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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Transfiguração e o Exorcismo

Os importantes passos da vida de nosso Salvador, conforme narrados pelos Evangelhos, compõem o esquema geral de Iniciação para a humanidade, enquanto desenvolvem gradualmente o Espírito do Cristo em seu interior.

Os Evangelhos descrevem dramaticamente e em símbolos os incidentes que serão encontrados no caminho da santidade.

Havia três seres dentre os Discípulos mais íntimos do Cristo, que haviam alcançado o pináculo da Iniciação. E os Evangelhos contêm um maravilhoso relato de seu elevado contato com a Memória da Natureza. Os três Discípulos eram: João, o bem-amado, ou, em outras palavras, o mais avançado; Tiago, o primeiro a sacrificar sua vida pelos preceitos da nova religião instituída pelo seu Mestre, e Pedro, a Rocha, simbolizando o poder da fé e obras, sobre as quais a religião Cristã foi estabelecida. Diz o Evangelho que “Os levou para o Monte”, explica o Sr. Heindel que esse é um termo místico significando a Iniciação.

Max Heindel não foi um intérprete das Escrituras, segundo o seu próprio entendimento. As informações mencionadas foram colhidas através de visão espiritual e contato pessoal com a Região do Pensamento Concreto, na qual o Iniciado pode examinar as verdadeiras gravações feitas na Memória da Natureza.

Um dos mais importantes pontos desse relato é que os Discípulos averiguaram, durante a sua Iniciação, a realidade do Renascimento, uma vez que Moisés e Elias eram expressões de um mesmo espírito. Esse fato ilustrava o que o Cristo havia lhes dito a respeito de João Batista: “Esse é Elias, que devia vir”.

Dessa forma, fica mais e mais aparente que o Cristo ensinava reservadamente aos seus Discípulos o fato do Renascimento. Porém, essa doutrina deveria constituir um ensinamento esotérico por muito tempo, conhecido somente de alguns pioneiros. É da maior significação que o trabalho real de Cristo-Jesus começou após a Transfiguração, quando preparou 70 homens como mensageiros e os enviou em grupos de dois para cada lugar aonde Ele pretendia ir.

Nos lugares onde eram bem recebidos, deviam ficar, curar os enfermos e pregar as boas novas. Quando não os recebiam, deveriam sacudir o próprio pó das suas sandálias. O Evangelho de São Lucas relata que os homens retornaram contando com muita alegria: “Senhor, até os demônios se sujeitaram a nós por causa de Teu Nome”.
O poder de ordenar aos demônios constituía o ponto central do ministério de Cristo-Jesus. O Novo Testamento encontra-se repleto de narrativas alusivas ao demônio, a força do mal. Há frases nas quais são mencionados os termos: potestades e tronos, mensageiros de Satanás, o pai da mentira, o Anticristo, o iníquo, o adversário e o destruidor. Toda essa nomenclatura mostrando a existência cósmica do poder do mal. Podemos ter certeza, dessa forma, que o mal existe na realidade e que é de natureza pessoal, tendo, naturalmente, efeitos sobre nós como indivíduos.

Um dos aspectos mais impressionantes relativo ao enorme interesse por temas do pseudo-ocultismo é que pessoas que firmemente negam a existência de Deus, acreditam e parecem profundamente impressionadas com o demônio. Devemos completar essa ideia mencionando o fato de que o demônio não é, em absoluto, uma invenção da Religião Cristã. Uma das formas mais persistentemente em evidência, um ser portador de chifres, asas e garras – data pelo menos de épocas tão remotas como a antiga Mesopotâmia.

Pode-se observar, em nossos tempos, uma onda de fascinação exercida pelas forças invisíveis. O nosso mundo e a nossa arte sentem o impacto de cultos mais ou menos satânicos, sessões envolvendo bruxas e bruxaria e, como é de conhecimento de todos, drogas.

Parece de pouca consistência em nosso mundo supercientífico e supertecnológico, o exame, e reexame, tanto pelo público, como pelas elites intelectuais, das forças malignas invisíveis e suas manifestações.

Esse interesse também se reflete em nossos veículos de comunicação. A publicação de obras literárias e filmes como o EXORCISTA servem de indicadores seguros do grau de interesse pela atuação dos espíritos malignos.

Assim sendo, pode não ser coincidência o fato dos autores dos Evangelhos terem distinguido a obsessão dos outros tipos de moléstias curadas. Como se sabe, grande parte das curas efetuadas por Cristo-Jesus foram desse tipo. Entre as curas individuais realizadas, conforme o Novo Testamento, sete envolviam pessoas obsedadas por demônios: cinco homens, um menino e uma menina. Em cada um desses casos, o Cristo usava de métodos específicos e diferentes para a obtenção da cura, ponto merecedor de estudo detalhado do aspirante aplicado.

Em primeiro lugar, é de se notar que todas as entidades obsessoras reconheciam o Cristo, avaliavam seu poder sobre elas e se lhe declararam sujeitas sem opor resistência (Mc 1:23-26).

Esse primeiro relato de exorcismo refere-se a um incidente ocorrida num domingo em Cafarnaum, na Galileia, no interior da Sinagoga, enquanto o Cristo ensinava.

Relata o Evangelho: “E estava na sinagoga um homem com um espírito imundo, o qual exclamou dizendo: Ah! Que temos contigo Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és, o Santo de Deus. E repreendeu-o Jesus dizendo: Cala-te e sai dele. Então o espírito imundo convulsionando-o, e clamando, com grande voz, saiu dele.” Essa cura foi espontânea e, sem dúvida, surpreendente para a multidão da sinagoga. O demônio não suportou as altas vibrações de Santa Presença e foi obrigado a se revelar, encontrando assim o destino relatado.

Em Mat. 9:32-33 há o caso do endemoninhado surdo e mudo, cujos órgãos vocais e auditivos estavam sendo controlados por uma entidade. Imediatamente após o afastamento dela, o indivíduo recuperou a sua fala, voltando ao normal. Porém, isso agradava aos fariseus! Dizem eles: “Ele ordena aos demônios, pelo poder do Príncipe dos demônios”.

O livro e o subsequente filme O EXORCISTA mereceram primeiras páginas na imprensa por um longo tempo, e muitas pessoas ficaram horrorizadas por saber que se tratava de um caso autêntico de obsessão na vida real.

Existe, porém, uma narrativa de um ato de exorcismo extraordinário contido nos Evangelhos e é de se admirar que tal incidente não consiga horrorizar ninguém não havendo até hoje um escritor bastante interessado em tecer um amplo comentário a respeito, o que traria à realidade, para os seres humanos de hoje, o tremendo poder à disposição do Cristo.

E o mais impressionante ato de exorcismo relatado na Bíblia é o do homem de Gadera, cujos obsessores identificaram-se a si mesmos como “legião”. Essa cura deve ter particular importância, uma vez que três dos evangelistas, São Mateus, São Marcos e São Lucas escreveram a respeito.

O incidente ocorreu num dia em que o Cristo e os Discípulos decidiram atravessar para a costa Oeste do Lago de Tiberíades. A área se compunha, em sua maioria, de pedras calcárias dispostas em penhascos pontilhados de cavernas, lugar em que se costumava sepultar os mortos.

Quando o pobre homem obsedado avistou o Cristo, veio correndo e se prostrou diante d’Ele gritando “O que temos a haver contigo Filho do Altíssimo? Não nos atormente”. O Cristo reconheceu de imediato o grande mal que havia naquele homem e ordenou: “Saia desse homem espírito imundo”. Em seguida formulou uma pergunta que poderia parecer até irrelevante: “Qual é o seu nome?”. A resposta foi: “É legião, porque somos muitos”.

Há vários pontos a serem considerados nesse relato de exorcismo. O mais importante é que imediatamente após o afastamento das entidades obsessoras, o ser voltava de imediato à condição de ser humano normal. Do ser bestial, demente, cuja presença afastava a todos, surgia o ser humano absolutamente normal e comum, que só rogava aos santos homens que ficassem com ele. O Cristo disse, porém, que era mais útil levar o conhecimento dessa cura para o seu círculo de amigos como testemunho da dádiva recebida por ele de Deus. Tarefa não muito fácil, de fato, pois a família e os amigos representam, às vezes, a maior dificuldade a ser enfrentada por aquele que foi purificado pelo amor de Cristo, e quer segui-lo.

O Cristo instruía Seus Discípulos num método muito avançado de exorcismo. Mostrava-lhes que tão logo o exorcista estivesse de posse do nome da entidade, ela se encontrava debaixo de Seu poder. Nesse tipo de exorcismo os Discípulos recebiam instruções reservadas sobre o poder das vibrações contidas em nomes e como ele deveria ser usado nas curas comuns ou no exorcismo, bem como para finalidades superiores a outros.

O relato bíblico envolvendo o demônio chamado “Legião” acaba por evidenciar que as entidades receberam a permissão de Cristo para entrar numa manada de porcos levada a um abismo.

Com referência a esse ato de destruição, é interessante voltar à antiga simbologia egípcia. Naqueles tempos, os porcos eram simbolicamente identificados com o Planeta Marte, ou seja, a natureza inferior e passional do ser humano.

Há, aqui, indicação simbólica do poder de Cristo em purificar os seres, enviando as entidades inferiores para o seu próprio elemento inferior, simbolizado na narrativa pela manada de porcos.

Parece quase certo que a cura de obsessões por intermédio de entidades desencarnadas será o ministério de maior importância no setor de cura durante a Nova Era.

São Paulo aconselha que oremos sem cessar, cobrindo-nos assim da aura protetora da oração. Isso é assaz importante para o aspirante à vida espiritual, uma vez que a legião de pensamentos, palavras e atos negativos, constantemente gerados em nosso Planeta, fica incorporada no plano mais inferior do Mundo do Desejo, podendo perfeitamente obsedar qualquer indivíduo que não foi treinado a controlar ou destruir o seu impacto. Assim, “legião” passa a ser um espelho da luta que se trava no interior de cada ser humano e que só pode ser acalmada pelo poder do espírito unificador e purificador de Cristo-Jesus. A abordagem intelectual dessa situação só poderá frustrar os esforços de melhorar o estado do paciente.

A Filosofia Rosacruz foi dedicada ao mundo ocidental por causa do monopólio exercido pelo intelectualismo sobre os indivíduos dessa parte do globo. O sr. Heindel afirmou que é uma dura tarefa para intelectuais cultivar a COMPAIXÃO, que deve temperar o seu conhecimento e ser o guia, realmente, no uso desse conhecimento.
É isso que o Método Rosacruz de desenvolvimento almeja por realizar, levando o candidato à COMPAIXÃO, por meio do conhecimento. Esse método procura cultivar dentro do aspirante as faculdades latentes de visão e audição espirituais, já desde o começo de sua carreira como aspirante a uma vida superior. Ensina-o a conhecer os mistérios ocultos do ser e da natureza e a perceber intelectualmente a unidade de cada um com todos, para que, finalmente, mediante o conhecimento, possa desabrochar dentro dele o sentimento que o que faz um com o Infinito.
Há três passos importantes nesse caminho: o primeiro, quando o Estudante dá o primeiro passo, atraindo a atenção do Mestre; o segundo, quando é admitido para o Probacionismo e assume a solene obrigação de servir a humanidade por meio do sacrifício de sua natureza inferior ao Eu superior, ocasião em que a sua aura se mescla com a do Mestre. O próximo passo é o Discipulado: não poderá mais voltar atrás. O caminho do Discipulado foi comparado com a torre de uma igreja – estreita-se gradativamente até o topo, encontrando a solitária cruz.

Aí é o ponto máximo de provação do aspirante e os grandes problemas de disciplina espiritual são dificílimos. No entanto ele deve continuar a trabalhar consciente e inconscientemente PARA CIMA, para o grande clímax que na história do mais nobre de todos que tenham percorrido o Caminho do Místico Cristão foi chamado de Transfiguração.

A Transfiguração representa uma ocorrência, durante a qual um processo de transfiguração se efetua no corpo do Iniciado. A essência das experiências vividas e a união com o coração, produzem uma luz radiante que penetra todo o seu corpo.

Temos agora uma melhor compreensão a respeito da Transfiguração, conforme narrada nos Evangelhos. Devemos lembrar que foram os veículos de Jesus que ficaram temporariamente afetados pelo Espírito de Cristo na Transfiguração. Escreve Max Heindel: “A Transfiguração, de acordo como é revelada na Memória da Natureza, mostra o corpo do Cristo de um branco deslumbrante, assim evidenciando Sua ligação com o Pai, o Espírito Universal. Não há nada no mundo tão raro e precioso como aquele extrato do ser humano: o Cristo interno. E quando cresce ele brilha através do corpo transparente como a Luz do Mundo”.

O estudo cuidadoso da vida de Cristo-Jesus, conforme relatada pelos Seus Discípulos, São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João, mostrará que Ele deixou a Sua orientação para qualquer tipo de problema que nós, como aspirantes, eventualmente encontraremos no Caminho. Derramando a Sua enorme força espiritual sobre nós, Ele acalma as tempestades do excesso emocional, cura a grande enfermidade que é a ignorância, devolve a visão aos cegos pelo materialismo, expulsa os demônios do ódio e do egoísmo, derrotando o último grande adversário: o medo da morte. Aqui temos o verdadeiro sentido da redenção: a vitória sobre a alienação do ser humano dele mesmo, dos outros e de Deus.

(Publicado na Revista ‘Serviço Rosacruz’ de 10/75 – Fraternidade Rosacruz)

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