árdua, às vezes espinhosa, mas espiritualmente gratificante. Alguém pode perguntar se vale a pena lutar por um ideal como este. Encontramos a resposta nas palavras do grande poeta luso, Fernando Pessoa:
“Valeu a pena?
Vale sempre a pena,
Se a alma não for pequena”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 07/83 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Como Transmitir os Ensinamentos Rosacruzes
Todo estudante responsável e dedicado aceita, espontaneamente, a missão de transmissor dos ensinamentos dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz. Não se exige o brilho da retórica ou quaisquer outros atributos de um orador. O importante é que a pessoa conheça os Ensinamentos Rosacruzes e se disponha a transmiti-los a quem realmente esteja interessado em ouvir. Isso poderá ser feito numa tribuna, se o estudante frequentar algum Centro ou Grupo de Estudos, como também em diálogos informais com pequenos grupos ou mesmo com apenas um ouvinte interessado. O que importa é a comunicação inteligível, com sincera intenção de ajudar.
Max Heindel, porém, adverte: cuidado com o conhecimento superficial, pois é muito perigoso em termos de religião e filosofia. Pode levar a confusões e até a verdadeira desgraça.
A bibliografia Rosacruz é bem ampla. A exposição de seu conteúdo, ilustrada com a narração de fatos do cotidiano e outros conhecimentos, torna-se muito atraente.
Quem transmite não necessita de ser um erudito, uma “enciclopédia ambulante”. É lógico que a cultura geral ajuda, porquanto enseja valiosos subsídios. Oferece, principalmente, a quem de uma tribuna se dirige a uma plateia numerosa, recursos ilustrativos, tornando a exposição mais didática e dinâmica.
Temos visto, entretanto, estudantes sem grande cabedal de cultura, discorrerem com grande propriedade sobre os ensinamentos rosacruzes, principalmente em conversas informais. Alguns, na sua simplicidade, intuem admiravelmente muitas verdades ocultas. Isto lhes facilita a comunicação.
Muitos se empolgam com a lógica e o racionalismo que embasam os Ensinamentos Rosacruzes. Esses fatores, contudo, não são suficientemente poderosos para tornar tais ideias aceitáveis por todos. Em não se ressaltando sua natureza moral, a exposição ficará incompleta. Nessas ocasiões pode-se avaliar em que medida o estudante se esforça por realizar em si mesmo o equilíbrio entre a Mente e o Coração.
Como afirmou Max Heindel, o valor de qualquer ensinamento religioso ou filosófico reside em seu poder detransformar interiormente as pessoas. Se isso não ocorrer, tal ensinamento não passará de mero conhecimento intelectual, apenas um “sino que tine”.
Convém lembrarmos sempre, em nossas conversas e exposições, a harmonia existente entre os princípios rosacruzes e os ensinamentos de Cristo. Indo um pouco mais longe podemos afirmar que os ensinamentos rosacruzes explicam esotericamente a Bíblia, dentro de uma linha de absoluta coerência.
O estudante deve estar sempre preparado, pois a qualquer momento poderá surgir uma oportunidade de expor ou conversar sobre o cristianismo esotérico. Essa oportunidade poderá se desdobrar de várias maneiras como: exposição a uma plateia relativamente numerosa, colóquio informal em pequeno grupo ou ainda troca de ideias com alguém interessado ou angustiado com a pressão de algum problema.
É um sagrado privilégio transmitir os mistérios da Sabedoria Ocidental. Sendo assim, não nos parece justo desperdiçar uma ocasião dessas por uma razão menos relevante. Alegar inibição, nervosismo ou coisa parecida para não cumprir essa missão não é uma atitude dignificante.
Em contrapartida, quem for bem-dotado em termos de comunicabilidade se imunize contra a vaidade. Os ensinamentos rosacruzes devem ser transmitidos com humildade, devoção e entusiasmo. Evite-se fazê-lo com ar professoral ou afetação. A simpatia ajuda muito. E não olvidemos: a quem muito é dado muito será exigido.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/83 – Fraternidade Rosacruz – SP)