Pelos Caminhos do Ocidente e por que não do Oriente

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Pelos Caminhos do Ocidente e por que não do Oriente

Pelos Caminhos do Ocidente e por que não do Oriente

O continente americano sofre, nos dias atuais, uma verdadeira invasão de algumas religiões tipicamente orientais. Quer nos parecer que entre os jovens registra-se a maior influência dessas crenças e, consequentemente, maior número de adesões. Muitos, inclusive, manifestam a pretensão de abandonar tudo: emprego, estudo, família para aprender meditação na Índia, ou, então, recolher-se ao isolamento das montanhas bolivianas, por exemplo.

Nos Estados Unidos da América do Norte, os “gurus” estão despontando em escala crescente. Mas nem todos se revestem do manto da espiritualidade, haja vista algumas concentrações realizadas no Madison Square Garden, onde, ao som de músicas estridentes e ante espiritualistas, muitas pessoas “curtem” tóxicos, segundo noticiaram os jornais.

Tudo isso tem provocado um sem número de queixas, mormente dos pais, inconformados com a decisão de seus jovens filhos, de quem esperavam brilhantes carreiras profissionais, ou pelo menos uma vida enquadrada nos padrões da sociedade ocidental. Irritados, e em alguns casos até chocados com o exotismo das seitas que habilmente atraem moços e moças, não vacilaram, alguns, em exigir providências das autoridades.

A questão é complexa, não lhe cabendo, portanto, uma análise simplista. É necessário encontrar as razões pelas quais algumas pessoas se desencantam com o Cristianismo, partindo em busca de sistemas religiosos estranhos à nossa formação ocidental e estágio evolutivo.

Um exame mais profundo e abrangente desse problema, não poderá fugir de uma base eminentemente esotérica. A Filosofia Rosacruz, esotérica por excelência, propicia-nos fundamentos essencialmente lógicos para assegurar-nos conclusões satisfatórias. À sua Iuz, portanto, examinemos tão controvertido tema.
Tal como o Sol aparentemente desloca-se de leste para oeste, a Iuz da espiritualidade obedeceu à mesma trajetória ao longo da evolução humana.

Confúcio na China; Buda na Índia; Pitágoras na Grécia constituíram marcos progressivos do caminho esplendoroso do Sol da espiritualidade, empurrando o sentimento religioso – expresso na forma mais adequada a cada povo – cada vez mais para Oeste.

Mais tarde manifestou-se o Cristo, cuja influência faz-se sentir, predominantemente, em terras ocidentais. E continuará assim, até os egos, habitantes de outras regiões do Planeta, se universalizarem, libertando-se dos laços restritivos da raça e das tradições. Quando tal ocorrer, o Cristianismo se consagrará, de fato, como uma religião de âmbito mundial.

A Lei do Renascimento auxilia-nos a penetrar na complexidade do assunto, elucidando os mistérios que envolvem as diferenças filosófico-religiosas patentes entre ocidentais e orientais.

No Ocidente se encontra os seres mais evoluídos da Terra, em sentido geral. Em existências passadas viveram no Oriente. Renascem, agora, nesta parte do globo, para dedicarem-se a um aprendizado condizente com seu atual estado evolutivo.

Aos menos avisados, parece ser o Oriente mais avançado espiritualmente. Puro equívoco. Não é nada disso. E, vale a pena ressaltar: essa ideia errônea foi espalhada por aí através das obras orientais postas a venda nas bancas e livrarias. Realmente, a produção de fenômenos suprafísicos e a manifestação de faculdades paranormais, impressionam. Causam certo impacto em quem não conhece devidamente o assunto. Muitos ficam deslumbrados a simples narrativa das façanhas de faquires e iogues. Ficam por aí lamentando as “deploráveis condições de materialismo” em que vivem os ocidentais, entronizando o Oriente como única fonte de espiritualidade.

Ora, devagar com o andor! Psiquismo não é espiritualismo! Muitas vezes andam até bem divorciados. Ocorre que certos exercícios preconizados pelas Escolas Orientais têm o condão de despertar certos atributos psíquicos. São, realmente, indicados para os aspirantes daquela parte do globo. Mas quando praticados por ocidentais, tendem a conduzir a um despertamento prematuro e artificial, consequentemente perigoso. Isto é válido, principalmente em se tratando de exercícios respiratórios. São práticas inadequadas e desaconselháveis ao ser humano do Ocidente. Várias enfermidades podem ser contraídas como resultado desses exercitamento. Muitas pessoas boas andam por aí, internada em sanatórios.

Max Heindel não se cansa de advertir-nos a respeito. Em face de sua responsabilidade como mensageiro dos Irmãos Maiores na divulgação dos arcanos rosacruzes, define com exatidão e clareza as linhas constitutivas dos Métodos de Desenvolvimento Ocidental e Oriental. Vejamos o que ele afirma sobre o assunto: “Na Índia empregam-se diversos métodos, sob diferentes sistemas de Ioga. Ioga significa União, e, como no Ocidente, o objetivo do aspirante é a união com o Eu Superior. Porém, para serem eficazes os métodos de alcançar essa união, devem ser diferentes para um hindu e para um caucásico, tendo em vista que os veículos de um hindu estão diferentemente constituídos dos de um caucásico” (Livro Conceito Rosacruz do Cosmos). Isto é verdade, considerando-se que seus veículos estão diferentemente constituídos.

Os indianos “durante milhares de anos viveram em ambiente e clima totalmente distintos dos nossos e seguiram outras linhas de pensamento. Sua civilização, embora de ordem muito elevada, produz efeitos diferentes. Seria inútil, portanto, adotarmos seus métodos, aliás, produto dos mais elevados ensinamentos ocultos. São convenientes para eles, mas sob todos os aspectos tão inadaptáveis aos ocidentais como um prato de aveia para um leão”.

“Por exemplo, em alguns sistemas pede-se ao iogue para sentar-se em determinadas posições a fim de certas correntes cósmicas poderem fluir de certo modo através do seu corpo, o que produzirá definidos resultados. Eis uma instrução completamente inútil para um caucásico, cuja maneira de viver torna-o inteiramente insensível a essas correntes. Para obter algum resultado prático deve trabalhar em harmonia com a constituição dos próprios veículos”.

Em uma de suas cartas aos estudantes, Heindel aponta outras diferenças: “Além da Escola Oriental de Ocultismo lastrear seus ensinamentos no Hinduísmo, enquanto a Escola da Sabedoria Ocidental defende o Cristianismo, há uma grande, fundamental e inconciliável discrepância entre as duas correntes. Segundo a versão do ocultismo, relativa ao Corpo Vital – que denomina de “linga sharira” – este carece de grande importância, pois é incapaz de desenvolvimento como veículo de consciência. Serve unicamente, dizem, de canal para a força solar – “prana” – e como elo entre os Corpos Denso e de Desejos, este denominado “Kama Rupa” e também “corpo astral”. A Escola do Ocidente nos ensina, como sua máxima fundamental, que todo desenvolvimento oculto principia pelo Corpo Vital. E, o que escreve, como seu representante junto ao público, empenha-se constantemente, desde os primórdios do nosso movimento, no decidido propósito de reunir e disseminar os conhecimentos referentes aos quatro Éteres e ao Corpo Vital”.

Há ainda outro fator positivo respaldando o Método Ocidental de desenvolvimento: é o seu caráter libertário, emancipando o aspirante de toda influência externa, tornando-o confiante em si mesmo no mais alto grau. Já no Oriente tal não ocorre: o Chela deve submeter-se ao Guru, a quem deve estrita obediência. Ao discípulo não se concede liberdade de escolha, mas também não assume responsabilidade. Entre as almas mais “velhas” do Ocidente, aspirante ao crescimento espiritual, não pode haver submissão a mestres e guias. Cada um deve aprender a conduzir-se por si só, mesmo que lhe custe algumas quedas e sofrimentos.

Os ocidentais são mais ativos, mais empreendedores e dinâmicos, tendo, com essa gama notável de qualidades, conquistado, o mundo material. De pujante intelecto, desenvolveram-se cientificamente, criando uma vasta e sofisticada tecnologia. Souberam aproveitar todas as oportunidades e recursos oferecidos pelo Mundo Físico. É verdade que isso lhes trouxe também inúmeros problemas, não pela matéria em si, mas pelo uso distorcido que dela fizeram: inverteram a ordem das coisas. Trocaram os fins pelos meios.

Converteram em objetivos os recursos que, naturalmente, são meios para se lograr um progresso transcendental à materialidade. Mas essa condição, a despeito de ser perigosa, é passageira.

Os orientais até bem pouco tempo consideravam a vida material como sendo um pesado fardo. Pouco se interessavam por ela, preferindo uma existência mais contemplativa, onde pudessem gozar as delícias do “nirvana”. Aferrados a tradições milenares, relutavam em aceitar as vantagens oferecidas pela existência concreta. Mantinham-se alheios as novas descobertas e as transformações que, de tempos em tempos, imprimem novos contornos e colorido às civilizações.

Porém, como não existe inércia na natureza, as Grandes Hierarquias responsáveis pela nossa caminhada evolutiva valeram-se de alguns meios para promover uma descristalização: catástrofes, conflitos bélicos, etc. Hoje já se nota um processo de ocidentalização em várias nações orientais, desenvolvendo-se, em algumas delas, modernas sociedades de consumo. As coisas já começam a mudar.

Não é difícil, portanto, admitir a existência de acentuadas diferenças entre orientais e ocidentais. Aqueles egos encontram-se na curva descendente da evolução, prestes a atingir o nadir da materialidade, pelo qual nós já passamos a milhares de anos. Em futuro próximo, deverão enfrentar os mesmos problemas agora afligindo os ocidentais, para adquirirem a experiência da vida material. Afastam-se, pouco a pouco, das vivências predominantemente subjetivas, para dedicar-se à conquista do plano material, requisito indispensável à evolução.

Os ocidentais, por sua vez, ascendendo o arco evolutivo, estão alcançando condições de maior espiritualidade. Constroem corpos físicos mais sutis e Mentes mais dinâmicas. Tudo isso lhes é passível graças ao método de realização onde seu desenvolvimento depende exclusivamente de iniciativa, esforço e perseverança. São qualidades capazes de manter sempre dinamicamente atualizadas as sociedades e instituições do Ocidente.

Ora, se os ocidentais são vanguardeiros da evolução humana e suas Escolas de Mistérios são respaldadas pelo Cristianismo, tais premissas induzem, infalivelmente, a uma conclusão: o sistema filosófico religioso cristão é o mais avançado que se conhece. Daí ser um contrassenso alguém, principalmente natural do continente americano, abraçar uma religião ou Escola de Ministérios do Oriente.

Mas, por que alguns jovens aderem aos cultos orientais? A resposta em parte, podemos encontrá-la dentro dos próprios movimentos cristãos populares. O Cristianismo popular esotérico, ainda escravizado à letra que mata e não ao espírito que vivifica, vai perdendo, gradativamente, consistência ante os avanços que ocorrem em todos os campos do conhecimento humano. As igrejas cristãs populares sustem-se pelos dogmas. E o dogma, para manter-se, exige uma fé cega, o que já se tornou inconcebível em nossos dias.

A Mente acadêmica procura uma explicação lógica, racional, para todos os fenômenos, empenhando-se em conceituar e definir as coisas. Daí concluirmos que, somente uma religião assentada em bases racionais pode satisfazer ao ser humano moderno, atendendo, principalmente, aos anseios das novas gerações. E esse sistema, religioso, é a Cristianismo Esotérico, tal como é divulgado pela Fraternidade Rosacruz.

Contudo, a despeito da profundidade dos ensinamentos rosacruzes, a número de estudantes filiados a este movimento não é muito grande. Nem todos aceitam a disciplina inerente a uma Escola Filosófica séria. Essa disciplina, fique bem claro, não é imposta. O próprio estudante, livre, espontânea e conscienciosamente se impõe uma norma de conduta lastreada nas Leis Divinas. Ele alimenta propósitos edificantes, cioso de que o caminho não é nada fácil. Mas, corajosamente assume a responsabilidade, por sua conta e riscos. E a ninguém ou à organização alguma procura debitar seus fracassos e as frustrações decorrentes. As pessoas, em sua maioria, sempre esbarram nessa responsabilidade. É mais cômodo transferi-la a outrem.

A tibieza, o fanatismo e o mau exemplo expresso em incoerência de atitudes por parte de alguns chefes religiosos e de pessoas bem posicionadas dentro de comunidade, também constituem fatores suscetíveis de levar os jovens a desiludirem-se com o Cristianismo popular. “Errare humanum est”, pode contestar alguém.

Não é justo confundir uma crença com a atitude dos crentes. Todos os seres humanos estão sujeitos a momentos de fraqueza. Mas também é certo que a “quem muito é dado muito será exigido”. Quem ocupa uma posição de destaque no seio de uma comunidade, principalmente religiosa, deve estar consciente de sua responsabilidade, empenhando-se em manter intacta sua integridade moral. O Cristo exortou-nos a orar e vigiar.

Vivemos hoje numa sociedade extremamente imediatista e utilitarista, pragmática e competitiva. As pessoas, carentes de sólidas defesas morais, sentem-se massacradas intimamente.

Essa é a gênese das neuroses, suicídios e outros males modernos. A troca dos meios pelos fins desaguou nisso aí. Mas quem arranjou essa encrenca foi a próprio ser humano. Cabe-lhe, portanto, sair dela, pela colocação das coisas em seus devidos lugares, atribuindo-lhes os seus valores reais.

Essa tarefa fundamental compete principalmente aos pais, professores e chefes religiosos. Lamentavelmente, nem todos se encontram preparados para tal. Eis porque muitos jovens sentem-se desorientados, desiludidos, carentes de respostas, oprimidos por um vazio interior. No exotismo de religiões orientais ou no silêncio quase sepulcral de mosteiros e montanhas, procuram algo capaz de preencher suas íntimas necessidades.

A intenção é boa e pura. Mas, de certo modo, configura fuga ou escapismo. Andam em busca de paz. Mas um dia serão obrigados a retornar ao mundo, porque a paz só se obtém aqui, em meio às lutas, pela transformação das consciências; pela reforma do íntimo, pela coragem em encarar e enfrentar os obstáculos. A paz é fruto do trabalho.

(Revista Serviço Rosacruz – 07/80 – Fraternidade Rosacruz-SP)

Sobre o autor

Fraternidade Rosacruz de Campinas administrator

Deixe uma resposta

Idiomas