O Bem do “Mal”
Não te revoltes contra as adversidades nem te alquebres diante delas.
Busca isto sim, o bem que nelas existe. Diz-se que elas são injustas, dolorosas: sinal de que ainda não estás maduro e não compreendeste as Leis. Não que seja um castigo dos céus. Deus é um Pai perfeito e não castiga.
Sua voz, dentro de nós, está constantemente a chamar-nos, como o magnetismo do Norte a uma agulha de bússola. Estamos aprendendo a orientar-nos e temos o direito de experimentar todas as direções. Mas, verificamos que quanto mais nos afastamos para o Sul, tanto mais sentimos o vazio que os prazeres do mundo não podem preencher.
As causas são teus desvios. A Lei é automática: para cada causa, um efeito correspondente. Não podes dizer que tuas vicissitudes sejam um mal. Elas o estão advertindo!
Não as escutas?
Acaso a repulsão é um mal, quando age nos planos inferiores buscando alertar-nos contra os enganos?
Acaso é mau um fogo se nos queima os dedos que inadvertida ou propositadamente colocamos nele?
A Lei é Lei. Quanto mais nos afastamos tanto mais fortemente age, na tentativa de mostrar-nos o verdadeiro sentido. Como um mero impulso, não dói. O que dói é o nosso desejo egoísta de continuar errando, de não voltar ao norte, de não nos conformarmos em deixarmos velhos hábitos, vícios e apegos.
Analisa tua vida.
Achas ela boa? O que é o bem? E do que gostas? Ou é o que é realmente bem, independentemente de teus gostos?
O bom, o belo e o verdadeiro são objetivos, independentes de nós, míseros mortais. Quem somos nós para ditar as leis de harmonia? Estamos apenas aprendendo e quanto mais sabemos, tanto melhor vamos percebendo esses atributos, porque sendo eles eternos e perfeitos como Deus, eterna também deve ser a nossa busca.
Sê em primeiro lugar sincero contigo mesmo. Medita, e o teu Cristo te iluminará. Ao perceberes tuas falhas terás dado o primeiro passo. Depois, arma-te de coragem para reformar-te, expulsando de teu templo interno, os ladrões de teu sossego.
Devemos ser cristãos verdadeiros, intrínsecos, embora não seja fácil compreender e aplicar as leis do amor a Deus e ao próximo.
Não penses em ti. A revolta, a incompreensão, as mágoas só existem quando julgamos estar sendo injustiçados. Mentira. Tudo aparente. Tudo egoísmo. O que nos parecem males e inimigos são instrumentos de nossas correções. O semelhante atrai o semelhante. Despoja-te do egoísmo e vive o bem, com discernimento. Difícil?
Quanto mais difícil te parece, mais perto estás da realização, porque mostra que começas a compreender a luta interna de tuas naturezas opostas. Nossa natureza animal só luta quando ameaçada de extermínio. A lei de preservação existe em todos os planos.
Não desanimes. Nossa vida atual é de alternâncias: noite e dia, verão e inverno, tristeza e alegria, tudo transitório, até que o eixo de nossa vida coincida com a trilha eterna da evolução. É a época decisiva. Temos de resolver; ou servimos a Deus ou ao mundo. Não podemos servir a dois senhores!
Desconfia das facilidades e comodidades da descida, porque, se continuada, poderão levar-te aos portais do inferno. Alegra-te com as asperezas e dificuldades da subida, porque elas te levam certamente a maiores alturas. E à medida que sobes, as névoas dos vales pecaminosos vão se desanuviando e enxergarás melhor, percebendo que o aparente bem era um mal e que o aparente mal lhe era um bem. Quanto mais subires, mais vastos horizontes se descortinarão ante teus olhos, dando-te forças para prosseguir.
Além disso, não estamos sozinhos. A teu lado estão seres compassivos e sábios, deixando que aprendas a andar com tuas próprias pernas, porque és um Deus em formação e teu destino é glorioso. Tenha fé! O Senhor é o Bom Pastor, não nos faltará!
Esquece-te e dá-te aos demais, com discernimento. Olha a teu redor, mais vale a terra fértil do que a pedra; mais a árvore frutífera do que a estéril; o grau evolutivo se mede sempre pelo serviço amoroso prestado. A árvore dá simplesmente. Não se queixa das podas, porque não tem uma Mente enganosa como nós. E, contudo, também nós somos podados por jardineiros sábios, para que fortaleçamos em todos os pontos e possamos dar melhores frutos. Sejamos humildes! Quem somos nós para julgar?
Deus e Sua Sabedoria estão manifestos claramente. Basta que os saibamos ver. Alegra-te de tuas caídas porque elas te ensinam mais do que os outros meios.
Levas, orgulhosamente, teus arranhões como medalhas. E quando caíres outra vez, levanta-te sem lamúrias. Só os fortes recebem provas maiores.
O único fracasso é deixar de lutar! O tempo de que dispomos os recursos financeiros, sentimentais, intelectuais, físicos, tudo enfim, que temos e não nos pertencem em realidade, porque somos simples administradores e aprendizes neste mundo, todos esses valores devem ser postos conscienciosamente a serviço de nosso próximo, a começar por nossa família, prevenindo os perigos do egoísmo, da vaidade, que amiúde deturpam seu emprego. Sê pois, compreensivo e amoroso servidor!
(Revista Serviço Rosacruz – 01/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
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