O Poder do Altruísmo

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Poder do Altruísmo

O Poder do Altruísmo

Sabemos que a força designada sob o termo ALTRUÍSMO existe. Vemo-la manifestando-se de diversas maneiras em muitas partes do mundo. Observamos que ela está menos pronunciada nos povos menos civilizados do que naqueles de maior desenvolvimento. Nas raças atrasadas, é quase inexistente. A conclusão lógica dessa observação é que, há muito tempo, quando a humanidade passava pelos mais primitivos estágios, o altruísmo estava completamente nulo. E dessa conclusão surge naturalmente a pergunta: que foi que o induziu em nós? A personalidade material certamente não foi. Na verdade, esse aspecto do ser humano estaria muito melhor sem ele.

Ao mesmo tempo, não podemos deixar de reconhecer que o altruísmo deve ter estado latente dentro de nós durante todo o tempo, pois do contrário não poderia ter sido despertado. Do nada não pode surgir qualquer coisa. O que uma semente exprime ao germinar, levava-o dentro de si.

Torna-se, pois, evidente que, tudo que eleva o ser humano a melhor padrão de conduta deve brotar-lhe do íntimo, de uma fonte não idêntica ao seu corpo, pois muitas vezes luta contra os interesses mais óbvios deste. Doutro lado, deve ser uma força poderosíssima, bem mais forte que o corpo, uma vez que o compele a fazer sacrifícios, em benefício dos fisicamente mais frágeis.

Tal força existe mesmo, ninguém poderá negar-lhe a existência. No atual estágio de desenvolvimento ela nos leva a considerar na debilidade alheia, não uma oportunidade de presa fácil e da exploração; ao contrário, nessa fragilidade vemos um apelo de proteção. O egoísmo vai sendo, lenta e seguramente dissolvido pelo altruísmo.

Embora lento, o progresso do altruísmo é ordenado certo, realizando naturalmente seus propósitos. No íntimo de cada um de nós ele vai agindo como um fermento, transformando o selvagem num civilizado e, com o tempo, transubstanciando este num Deus.

Uma chispa do Cristo Cósmico, incorporada em nosso Redentor, para seu trabalho de purificação de nosso globo e estabelecimento de um clima favorável ao desabrochar do altruísmo, obteve acesso à Terra por meio do sangue purificado de Jesus, que fluiu no sacrifício do Gólgota. Atualmente essa chispa Crística está operando dentro de nosso globo para atenuar sua constituição física e suprafísica. Um poderoso fluxo espiritual foi sentido, no momento em que Ele se integrou à Terra, e uma luz irradiou-se tão intensa que toldou a visão do povo; este maravilhoso evento marcou o início da ação do princípio altruístico sobre o gênero humano. Isto tem concorrido sobremaneira para a segurança do processo evolutivo, pois dia a dia todos os sentimentos que fortalecem o interesse próprio são gradualmente transmutados em ações visando o bem-estar alheio.

Se o Cristo não tivesse vindo e iniciado tal processo descristalizante, outra Lua teria sido arremessada ao espaço, levando consigo a escória resultante daquele tenebroso estado de coisas. Esse sacrifício do Espírito do Cristo Cósmico não significa a Sua morte como comum e erroneamente é admitido, mas sim um influxo à Terra de uma elevadíssima energia que permite vivermos mais abundantemente em espírito.

Ainda hoje, séculos após o acontecimento do Gólgota, poucos são aqueles que estão aptos a viver tão próximos à verdade, seguindo suas concepções, professando-a e confessando-a perante o mundo por meio do serviço e por um reto viver. Ante tamanha evidência, bem podemos imaginar como deve ter sido nos remotos tempos que antecederam ao advento do Cristo, quando os seres humanos não possuíam dentro de si a elevação do Altruísmo.

Os padrões de moralidade eram muito baixos e o amor à verdade era uma tênue chama, quase inexistente na maioria dos seres humanos, os quais empenhavam-se mais em acumular riquezas, poder ou prestígios, muitas vezes por meios os mais abjetos possíveis. A tendência natural era conservar a inclinação aos interesses próprios, muitas vezes em detrimento de outrem.

Dessa forma, os Arquétipos enfraqueceram-se, as funções orgânicas foram afetadas intensamente, particularmente em relação aos corpos ocidentais que se tornaram mais sensitivos à dor em virtude do crescimento da consciência espiritual.

O Egoísmo não existia no mundo até que a névoa se condensasse e a humanidade saísse da atmosfera aquosa da Atlântida. Quando seus olhos se abriram, de modo que pudesse perceber o Mundo Físico e tudo o que nele existia, quando cada um ou cada uma viu-se separado dos outros, a consciência do “mim e do meu”, do “teu e da tua” formou-se nas mentes recém-surgidas e a ambição e separatividade substituíram o sentimento de companheirismo até então existente sob as águas da Atlântida. Daí em diante o egoísmo tem sido uma atitude muito natural, mesmo em nossa jactanciosa civilização. O Altruísmo permanece como um sonho utópico para as pessoas “práticas”.

Porém, entre uma minoria a qual já possui evidente iluminação, ele floresce mais e mais, e dia virá em que todos os seres humanos serão tão bons e indulgentes como o foram os maiores santos.

À medida que os anos passam, os movimentos altruístas vão se multiplicando e ganhando eficiência, eficiência que simboliza um novo modo de beneficiar o próximo. Isso consiste num altruísmo mais autêntico, visto que o trabalho efetuado no sentido de se distribuir esmolas, pura e simplesmente, torna-se um meio caritativo degradante e humilhante àquele que recebe o donativo, pois a natureza do benefício confina-se somente à necessidade material, tornando-se mister que haja uma atitude concomitante visando a elevação do ser.

Essa forma de auxilio mais aperfeiçoada, eleva aqueles a quem nós ajudamos, não só amenizando a situação em que se encontram, mas estimulando-os ao reerguimento por meio das próprios forças. Essa espécie de auxílio inclui o pensamento e o autossacrifício que estão sendo incutidos fortemente pelos nossos Guardiães Invisíveis, os quais são atualmente os irmãos que zelam pelos mais fracos.

Podemos perfeitamente iniciar tal trabalho no lar, sendo amorosos para com todos aqueles com quem estamos em contato imediato, sendo fiéis nas pequenas coisas, pois procedendo assim maiores oportunidades não deixarão de se apresentar.

Devemos nos tornar universais em nossas simpatias, pois o refrão “ame ao vosso vizinho como a ti mesmo” se aplica ao mundo inteiro e não unicamente aos nossos vizinhos imediatos. Podemos amar outras famílias bem como a nossa, outros países sem diminuirmos amor para com o nosso.

Grandes são as dores que estão fazendo nascer o Altruísmo em milhões de corações, porém, por meio do sofrimento ele cresce e torna-se melhor do que antes. À medida que o tempo passar e Cristo, por meio do seu beneficente influxo atrair mais Éter Interplanetário à Terra, esta ficará com o seu Corpo Vital bem mais luminoso.

Assim acontecendo, caminharemos num mar de luz, o que fará com que Ele, sendo a Luz, venha a unir-se com outras luzes.

Para que o ser humano atinja um elevado estágio em sua evolução, é mister que o egoísmo seja absorvido pelo Altruísmo.

Saturno, brandindo o chicote da necessidade sobre o ser humano nos tempos primitivos, o levou à situação presente; assim também Júpiter, o Planeta do Altruísmo, está destinado a ascendê-lo ao estado de “super-homem”, onde permanecerá sob o Raio de Urano que por sua natureza emocional substituirá a paixão pela compaixão.

O Altruísmo, a nota-chave de Urano, oculta um amor envolvente tal como o Salvador sentiu. Urano, como a oitava inferior a Vênus, influenciará a todos aqueles que estão em condições de entrar no Caminho da preparação que os conduzirá à Iniciação. Assim, todos os seres que estão nesse ponto de sua evolução deverão gradualmente aprender a suplantar o Amor Venusino, iniciando dessa forma o cultivo daquele amor Uraniano de Cristo, amor que não requer retribuição, amor que não se amainará em relação aos nossos familiares, porém estes senti-lo-ão com maior intensidade do que aqueles que se encontram mais distantes de nós.

A vida superior (Iniciação) não apresenta seus primeiros indícios até que o trabalho sobre o Corpo Vital seja iniciado. O meio dinamizante dessa atividade é o amor ou melhor, o Altruísmo, embora a palavra amor, hodiernamente, devido às deformações porque passou, não exprima mais com fidelidade aquele sentimento que o Cristo nos legou. Exige-se de nós que cultivemos pelos menos algumas das tendências altruísticas, a fim de que o progresso seja levado a efeito para além do nosso presente estágio.

Como estudantes do Cristianismo Esotérico, devemos nos esforçar no sentido de observar os ensinamentos de Cristo Jesus, procurando expressar e vivificar tenazmente o amor e o Altruísmo. Assim procedendo, estaremos mostrando ao próximo que o amor é a chave que abre todas as portas e a bússola segura e infalível a conduzir-nos à Luz. Se compreendemos que nosso dever é difundir a Filosofia Rosacruz, saibamos também como fazê-lo.

A ação com objetivo de proselitismo ou perturbar as crenças já existentes não se coaduna com o ideal Rosacruz, mas, chegar àqueles que necessitam de verdades mais elevadas, àqueles que não podem encontrar Cristo pela fé somente, àqueles cujos intelectos exigem uma explicação do passado, do presente e do futuro desenvolvimento do mundo e do ser humano, isto sim é procurar dar expansão ao rosacrucianismo por meios seguros e louváveis.

Sumariando, concluímos: assim que o ser humano principia a viver em consonância com a verdade, começa a observar a sociedade, vendo os homens e mulheres como sendo seus irmãos e irmãs. O ódio, a inveja, o ciúme, o egoísmo, a cobiça, a avareza não mais o embotam, porque ele vê a si mesmo como uma parte de todas as vidas.

Sabe perfeitamente que aquilo que é bom para um é bom para todos, que nunca poderá ferir a alguém sem que fira a si próprio e que sua vida é um entrelaçar inexorável com toda a humanidade. Portanto, o seu coração é levado inevitavelmente ao amor impessoal, ao amor para com todos homens e mulheres. Vê a possibilidade da consciência espiritual de cada um sendo desenvolvida; compreende que todos estão trilhando o mesmo caminho, embora ele esteja um pouco mais além, que nenhuma vida poderá ser deixada para trás quando os benéficos propósitos de Deus se completam.

O que o ser humano chama de pecado, ele transmuta em termos de ignorância e de egoísmo. Sua compreensão já não lhe permite desprezar ou condenar a alguém, mas sim, expressar compaixão, simpatia e ajuda. O ser humano espiritual não somente compreende a sua união com Deus, como jamais olvida a sua unidade com todo o gênero humano. Isso é o Altruísmo no seu mais elevado sentido.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 03/1967)

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