Os Espíritos Esclarecidos e o Vegetarianismo
O vegetarianismo, tão velho como o mundo, foi sustentado pelos grandes espíritos; não nasceu da imaginação de um cérebro doentio, mas corresponde a uma realidade científica.
Desde os tempos mais remotos, os moralistas, legisladores, chefes de escolas científicas, filosóficas ou religiosas condenaram os excessos alimentares, pregando a seus concidadãos, discípulos ou adeptos a abstinência de toda carne (mamífero, aves, peixes, répteis, anfíbios, “frutos do mar” e qualquer outro do reino animal). Sem remontar à época dos magos, dos sábios da Índia, da China primitiva e do Egito, momento em que o vegetarianismo desfrutava grande prestígio, lembremos que entre os hebreus, os nazarenos praticavam a completa abstinência de carne.
Os pelasgos viviam de frutas; os pitagoristas alimentavam-se de frutas, queijo, legumes variados, pão e mel. Pitágoras, ele próprio, que morreu centenário, dizia, falando da carne: “Temei, ó, mortais, poluir vosso corpo com uma alimentação abominável”.
Platão não tolerava o uso da carne, senão para os soldados. Ele a proibia aos cidadãos de sua República ideal: “Sua alimentação”, preconizava ele, “será de farinha de trigo e de cevada, sob a forma de pão e pastéis. Usarão também sal, azeitonas, queijo, cebola, hortaliças cruas, figo, ervilha e fava. Assim, tranquilos e cheios de saúde, chegarão até à velhice e deixarão a seus filhos a herança de uma vida feliz”. Muito frugal, Platão nutria-se, sobretudo, de figos.
Os neoplatônicos da Escola de Alexandria, Longin, Jamblique e Porfírio, mantiveram a doutrina do mestre e condenaram a carne.
Tais ideias foram professadas por outros sábios. Crísipo, Socion e Sextus sugeriram-nas a Sêneca, que foi partidário do regime vegetariano.
Plutarco afirmava o seguinte.
Ovídio fez uma profissão de fé vegetariana que pôs na boca de Pitágoras. Depois de ter condenado a morte dos animais, ele diz: “Não era assim naquele tempo que denominamos a idade de ouro, em que o homem se contentava com as hortaliças e as frutas que abundavam na Terra, não maculando a boca com o sangue dos animais”.
Ninguém ignora com que força os Pais da Igreja se têm levantado contra o uso da carne. “Seguimos o exemplo dos lobos e dos tigres!”, exclamava São João Crisóstomo. “Ou, antes, somos piores do que eles, pois Deus nos honrou com o senso da equidade”.
Recomendava Clemente de Alexandria: “Guardai-vos desses alimentos. Não vos basta uma tão grande variedade de frutas, leite e toda sorte de alimentos secos? Aqueles que se reúnem em torno de mesas intemperantes cevam suas doenças e desenvolvem uma que considero vergonhosa, a que denominaria de demônio do ventre”.
Sem dúvida poderão objetar que tais ensinamentos, oriundos da antiguidade, não se poderiam aplicar aos nossos climas nem à nossa existência, devido à agitação dos tempos modernos. Dirijamo-nos, então, aos modernos.
Voltaire, nas Cartas de um indiano, comprazia-se em desvendar as baixezas da cozinha europeia, insistindo prazerosamente nos sabores nauseabundos da carne e da gordura dos animais.
Diderot e J. J. Rousseau defenderam resolutamente o vegetarianismo. O autor de Emile observava que os camponeses comiam menos carne e mais verduras do que as mulheres das cidades. Esse regime parecia mais favorável a elas e a seus filhos. Aos “necrófagos” eu aconselharia meditar sobre a seguinte página do poeta inglês Schelley.
“A anatomia comparada nos mostra que o homem se assemelha aos animais frugívoros e nada tem dos carnívoros; nem as garras para se apoderar da presa nem os dentes cortantes para a despedaçar viva. Somente pelo preparo, à custa de inteligentes manobras da arte culinária, é que se consegue tornar a carne mastigável e digestível.”
“Concito aqueles que aspiram a uma vida saudável e feliz que façam uma experiência imparcial do vegetarianismo. Não obstante a excelência desse regime, é somente entre os seres humanos esclarecidos que se pode esperar que sacrifiquem seu apetite e seus preconceitos… pois as pessoas de vistas curtas, vítimas de doenças, preferem acalmar seus tormentos com drogas a preveni-los com um regime atóxico, equilibrado e saudável.”
Schelley insiste, em seguida, nas enormes vantagens econômicas e sociais de uma reforma alimentar.
Lamartine, o mavioso poeta francês, criado por sua mãe nos princípios do vegetarianismo, conta que aos doze anos viveu só de pão, laticínios, verduras e frutas. “Minha saúde”, disse ele, “não foi menos perfeita por isso nem meu desenvolvimento menos rápido e é provavelmente a esse regime que eu devo esta pureza de estilo, esta sensibilidade requintada de impressões, esta doçura serena de humor e de caráter que conservei até esta época”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de dezembro/1965)
Os Ensinamentos Rosacruzes e a Teoria do Renascimento
Desde os mais remotos tempos as almas avançadas vêm demonstrando grande interesse em elucidar o enigma da vida e da morte. Hoje, entretanto, esse ardor ganha maior amplitude. As catástrofes, as guerras, os problemas socioeconômicos se agravando, a autodestruição pelas drogas e neuroses, as questões ecológicas, a violência urbana, formam um delicado painel a desafiar o ser humano. Embora esta seja a época dos ‘QIs’ assombrosos, dos PHDs, da tecnologia ultrassofisticada, nunca houve tamanha sensação de insegurança.
Essa grande provação está induzindo os seres humanos a procurarem respostas satisfatórias, em fontes não convencionais. Muitos já estão se embrenhando no campo do espiritualismo profundo, na esperança de encontrar soluções para os problemas que os afligem. Daí o crescimento das Escolas Esotéricas e a venda em escala crescente de obras ocultistas nas livrarias.
Motivando mais ainda essa busca, notamos os modernos meios de comunicação social apresentando, constantemente, reportagens e artigos sobre a “vida após a morte”, reencarnação, clarividência e outros temas apaixonantes.
Isso é muito significativo, mesmo a despeito de alguns programas de televisão darem um tratamento superficial e sensacionalista a tais questões. Porém, sempre resta um saldo positivo.
Qual dos temas acima referidos cerca-se de maior interesse? Cremos ser o da reencarnação, nos ensinamentos da Sabedoria Ocidental, divulgados pela Fraternidade Rosacruz, conhecida como RENASCIMENTO.
Lemos no Antigo Testamento, Jó queixando-se da natureza efêmera da vida humana e dos dissabores por ela causados: “O homem nascido de mulher vive breve tempo, cheio de inquietações”. E em outro versículo indaga: “Quando o homem morre, tornará a viver?”.
A essa pergunta sumamente importante, os ensinamentos rosacruzes responde com toda segurança: sim. No capítulo IV do Conceito Rosacruz do Cosmos – Renascimento e Lei de Consequência – Max Heindel aborda a questão, alinhavando considerações, ilustrações e argumentos. É um dos pontos básicos do rosacrucianismo, porque faz emergir as causas de muitos fatos e fenômenos intrigantes.
O ocultista aceita o renascimento como um fato indiscutível, não como uma possibilidade ou hipótese. Não afirma “crer”, porquanto “crença” é algo meio vago, subjetivo. Ele conhece, sabe. Os mais avançados, inclusive, têm a oportunidade de acompanhar a trajetória de um Ego, desde que desencarna, passando por algumas etapas “post-mortem”, até o próximo renascimento. Logo, não necessitam crer.
Três teorias principais procuram esclarecer o enigma da vida e da morte: (1) a Materialista, (2) a Teológica e (3) a do Renascimento. Segundo a primeira, delas, nada há que transcenda os limites da matéria física. A Mente é o resultado de certas correlações da matéria, o homem é o ser mais elevado do Universo e sua inteligência perece quando da sua morte. Fora disto, dizem os apologistas dessa teoria, tudo é produto da imaginação, de alucinações ou fruto da ignorância. O mundo material é a única realidade.
Essa teoria, entretanto, a cada dia que passa se torna mais insustentável. As pesquisas efetuadas pelas sociedades parapsicológicas das nações mais desenvolvidas; os estudos realizados por pessoas cultas e séria; os depoimentos de pessoas comprovadamente sãs e idôneas, envolvendo fenômenos suprafísicos, evidenciam a descoberta e confirmação de uma nova realidade.
A Teoria Teológica nega a possibilidade de o espírito renascer aqui no Mundo Físico. Assevera que, em cada nascimento uma alma recém-criada por Deus adentra a arena da vida; que ao fim de certo período deixa essa existência, passando pelo umbral da morte; que as condições “post-mortem”, eternas por sinal, dependerão de seus atos e conduta (segundo algumas seitas cristãs) ou de sua fé em Cristo como seu Salvador (segundo outras) durante a vida terrena. Portanto, aqueles cujo procedimento foi reprovável ou não tiveram fé deverão sofrer eternamente, enquanto os outros serão recompensados.
Ora, é fácil encontrar uma grande, uma flagrante contradição nessa teoria, decorrente da injustiça que ela carrega em seu bojo. Se nos Evangelhos o próprio Cristo nos exorta a perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete, isto é, infinitamente, como Deus pode condenar alguém ao sofrimento eterno, sabendo-se que o ambiente ou qualquer circunstância podem induzir facilmente à transgressão?
Que Divindade é essa, responsável pelo nascimento de um indivíduo numa favela, em meio à fome, ignorância e delinquência, e de outro numa mansão, cercado de todos os cuidados e educação esmerada? Se a própria justiça dos seres humanos, falível em si mesma, ainda tem a nobreza de conceder “sursis”, liberdade condicional e oportunidades de recuperação a quem comete delitos, por que Deus – suprema Perfeição – condenaria alguém?
Não, não é possível que seja assim. A Teoria Teológica projeta a imagem de uma Deidade antropomórfica, ou seja, concebida à imagem e semelhança do ser humano. Mas não é a própria Bíblia que afirma termos sido criados, nós, à Sua imagem e semelhança? O bom senso não consegue admitir tamanho absurdo. Conclui-se, portanto, da insustentabilidade dessa teoria.
Por fim, resta-nos analisar a Teoria do Renascimento, chamada pelos espíritas, teosofistas, budistas, etc., de reencarnação.
Se observamos a vida do ponto de vista ético-lógico não há como deixar de aceitar o renascimento. O Universo é regido por leis sábias, e, certamente, uma mente lúcida não poderá atribuir-lhe um sentido injusto. Tudo tem sua razão de ser.
Se os próprios seres humanos de ciência admitem, no campo material, um processo denominado “evolução”, por que não admitir que o mesmo se estenda a todos os campos?
Em todos os lugares contemplamos o esforço da natureza para atingir a perfeição. Não há processos súbitos de criação e destruição. Tudo caminha e se aperfeiçoa, lenta, mas seguramente.
Observemos a organização social, política, econômica, religiosa e familiar dos povos. Confrontemos com o panorama de quinhentos, mil ou dois mil anos atrás. Houve uma transformação radical, uma evolução, um aprimoramento, sem dúvida alguma. Não é lógico supor-se, entretanto, que os subsídios para promover essa evolução tenham sido colhidos apenas e tão somente nos bancos escolares ou nos templos, em um determinado lapso de tempo.
Há um cabedal de experiências, um lastro cultural e psicológico, impossível de ser formado no curto espaço correspondente a uma vida. Não nos esqueçamos, também, de um aspecto importante: todos esses avanços extraordinários tiveram a conduzi-los, a inspirá-los, a traçar-lhes as diretrizes, seres humanos dotados de qualidades incomuns, alguns até gênios na mais pura expressão do termo. Não adquiriram asas faculdades maravilhosas em poucas décadas.
A evolução é a história do progresso do espírito no tempo. São necessárias muitas vidas para que se consolide um atributo excepcional. Não fosse isso verdade, como explicar o fato de um Mozart tocar e compor em tenra idade, sem submeter-se a um aprendizado metódico?
“Por toda parte, observando os variados fenômenos do Universo, vê-se a espiral do caminho evolutivo. Cada volta da espiral compreende um ciclo. As espirais são contínuas. Cada ciclo submerge-se no próximo e é o produto melhorado do precedente, criando estados de maior desenvolvimento”, afirma Max Heindel.
Renascendo alternadamente em corpos masculinos e femininos, os seres humanos adquirem conhecimentos e experiências variados. Alguma imperfeição desta vida poderá ser corrigida numa ou em várias existências futuras. Uma qualidade atual poderá ser aprimorada a níveis nunca dantes imaginados. E, o que é muito importante, novas causas poderão ser deflagradas, novos cursos de ação eleitos, no exercício de uma divina faculdade, alavanca mór de todo progresso: a Epigênese.
Até poucas décadas atrás, o assunto “renascimento” ou “reencarnação”, era tratado com certa reserva fora dos ambientes esotéricos. Bastava que se o mencionassem para, de imediato, alguém, associá-lo com espiritismo. Verdade seja dita: os seguidores de Kardec também são reencamacionistas. Entretanto, essa associação de ideias revela como se desconhece o assunto. Afinal, ele é igualmente familiar a outras denominações filosóficas e religiosas. Nas rodas acadêmicas, todavia, era considerado “tabu”. Ninguém se aventurava a mencioná-lo, por temor ao ridículo.
Hoje, o quadro acima se encontras em franca mudança. A realidade ou não do renascimento vem merecendo debates até nos meios científicos. As pesquisas se intensificam. Casos interessantes estão sendo estudados e catalogados, objetivando-se, mais cedo ou mais tarde, provar-se alguma coisa.
E por que razão alguém se vexaria em admitir, publicamente, sua crença no retomo do espírito à vida terrena? Se é por temor ao ridículo, então…nossos pêsames. Se alguém se envergonha de suas convicções, então por que não as abandona de uma vez? Na realidade não está convencido de coisa alguma.
Mergulhamos no passado. Veremos a doutrina do renascimento constituindo um dogma fundamental dos sistemas religiosos dos antigos egípcios, dos Druidas e de outros povos. Quase todas as religiões orientais são reencarnacionistas.
Nos países ocidentais, vários seres humanos célebres confessaram publicamente sua crença nessa verdade. Pitágoras, insigne filósofo e matemático grego do quinto século antes de Cristo dizia, lembrar-se de ter sido Hermotino e de ter lutado na guerra de Tróia.
Ovídio, poeta latino (43 A.C. a 17 D.C.) afirmava ter assistido, numa encarnação anterior, ao cerco de Tróia, chegando a relatar em seus versos, acontecimentos de diferentes existências pelas quais teria passado.
Empédocles, filósofo e médico (quinto século A.C.) ensinava que os “seres se separavam pela repugnância, e pelo amor atingiam a união; que a alma para alcançar os conhecimentos necessários, reencarnava até chegar à perfeição”. Afirmava lembrar-se de duas encarnações, uma delas como homem e a outra como mulher.
O célebre escritor e político francês Lamartine, cria nas vidas sucessivas. No seu livro “Viagem ao Oriente” diz ter reconhecido o vale do Terevento e o túmulo dos macabeus.
Guerra Junqueiro meditando sobre os males que afligem o gênero humano, inclinava-se a crer que sejamos réprobos expiando faltas de outras existências.
Theophile Gautier, Alexandre Dumas (pai), Ponson de Terrail, Pierre Loti e outros escritores externam, por diversas vezes sua crença no renascimento.
Encontramos no Novo Testamento vários pontos alusivos ao renascimento, se bem Cristo não o tenha revelado abertamente. Mas fê-lo aos Discípulos, reservadamente. Por razões de ordem evolutiva, o conhecimento dessa verdade permaneceu oculto das massas durante vários séculos. Para os esoteristas cristãos e alquimistas, contudo, essa doutrina nunca foi novidade.
Cresce, dia a dia, o número de pessoas que, não só aceitam essa teoria, como se dispõem a estudá-la com profundidade. E, na Idade de Aquário, a iniciar-se dentro de uns 600 anos, aproximadamente, sua aceitação deverá ser total.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/79 – Fraternidade Rosacruz)