Cornélia e as Fadas das Cores
Num agradável dia de verão, a pequena Cornélia brincava com suas bonecas no seu cantinho predileto, debaixo dos frondosos ramos de uma enorme ameixeira que ficava numa extremidade do longo e ajardinado quintal de sua casa. Muitas e espessas moitas de certa planta de cores bastante variadas, assim como as mais diversas flores, tornavam aquele recanto convidativo, e Cornélia gostava de imaginar que as pétalas daquelas flores eram asas de fadas. E cantarolava alegremente enquanto arranjava suas bonecas em torno do robusto tronco da ameixeira amiga. Alguém, contudo, havia abandonado um espelho ali, sobre a grama. Tomando-o entre os dedos Cornélia notou ao longo de seus convexos ou recurvados bordos algo assim como as cintilações das várias cores de um arco-íris.
“Oh!” – exclamou admirada – “O que aconteceu?”.
Movendo, então, o espelho de um para outro lado, para frente e para trás, descobriu que a luz do Sol é que causava aquele efeito multicolorido em seus bordos. Cornélia sentou-se e pôs-se a examinar o seu achado, atônita ainda pela descoberta do pequenino arco-íris, que aparecia e desaparecia ao menor movimento. Nisto uma risada miúda e cristalina flutuou e escorregou pelo ar, e do meio do riso uma vozinha musical falou:
“Diremos tudo se você aceitar uma brincadeira nossa!”.
Cornélia não coube mais em si de espanto ao ouvir aquela vozinha. Sua boca assemelhava-se a um “O”, e seus olhos castanhos a dois “Os”. E olhava e fitava insistentemente a minúscula figura que se postava frente a ela. Sabia tratar-se de uma criaturinha do mundo das fadas, mas dificilmente podia acreditar naquilo que seus olhos viam. Finalmente decidiu falar:
“Quem e você?”
“Eu” – respondeu o pequeno ser – “sou a Rainha das Fadas das Cores”.
E de fato era, pois uma graciosa e elegante coroa podia ser vista sobre a sua cabecinha, e em uma de suas mãos uma varinha de condão dourada.
“Eu não sabia que existiam Fadas para as cores” – disse a menina, sentindo-se agora mais à vontade.
Ah! “sim?” – sorriu a Rainha das Fadas – “Nós somos em grande número, ainda que as pessoas raramente nos vejam. Mas veem o trabalho que fazemos em toda parte e no mundo inteiro”.
“Que tipo de trabalho?” – indagou Cornélia com ansiedade.
A esta altura um invisível coro de argênteas vozes cantou em resposta:
“Nosso afã é divertido,
nosso afã é divertido,
pois nós fazemos o mundo
mais alegre e colorido!”
“Veja” – explicou a Rainha das Fadas – “nós combinamos e distribuímos as cores que existem nas flores, nos frutos, nas folhas, e em tudo o que existe em volta de você. Vamos a toda parte e estamos sempre pensando na melhor maneira de tornar o mundo o lugar mais belo e colorido em que se possa viver. Gostaria de ver alguma coisa desse trabalho?”.
“Oh! adoraria” – respondeu Cornélia, batendo palmas de alegria.
“Ótimo!” – disse a Rainha das Fadas – “Então vamos começar a brincadeira. Mas deixe-me, primeiro explicar-lhe como se forma um arco-íris: a luz do Sol é branca, ou é o branco mais puro que existe em nosso universo, ainda que na realidade ela apareça aos olhos em sete diferentes cores. Quando a luz branca é dividida, conforme aconteceu no seu espelho ou conforme aconteceu nos céus após uma chuva, então você pode ver cada cor separadamente, formando uma faixa de sete cores. Nós combinamos essas sete cores de maneiras as mais diversas para formar uma grande variedade que você pode ver em volta de si, na Natureza”. Aí, então, a Rainha ergueu a sua varinha e ordenou: “Vermelho e Azul, venham. Vamos começar a brincadeira”.
Imediatamente duas pequeninas fadas – uma toda vestida de azul, a outra toda de vermelho – apareceram, inclinando-se gentil e elegantemente para a Rainha e para Cornélia. Então a Vermelho adiantou-se e se postou em frente à Azul, surgindo da união das duas a cor violeta.
“O que você já viu com essa cor?” – indagou a Rainha dirigindo-se à menina.
“Oh! eu sei: uvas, ameixas, uma flor chamada violeta e algumas outras flores”, respondeu a garota prontamente.
“Certo” – confirmou a Rainha das Cores.
“Agora chamarei o Amarelo. Sr. Amarelo! Sr. Amarelo! Esse é um camarada muito engraçado”.
“Eis-me aqui, aqui estou!” respondeu uma alegre voz, enquanto uma figurazinha toda vestida de amarelo aparecia.
“Oh!” – exclamou Cornélia – “você tem ao mesmo tempo a cor da luz do Sol, dos limões maduros e dos botões-de-ouro!”.
“Que combinação engraçada! Mas você tem razão, senhorita Cornélia. Você tem razão” – concluiu com uma sonora risada.
“Ué! como soube meu nome?” – indagou a menina mostrando surpresa.
“Ah! Nós somos sábias, nós somos sábias, ainda que não sejamos grandes em estatura” – respondeu o Sr. Amarelo, rodopiando velozmente na ponta do dedão do seu pezinho direito.
A seguir o gaiato Espirito da Natureza pôs-se em frente ao Vermelho, e dessa junção surgiu a cor: “Laranja!” – gritou Cornélia.
“Você está, agora, da cor de uma laranja!”.
“A cor das cenouras e das morangas também. Agora vou me colocar em frente ao Azul”.
“Agora você ficou verde como a grama!” – disse a menina.
“E as árvores, e as plantas, e muitas verduras que comem os seres humanos são também verdes, conforme você sabe”, acrescentou a Rainha das Fadas. “Espero que você tenha gostado desta brincadeira e ao mesmo tempo aprendido algo a respeito das cores”.
“Sim, sim, gostei e aprendi. Muito obrigado!” – disse Cornélia.
“Vocês poderiam voltar e ensinar-me mais sobre cores?”.
“Voltamos” – respondeu graciosamente a Rainha das Fadas. “Mas por enquanto precisamos dizer “Adeus”, porque temos muitos lugares a visitar e muita coisa a fazer. Preciso ver se todos os meus auxiliares estão trabalhando de acordo. Assim cumpro minha tarefa, a qual, como você já sabe, é fazer do mundo o mais belo e colorido lugar em que as pessoas possam viver e alegrar-se”.
Cornélia ia começar a falar, mas antes que pudesse dizer alguma coisa já as minúsculas criaturinhas haviam desaparecido.
Teria sido aquilo um sonho? Não. Ela estava convencida de não ter dormido. Além disso a Rainha das Fadas havia prometido voltar para ensinar-lhe mais acerca do maravilhoso mundo das cores.
Cornélia, então, olhou em volta, e viu outra vez o espelhinho. E tomando-o mais uma vez entre as mãos pensou:
“Agora sei de onde vêm essas tão lindas cores!”.
(do Livro Histórias da Era Aquariana para as Crianças – Vol. I – Grace Evelyn Brown – Fraternidade Rosacruz)