PERGUNTA: Sei que a Fraternidade Rosacruz desaconselha a mediunidade e li a explicação do por que ela é indesejável e até mesmo perigosa. Contudo em vista do número crescente de livros que dão conta dos auxílios de variada espécie proporcionados através de médiuns, surgiu a questão de que se existe a possibilidade de a mediunidade ser justificada em virtude das valiosas informações dadas periodicamente. Parece que foram salvas vidas e têm sido reveladas muitas informações cientificas através da instrumentalidade dos médiuns. Acaso o “bem” que isso está acarretando equilibraria o mal ao médium?
RESPOSTA: Embora afirme conhecer a literatura da Fraternidade Rosacruz explicativa do porquê consideramos a mediunidade perigosa para sermos úteis a alguns de nossos leitores que podem não compreender sua real natureza, mencionamos em primeiro lugar os fatos básicos concernentes.
Além do Corpo Denso (o físico) e visível que se utiliza aqui nesse Mundo, objetivando finalidades materiais, o ser humano tem um Corpo Vital, composto de Éter, um Corpo de Desejos e um veículo Mente. O Espírito ou Ego individualizado vive nesses veículos interpenetrados e os utiliza a fim de haurir experiência na escola da vida.
No estado de vigília, o Corpo Denso e o Corpo Vital (o último interpenetrando e estendendo-se por uns 3 centímetros além do primeiro) são cercados e interpenetrados pela nuvem ovalada compreendendo o Corpo de Desejos e a Mente. Estes veículos são concêntricos e se interpolam de forma que os centros sensoriais não se acham em alinhamento com os centros sensoriais do outro, fazendo com que o Ego possa manipular o complexo organismo e desempenhar de modo ordenado os processos da vida a que chamamos de razão, elocução e ação.
Quando o Corpo Denso adormece, há uma separação dos veículos. O Ego e a Mente, encerrados no Corpo de Desejos, saem do Corpo Vital e do Corpo Denso. Os dois últimos permanecem no leito, enquanto os veículos superiores revoluteiam acima ou próximo do corpo adormecido, a ele ligados pelo Cordão Prateado. O processo de restauração começa um pouco depois. Nos casos normais, o Corpo de Desejos (tendo sido harmonizado no Mundo do Desejo) bombeia ritmicamente energia ao Corpo Vital e esse, por sua vez, começa a trabalhar sobre o Corpo Denso, eliminando os produtos deletérios, principalmente por meio do sistema nervoso simpático. Resulta que o Corpo Denso fica restaurado e abundante de vida, quando o Corpo de Desejos, a Mente e o Ego reentram pela manhã e fazem-no despertar.
Na morte, ocorre separação entre os corpos, idêntica à do sono. Os assim chamados mortos, têm Ego, Mente e Corpo de Desejos e, muitas vezes, ficam cônscios, durante algum tempo após a morte, do Mundo material por eles deixado. Alguns apegam-se à vida terrena e não podem levar suas Mentes a aprender suas novas lições. São chamados de “Espíritos apegados à Terra”. Não funcionam no Mundo visível sem um corpo; entretanto, desse modo utilizam-se dos seres viventes, cujos Corpos Denso e Vital estão estreitamente ligados. Todos Espíritos não estão confinados com igual intimidade à prisão do corpo. Durante as Épocas Lemúrica e Atlante o ser humano foi um Clarividente involuntário e foi a tênue ligação entre os Corpos Denso e Vital que o tornou assim.
Desde então o Corpo Vital tornou-se muito firmemente entrelaçado com o Corpo Denso na maioria das pessoas; em todos os sensitivos, porém, há uma certa frouxidão. Essa frouxidão constitui a diferença entre a pessoa psíquica e a comum, inconsciente de tudo, menos as vibrações postas em contato pelos cinco sentidos.
Há, destarte, duas classes de sensitivos: aqueles que não se tornaram firmemente enredados na matéria e os que se acham na vanguarda da evolução.
Os últimos estão emergindo do nadir da materialidade e acham-se, novamente, divididos em duas classes, uma das quais desenvolve-se de modo passivo, isto é, os de volição fraca. Com a ajuda dos outros eles despertam o “plexo solar” ou outros órgãos em conexão com o sistema nervoso involuntário. São, portanto, Clarividentes involuntários, médiuns, que não dominam suas faculdades. Eles retrogradaram. São presas dos “Espíritos apegados à Terra” que constituem a si mesmos “Espíritos-Guia”. Esses transformam suas vítimas em “médiuns de transe” ou em médiuns de materializações.
A outra espécie é constituída por aqueles que, por suas próprias vontades, revelam as forças vibratórias dos órgãos ora conectados ao sistema nervoso voluntário, tornando-se assim ocultistas treinados, controlando os seus próprios corpos e exercendo a faculdade clarividente à medida em que desejam assim fazer. Estes são chamados Clarividentes voluntários ou treinados.
Vemos, desse modo, que um médium é um Clarividente negativo ou involuntário, possuindo os Corpos Denso e Vital ligados frouxamente e sob o controle de um Espírito no Mundo do Desejo.
No caso de um médium de transe todas as suas experiências ocorrem enquanto o Corpo Denso (físico) se acha em transe. Acontece que é o Ego envolto na Mente e no Corpo de Desejos que deixa para trás um Corpo Denso, sucedendo então a mesma separação, como num sono comum sem sonhos com a diferença, porém, de que o Corpo Denso não é deixado inabitado, sobre o leito. O controle do Espírito comumente adentra no Corpo Denso do médium, tomando posse dele e utilizando-o à sua vontade e, muitas vezes, em grande detrimento de sua vítima. Não podemos assinalar às pessoas, com a ênfase devida, o quanto este Corpo Denso é o nosso instrumento mais valioso, de forma a constituir-se num erro gravíssimo, deixa-lo à mercê de um hipnólogo ou de um espírito controlador.
Infelizmente, à grande maioria dos médiuns não se apercebe de que se acha em perigo. São eles, particularmente, inconscientes do enorme inconveniente que os ameaça após à morte. O Corpo de Desejos pode, então, ser apropriado pelo espírito controlador, como se mencionou anteriormente. Caso tentem deter a influência do espírito controlador, enquanto ainda permanece no corpo, apercebem-se de que a entidade os possui de modo extraordinariamente forte, num controle muito difícil de romper, sendo que os mesmos devem compreender que, naturalmente, quando a morte os leva ao mesmo mundo, juntamente com esses controles, o perigo será ainda maior.
Agora, respondendo à sua pergunta específica: não, não achamos que o “bem” que possa resultar da mediunidade contrabalance o mal acarretado ao médium. Todo “bem” que for praticado por uma pessoa, certamente redunda a seu favor, espiritualmente falando, mas isso não afasta os resultados indesejáveis do rompimento das Leis da Natureza. Se uma pessoa coloca sua mão numa fogueira, a fim de salvar um determinado objeto, poderá o mesmo ser salvo, mas a mão ficará queimada. Não pensamos ser ato de sabedoria o recorrer à mediunidade, a fim de obtermos informações ou “provarmos” uma questão controvertida — ou por qualquer outra razão – lamentamos verificar que existem numerosos livros comuns, que parecem apoiar a mediunidade, minimizando ou ignorando os seus perigos e exagerando os seus benefícios aparentes.
(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ – maio/70)