OS TRÊS GRAUS DO DISCIPULADO
Parte 1
Grau Mestre
São Tiago, São João e São Pedro
Os 12 Discípulos foram divididos em 3 agrupamentos, de acordo com sua preparação e desenvolvimento no Discipulado. Estas 3 divisões podem ser listadas como segue:
• Grau Mestre: os 3 pilares: São Tiago Maior, São Pedro (Simão) e São João.
• Grau Fraternidade: Santo André, São Tomé, São Mateus, São Filipe e São Natanael (São Bartolomeu)
• Grau Aprendiz: São Tiago Menor (o Justo), São Judas Tadeu, São Simão e Judas Iscariotes.
Maria Salomé1, irmã da Virgem Maria, casou com Zebedeu de Cafarnaum, um homem abençoado com abundância material e espiritual. Salomé e Zebedeu, junto com seus dois filhos: São Tiago e São João, eram muito queridos no coração de Cristo Jesus. Esta família estava entre os seguidores mais devotos. Zebedeu dispendeu tempo e dinheiro para a causa do novo Cristianismo, enquanto Salomé cuidava das necessidades físicas dos Discípulos. A lenda relata que Salomé acompanhou Maria e José em sua fuga arriscada para o Egito. Ela é também proeminente entre as mulheres Discípulas ao longo da narrativa do Evangelho.
São Tiago, São Pedro e São João compunham o círculo mais interno dos Discípulos, chamado de “pilares”, porque eram avançados o suficiente para receber os ensinamentos esotéricos mais profundos dados por Cristo.
Contundência, poder e força eram as palavras chaves do caráter de São Tiago. Antes de suas transformações em graças espirituais, estes muitos atributos produziram muitas reações não-Cristãs. Por exemplo, ordenou que fogo viesse do Céu para destruir um vilarejo que não queria receber o Mestre; também solicitou seu lugar mais proeminente no Reino.
Tiago
São Tiago aprendeu rapidamente, contudo, a seguir o caminho onde a vingança é suplantada pelo Amor, percebendo que ninguém pode receber qualquer benefício permanente que não seja ganho pelos esforços pessoais. Após sua iluminação ele disse que “seus pensamentos respiraram e suas palavras queimaram”.
O destemor absoluto de São Tiago, conjugado com a dedicação sincera para com as causas do Mestre antecipou o seu Discipulado. Ele ganhou o profundo e permanente amor de Maria, Mãe de Jesus. Por causa de seu fervoroso zelo, São Tiago foi o primeiro Discípulo a viajar por terras estrangeiras levando a gloriosa mensagem de Cristo, e foi o primeiro a seguir o seu Senhor no martírio. Desdenhando todos os perigos físicos ele se estabeleceu na Espanha: a primeira terra estrangeira a receber a mensagem de Cristo.
Uma das supremas dádivas do Discipulado é saber, verdadeiramente, que não existe tempo ou distância para o espírito. São Tiago teve o privilégio de se aconselhar com a amada Maria, de quem recebeu orientação e direcionamento. Muitas vezes ele teve sua proteção em ocasiões de cansaço extremo e de crise.
Após o seu retorno da Espanha, uma feliz reunião em Éfeso com seu irmão, São João, e a Divina Dama foi abençoada e santificada. Eles estavam cientes de que os dias de companheirismo nesse mundo exterior estavam chegando ao fim, e que o retorno de São Tiago para Jerusalém significava a preparação para o seu martírio.
Maria foi transportada em espírito para a cena de seu martírio. Com uma série de Ministério de Anjos, Maria assistiu e apoiou São Tiago na hora de sua transição. A morte pode não aterrorizar a consciência de um Iniciado, já que este aprende a participar, conscientemente, das águas da Vida Eterna.
Alegremente este nobre espírito colocou de lado seu vestuário de carne. Cercado da glória transcendente dos Anjos, envolto no brilho e na bênção da Virgem, ele também pode entoar o mesmo grito triunfante, de quem tem o conhecimento direto, como assim fez o outro ungido de Deus um pouco mais tarde. “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?”2.
Segundo o Pentecostes, São Tiago tornou-se líder da igreja em Jerusalém. Sua contundência, força e poder, agora transmutadas em qualidades espirituais, floresceram em tal beleza de vida e ação que quando Herodes, irmão de Herodias, que causou a decapitação de São João Batista, desejou suprimir a heresia do Novo Cristianismo, a figura imponente de São Tiago tornou-se o principal alvo de suas hostilidades. Apenas catorze anos após a Crucificação, São Tiago seguiu seu Senhor para libertação da cruz do martírio.
De acordo com os escritos de Clemente de Alexandria, citado por Eusébio, São Tiago transmutou de tal forma seu espírito de vingança em compaixão, que o homem que o entregou para Herodes ficou tão inspirado, pela nobre atitude de São Tiago, que se tornou seguidor e foi recebido pela fraternidade da pequena igreja Cristã. O último ato terreno de São Tiago foi outorgar uma benção sobre este homem; e suas últimas palavras endereçadas para Herodes foi “que a paz esteja em ti”.
João
João foi o idealista entre os Discípulos. Ele foi o mais espiritualmente desenvolvido entre os 12, e seu Evangelho é o mais esotericamente profundo de todos que sobreviveram. Os Capítulos 14 a 17 contém os ensinamentos referentes a mais elevada religião a suceder o Cristianismo – conhecido pelos esoteristas como a “Religião do Pai” – que chamará seus Discípulos para o reino do Espírito Divino. Maria, mãe de Jesus, e João, seu melhor Discípulo amado, foram os únicos avançados suficientemente para entrar em contato com estas elevadas verdades. Um exemplo deste fato aparece na cena aos pés da cruz, quando Jesus apela a Maria para cuidar de João como se fosse seu filho (em Seu lugar), e diz a João para cuidar de Maria como se fosse sua própria mãe; assim, claramente, nomeou João Seu sucessor na Terra.
Pedro foi designado como Apóstolo ou emissário para o Ocidente bárbaro, onde seu caráter rude e simples, sua inteligência assertiva fez dele um líder e professor ideal. João, culto e erudito, falando a língua dos filósofos Helênicos, foi enviado para estabelecer sua escola em Éfeso, com seu conhecimento de civilizações antigas. É dito que Maria peregrinou com ele por um tempo. João é um grande Apóstolo da Gnose. Na Nova Era ele terá seu lugar no Mundo da Cristandade, que Pedro tem ocupado durante a Era de Peixes na Cristandade da Europa.
De “Filho do Trovão”, João se transformou em o mais perfeito exemplo no mundo da encarnação do amor. Sua humanidade foi purgada e saneada em toda chama consumidora do amor. Seu trabalho mais notável, fora de seus escritos, foi fundar a igreja em Éfeso – que foi depois liderada por João Presbítero e que trouxe à cena Policarpo e Inácio, dois dos mais ilustres cristãos primitivos.
Há uma lenda apócrifa que relata que durante o reinado Domiciano3, João foi preso e trazido ante ao imperador que o ordenou tomar o veneno mortal. Domiciano queria aprender se este Mestre, sobre quem João ensinou, protegeria ou não o seu Discípulo. João pegou o copo e disse: “Em teu nome, Oh! Cristo, eu tomo esta poção. O veneno se misturará com o Espírito Santo e se tornará um cálice de vida eterna”. Ele então o bebeu e permaneceu calmo e ileso. Quando um prisioneiro foi trazido e deram-lhe a mesma poção, ele morreu em convulsão, quase que instantaneamente. Por causa desta lenda uma arte sacra foi retratada de João abençoando um pequeno dragão alado, que ergueu sua cabeça de um cálice. Esotericamente, isto nos lembra que o Evangelho de João é correlato à Hierarquia Zodiacal de Escorpião e do mistério da regeneração, por meio do qual o veneno letal no sangue é transmutado em elixir da vida.
A lenda continua ao dizer que o temor supersticioso do Imperador alterou a sentença de morte de João para banimento em Patmos4, ilha onde ocorreu sua grande Iniciação, como descrito no Livro da Revelação5. Em consequência da morte de Domiciano, Trajano, seu sucessor, permitiu que o reverenciado exilado retornasse para Éfeso. A história relata que João, em sua última reunião com seus seguidores, os homens mais jovens carregaram o venerável Apóstolo em seus ombros até o local do encontro, onde todos poderiam reverenciá-lo uma vez mais. Em sua chegada ele estendeu sua mão em benção sobre o grupo reunido, e deu a todos uma ordem de despedida: “Pequenas Crianças amem-se uns aos outros”.
Quando João soube que chegou a hora de seu passamento, ele indicou Policarpo para sucedê-lo, como líder de sua igreja. Então ele ficou olhando o céu e glorificando a Deus. Como os Discípulos falecidos “eles viram-no encerrando-se junto aos demais”.
Essa é uma frase iniciatória que descreve o processo pelo qual o profeta eleva o ritmo vibratório de ambos: consciência e corpo; então ele fica imune à fome, ao frio, à doença e qualquer outro aspecto negativo da existência física. Esta técnica de espiritualização pode continuar até que a substancia física se desintegre ou fique invisível. O “encerramento completo de si para com todos” pertence apenas aos Mistérios Maiores.
Quando os Discípulos retornaram no dia seguinte, João não estava mais lá. Foi encontrado apenas seu manto e suas sandálias. Porém onde ele tinha erguido uma última fonte de água que jorrava, eles recordaram das palavras do Mestre para Pedro: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?” (Jo 21:22)
Este é, talvez, a mais bela descrição de todas as traduções da Terra em espírito puro. O Discípulo aprendeu a superar a morte. Num inquebrantável estado de consciência passou da Terra para o Céu.
João, o mais amado do Senhor Cristo, o mais espiritual de Seus Discípulos, fez esta gloriosa demonstração como supremo ideal a ser realizado eventualmente pela raça humana inteira. Ele foi o primeiro, após Cristo, a manifestar a vida eterna daquelas Águas que o Mestre lhe deu para beber. Ele deixou esta Fonte original com seus próprios Discípulos em Éfeso.
Pedro
É dito que Pedro era alto e robusto, com penetrantes olhos cinzas. Seu pesado cabelo negro circundava sua larga testa em cachos triplos como uma tiara. Ele foi um dos mais importantes e, talvez, o mais pitoresco dos Doze imortais.
O nome Simão significa “ouvinte compassivo”. O novo nome, outorgado sobre ele por Cristo, foi proporcionado com sua espiritualidade em evolução: Cephas ou Pedro, que significa “rocha”.
Maior, impulsivo, inconstante e temeroso são as palavras chaves que descrevem o humano Simão. Valente, destemido, leal, e determinado até a morte: estes são os principais traços do caráter do espiritual Pedro. Entre estes dois extremos estabelece-se um caminho sombreado pela dor, humilhação e fracasso, como poucos têm experimentado. Mas foi o Caminho da Iniciação, onde as deficiências humanas de um homem foram transformadas em atributos espirituais de um super-homem.
As marés inquietas e mutáveis do mar, pelas quais Pedro passou a vida, pareciam pulsar em seu sangue. Simão, o Discípulo prévio, foi verdadeiramente o “homem-água”. Foram pesadas as tempestades e ferozes as marés necessárias para efetuar a metamorfose do “homem-onda” para o “homem-rocha”.
Na Negação é para ser encontrado o primeiro grande incentivo da gradação da envergadura espiritual. Quanto mais escuro a sombra, mais brilhante a luz. Como mencionado antes, Pedro nunca escutou o galo cantar sem verter lágrimas e novamente implorar por perdão. Do começo ao fim de sua vida ele avidamente acolheu toda forma de perseguição como penitência pela traição ao seu Senhor. Após a negação, Pedro retornou ao Getsemani, cena de provação recente de seu Mestre, e o Jardim se tornou, novamente, Local de Agonia. Foi aqui que o verdadeiro Pedro nasceu. Ele veio diante de digna promessa: “tu és Pedro e sobre esta rocha construirei minha igreja”.
Tão prodigiosos eram os poderes do novo Pedro que o doente foi curado, quando sua sombra passou sobre ele e onde a sua presença era respeitada, produzia múltiplas bênçãos. Sua humildade cresceu, ainda mais, com sua grandeza. O Mestre reprovou sua arrogância no Ritual do Lavapés, mas pelo seu profundo arrependimento pela Negação, ele aprendeu bem sua lição de humildade. Em sua Primeira Epístola ele adverte seus Discípulos para se vestirem com humildade. O espírito da humildade predominou até o fim de sua vida. Ele mesmo pediu para ser pregado na cruz do martírio de ponta-cabeça, pois ele era indigno de morrer da mesma forma que o seu Senhor.
Pedro adentrou num grande acontecimento na sua transferência ao circo de Calígula de Roma, onde muitos Cristãos valentes sacrificaram suas vidas em nome da Fé.
[1] N.R.: Salomé foi uma seguidora de Jesus citada brevemente nos evangelhos canônicos e que aparece nos apócrifos do Novo Testamento. Ela é por vezes identificada como sendo a esposa de Zebedeu e mãe de Tiago e João, dois dos apóstolos de Jesus. Em outras tradições, ela é a irmã de Maria e tia de Jesus. É conhecida na tradição católica como Maria Salomé, uma das “Três Marias”. Não confundir com a filha de Herodias, que exigiu a cabeça de João Batista.
[2] N.R. ICor 15:55
[3]N.T.: Tito Flávio Domiciano, habitualmente conhecido como Domiciano, foi imperador romano de 14 de setembro de 81 até a sua morte a 18 de setembro de 96.
[4]N.T.: é uma pequena ilha da Grécia a 55 km da costa SO da Turquia, no mar Egeu.
[5] N.T.: O Apocalipse na Bíblia
(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)
Olá
Achei bastante interessante o agrupamento dos Apóstolos em níveis de elevação espiritual.
Pode informar onde tem maiores fontes sobre o assunto?
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