É o mundo árabe que assume a tocha da Astrologia-Astronomia e da matemática (que lhe estão associadas).
O advento da Religião Muçulmana no século VII não interrompeu essa pesquisa, o Alcorão não proibindo a Astrologia. Ao contrário, na Sura III, podemos ler: “Na criação dos céus e da terra, na alternância dos dias e das noites, há indubitavelmente sinais para os homens dotados de inteligência”.
Ao príncipe árabe Albategni (850-929) é creditado o primeiro processo de construção de casas usando trigonometria esférica (um processo bastante próximo ao usado ainda hoje).
Os árabes constroem Astrolábios que permitem ler diretamente os pontos dessas casas.
A partir do século XII, o conhecimento preservado e desenvolvido no mundo árabe começou a penetrar nos círculos intelectuais ocidentais. Citemos na confluência da corrente cabalista judaica com o conhecimento árabe, a obra de Abraham Ibn Ezra, nascido em Toledo, em 1089, autor de uma enciclopédia Astrológica escrita em Béziers, na qual tenta conciliar as influências cósmicas e o livre arbítrio.
Essa é, aliás, ainda uma questão que embaraça aqueles que não reconhecem a existência das Leis gêmeas de Renascimento e de Consequência.
No século XIII, o teólogo Albert-Le-Grand (1206-1280), fortemente influenciado pela obra de Aristóteles e de Dénys L’Aréopagita, interessou-se pela alquimia e pela Astrologia. Ele reconhece a influência dos Astros, mas considera que é o instrumento da vontade divina e que por seu livre arbítrio o ser humano permanece senhor de seu destino.
No entanto, sua obra deve ter “cheirado um pouco a enxofre”, aos olhos da Igreja, já que demorou mais de seis séculos para sua canonização (1931).
Seu discípulo, São Tomás de Aquino (1225-1274), Doutor da Igreja, revisando a posição de Santo Agostinho, produzirá a obra mais explícita, entre os teólogos católicos, a respeito da crença na ação dos Astros.
Em sua Summa, ele escreve: “As impressões produzidas pelos corpos celestes podem se estender indiretamente às faculdades intelectuais e à força volitiva, assim como essas permanecem sob a influência das funções orgânicas”. Mas, acrescenta: “O homem sempre pode agir, sob a influência da razão, contra a inclinação produzida pelos corpos celestes”. É precisamente a partir do século XIII que Universidades como as de Paris, Montpellier, Bolonha, Oxford ensinam Astrologia.
A Universidade de Paris, naquela época, tinha de 15.000 a 20.000 alunos divididos em quatro Faculdades: Teologia, Direito Canônico, Medicina, Letras.
As Artes incluem:
• o Trivium (Gramática, Retórica, Filosofia);
• o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música, Astronomia-Astrologia).
Naquela época, a ciência das estrelas formava um todo:
• sciencia motus é a ciência do movimento das estrelas (= Astronomia):
• sciencia judiciorum, a ciência dos julgamentos (= Astrologia).
Max Heindel, para ilustrar isso, faz uma comparação interessante com a área médica: “A Astronomia tem com a Astrologia a mesma relação que a Anatomia com a Fisiologia. A Anatomia explica a posição e a estrutura dos órgãos do corpo; A Astronomia fornece os mesmos dados sobre os corpos celestes. É reservado à Fisiologia afirmar o funcionamento e a utilidade dos órgãos do corpo, assim como é à Astrologia interpretar as posições relativas dos corpos celestes, em relação à humanidade” (do Livro “Cristianismo Rosacruz” – Conferência X – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz).
Um médico dessa época só é realmente considerado se for capaz de determinar os períodos favoráveis aos tratamentos (sangramento, laxantes) de acordo com as posições da Lua, de Saturno e Marte.
Sem ser exaustivo, vamos, no entanto, apontar quatro figuras importantes do século XIII:
• Roger Bacon (1214-1294), monge franciscano inglês que é um dos mais famosos seguidores da Astrologia.
Considera que as três bases das ciências naturais são a alquimia, a Astrologia e a magia, e recomenda a experimentação como verdadeira fonte de conhecimento (o que é revolucionário para a época).
Roger Bacon não deve ser confundido com seu homônimo filósofo do século XVI, Francis Bacon (1561-1626), de quem Max Heindel nos diz: “alguns acreditam que ele não seria estranho aos escritos Rosacruzes: Fama e Confessio”. Francis Bacon escreveu “a Nova Atlântida” que descreve uma sociedade cujas ideias são próximas às dos manifestos Rosacruzes; também é dito que ele seria o autor das obras de Shakespeare…
• Raymond Lully (1235-1315), teólogo espanhol que também estudou alquimia e Astrologia (foi beatificado).
• O rei Afonso X de Castela (1221-1284) apelidado de Sábio ou “o Astrólogo”, que mandou elaborar tabelas para a dupla utilização dos Astronômicos e Astrologia chamada “tabelas alfonsinas”.
• Campanus de Novara (1232-1296), astrólogo e matemático italiano que desenvolveu um sistema de casas que leva o seu nome e sobre o qual direi uma palavra.
Sendo o plano do horizonte e o plano do meridiano perpendiculares, Campanus teve a ideia de dividir cada um dos quatro ângulos retos em três setores de 30° cada, determinando então os pontos correspondentes na Eclíptica. Sendo a Eclíptica, em geral, “em ângulo” em relação ao horizonte, as Casas já não medem 30° cada.
No século XIV, citemos o Papa Urbano V (1310-1370), conhecido por ter praticado a Astrologia.
Os reis da França, Carlos V (conhecido como o Sábio) (1338-1380) e Carlos VI (conhecido como o Amado) (1368-1422) tinham astrólogos em sua corte (assim como outros soberanos da Europa).
No século XV, um acontecimento importante facilitou a expansão da Astrologia: a imprensa desenvolvida por Gutenberg em 1453.
As primeiras Efemérides foram impressas por Johann Müller de Königsberg (1436-1475), mais conhecido como Regiomontanus; foi astrólogo na corte da Hungria durante o reinado de Mathias I (1440-1490).
Diz-se que ele previu um grande terror para 1788 (dentro de um ano…).
Ele aperfeiçoou um novo sistema de Casas que leva seu nome, consistindo em dividir o equador em doze setores de 30° cada a partir do ponto leste e, como Campanus, deduziu disso na Eclíptica, os pontos de Casas. O ponto leste é um dos dois pontos de interseção do horizonte celeste com o Equador (sendo o outro o ponto oeste).
Este ponto não deve ser confundido com o Ascendente, que é um dos dois pontos de interseção do horizonte celeste com a Eclíptica.
Observe que o ponto leste e o Ascendente estão bastante próximos um do outro (e até mesmo coincidentes quando o Ascendente está a 0° do Signo de Áries ou Libra).
Acrescentemos que a Astrologia contribuiu (indiretamente) para as grandes descobertas geográficas desse período, uma vez que Cristóvão Colombo (1451-1506), Vasco da Gama (1469-1524) e Magalhães (1480-1521) levaram Efemérides nas suas viagens.
Nesse século, pode-se notar que os Papas Paulo II (1417-1471) e Inocêncio VIII (1432-1492) praticaram a Astrologia.
Conta-se que Luís XI (1423-1483), insatisfeito com seu astrólogo Galeoti, quis que fosse executado e lhe disse: “Você que lê tão bem o futuro, poderia me dizer quando morrerá”. Esse teria respondido: “Senhor, não posso lhe dar a data exata, mas sei que morrerei três dias antes de Vossa Majestade”. Teria, assim, salvado a cabeça com um: “Vá em paz”.
Os astrólogos dessa época aperfeiçoaram as técnicas de previsões (direções secundárias e revoluções solares).
(de: Introduction: L’Astrologie Selon Les Enseignements Rosicruciens : L’Astrologie Rosicrucien, da Association Rosicrucienne Max Heindel, Centre de Paris – Texte inspiré de l’enseignement rosicrucien légué à Max Heindel par les Frères Aînés de la Rose-Croix – Traduzido pelos irmãos e irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP – Brasil)