Experiências em Previsão ou Profecia, Renascimento, Telepatia e Clarividência, Psicocinesia
Muito se fala de previsão, profecia, premonição, percepção de um acontecimento futuro que não se pode inferir pela força do raciocínio. Essa estranha faculdade humana tem sido também objeto de recentes investigações de ordem científica. São muito divulgadas as profecias de Nostradamus, que se tem cumprido. Estudam-se as profecias bíblicas. Menos conhecidas são as profecias de Mother Chifton, vidente inglesa. No domínio da Parapsicologia, o moderno e mais comentado caso é o de Edgard Cayce, nascido num sítio próximo de Hopkinsville, Kentucky, USA, em 1877 e falecido em 1945. As mais conhecidas obras que falam a seu respeito, são: THERE IS A RIVER, de Thomas Sugrue e MANY MANSIONS da dra. Gina Cerminara. Cayce não passara do curso primário, mas conhecia profundamente a Bíblia. Relia-a todos os anos. Rapaz devoto, trocou a vida do campo pelo trabalho na cidade, cerca dos 19 anos. Começou a trabalhar como vendedor. Aos 21 anos sofreu ataque de laringite e acabou perdendo a voz. A medicina e os medicamentos foram ineficazes: não pôde mais falar. Em estado de transe, sugeriu a própria cura.
Depois começou a fazer diagnósticos seguros, até mesmo a grandes distâncias do enfermo: ia, via o enfermo, dizia o que ele tinha e dava o diagnóstico, para os médicos curarem. Estudou astrologia espiritual e a empregava. Mais tarde ingressou em atividades filosóficas, ultrapassando os diagnósticos astrológicos e alcançando as vidas pregressas das pessoas. Finalmente vieram as profecias individuais e coletivas. Foi muito discutido e amplamente respeitado. O livro de Sherwood Eddy YOU WILL SURVIVE AFTER DEATH inclui relatórios de médicos que empregaram as respostas de Cayce aos seus consulentes, no decurso de muitos anos. Embora o método utilizado tenha sido o da hipnose, que a Filosofia Rosacruz condena, porque priva o Espírito da liberdade, além de outros prejuízos, Cayce convenceu muitos cientistas americanos e pessoas cultas, da realidade da reencarnação, da clarividência e outras formas de percepção supra sensórias. Oxalá isso leve o mundo ocidental à decisão de investigar e exercitar os meios naturais de desenvolvimento das faculdades latentes, pregados pela Filosofia Rosacruz.
O renascimento (preferimos esse termo ao de reencarnação, porque é mais completo) é a lei de evolução do espírito através de corpos de crescente eficácia e sexos alternados, até atingirmos, finalmente, a perfeição prevista por Cristo: “Sede vós perfeitos, como vosso Pai celestial”. Mais de um bilhão de seres humanos esposa essa realidade; portanto, 40% da população mundial. Há, seguramente, numa grande biblioteca, centenas de referências ao assunto: livros, poemas, estudos, antologias. O professor T.H. Huxley declara: “Somente num pensamento precipitado é que se pode negar o renascimento, sob fundamento de ser um absurdo”. Voltaire observou: “Não é mais de surpreender que se nasça muitas vezes: tudo na natureza é ressurreição!”. O brilhante e versátil Benjamin Franklin fez várias alusões ao princípio da reencarnação e até sugeriu, na idade de 23 anos, que seu próprio epitáfio deveria ser:
O corpo de Benjamin Franklin,
Tipógrafo,
À semelhança da capa de um livro velho,
De conteúdo gasto,
Destituída de suas letras douradas,
Jaz aqui, como alimento aos vermes.
Mas essa obra não será em vão;
Aparecerá mais uma vez, como ele acreditava.
Numa nova e mais elegante edição,
Revista e corrigida pelo Autor.
Quase todos os maiores poetas se alistaram nas fileiras dos adeptos da reencarnação, talvez porque são mais intuitivos. Figuram os nomes de Tennyson Browning, Swinburne, Bossetti, Longfellow, Whitman, Donne, Goethe, Milton, Maeterlinck; John Masefiel, o poeta laureado na Inglaterra, escreveu:
Sustento que, ao morrer, uma pessoa,
Sua alma novamente à terra voltará.
Envergando novo disfarce,
Outra mãe à luz o dará.
Com membros mais fortes e cérebro mais brilhante,
A velha alma a jornada recomeçará.
Notáveis literatos, filósofos e pensadores: Cícero, Virgílio, Platão, Pitágoras, César, Bruno, Oliver Wendell Holmes, Vitor Hugo, Thomas Huxley, sir Walter Scott, Ibsen. Spinoza, todos dão sua contribuição a essa verdade.
Schopenhauer definiu sua posição em termos explícitos: “Se um asiático me pedisse para definir a Europa, seria forçado a responder-lhe: é essa parte do mundo que se acha atormentada pela incrível desilusão de que o ser humano foi criado do nada e que seu presente nascimento é a primeira entrada na vida”.
A Bíblia, principalmente o Novo Testamento, contém muitas citações alusivas ao renascimento, algumas diretas, outras veladas.
A Parapsicologia registra dezenas de casos extraordinários, com provas suficientes para satisfazer o mais obstinado cético e, principalmente, o inteligente pesquisador científico. Um dos livros mais interessantes é “THE PROBLEM OF REBIRTH”, do ilustre Ralph Shirley, que se constitui, em grande escala, num exame das muitas facetas do problema. Apresenta um sem-número de casos interessantíssimos, dentre eles o da pequenina Alexandrina Samona, filha de médico; o de Shanti Devi; etc., cujo relato omitimos para não alongar demasiado a exposição.
Portanto, se alguém lhe diz, leitor, que não acredita no renascimento, apesar do testemunho e dos argumentos da Filosofia Rosacruz, endereço-o às conclusões parapsicológicas que provam, de sobejo, a realidade dessa Lei tão lógica.
A telepatia consiste na transmissão do pensamento, de um espírito para outro, sem o emprego dos sentidos.
Distingue- se da clarividência, que é a percepção dos objetos ou dos acontecimentos sem emprego dos sentidos – qualquer percepção direta de objetos externos. Vejam bem: telepatia é comunicação entre espíritos; clarividência é a comunicação entre espírito e objeto.
Se alguém pensa em um número entre um e cinco, e outra percebe corretamente qual o número — e se se repetir o fato sem que ocorram erros nem fraude, digamos, em cem experiências – teremos, certamente, um nítido exemplo de telepatia.
Na experiência telepática, aquele que concentra o pensamento num número, chama-se “transmitente”. O que procura descobrir o número é conhecido pelo nome de “receptor”. O número é referido como o “objeto”. A reação do receptor ao procurar designar o objeto, chama-se “invocação”, seja ela registrada graficamente, seja simplesmente oral. As invocações corretas designam-se como “pontos certos”.
Quanto à clarividência, registram-se casos interessantíssimos. Por exemplo, mencionado na obra “Phantasms of the living”: uma menina de 12 anos atravessava uma vereda do campo, quando, subitamente, teve uma “visão”: viu sua mãe estendida no chão da casa em que morava. A percepção foi nitidamente clara e dolorosa — tão clara que deu para ver um lenço orlado de rendas, no chão, ao lado da mãe, e tão dolorosa, para fazer com que a menina chamasse um médico, antes mesmo de voltar para casa. Não foi fácil convencer o médico de que devia ir imediatamente, pois, aparentemente, a mãe gozava de boa saúde e, além disso, supunha-se que estivesse ausente de casa nesse dia. Mas ele acabou acompanhando a menina, e de fato foram encontrar a mãe estendida no chão, no quarto que ela havia descrito. Todos os pormenores, inclusive o lenço orlado de rendas, eram justamente como ela havia visto. O médico descobriu que a mulher tinha sido vítima de um ataque cardíaco e era de opinião que ela teria sobrevivido se ele não tivesse chegado àquela hora.
Outro caso curioso, narrado pelo próprio professor e cientista Rhine, da Universidade de Duke, USA, e que o levou à pesquisa parapsicológica, foi o seguinte: “Nossa família fora despertada, certa madrugada, por um vizinho que desejava que lhe emprestássemos um cavalo e a charrete, para ir à aldeia próxima, a nove milhas dali. Justificou que a esposa tivera horrível sonho, no qual vira o irmão voltar para sua casa, lá na outra aldeia; desatrelou os cavalos, conduziu os animais para o cercado e depois foi à casa de feno e suicidou-se com um tiro de pistola. Vira-o puxar o gatilho e rolar sobre o feno, caindo depois num canto. Não houve meios de convencê-la de que era um simples pesadelo. Não havia telefone e acabaram indo para a casa do irmão, onde encontraram a esposa ainda esperando o marido. Dirigiram-se ao cercado e viram os cavalos desatrelados. Subiram à casa de feno e lá encontraram o corpo no lugar e posição que a irmã descrevera. A mulher havia tido uma nítida visão de tudo.
O próprio cientista e filósofo sueco, o famoso Emanuel Swendenborg, é exemplo de muitos casos de clarividência, registados na Parapsicologia. Em 1759, ele se achava em Göteborg e descreveu certo incêndio que naquele momento ocorria em Estocolmo, a 300 milhas dali. Fez o relato minucioso às autoridades locais. Citou o nome do proprietário da casa sinistrada e disse, até, a hora em que se extinguiu o fogo. A exatidão de seu relato foi confirmada, vários dias após, por um mensageiro do rei.
Outro caso registrado é o de uma atriz, a respeito dos dotes supra sensoriais de sua mãe: “Minha mãe e eu estávamos à mesa, tomando café e me contou um sonho muito vívido em que vira na sala de sua casa, em Verbacz (cidadezinha que pertencia à Hungria e agora pertence à Sérvia, a, em torno de, 9.600 quilômetros de Colorado, USA, onde estavam as duas), um caixão mortuário e sua mãe nele. Havia muitas pessoas na sala. Mamãe estava impressionada e resolveu escrever à sua irmã Lisl a respeito. Pueblo, Colorado, fica muito longe de Verbacz e naquele tempo não havia mala aérea para a Europa. Por isso demorou muito a resposta, confirmando todos os detalhes do sonho.
Muitos outros casos registrados poderiam ser narrados aqui, mas a falta de espaço nos impede de prolongar, mesmo porque o assunto nos é muito familiar e dispensa argumentação. O sexto sentido se desenvolve em grande número de pessoas, tem confirmado casos igualmente interessantes e o próprio leitor fatalmente deve ter ouvido casos assim. O valor de tais registros consiste apenas em mostrar aos nossos estudantes que não devem ter receio de admitir e falar sobre essas realidades, porque já são de domínio científico. Ainda mais: a comprovação gradativa que a ciência faz das realidades espirituais, contidas nos documentos e ensinamentos de várias escolas, levanta um crédito de confiança em tudo que elas ensinam, de há muitos séculos.
Nada há, na natureza, que permaneça no mesmo estado: ou evolui ou retrocede. Muitas vezes perguntam porque devemos renascer e evoluir constantemente. É uma condição inerente ao Espírito, feito à imagem e semelhança do Criador. Como semente, ele deve germinar, crescer, frutificar até atingir a estatura da Árvore-Mãe. Diríamos que o Espírito evoluinte é como o alpinista do romance “The White Tower”. Perguntaram-lhe “porque insistia em subir ao pico de uma montanha que ser humano algum havia atingido ainda; respondeu “Porque ele está lá – à minha espera”.
No desenvolvimento do sexto sentido, previsto para a Era de Aquário, PSICOCINÉSIA é o domínio da natureza superior sobre a matéria. Decompondo a palavra, teremos: “psico” que se refere à alma, e “cinesia”, do grego “kinesis”, significando movimento, quer dizer, moção anímica, atividade anímica, pela qual exercemos domínio sobre a matéria. Há muitos anos um grande industrial me surpreendeu com esta declaração: “Se realmente viermos a saber como utilizar a força do espírito humano — e apontou para um cinzeiro sobre a mesa — poderemos, provavelmente, mover este cinzeiro, empregando apenas, habilmente, a força espiritual”. Acho, hoje, que ele disse pouco, ao pensar nos enormes blocos de pedra assentados e ajustados com perfeição nas pirâmides, em tempo que os seres humanos possuíam poder interno e não tinham máquinas. E mesmo com as quinas de hoje não poderiam erguer e colocar aqueles blocos tão pesados. Pensei nas gigantescas estátuas de pedra da Ilha de Páscoa. O ocultismo explica muito bem isto. Já possuímos o poder modelador da palavra na Lemúria e início da Época Atlante: com ele modelávamos a flora e a fauna. E está prometido que um dia usaremos a palavra criadora —a palavra perdida —além de outros poderes sobre a matéria, conforme disse nos evangelhos: “Se tiveres a fé do tamanho do um grão de mostarda, dirás a este monte: remove-te para lá e ele te obedecerá”. São muitas as citações de milagres bíblicos. Mesmo fora do campo religioso encontramos expressiva coleção de fatos: iogues que permanecem vivos vários dias, enterrados ou mergulhados na água; a eliminação de verrugas e outras intumescências da pele, sem recorrer a meios físicos.
Há também os casos de bruxarias e de baixo nível religioso, que trabalham com os elementares na levitação de objetos, arremesso de pedras, provocação de chuvas, relógios que param ou se quebram, como sinal de que alguém morreu; a sugestão sobre o corpo etc.
A Parapsicologia tratou com muito interesse deste assunto, fazendo experiências com dados especiais e cercando as provas de todas as cautelas, sujeitando as pessoas a restrições incomuns.
Pois bem: apesar de usarem meios mecânicos e restringirem a ação das pessoas, limitando os lances a meras induções mentais, notou-se que “algo mais”, além do movimento das máquinas de lançar dados, influía na queda e posição dos dados. Isso revelava a influência de “algo” imaterial sobre eles. Passaram, então, a investigar se essa influência era cerebral ou um processo mental não físico. Provou-se que a massa, o número e a forma não eram fatores determinantes nos testes de psicocinesia. Como bem disse o dr. Rhine, em poucas palavras: “Quase não resta dúvida de que a psicocinesia não é de origem física”.
Qual a explicação ocultista para o fato? Como disse Max Heindel: para toda ação há um agente. O poder mental, o desejo fortemente concentrado, submete elementais à vontade humana e logra agir sobre a matéria dos mais variados modos.
Os elementais são físicos, embora invisíveis ao ser humano comum. Seus corpos são etéricos. Mas, note-se bem: isso não é espiritualidade. É mera ação física, envolvendo emoção e pensamento. Espiritualidade é cultivo do Espírito, por meio de reforma de caráter. Todavia, fazemos concessões a tais experiências. Tudo o que existe é necessário, é efeito provocado pelo materialismo, é recurso para, a pouco e pouco levar as pessoas a atividades espirituais, convencidas que estejam da existência de coisas extraterrenas.
Em 1882, num protesto isolado contra a indiferença geral e materialismo da época, um grupo de eruditos fundou em Londres a “Sociedade Inglesa de Pesquisas Psíquicas”, com o objetivo de investigar tudo o que se relacionasse com a telepatia (transmissão do pensamento de espírito, sem emprego dos sentidos); telestesia (clarividência); assuntos mesméricos (magnetismo); previsão (profecia ou previsão de um acontecimento futuro sem a força do raciocínio); psicocinesia (domínio da natureza superior sobre o corpo); enfim, para estudar e compor uma ciência das manifestações que transcendem a princípios conhecidos. Por isso, a esse conjunto de pesquisas deram o nome de Parapsicologia, que quer dizer: “além da psicologia”. Em outros países, cientistas fortemente interessados nesses estudos imitaram o exemplo da Inglaterra. Nos U.S.A., em 1930, o homem que agora aparece como o incontestável guia nesse setor, J.B. Rhine, lançou um ataque em grande escala, com três outros membros da Seção de Psicologia da Universidade de Duke. Era a primeira vez, na história que um grupo de membros do corpo decente de uma universidade se arriscava a um trabalho pioneiro de tanta crítica.
Entrementes, a literatura, nesse campo, começou a aumentar. Estudiosos de vários países passaram a contribuir com livros e relatórios.
Experiências comprovadoras foram, meticulosamente, levadas a efeito em inúmeras universidades, inclusive as de Bonn, na Alemanha; de Cambridge, Oxford e Londres e em muitas escolas norte-americanas. Por volta de 1940, o professor Thouless, de Cambridge, declarava: “Deve-se considerar provada a realidade dos fenômenos com a mesma segurança que se tem das provas feitas com outras experiências cientificas”. Em 1954, o dr. Raynor C. Johson, um físico, escreveu: “É uma questão das mais profundas e da mais considerável importância poder agora afirmar que a telepatia, a clarividência e a previsão constituem, inegavelmente, fatos incontestáveis, cuja prova merece fé e está tão bem estabelecida quanto as leis básicas da física e da química. O Dr. Rhine e o Laboratório de Parapsicologia de Duke, USA, como resultado de milhares de experiências controladas, pelo método de “cartas”, têm provado que a telepatia e clarividência, representam, hoje em dia, uma realidade.
A dificuldade que os parapsicologistas tiveram de enfrentar foi a de determinar se os fenômenos de telepatia e de clarividência eram físicos ou suprafísicos. Se a percepção extra-sensorial fosse puramente física, então o espírito seria estritamente mecanístico e nesse caso o fator distância (espaço) teria certo efeito mensurável na ocorrência. Mas, as experiências posteriores provaram conclusivamente que a distância não mostra efeito algum sobre uma demonstração de percepção extra-sensorial. Isto os levou à conclusão que de há muito consideram impossível: o espírito é capaz de ultrapassar o tempo e o espaço, porque é superior a essas condições físicas interdependentes.
Pensamos que seria útil aos nossos Estudantes conhecer as principais experiências catalogadas nas principais obras da matéria e assim dispor, como conhecimento geral, meios de confirmação científica do que estudam na filosofia – essas verdades básicas expostas na literatura oculta, desde vários milênios e que agora irrompem de sob a casca de materialismo, enfeitados com nomes científicos. Isso é previsto por muitos. Antes de sua morte, ocorrida em 1923, o formidável matemático e engenheiro-eletricista Charles Steinmetz, anunciou ao mundo que a ciência, quando voltasse finalmente para as descobertas do espírito, haveria de ter um progresso maior, em cinquenta anos, do que o que tivera em toda a sua história passada. Se esse grande gênio estivesse vivo, provavelmente concordaria em que o gongo finalmente soou. O meio século decisivo já está em plena marcha.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de Abril/72)
O Poder Criador do Pensamento
Quando o Ego entrou pela primeira vez na posse de seus veículos, na Época Lemúrica, não possuía cérebro, nem laringe. Para suprir essa deficiência, metade da força criadora sexual, anteriormente empregada na propagação foi dirigida para cima, a fim de construir aqueles órgãos; pelo primeiro, poder-se-ia produzir o pensamento e, pelo segundo, comunicá-lo aos outros. Deste modo, vemos que o pensamento é criador, por derivar da força criadora.
Igualmente, é criadora a voz; isto é, a palavra falada, pela mesma razão, tem o poder de criar, porque tem sua origem na força criadora. Daí deduzimos que, ao conservarmos a força sexual, teremos maior quantidade de poder aproveitável no processo de raciocínio e; do mesmo modo, nossas Mentes serão muito mais poderosas do que as das pessoas que malbaratam a força criadora. Esta força, não obstante, deve ser empregada em trabalho construtivo, mental ou físico, ou transmutada em serviço a favor da raça; de outro modo causaria perturbação. Se permanecer meramente recalcado, produzirá, com o tempo, desordens mentais, emocionais e nervosas.
O ato de pensar é um processo muito complicado. Envolve, não somente o emprego do cérebro etérico, o Corpo de Desejos e a Mente. O processo é o seguinte: como egos, funcionamos diretamente na Região do Pensamento Abstrato, dentro das nossas auras. Daqui, observamos as impressões causadas pelo mundo exterior sobre o Corpo Vital, por meio da cadeia de veículos e suas faculdades, chamadas sentidos.
Essas impressões, junto com os sentimentos e emoções por elas geradas no Corpo de Desejos, são imaginadas na Mente. Dessas imagens mentais, formamos nossas conclusões acerca das coisas observadas; tais conclusões são as ideias.
Pelo poder da vontade, nós, como egos, projetamos uma ideia através da Mente; aí, toma forma concreta, como pensamento-forma, ao atrair ao seu redor matéria mental da Região do Pensamento Concreto. O pensamento é o poder que usamos para criar imagens e pensamentos-formas, de acordo com as ideias interiores. O Pensamento-forma, em geral, se envolve em matéria de desejo, obtida do Corpo de Desejos, recebendo um influxo de Vida. Este pensamento-forma composto, fica, então, capaz de agir sobre o cérebro etérico, impulsionando a força vital através dos centros cerebrais e dos nervos, levando-a até aos músculos voluntários, para gerar a ação. Por conseguinte, o pensamento é a mola real de toda atividade humana.
Os efeitos de temor e de inquietação sobre o Corpo de Desejos são muito prejudiciais ao nosso desenvolvimento anímico. Na inquietação, as correntes de desejo não se desenvolvem em grandes linhas curvas, tal como se realiza em condições normais, mas saturam o Corpo de Desejos de redemoinhos, e só redemoinhos, em casos extremos.
Esta última condição impede a pessoa de tomar uma resolução que poderia corrigir a causa de seu temor e de sua inquietude. Tal estado pode comparar-se ao da água a ponto de congelar-se, sob a ação de uma temperatura muito baixa.
O temor, que se expressa em ceticismo, cinismo e pessimismo, pode comparar-se à água, quando congelada, porque os corpos de desejos das pessoas, que habitualmente abrigam estes pensamentos, estão imóveis, e nada pode alguém fazer, ou dizer, que possa alterar essa condição.
Cada vez que alguém abriga um destes pensamentos, ajuda a congelar as condições do Corpo de Desejos e a formar uma armadura azul-acinzentada, em que se encerra, privando-se, muitas vezes, do amor, simpatia e ajuda de todo mundo.
Daí, vem a necessidade de nos esforçarmos para sermos alegres e otimistas, mesmo em circunstâncias adversas, sob pena de criarmos severas condições no futuro.
A Mente subconsciente é fator muito importante no desenvolvimento do ser humano. Em cada respiração, o ar que inspiramos leva consigo um exato e detalhado quadro do que nos rodeia. O mais ligeiro sentimento, ou emoção, é transmitido aos pulmões, donde passa ao sangue. O sangue é o mais elevado produto do Corpo Vital. Os quadros nele contidos imprimem-se nos átomos negativos do Corpo Vital, para servirem como árbitros do destino do ser humano, no estado post-mortem. Quando uma pessoa cria um pensamento-forma, de natureza construtiva ou destrutiva, e projeta-o no mundo, efetua o seu trabalho, de acordo com a sua natureza, ou, então, gasta inutilmente sua energia em vã tentativa. Em qualquer dos casos, retorna ao seu criador, trazendo consigo a indelével recordação da viagem. Seu êxito, ou fracasso, imprime-se nos átomos negativos do Éter refletor e forma parte do arquivo da Vida e ação do pensador, arquivo que, por vezes chamamos “mente subconsciente”.
O pensamento destrói tecidos no Corpo Denso. É bem sabido, pela ciência, que os pensamentos negativos, destrutivos, tais como medo, angústia, sexualidade e sensualidade, destroem o poder de resistência do corpo, expondo-o a enfermidades. Uma pessoa de natureza boa e jovial ou, devotadamente religiosa, que tem fé e confia na providência divina, não cria, com frequência, pensamentos negativos; como resultado, possui uma vitalidade maior e melhor saúde do que as sujeitas à inquietude. Por meio de pensamentos de amor, benevolência e bondade, despertamos qualidades semelhantes nos outros e atraímos pessoas que possuem as ditas qualidades.
Este sutil poder do pensamento pode ser empregado, também, para curar as enfermidades. Por outra parte, pelo pensamento abstrato, o ser humano está capacitado a elevar-se do mundo material e a entrar em contato com Deus.
Se emitimos pensamentos de otimismo, de bondade, de benevolência, de utilidade e de serviço, estes pensamentos, gradualmente, colorirão a nossa atmosfera, de tal modo que chegaremos a expressar fielmente estas qualidades e virtudes. E, como nossos corpos são construídos pelo ego ou espirito, eles se tornam a expressão da nossa atitude mental; nossos pensamentos reagem sobre o nosso corpo físico e sobre o nosso meio ambiente, trazendo-nos saúde e bem-estar material. Isso ilustra o poder criador do pensamento. É um meio de provar a verdade proferida por Cristo: “Se procurarmos o Reino de Deus e sua justiça, todas as demais coisas serão acrescentadas”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de fevereiro/72 – Fraternidade Rosacruz SP)
A Importância das Escolas de Mistérios
Antes que estudemos os efeitos, deveríamos conhecer algo acerca das causas. No Conceito Rosacruz do Cosmos, lemos: “O destino do ser humano é ser uma inteligência criadora, e para isso está fazendo sua aprendizagem todo o tempo. Durante sua vida celeste aprende como construir toda classe de corpos, inclusive o humano”. Como é em cima, é embaixo. Está aprendendo a construir diferentes veículos nas regiões celestes, também está aprendendo a construir todos seus veículos aqui na terra. Se bem que construa conscientemente nas regiões celestes, constrói inconscientemente aqui a maior parte das vezes. É o propósito desta vida aprender construí-los conscientemente.
Quantas monstruosidades de injustiças teriam se pudéssemos construir os veículos conscientemente agora, com nossa inteligência inferior e egoísta. Assim é que as Hierarquias que têm a seu cargo a evolução humana têm que nos manter trabalhando de dentro primeiro.
O véu que esconde o passado está agora sendo levantado por aqueles que têm feito o esforço necessário. Para eles o passado está sendo descoberto e estão desenvolvendo a capacidade de ver no futuro e aspirar a uma vida mais espiritual. É incrível a quantidade de ajuda que estas almas aspirantes estão recebendo das Escolas de Mistérios dos planos invisíveis. Os Essênios eram algumas destas almas, e a sua história é assim: por volta do século segundo antes do nascimento de Jesus, retirado nas montanhas não distantes da margem ocidental do Mar Morto, estava um grupo de pessoas das quais ninguém parecia saber muito. São algumas vezes conhecidos na história, como os IRMÃOS DE BRANCO; outros os têm chamado os Filhos da luz. Eram altamente desenvolvidos e viviam aparte do resto do mundo, ainda que dessem seus tributos em moeda ao governo romano. O propósito dos Essênios foi preparar o caminho para a vinda de Cristo.
Foram eles os que fizeram o grande sacrifício e ajudaram a preparar a Palestina para Sua vinda. Eles também formaram o núcleo dos seguidores e Discípulos de Cristo por todos os lugares. Os Essênios esperavam a primeira vinda de Cristo, como agora estamos nós esperando Sua Segunda Vinda. Se não houvesse sido por seus esforços e sacrifícios não teria havido ouvidos prontos a escutar ao Cristo quando começou Seu Ministério, iniciando a Nova Dispensação de Amor para suplantar a antiga dispensação da lei. Entre esses Essênios estiveram alguns dos mais altos Iniciados desse tempo, incluindo Maria e José. Se não houvesse sido pela ajuda dessas Invisíveis Escolas de Mistérios, não teriam podido chegar a ser Iniciados. Mediante a profunda compreensão da necessidade de purificação ensinada nessas escolas, puderam construir veículos mais perfeitos, necessários para funcionar nos reinos superiores. A Maria e a José foram dadas a oportunidade de fazer o grande sacrifício de preparar-se para dar à luz um Corpo Denso PURO para que o Cristo morasse nele. Eles se separaram de sua comunidade e foram para o Norte fixar sua residência em Nazareth, até que Jesus nasceu.
Max Heindel nos diz que Jesus foi ao Sul pouco depois que alcançou a idade de treze anos e se uniu aos Essênios, com os quais trabalhou e passou todos os treze anos iniciáticos. Ao tempo em que ele finalizou seu desenvolvimento, tanto da cabeça como do coração, estava pronto. Quando o Sol por precessão passou a Áries, ao grau em que se fez possível que o Grande Espírito do Sol, o Cristo, descesse do Sol à terra, teve lugar o batismo, durante o qual Jesus abandonou seus Corpos Denso e Vital, e o Cristo tomou posse deles e funcionou neles durante os três anos de seu Ministério sobre a Terra. Os Essênios dispersos foram os que se uniram a Ele e formaram o grupo de Seus primeiros seguidores. Depois da destruição de Jerusalém, desapareceram do país tão misteriosamente como vieram. Depois os encontramos mais a oeste, e no século XVI os encontramos na Europa, não como Essênios, mas como Rosacruzes, com Christian Rosenkreuz, o Cabeça.
Assim, os Rosacruzes são trabalhadores invisíveis e a real Escola Rosacruz está no Mundo invisível.
Manifestam-se através de diferentes canais no tempo das grandes crises, quando são necessárias fortes medidas, posto que eles apareçam para preparar o caminho para a vinda de Cristo. Eles também ajudam as nações jovens a iniciar-se no Cristianismo. Se nos diz que foram eles que tiveram êxito em conduzir e guiar os precursores que se estabeleceram em nosso continente, e deram forma a nosso governo. Também ouvimos falar da Misteriosa Ordem dos Rosacruzes trabalhando hoje em dia no mundo.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 06/85 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Você tem qualidades para renovar o mundo?
O verdadeiro renovador não é aquele que agride os outros acusando-os de todas as falhas; que descarrega sobre os ombros alheios a responsabilidade de todas as coisas; — que permanece na parte externa dos acontecimentos.
Não. O verdadeiro renovador, se sente – ele mesmo – igreja, fraternidade, sociedade, “os outros”, comprometido com a vida até suas últimas consequências. Não se evade, colocando culpa nas estruturas e obstáculos para uma realização.
O verdadeiro profeta está disposto a dar a vida pela causa comum e sabe que as estruturas por quanto inadequadas e injustas, não o impedem de amar e doar-se totalmente. Conta-se que o Capitão Cortés, ao chegar ao México, queimou os navios, para externar com esse seu gesto que não era possível voltar para trás. O autêntico renovador não foge da situação, mas a enfrenta com espírito de total disponibilidade.
Que se deve, então, fazer? Devemos ser os pioneiros de um mundo novo, de uma sociedade melhor do que aquela em que vivemos. Somos chamados a fazer coisas que vão além da lógica e da psicologia.
Dar aos outros todo o nosso tempo e toda nossa vida, não é lógico, nem psicologicamente possível, e, no entanto, isto não é uma utopia.
O renovador é um ser humano de vitalidade ascendente, isto é, um ser humano que onde se encontra, leva a vida, a alegria, embora muitas vezes tenha que dizer: Não. E o diz com tanto amor, que também nesse caso, comunica um sentido de grandeza e elevação. Seu oposto é o ser humano de vitalidade descendente, isto é, a pessoa que trata as coisas de cima para baixo. Mesmo num ato generoso, deprime.
É muito importante ser consciente da dialética entre vida e morte, abraço e repulsa, alegria e tristeza.
Hoje nós conhecemos por dentro o problema da guerra, da fome, da alienação, do vazio existencial, mas exatamente porque desejamos ser renovadores, julgamos que a vida é mais bela do que a morte, que é melhor construir que destruir, melhor amar que odiar, melhor a alegria do que a tristeza.
Essa é a primeira característica da espiritualidade de um renovador.
Não tenho confiança nas pessoas e nos grupos que vivem a renovação em um clima de agressividade e de amargura, jogando pedra em todo mundo.
Além disso tudo, o verdadeiro renovador deve ser um poeta para criar um mundo novo. Mais do que burocráticos e organizadores, precisamos de poetas. Falando isso não quero dizer que se deva desconhecer a necessidade da ciência, da técnica e da organização. Quero dizer que se o fogo da poesia não aquecer tudo isso, estará condenado à atrofia.
Que risco corre quem se torna autoridade? Uma pessoa planificada, escrava da engrenagem burocrática, sem asas para idealizar e prever o mundo do futuro. Essa doença enfraquece todas as instituições de nossa sociedade.
Daí a necessidade de, em todos os níveis de nosso mundo político, social, econômico, eclesiástico, criarem-se grupos de pessoas que sonhem com novas fronteiras. Erra quem ri dos contemplativos, isto é, daqueles que se deixam atrair pelas estrelas, pelo sol, pelo fio da erva, pelo canto dos passarinhos… daqueles que colhem os sinais dos tempos.
Hoje temos necessidade de artistas, de músicos, de poetas, de pessoas que olhem para mais longe. Os técnicos valorizarão as ideias deles. Por que os jovens de nossos tempos gostam da música? É evidente: existe nela a visão de um mundo completamente novo.
Uma terceira característica do renovador é ser existencialmente empenhado. Deve ser uma pessoa disposta a perder tudo, sem nenhum compromisso; a dar-se inteiramente e para sempre; uma pessoa com a qual se pode contar, porque não é ligada a ninguém e a nada, porque não procura fazer carreira, nem visa lucro, nem a própria promoção. É toda empenhada em realizar um novo céu e uma nova terra, uma nova sociedade, uma nova igreja. Por isso se empenha em conhecer os outros pelo nome. A sociedade do futuro não será uma sociedade anônima. Sinto-me humilhado quando me encontro com alguém que conheço e não me lembro o nome. Um conhecimento desse tipo não é possível se a sociedade não se estrutura, desde a base, de um modo humano.
Ocorre fazer a experiência de fraternidade com um pequeno grupo para vivê-la em todas as circunstâncias. Não se pode prescindir dessa experiência se se quiser chegar a uma verdadeira renovação.
Não se é renovador se não se decide a esquecer a si mesmo e a procurar o outro, acolhendo-o no mistério de sua interioridade. O verdadeiro renovador se empenha também no diálogo. O que é o diálogo? Dialogar é ver o mundo com os olhos do outro, é dar ao outro os meus olhos para que também o possa olhar. Não é falar um depois do outro, mas é dizer um ao outro: “por favor, você me dê seus olhos”. “Você” vê coisas que ainda não vi, conhece regiões, pessoas que eu não conheço. E você os viu numa perspectiva diferente da minha e participou dos acontecimentos de modo diferente. É maravilhoso ver o mundo com os olhos dos outros. O renovador é aquele que se decide a amar. É fazer um “nós” com os outros. É muito triste encontrar um pseudoprofeta que fala da religião, dos povos subdesenvolvidos como de terceira pessoa. O verdadeiro renovador é aquele que descobriu o “nós” ao nível do ser e do fazer. Cometemos um grave pecado instaurando um desencadear sem fim de racismos: aqui, ricos; lá, pobres. Aqui os brancos, lá, os negros. Aqui os do Norte, lá; os do Sul. Aqui os progressistas, lá; os conservadores.
Quando, nas fronteiras, me pedem o passaporte, sinto todo o ridículo da situação.
Nós que não estamos dispostos a aceitar passaportes, carimbos de nacionalidades, fronteiras e barreiras, nós que estamos dispostos a sermos uma só coisa, a nós está confiada a criação de um novo tipo de sociedade e também, por que não, um novo tipo de religiosidade.
Para esse trabalho, porém, são necessárias duas ações convergentes: uma de baixo e outra de cima. Se do alto impuserem novas estruturas sem que a base esteja preparada para acolhê-las, a troca seria artificial. Por isso ao lado das soluções radicais previstas pelo alto é necessário um trabalho de sensibilização das consciências às novas exigências do tempo.
Por isso são muito necessárias hoje pessoas ricas de carga interior, que traduzam seus pensamentos em ações concretas, que escutem as consciências e as façam mais sensíveis aos problemas da renovação. Quem tem dotes para agir do alto, use-os; quem, ao invés, é chamado a colaborar de baixo, se empenhe nessa linha. Só assim faremos um novo céu e uma nova terra.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de jan/72)
Liderança ou Emancipação?
Por ser um movimento aquariano, a Fraternidade Rosacruz dispensa, em seu meio, a figura do líder. Sua renovada mensagem procura estimular o trabalho de equipe, onde as qualidades individuais se completem e os esforços se somem em torno de um ideal comum. Substitui-se a imposição pelo consenso. Delibera-se a partir do livre debate. Opta-se pelo trabalho grupal ao invés da ação unipessoal. Todo esforço comunitário nada mais é do que uma expressão antecipada da próxima Idade.
No entanto, a consecução desse objetivo maior tem sido uma tarefa das mais difíceis, pois apenas uma minoria encontra-se preparada para tal.
Essa elevada aspiração não será concretizada sem prévia transposição de alguns obstáculos. Removê-los consiste em árduo trabalho, porque arraigados estão na própria natureza humana. O ser humano acomodou-se desde vidas passadas a obedecer, transferindo a outrem a responsabilidade de decisão. As comunidades primitivas eram chefiadas pelos mais fortes e corajosos fisicamente. Essa foi à gênese da liderança.
Os modernos líderes reúnem atributos tais como inteligência, visão e, principalmente, uma personalidade forte e arrebatadora. Como raras vezes esses atributos vêm temperados com amor, por via de regra, transformam-se numa tirania, ostensiva ou sub-reptícia.
Tais lideranças, obviamente, acabam por se tornar nocivas ao grupo. Não obstante, a força da inércia é tão grande, a ponto das pessoas acomodarem-se até àquilo que lhes é prejudicial.
É claro que os povos orientais, com algumas exceções, tanto política como religiosamente encontram dificuldades para libertar-se da necessidade de liderança. Basta atentarmos para suas comunidades religiosas, e constatarmos como se obedece fielmente ao chefe ou guru. Não há meio termo. Entretanto, alguns líderes mais avançados, não se atribuem essa condição. Conscientes de sua missão procuram apenas indicar o caminho a seu povo, respeitando-lhe, ao máximo, o livre arbítrio. Mas como a humanidade não resiste ao fascínio de uma personalidade magnética, nem sempre lograram livrar-se de seu carisma.
O estudo do carisma constitui um interessante exercício para os modernos psicólogos. O que torna um indivíduo um líder? Grosso modo, uma personalidade forte, atraente, destemida, oratória fluente, somadas a outras qualidades pessoais devidamente inseridas num contexto todo especial – condições vigentes são importantes – são os ingredientes básicos do espírito de liderança. Certos fenômenos conjunturais servem de campo fértil ao surgimento dessa postura.
Não é justo, entretanto, omitir um ponto importante: alguns indivíduos converteram-se em líderes face à sua elevada formação espiritual. Mahatma Gandhi serve de exemplo. Fisicamente frágil e pouco atraente, voz desagradável, lembrando muito mais um mendigo do que um líder, o Mahatma soube impor-se ao respeito dos seus e do mundo, graças a sua bondade natural. Estudou Direito na Inglaterra, onde teve a oportunidade de acrescentar a sua formação orientalista as mais belas joias da cultura ocidental. Concluído o curso, passou a exercer sua profissão na África do Sul. Lá, a colônia indiana, por sinal relativamente grande, sofria as mais cruéis discriminações. Mais tarde, regressando a sua pátria, ainda jovem, porém, culto e tarimbado, renunciou às glórias que eventualmente o esperariam nos grandes centros, como Nova Délhi, Calcutá e outros. Dedicou-se a percorrer as miseráveis aldeias indianas para ensinar os mais comezinhos princípios de higiene – como usar latrinas, por exemplo – àquelas populações incrivelmente marginalizadas. Esse sentimento humanitário é que lhe conferiu a posição de líder.
Seja qual for a sua origem, a liderança tende a dar lugar a algo mais elevado. Aos poucos o ser humano vai aprendendo a libertar-se de tutelas, assumindo responsabilidades na sociedade em que vive. Quanto maior seu avanço espiritual, tanto mais acentuada sua emancipação em relação às pessoas e sua participação na vida comunitária.
As decisões tomadas em conjunto são, comprovadamente, mais sensatas. Havendo consenso, as responsabilidades pelos erros e acertos serão divididas, evitando-se, ou pelo menos minimizando cisões ou traumatismos na coletividade.
Para muitos, esse ideal avançado é considerado como utópico. Nós, todavia, não pensamos assim. Utopia é a verdade que não foi levada a prática. A distância não torna uma meta inatingível. Tanto estamos convencidos disso, que a Fraternidade Rosacruz tem sido uma das vanguardeiras do desenvolvimento espiritual sem lideranças. Líder é o Cristo, nosso paradigma e Luz do Mundo. Mas, se alguém entre nós deseja destacar-se, que comece sendo o “servo de todos”. Que procure, sinceramente, identificar-se com nosso ideário. Tornar-se-á, então, o “maior”, no bom sentido.
Pode ocorrer de estudantes novos ou menos avisados, impressionarem-se com as qualidades de algum membro mais antigo. Elegendo como modelo, acabam não raro, por decepcionarem-se, tão logo lhe contatem falhas de caráter. Esquecem-se de que ele é um ser humano lutando por aprimorar-se, sujeito a quedas. Se assim não fosse, ele não seria membro da Fraternidade, mas sim da Ordem Rosacruz. E mesmo os membros da Ordem, embora se encontrem acima do ser humano comum, também evoluem e queimam etapas.
Alguns estudantes empolgam-se com os conferencistas, deixando-se fascinar por um carisma de que, às vezes, eles nem se dão conta. Quando, num momento de maior intimidade descobrem-lhes o lado humano, chegam a desiludir e a abandonar o ideal, como se a Fraternidade fosse os seus membros. É uma pena que isso às vezes aconteça.
Os conferencistas, ao subirem a tribuna para expor nossa amada filosofia, carregam uma grande responsabilidade sobre seus ombros. Fazem-nos desprendidamente, conscientes de suas possibilidades e limitações. Procuram apenas colaborar no esforço de divulgação. Não são líderes, não se arvoram em “mestres”, nem se julgam “donos da verdade”. Apenas aspiram a que os estudantes entendam este posicionamento: numa conferência o importante não é o conferencista, mas a mensagem por ele transmitida. Não se conceda destaque ou louvar a “quem fala”, mas ao “que fala”. Como disse Descartes: “É preciso tornar as pessoas discípulas da verdade e não sectárias obstinadas do que o expositor ensina”.
Esperamos, assim, que todos os estudantes rosacruzes procurem emancipar de quaisquer influências externas, consolidando, dessa forma, a Fraternidade Rosacruz como a precursora da Idade Aquariana.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 01/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Organização da Fraternidade Rosacruz
A Comunidade Mundial Rosacruz não tem líderes. Todos são estudantes, que se esclarecem uns aos outros segundo o poder de seu entendimento.
O “Conceito Rosacruz do Cosmos” é explícito quando frisa que o Estudante deve tornar-se árbitro de seu próprio destino e realizar o aperfeiçoamento por si mesmo, à luz do método Rosacruz de desenvolvimento. O próprio Max Heindel foi um exemplo de desinteresse por qualquer espécie de liderança: nunca se furtou a qualquer gênero de labor dentro da Fraternidade; nunca se alteou ou se sobrepôs a ninguém em suas relações com os estudantes e companheiros; jamais concentrou nas mãos poderes mundanos relativos à obra. Enfim, sempre disposto a ocupar o último lugar à mesa do Senhor, foi o primeiro na prestação do serviço. Ele deixou as normas de funcionamento dos núcleos sem nenhuma espécie de vinculação material a quem quer que seja e nem cargos vitalícios.
Sua finalidade foi a de iluminar aqueles que não encontrando Cristo pela fé procuram-no pela razão. Esses sentem o “chamado” interno da tônica Rosacruz, que os levam a algo além das suas limitadas faculdades sensoriais, revelando os mistérios de nossa origem, a finalidade de nossa estada presente na Terra e desenvolvimento futuro, mas tudo isso para que, satisfeita a parte mental, possa falar o coração numa vivência superior de serviço amoroso ao próximo.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 01/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Superar a Lei
“Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho, e dente por dente’. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes. Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: ‘amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós, pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus'” (Mt 5:38-48).
Nessa passagem da Bíblia está indicada claramente a diferença essencial entre religião Cristã e religião de Raça que a precedeu.
Somente poucos eram capazes de aceitar uma conduta tão sublime, inegoísta do tempo da vinda de Cristo e agora, quase 2.000 anos depois, ainda são poucos os que chegaram a tão alta consciência. Tem havido progresso, e haverá progresso nos anos vindouros porque Sua radiação benevolente interpenetrará a terra e seus habitantes.
Somente aquele que alcançou uma elevada espiritualidade pode “não resistir ao mau” e somente aquele que pode virar a “outra face”, em amor e humildade, é capaz de emanar de si mesmo o alto valor da força espiritual, que será sentida pelo seu antagonista. Essa sutil, mas extremamente poderosa força atinge e, muitas vezes, transforma o “pecador”, dando reforço ao seu Ser Superior, o Espírito que habita nele, capacitando-o a se afirmar e agir de acordo com seu ideal.
Aqui está o magnífico potencial de capacidade que temos de abençoar, sem reservas, aquele que nos amaldiçoou, amar aquele que nos odiou e rezar pelos que nos prejudicaram.
Estudantes espirituais percebem e sentem a eficiência desse procedimento sabendo que é, na realidade, uma fórmula exata baseada em lei imutável. O elevado ideal de “sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai Celestial” não é fácil de atingir. Sem dúvida, desde que digamos que somos capazes de alcançar a altura dos nossos ideais, convém abraçar o ideal mais alto. Atualmente somos deuses em formação e os ensinamentos de Cristo para a humanidade, neste período de evolução, são a fórmula científica para desenvolver nossos poderes divinos que nos conduzem, pela senda elevada, à divindade.
Quando alcançamos o estado de consciência pura, quando pudermos espontaneamente seguir os mandamentos de Cristo, não estaremos mais sujeitos à lei. Teremos a lei escrita nos nossos corações e teremos a força de estar acima dos mandamentos.
(Traduzido da “Rays from the Rose Cross” e publicado na revista Rosacruz de 07/85)
O poder interno que está destinado a abrir-lhe um lugar de relevo no mundo
“Os Ensinamentos da Fraternidade têm um poder interno que está destinado a abrir-lhes um lugar de relevo no mundo, mas devemos fazer por merecê-lo, de acordo com a maneira pela qual ajudamos a trazer esses Ensinamentos dos Irmãos Maiores à atenção da humanidade em geral” (Cartas aos Estudantes).
“Bem-Aventurados sãos os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5:4).
As Bem-aventuranças têm sido objeto de muitas e variadas interpretações. Alguns dizem que elas não devem ser encaradas como uma norma de vida, mas antes como uma cápsula de tempo, contendo leis espirituais, e que só será operativa num futuro muito distante. Outros argumentam que Cristo Jesus estava mostrando um padrão de vida que não podemos seguir, a menos que nos retiremos do mundo – que os afazeres do mundo, negócios, comércio e especialmente política, são atividades competitivas, nas quais, certamente, os mansos não conseguirão singrar. A página 321 do Conceito (edição em Inglês) ajuda a compreender as passagens confusas das Escrituras por meio de um ponto de vista mais amplo e claro: “A verdade é múltipla e com diferentes facetas. Cada verdade oculta requer um exame de diferentes pontos de vista; cada ponto apresenta uma certa fase da verdade e todos eles são necessários para adquirir uma concepção definitiva e completa do que quer que seja que esteja sendo estudado”. Assim se passa também com as Bem-aventuranças, especialmente “Bem-aventurados são os mansos, porque eles herdarão a terra”. Por vezes, encontramos pessoas que se deixam espezinhar pelos outros. São, habitualmente, ridicularizadas e muitas vezes alvo de pena e críticas. Há algum tempo, eram publicados quadrinhos na sessão cômica dum jornal sobre Casper Milquetoast, um homenzinho amável, manso, insosso e patético. Uma vez, Casper era mostrado em pé, numa esquina, durante um aguaceiro torrencial. A água transbordava das abas de seu chapéu e ele tiritava miseravelmente, enquanto dizia: “Se aquele moço não aparecer dentro de mais 45 minutos, ele pode ir embora e pedir a outra pessoa que lhe empreste o dinheiro”. Essa caricatura parece exagerada e ridícula – mas será realmente? Manso é definido como “sofredor, paciente, de maneiras suaves, suportando injúrias”. A definição desfavorável é “mole”, “sem fibra”, “fraco”. Todos nós gostaríamos de expressar as qualidades positivas e verdadeiras identificadas com a palavra “manso” e fazemos esforços nesse sentido; mas todos, frequentemente, usamos a expressão desfavorável “fraco”, quando o nosso semelhante não se mostra à altura de nossas expectativas. A definição negativa de mansidão parece estar frequentemente associada com o Cristianismo e com o nosso Salvador em particular. Ouvimos muitas vezes a frase: “o manso e suave Jesus”. O poeta Swinburne chamava-o de “o Galileu pálido, mortiço”.
Inofensivo, fraco, invertebrado, de maneiras suaves, gentil – era isso que Ele queria dizer, quando dizia a Seus Discípulos: “Vós herdareis a terra se fordes mansos – inofensivos”?
Pois se esse era o sentido de suas palavras, elas certamente caíram em ouvidos surdos. Provavelmente, nunca houve outro grupo de homens que tenha de tal maneira desafiado a proverbial definição de manso. Eles argumentaram e combateram, enfrentando, corajosamente aqueles que desafiavam os Ensinamentos de Cristo; um deles apoderou-se duma espada e decepou a orelha de Malchus. Eles desafiaram a autoridade de Roma, “nós devemos obedecer a Deus e não aos homens” bramavam. Foram atirados na prisão, não porque eram mansos e suaves, mas porque eram homens de caráter e convicção.
Se nós rejeitamos os conceitos correntes e uso da palavra manso, o que, então, está a Bem-Aventurança nos dizendo?
A palavra-chave para essa Bem-Aventurança é: “Mansidão ou impessoalidade; a renúncia completa do eu”. A correlação astral é a Lua. A Lua atrai e aumenta à medida que toca cada ponto sensível na sua viagem de 30 dias em torno do círculo mágico, o horóscopo. A correlação bíblica é: “Aquele que perde a sua vida por amor de Mim, salvá-la-á”. Isso dá uma conotação completamente nova a essa Bem-Aventurança, no que concerne à versão popular. “Mansidão” aqui equipara-se com “impessoalidade”. A palavra “manso ” não é usada muito frequentemente na Bíblia, e é usada para descrever só duas pessoas: Moisés e Jesus.
No Livro dos Números, diz-se de Moisés: “Agora o ser humano Moisés era muito manso, mais do que todos os homens que havia na face da terra”. Suave? Sofredor? Essas denominações não se enquadram na personalidade dinâmica do herói do Velho Testamento. Duas imagens de Moisés acodem-nos à lembrança. A primeira, é de Moisés como um jovem, criado na corte do Faraó. Um dia, viu um egípcio bater num escravo. Era demais para esse jovem judeu, que matou o egípcio. Chamem-lhe um acesso de cólera ou um raro momento de paixão, mas não pode ser chamado um ato de mansidão, no sentido popular da palavra. A segunda imagem é o episódio dos 10 mandamentos. Quando Moisés vinha descendo a montanha com as Tábuas de Pedra, viu seu povo dançando em torno dum vitelo dourado: “E Moisés, muito irado, atirou de suas mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte. E, pegando no bezerro que tinham feito, queimou-o e esmagou-o até o reduzir a pó, que espalhou na água, e deu a beber dele aos filhos de Israel” (Ex 32:19-20). Isso novamente, não pode ser chamado um ato de mansidão. É necessário falar da ira de Nosso Senhor Jesus Cristo? Pode ser necessário para alguns que nunca podem imaginar Nosso Senhor ficando encolerizado. Mas ficou. O que precisamos dizer, e isto ajuda-nos a atingir a compreensão do significado esotérico da palavra “manso”, é que Sua ira foi dirigida contra os erros e as injustiças cometidos contra os outros. Nunca foi uma reação defensiva de sua parte àquilo que estava acontecendo com Ele. Foi espancado, escarnecido, ameaçado, mas nunca respondeu uma palavra, nem retribuiu. Sua cólera era dirigida contra os líderes religiosos e o pesado fardo que colocavam sobre o povo, e contra aqueles que enganavam no troco os frequentadores do Templo. Mesas viradas, pombas soltas de suas gaiolas, os vendilhões correndo apressadamente para fugir à dor aguda do chicote: (Mt 21 :13) “Minha casa deve ser chamada a casa da oração; mas vocês transformaram-na num antro de ladrões”. Uma vez mais, isso não foi um ato de mansidão.
Esses dramáticos incidentes coincidem com a vida na Terra tal como se nos apresenta hoje.
Estamos deixando a Idade de Peixes e entrando na Idade de Aquário. Somos como os filhos de Israel, mantendo-nos fiéis e adorando os dias dourados da indecisão, em vez de olhar para o futuro, onde o vitelo dourado desta dispensação está sendo moído e derramado sobre as águas da espiritualidade? Estamos abrigando dentro de nós os vendilhões, os desejos materialistas, que tem poluído o Templo de Deus, a nossa personalidade? Sim, na verdade, há uma interpretação interna e uma externa de todas essas Escrituras.
Na Bíblia, encontramos alegorias, simbolismos e mitos que foram usados para velar verdades sagradas e que só podem ser interpretadas pelos Espíritos avançados a quem foi dada a chave. Max Heindel era um deles e por seu intermédio os Irmãos Maiores puderam revelar muitas das verdadeiras interpretações dos Ensinamentos Sagrados.
Um mito é um estojo que contém, às vezes, as mais profundas e preciosas joias da verdade espiritual, pérolas de beleza tão raras e etéreas que não podem ficar expostas ao intelecto material. Com a intenção de as proteger e ao mesmo tempo permitir-lhes trabalhar pela humanidade, no sentido da ascensão espiritual dela, os Grandes Mestres que guiam nossa evolução, invisíveis, mas poderosos, deram essas verdades espirituais para o ser humano nascente, encerradas no simbolismo pitoresco dos mitos, para que assim possam trabalhar sobre os seus sentimentos, até chegar o tempo em que o seu nascente intelecto tenha se tornado suficientemente desenvolvido e espiritualizado para que possam senti-las e conhecê-las (do Livro: Cristianismo Rosacruz).
Os poderes espirituais existem adormecidos dentro de cada ser humano, mas só são desenvolvidos por assiduidade paciente e continuidade no fazer o bem, através dos anos. Somente uns poucos têm fé para iniciar na senda até a sua consecução, ou perseverança para prosseguir nessa prova difícil. Se nossas vidas não são impulsionadas pelos motivos mais puros e altruístas, poderemos ser um tormento para a humanidade, pois qualquer poder usado fora da direção dos princípios Crísticos, é destrutivo e suas reações trazem sofrimento.
Portanto, o exercício de qualquer poder implica em responsabilidade perante a Lei Divina.
Um parágrafo no livro “O Desejo das Idades”, de Ellen G. White, explicou isto lindamente: “o Governo sob o qual Jesus viveu era corrupto e opressivo; com todas as pessoas ocorriam abusos gritantes – extorsão, intolerância e dolorosa crueldade. Entretanto, o Salvador não intentava reformas civis. Ele não atacava os abusos nacionais, nem condenava os inimigos da nação. Ele não interferia com a autoridade ou com a Administração dos que estavam no poder. Ele foi o nosso exemplo, mantendo-se afastado dos governos terrenos. Não porque fosse indiferente aos infortúnios dos seres humanos, mas porque o remédio não repousava em medidas meramente humanas e externas. Para ser eficiente, a cura deve atingir o ser humano individualmente e deve regenerar o seu coração.
Atentem bem – Cristo Jesus preocupava-se com as pessoas. Curava suas doenças, alimentava-os quando estavam famintos. Ninguém poderia dizer que era indiferente aos anseios das pessoas.
Ele foi o exemplo personificado do Manso Bem-Aventurado. Há grandes esperanças para aqueles que desejam segui-lo. A história completa da humanidade pode ser resumida nas palavras: “profundo conhecimento” ou “mestria”; ser capaz de submeter aqueles desejos, paixões e instintos que fazem a pessoa censurar, eliminar ou tentar destruir os outros. Os mansos abençoados são os seres humanos de Deus que usam aquela índole e disposição para atingir um propósito e um objetivo. Manso abençoado foi um Gandhi, que conseguiu levar o ex-poderoso Império Britânico a ajustar um acordo, não pela força ou “choques ruidosos da espada”, mas mediante seu próprio poder disciplinado e energia moral. Manso abençoado é um Lincoln, anunciando durante uma eleição: “Sei que existe um Deus a quem repugna a injustiça e a escravidão. Eu vejo a tempestade se aproximando e sei que Sua mão está nela. Se Ele tem um lugar e um trabalho para mim e acredito que tem, eu estou pronto. Não sou nada, mas a Verdade é tudo”. Mansa abençoada é uma Florence Nightingale, lutando como um tigre para a cura de seus doentes. Todos eles eram mansos no sentido cristão da palavra, pois sua cólera era voltada contra as injustiças e maus tratos causados a outros e não a eles próprios.
O ser humano desenvolveu o seu poder sobre o seu meio ambiente. Transformou em desertos, jardins florescentes. Recuperou os desertos, dirigindo as águas para a fertilidade. Usou o fogo e os metais para criar segundo suas necessidades. Usa o ar como via expressa de transportes. O ser humano é um criador. Desenvolveu muitos poderes, mas ainda não é senhor de si próprio. Nos dias de auto maestria, o ser humano dirigirá todos os seus poderes com sabedoria e amor e o reino dos céus manifestar-se-á na terra. É a lei de sua condição divina. O tempo destrói as criações de suas mãos, mas a alma do ser humano progride sempre com as riquezas de suas experiências. Novamente repetimos: “Bem-Aventurados sejam os mansos”. É impossível domá-los, desalojá-los ou destruí-los. Eles herdarão a terra.
(Pulicado na Revista Serviço Rosacruz de mai/78, traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross”).
Não há efeito sem causa, nada procede do nada. Em cada um de nós existem forças e potências que não podem ser consideradas materiais, e devem ter suas causas explicadas retomando outra origem que não seja matéria.
A esse princípio chamamos Espírito.
Quando nos interrogamos querendo conhecer e analisar nossas faculdades, quando afastamos da superfície da nossa alma a espuma que a vida nela acumula; quando atravessamos o espesso envoltório com que é revestida nossa inteligência; quando, libertos das preocupações, dos sofismas e da má educação penetramos no mais íntimo do nosso ser é que nos encontramos, frente a frente, com os augustos princípios sem os quais não há grandeza para a humanidade, isto é, o amor ao bem, o sentimento de justiça e o progresso. Esses princípios que encontramos em diversos graus, tanto no ignorante como no gênio, não podem ser originados na matéria que está desprovida de tais atributos. E, se a matéria carece dessas qualidades, como pode ser formada nos seres que as possuem? Nossa memória, nossa ciência, o sentimento do belo e verdadeiro, a admiração que experimentamos pelas obras grandes e generosas não podem ter a mesma origem que a carne dos nossos membros e o sangue das nossas veias. São como reflexos de uma luz pura e elevada, que brilha em cada um de nós, assim como o Sol se reflete nas águas, não importando que sejam turvas ou cristalinas.
Em vão pretendem os cépticos dizer que tudo é matéria. Como sentimos arrebatamentos de amor e bondade, como a virtude nos encanta, como a abnegação, o heroísmo e a beleza moral, então gravadas em nós, como a harmonia das coisas nos enfeitiça. Sendo assim, nada disso nos distinguiria da matéria?
Sentimos, amamos, temos consciência, vontade e razão; será que tudo isso procede de uma causa que nada sente, ama ou conhece uma causa surda e muda?
Tal pensar não resiste ao mais ligeiro exame. O ser humano tem duas naturezas. Seu corpo e seus órgãos derivam da matéria, suas faculdades intelectuais e morais procedem do Espírito.
Podemos ainda dizer qual o propósito do corpo humano, pois os órgãos que compõem tão admirável máquina são as rodas que, incapazes de funcionar sem um motor, possuem uma vontade que as põe em ação. Esse motor é o Espírito.
O Espírito está encerrado na matéria como um prisioneiro em sua cela e os sentidos são as aberturas pelas quais pode comunicar-se com o mundo exterior. Mas a matéria, mais cedo ou mais tarde, decai e se desagrega, enquanto o Ego aumenta em poder, fortificando-se com a educação e a experiência. Suas esperanças crescem e se estendem para além da tumba, suas necessidades de saber, conhecer e viver não têm limites. Tudo demonstra que o ser humano só, temporariamente, pertence à matéria. O corpo não é mais do que uma vestimenta emprestada, uma forma passageira, um instrumento com cujo auxílio o ser humano prossegue neste mundo em uma obra de purificação e progresso.
A vida Espiritual é a vida normal, verdadeira e imortal.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/85 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Bem que podemos Fazer
Os males que não podes remediar são infinitos. Porém, os que podes remediar são tantos que, balanceando o que tens feito em um ano, por exemplo, verás que o bem praticado exigiu um labor enorme para tuas forças, parecendo-te um sonho que realizaste.
Também um grão produz uma espiga.
A capacidade de fazer o bem, de que cada alma humana dispõe é extraordinária pela sua grandeza.
O poder de fazer o bem, que nos foi concedido, é uma enormidade admirável.
Vemos seres humanos desprovido de todos os recursos realizarem milagres de caridade; seres humanos que alteram a organização das sociedades; seres humanos que arrancam o mundo de seu estado natural e o renovam.
Causa assombro pensar no que seria nosso Planeta, se todos os seres humanos fossem educados para o amor, em vez de para o egoísmo e até para o ódio. O eixo moral do mundo seria como que perpendicular ao plano da elítica do Dever e uma divina primavera reinaria na morada dos seres humanos.
(Publicado na revista Serviço Rosacruz, jan/73)