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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Sacrifício e o Serviço

Já se escreveu e falou sobre a natureza autossacrificadora do ser­viço amoroso à humanidade que os Ensinamentos da Sabedoria Oci­dental expõem. Sacrifício de inte­resses, desejos, objetivos, tempo e, às vezes, até da saúde pessoal são requisitos para o desempenho de tal serviço.

Entretanto, quem de nós considerou alguma vez o sacrifício do medo a esse respeito? Na verdade, percebemos que devemos apren­der a superar o medo físico — me­do do fogo, das alturas, de doen­ças e outros desse tipo. Isso é bastante simples de se com­preender e certamente necessário, se o nosso serviço a outra pessoa tiver que ser aperfeiçoado.

De fato, o medo é o maior obstáculo que o Auxiliar Invisível cons­ciente (aquele ser humano que já possui um Corpo-Alma suficientemente desenvolvido que lhe fornece a capacidade de trabalhar, fora do seu Corpo Denso e normalmente à noite, conscientemente nos Mundos suprafísicos) deve aprender a suplantar. Antes que ele possa trabalhar e ser bem-sucedido no Mundo do Desejo, deve estar plenamente convencido de que nem o fogo, nem a água, nem quaisquer outros objetos ou en­tidades têm força para molestá-lo. Destarte, a vitória sobre esse tipo de medo, no plano físico, é um pre­lúdio importante para que consigamos nos tornar um Auxiliar Invisível consciente.

Existe outra espécie de medo, contudo, muitas vezes não reconhecido como tal. Trata-se do me­do de nos projetar diante dos outros ou nos expormos às suas apreciações críticas, medo esse talvez mais conhecido como acanhamento ou timidez. Existem, certamente, graus de timidez, e a maior parte das pessoas tem momentos nos quais preferiria que ninguém se apercebesse delas ou que pudessem evi­tá-las, desempenhando uma tarefa que não as expusesse diante dos olhos do público.

Existem algumas pessoas, toda­via — e talvez em maior número do que geralmente se crê —, as quais o exame por parte do públi­co, seja ele em relação ao que for, tanto por parte de três pessoas sentadas em uma sala quando nela se adentra ou da parte de um audi­tório completamente tomado por espectadores ansiosos, consiste em uma agonia completa. Essas pessoas, muitas das quais talento­sas e que poderiam trazer contri­buições construtivas à melhoria do gênero humano, fogem das oportunidades de “deixar as suas luzes brilharem”, simplesmente porque são muito temerosas de se ergue­rem diante de outras e tornar co­nhecidos os seus pontos de vista ou, por seus próprios meios, tor­nar os seus talentos conhecidos.

A timidez nada mais é do que a falta de autoconfiança. “O que eles estão pensando a meu respei­to?” ou “O que eles irão dizer?” é o tipo de pensamento que, consci­ente ou inconscientemente, predo­mina na Mente de uma pessoa tími­da. Todo ato público seu é cerca­do por uma muralha de autodúvi­da, hesitação e desejo de terminar o quanto antes o serviço e desapa­recer. Como resultado, muitas vezes o trabalho é mal executado e os circunstantes de fato pensam coisas negativas sobre o seu realizador. Caso ele estives­se à vontade e trabalhasse bem, aconteceria justamente o oposto. E todo o episódio consiste em uma perda de tempo e de energia e serve apenas para criar vibrações desagradáveis que perpetuarão aquilo que teria sido melhor não fazer.

Por quê? Tudo porque a essa pessoa faltou confiança em si mesma.

Como sabemos muito bem, cada um de nós tem a centelha do Di­vino dentro de si. Quanto mais permitirmos que essa centelha nos penetre e governe as nossas ações, tanto mais razão teremos para ter­mos autoconfiança. De certa for­ma, pode-se até mesmo dizer que a timidez consiste em uma blasfêmia porque nega essa centelha Divina, a qual, se lhe fosse dada uma oportunidade, melhoraria nossas ações e nossas imagens.

Vista de outro ângulo, a timidez consiste em uma forma pervertida de autoindulgência e presunção. A maior parte de nós concordaria que os que não tenham paciência com os pontos de vista ou paixões de outras pessoas são egocêntricos. O extremo oposto, a timidez, é outra forma desse mes­mo egocentrismo. Ao invés de se concentrar no que poderia fazer em proveito de outrem, de quem tanto receia, a pessoa tímida con­centra-se muitas vezes no que po­deria fazer para evitar a execução de algo, escapando assim de ser notada. Pensa totalmente em si pró­pria da mesma maneira com que um presunçoso faz.

A pessoa tímida, portanto, de­plora o dedicar-se ao serviço amo­roso não menos do que a egocên­trica e egoísta o faz, embora possa não perceber isso e mais do que provavelmente não tencione isso. Frequentemente, uma pessoa tími­da tem um desejo ardente de se mostrar prestativa, mas é muito receosa das opini­ões de outras pessoas, do mesmo modo que muitas que experimen­tam um medo físico se ofereceriam em momentos de peri­go, caso não fossem tão medrosas em relação ao próprio perigo.

Conta-se que Max Heindel estava caminhando pela área de Mount Ecclesia, a alguns passos de uma jovem que fora destacada para fa­zer uma apresentação em um servi­ço da Pro-Ecclesia. Ela se queixava a seu amigo de que não desejasse apresentar — porque se sentia tí­mida para isso. Max Heindel, tendo ouvido isso casualmente, disse-lhe: “Minha cara, caso você não deseje apresentar na Pro-Ecclesia, não o faça. Esse tipo de serviço você não faria bem com seme­lhante estado de ânimo”.

Isso ilustra o ponto verdadeiramente importante de que o “servi­ço” que for relutado de um modo ou outro, até mesmo em virtude de timidez, não será um serviço na acepção dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental. Seria, entretanto, um exercício fútil, em maior ou menor grau que, na me­lhor das hipóteses, permitiria obter uma fração do que poderia ser ob­tido e, no pior dos casos, criaria uma condição completamente oposta àquela visada de início.

Realmente, é muito fácil dizer que a pessoa tímida necessita unicamente esquecer o seu medo de outras, concentrar-se na centelha Divina dentro de si e usá-la da maneira me­lhor em aplicações de benemerên­cia; a timidez, então, se desvaneceria na alegria do serviço “auto-esquecedor”.

É o que realmente acontece. Mas, não é coisa fácil de se realizar. Não é mais fácil conquistar a timi­dez do que conquistar o medo do fogo, a claustrofobia ou quais­quer medos físicos que dominam nas vidas de qualquer um de nós.

Todavia, aqueles que forem tímidos devem vencer esse temor e, do mesmo modo que muitos outros anteriormente, poderão juntar-se às fileiras dos serviçais altruístas, os trabalhadores do Reino de Cristo. A conquista da autoconfiança demanda tempo e é feita em pequenas etapas; para isso, ha­verá muitos momentos de “exposi­ção pública” tão amedrontadoras à pessoa tímida como uma exposi­ção a um perigo físico. Ela muitas vezes cometerá erros — e quem não os comete? — e poderá, sem dúvida, passar por momentos nos quais todos os seus temores de ser ridicularizada ou escarnecida se­rão justificados. Mas, conhecerá também momentos de extrema sa­tisfação, quando descobrir que po­derá atuar diante da apreciação do público de modo tão satisfatório quanto outra pessoa qualquer e terá tanta possibilidade de ser ou­vida e respeitada quanto aqueles indivíduos salientes os quais vinha até então invejando.

Em tempo e com persistência, perceberá com alegria que supe­rou — sacrificou — o seu medo e pode, a partir daí, utilizar inteira­mente as suas capacidades de servir.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de abril/1974-Fraternidade Rosacruz-SP)

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