Vamos ver, de forma sucinta, o modo como os Astros influem em nossa vida através das doze Casas.
Suponha o leitor que está passeando em seu automóvel, beirando a costa, a mais ou menos um ou dois quilômetros do mar. Uma suave brisa vem do lado do oceano e ao passar por você, traz-lhe nas asas invisíveis mensagens dessa terra que você cruza, provocando em seu íntimo uma impressão agradável ou desagradável. Por exemplo, ao cruzar uma planície verdejante, de pastagem, você se deleita com o aroma agradável de grama recém-cortada. Mas, digamos que um pouco além você passe por um lugar cheio de jasmim e sinta náuseas com o seu odor penetrante e enjoativo. Suponha, ainda, que mais adiante você fique realmente enfermo, pelo efeito de nauseabundas e pestilentas emanações de um pântano próximo, mas que minutos mais tarde recupere a saúde, o bom humor e a disposição, ao penetrar num bosque e encher os pulmões com o perfume saudável e balsâmico dos pinheirais.
Durante sua peregrinação do berço ao túmulo, você leva na atmosfera áurica que lhe rodeia e envolve o corpo, as chamadas doze Casas. Elas estão gravadas, impregnadas em sua atmosfera, como estão na atmosfera que envolve a nossa Terra, acompanhando-o em sua órbita através do espaço sideral. Cada Casa reflete uma parte de sua vida; cada uma delas contém algumas das lições que você deve aprender nesta vida. Através de seus atos, e segundo as reações que você tenha – face a tais experiências – provará se aprendeu ou não essas lições; se assumiu e compreendeu ou deverá receber nova “explicação” do destino.
Chegando o momento próprio, marcado pelas configurações astrológicas, conforme os ângulos que vão se formando em seu movimento, você colherá, por intermédio da Casa correspondente, o que semeou nesse departamento em vidas anteriores. Para isso é necessário que você compreenda que cada Casa se refere a um departamento de sua vida: a primeira Casa diz respeito ao seu aspecto físico, natureza corporal e Personalidade. A segunda Casa se refere às finanças e, de modo geral, à sua conduta no dar e receber. A terceira Casa fala do que você já fez no uso de sua Mente inferior, no trato com os irmãos e vizinhos e como foram suas pequenas viagens. A quarta Casa o que foi sua conduta anterior no lar e relacionamento com sua mãe. A quinta Casa diz como você usou sua capacidade de transmitir o que sabe; o modo como tratou os seus filhos do passado e seus ideais, que são os filhos de sua alma. A sexta Casa mostra como se conduziu no trato com empregados e patrões; nos empregos, bem como, da forma como cuidou de sua saúde. A sétima Casa expressa o modo como você se portou no relacionamento com os cônjuges, no passado, e com os sócios. A oitava Casa exprime experiências com legados, heranças; mostra se você tem ou não capacidade de reformar sua vida e reconstruí-la em bases mais racionais. A nona Casa revela o que você já desenvolveu em assuntos de especulação filosófica no exercício da Mente superior; como foram suas grandes viagens; desenvolveu-se ou não o idealismo, a religiosidade. A décima Casa mostra como foi conduta nos meios sociais em que viveu; o modo como se relacionou com seus concidadãos e com seu pai. A décima primeira Casa fala de seu relacionamento anterior com amigos e movimentos idealistas. A décima segunda Casa fala de confinamentos, de restrições de toda ordem, duradouros e imutáveis por ora. Todas as Casas mostram, pois, segundo seus atos em vidas anteriores, o modo como você encara esses diversos assuntos e o que lhe cabe aprenderem para ter uma noção mais correta de tais departamentos da vida.
Vamos a um exemplo: digamos que sua décima primeira Casa, no horóscopo levantado ao seu nascimento, apresente Aspectos adversos (Quadraturas, Oposições e algumas Conjunções). Neste caso estão indicadas nesta vida, para você, algumas experiências desagradáveis com amigos, não por falta de sorte sua, mas porque havendo você plantado uma forma errônea de relacionamento em vidas passadas, terá de aprender agora, por experiência própria, por meio de consequências justas e correspondentes às causas postas em ação, que essa forma de agir não está certa. Se for assim, examine e analise bem seu horóscopo, pois ele lhe revela os segredos de sua atmosfera áurica, o arquivo de seu passado. Você concebe as amizades e encara seus amigos, segundo a lente de sua décima primeira Casa. E cada um de seus amigos também, por suas décimas primeiras Casas. E a raiz talvez esteja no desejo de você procurar algum proveito nos amigos, julgando que os bons amigos sãos que lhe servem às conveniências, em vez de buscar sentir por eles afeição sincera e desinteressada, como verdadeiro amigo.
Sobre o significado das Casas, devemos nos ater, ainda, para o seguinte: elas também regem partes determinadas de nosso Corpo Denso, cujo bem-estar e normalidade dependem, por reflexo, anormalidade dos aspectos morais e mentais. Eis porque, do ponto de vista Rosacruz, a saúde, em seu amplo sentido, deve abranger toda a instrumentação do complexo ser humano: a parte física e a parte espiritual.
De todo modo, a conclusão inevitável e lógica é que, usando bem nossa razão e domínio próprio, poderemos evitar sermos o inconveniente jasmim e, muito menos, o pestilento e prejudicial pântano para as pessoas com quem convivemos, tratando de nos converter em autênticos seres fraternais, como o puro odor da relva recém-cortada e, mais ainda, se possível, no benfeitor odor dos pinheiros, cuja presença anima, eleva, purifica, ergue, causa bem-estar e é por todos desejado.
Essa é a forma de libertarmos as diversas aflições de nossas Casas horoscópicas, transmutando-as em benéficas, mudando-as em “azuis” para um mundo melhor, que depende de todos. E essa transformação, em contraste com a triste condição do ser humano sofredor e transgressor, corresponde, no mito grego, às duas fases do ser humano interno: Prometeu e Hércules, sendo este o grande herói que realizou os doze trabalhos propostos (transmutação das doze Casas).
(Publicado na Revista Serviço de fevereiro/1968 da Rosacruz da Fraternidade Rosacruz em São Paulo – SP)