Imaginem um lugar bem antigo onde existia um moinho, pessoas que trabalhavam nele, os moeiros, onde existiam guardas que guardavam uma casa.
“Lembra-te do teu Criador, nos dias da juventude, antes que cheguem os dias nefastos e se aproximem os anos dos quais dirás: ‘Não gosto deles! ‘
Antes que se obscureçam a luz do sol, a lua e as estrelas, e voltem às nuvens depois da chuva!
– Naquele dia os guardas da casa começarão a tremer, e os homens robustos a se encurvar; os moleiros, por serem poucos, cessarão de moer, e ficarão embaciados os que olham pelas janelas; as portas sobre a rua se fecharão, e diminuirá o ruído do moinho até tornar-se como o pipiar de um pássaro e extinguir-se o som das canções; haverá medo das alturas e sobressaltos no caminho plano; a amendoeira há de florescer, o gafanhoto engordar, e a alcaparra estalar; então o homem seguirá para a morada eterna, e pelas ruas andarão os carpidores – antes que se solte o fio de prata e se despedace a taça de ouro, quebre-se o cântaro na fonte e se parta a roldana da cisterna; o pó volte a terra, onde estava, e o espírito volte para Deus, seu autor”.
Os parágrafos precedentes podem ser encontrados no capítulo 12 do Livro do Eclesiastes, também conhecido como o “Poema sobre a velhice”.
Ele descreve a simplicidade de sentimentos e apegos que deve envolver esse período de nossa peregrinação nesse Mundo Físico e o seu fim, com a morte, com o término de mais uma peregrinação. Percebam o que envolve o ser humano nesse período: declínio da vida física: “antes que obscureçam a luz do Sol, a Lua e as Estrelas e voltem as nuvens depois da chuva!”.
O Corpo Denso, o físico, começa a fraquejar: “naquele dia os guardas da casa começarão a tremer, e os homens robustos a se encurvar, os moleiros, por serem poucos, cessarão de moer (os sistemas e os órgãos do nosso Corpo Denso), e ficarão embaciados os que olham pelas janelas (os nossos olhos), as portas sobre a rua se fecharão (o nosso cérebro) e diminuirá o ruído do moinho até tornar-se como o pipiar de um pássaro e extinguir-se o som das canções (diminui a importância das coisas externas e que estão ao nosso redor)”.
E o medo que a muitos aparecem nesse período: “haverá medo das alturas e sobressaltos no caminho plano (…) então o homem seguirá para a morada eterna e pelas ruas andarão os carpidores (chega o momento no qual as experiências que o Espírito pode adquirir em seu ambiente atual ficam esgotadas)”.
E, finalmente, a morte como destino final de mais uma passagem por esse Mundo Físico: “antes que se solte o fio de prata (rompimento do Cordão Prateado) e se despedace a taça de ouro (morte do Corpo Denso) (…) o pó volte a terra, onde estava, e o espírito volte para Deus, seu autor”.
Está aí a única certeza dessa vida: a Morte.
Nesse exato momento revemos todos os acontecimentos que ocorreram nessa última peregrinação. É o panorama dessa última existência.
O objetivo desse panorama é a gravação, no Corpo de Desejos, de tudo que aqui fizemos.
E como é feita essa gravação? Durante a nossa existência nesse Mundo Físico, tudo que fazemos é gravado num átomo que permanece durante toda essa nossa existência no coração, mais precisamente próximo a uma região conhecida como ápice, no ventrículo esquerdo do coração. Ele é conhecido como: Átomo-semente do Corpo Denso.
Ao contrário de todos os outros átomos do nosso Corpo Denso que são todos substituídos de 7 em 7 anos, esse Átomo-semente nunca é substituído.
Cada um de nós o carrega o que hoje conhecemos como o Átomo-semente do Corpo Denso, que ganhamos de seres muitos avançados – conhecidos, na Bíblia, como os Tronos e, na terminologia Rosacruz como Senhores da Chama – num passado longínquo conhecido como Período de Saturno.
Esse Átomo-semente é também conhecido como o Livro dos Anjos do Destino, devido a possuir todos os registros dessa nossa existência aqui na Terra e que, devidamente gravados e assimilados, nos ajudarão, posteriormente, junto com os Anjos do Destino, a escolhermos o próximo destino que gostaríamos (e necessitaremos) de viver nas próximas vidas.
Esses registros compõem a Memória Supraconsciente de cada um de nós. Aquela Memória que se encarrega de gravar tudo aquilo que vemos e percebemos ou não. Aquela nossa Memória que parece com uma foto de uma máquina fotográfica. Não importa se na cena que estamos tirando tal foto observamos cada detalhe. A foto terá todos esses detalhes.
Portanto, essa Memória é muito mais completa do que aquela que costumeiramente utilizamos e que conhecemos como Memória Consciente, aquela que utilizamos para ver o que queremos ver e, portanto, lembrar daquilo que nós queremos lembrar.
Está aqui a importância do exercício da observação dado no Conceito Rosacruz do Cosmos. A sua prática melhora sensivelmente a Memória Consciente de modo que aprendemos a ver muito mais do que queremos ver e a lembrar muito mais do que queremos lembrar.
A assimilação da diferença desses dois tipos de Memória que cada um de nós temos, faz-nos entender porque Cristo disse que: “temos olhos, mas não vemos”.
Portanto, as cenas, com seus sentimentos, suas peculiaridades e todos os seus milhões de detalhes, chegam até a esse Átomo-semente por meio do ar, carregado de Éter, que respiramos e, após passar pelos pulmões, chega ao coração através do sangue.
Então, a qualquer momento, temos nesse Átomo-semente do Corpo Denso, todo o panorama dessa última existência até esse instante.
É a gravação desse panorama no Corpo de Desejos que nos dará material para assimilarmos, na nossa passagem nos Mundos Suprafísicos, tudo que aprendemos aqui nessa nossa peregrinação pelo Mundo Físico.
Este momento é de extrema importância para a nossa vida post-mortem. Desta revisão depende toda a nossa existência desde a morte até o nosso novo nascimento.
A duração desse panorama varia de pessoa para pessoa, ou melhor, varia de acordo com a saúde e a força do Corpo Vital. Por exemplo, se o Corpo Vital se encontrar extenuado devido a uma longa enfermidade antes da morte do Corpo Denso, então o panorama pode ter uma duração mais curta.
Outro exemplo de curta duração desse panorama é para aqueles aspirantes à vida superior que fazem sincera e diariamente o Exercício de Retrospecção, todas as noites como indicado no livro O Conceito Rosacruz do Cosmos, de Max Heindel.
Por isso que é importantíssimo durante até 3 dias e meio, após o falecimento, deixarmos a pessoa que acabou de morrer num ambiente sem nenhuma perturbação exterior, sem nenhuma comoção (como por exemplo: choro, lamentações, histerias), num ambiente onde reine a quietude, a paz e a oração.
A atitude correta e que muito ajudará o espírito que acaba de partir, deve ser animadora, esperançosa e encorajadora. O sentimento egoísta de perda deve ser controlado para que o Espírito que acaba de partir seja encorajado a seguir nessa nova jornada.
Ao invés de pensar nesse momento: “O que farei agora sem essa pessoa que perdi? Não sei viver sem ela”, devemos pensar assim: “Torço para que essa pessoa esteja ciente das novas condições que a cercam e consiga desprender-se de tudo isso que a rodeia, desse Corpo Denso que já não mais lhe serve, sem se preocupar por nos ter deixado”.
Afinal a morte não existe. Ou será que o que entendemos por morte não é um novo nascimento nos Mundos Suprafísicos? Como, do mesmo modo, o que entendemos por nascimento é uma nova morte nos Mundos Suprafísicos.
Porque no momento do desprendimento do Espírito de seu Corpo Denso e da revisão dessa sua última existência na Terra, ele está passando o seu Getsemani, que nos fala a Bíblia no Evangelho Segundo São Mateus 26:36-46, e aqui, nesse momento, cada um nós necessita de todo o auxílio que possam nos prestar.
Devemos entender que no momento da morte, a colheita está começando; semeamos a via inteira e colhemos o fruto ao chegar à morte.
O valor de toda essa existência que está prestes a terminar depende grandemente das condições que prevaleçam em torno do corpo.
Durante até os três dias e meio que compõe a passagem do panorama, o Ser Humano sentirá qualquer intervenção no seu Corpo Denso, além de atrapalhar a perfeita assimilação da contemplação desse panorama.
Assim, a cremação, as autópsias, o embalsamento ou qualquer outra intervenção no Corpo Denso durante esses até três dias e meio, não só perturbam mentalmente o espírito que se vai como podem até mesmo causar certa quantidade de dor, porque ainda existe uma ligeira conexão entre ele e o veículo físico abandonado.
Só após ocorrer a revisão desse panorama em sua totalidade é que se rompe o Cordão Prateado, aquele que liga o Átomo-semente do Corpo de Desejos, situado no grande vórtice na posição referida do fígado, ao Átomo-semente do Corpo Denso, situado na posição referida do coração, e que juntos se unem com o Átomo-semente do Corpo Vital, situado na posição referida do Plexo Celíaco.
Aquele que liga os nossos três Corpos e que serve de conexão entre eles durante toda a nossa vida.
Aquele que nos mantém conectados ao nosso Corpo Denso quando, à noite, saímos do nosso Corpo Denso, levando conosco nossos Corpos Suprafísicos.
Portanto, o Cordão Prateado só se rompe após a contemplação de todo o panorama. E isso pode durar até 3 dias e meio após o acontecimento que conhecemos por Morte.
Após o rompimento do Cordão Prateado deixamos o nosso Corpo Denso, levando conosco: o Átomo-semente desse Corpo Denso (ou seja, a quintessência de tudo que o Corpo Denso é), o Corpo Vital, o Corpo de Desejos e a Mente.
A partir desse momento esse Corpo Denso começa a voltar de onde ele foi formado, ou seja, como diz no poema: o pó volte a terra, onde estava.
Portanto, o rompimento do Cordão Prateado determina o fim de mais uma existência no Mundo Físico. E não há nada que o possa restabelecer.
Este panorama é iniciado primeiro por aquilo que acabou de acontecer assim que demos o último alento e assim por diante até chegarmos ao primeiro alento, a primeira respiração que inalamos, quando nascemos nesse Mundo Físico mais uma vez.
Dessa forma gravamos primeiro os efeitos dos nossos atos e depois as causas. Desse modo fica mais fácil, num passo posterior da nossa existência nos Mundos Suprafísicos, entendermos porque cada efeito foi provocado por determinada causa.
Nesse panorama vão passando os acontecimentos e podemos perceber tudo o que fizemos, tudo aquilo que fizemos aos outros, todas as angústias, todas as gratidões, todas as alegrias, todas as tristezas, todas as maldades, todas as bondades, todas as ações, todas as omissões.
Aqui no momento desse panorama temos o primeiro vislumbre que nos dá a certeza de que a finalidade dessa vida é tão somente obter experiências, mostrando que cada vida tem algum fruto a ser colhido.
No momento desse panorama temos o primeiro vislumbre da dificuldade que tivemos ao educar nosso Corpo Denso durante os anos da infância com toda a falta de habilidade; da dificuldade em controlar o Corpo de Desejos no período ardente e impulsivo da juventude, até chegarmos a maturidade, quando então pudemos utilizar verdadeiramente esses veículos para o uso espiritual.
E ainda aqui na maturidade, quantos não percebem essa oportunidade, quantos não conseguem considerar o lado sério dessa existência, e quantos nem começam realmente aprender as lições que determinam o crescimento da nossa alma, quantos passam pela maturidade sem perceber a quantidade enorme de oportunidades que perdem.
E quando percebem é porque estão sofrendo fisicamente, porque seu Corpo Denso já não obedece mais, porque já está definhando, esperando a morte chegar.
Por isso que na nossa presente existência na Terra, devemos viver intensamente, dando-nos tempo de satisfazer todas as nossas ambições ou comprovar sua futilidade, de cumprir todos os nossos deveres, de aprendermos as lições que escolhemos aprender.
Por isso que é imprescindível tentarmos viver uma vida longa e da maneira mais intensa possível.
Cuidarmos muito bem do nosso Corpo Denso, instrumento maravilhoso de aprendizagem nesse Mundo Físico.
Que satisfação terminarmos mais uma existência nesse Mundo Físico com a certeza do dever cumprido!
QUE AS ROSAS FLORESÇAM EM VOSSA CRUZ
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