Louvor e Condenação: Todos os dias as oportunidades estão batendo as nossas portas
A “Fraternidade Rosacruz” considera com grande importância o serviço atual que prestamos aos nossos semelhantes, e muitas vezes surge esta pergunta: – Como posso servir aos meus semelhantes? Não vejo nenhuma oportunidade para isso.
Portanto, seria bom assinalar que por “serviço” não queremos significar uma grande ação espetacular, tal como saltar à frente de um carro em disparada e salvar uma criança de atropelamento ou, então, penetrar num edifício em chamas e salvar da morte os que estão em perigo de queimar-se.
Naturalmente, tais oportunidades não aparecem para todos, nem tão pouco são coisas de todo o dia; porém, todos, sem nenhuma exceção, têm oportunidade de servir realmente, sem importar o meio ambiente em que vivem. A linha de serviço que indicaremos neste artigo é ainda de maior valor do que qualquer simples ato de salvar alguém da morte, que cedo ou tarde virá fatalmente para todos, pois, seguramente e de muito maior valor, ajudar as pessoas a viver bem do que ajudá-las meramente a escapar, uma vez apenas, da morte.
É um fato deplorável que sejamos, na grande maioria, egoístas a um grau extremo. Buscamos o melhor que há na vida sem nos ocupar em nada com nossos semelhantes. Estamos demasiados propensos a comparar nossas posses, nossas faculdades com os outros, e quando percebemos que eles têm mais do que nós ou que fizeram algo com mais perfeição, etc, deixamo-nos tomar por um sentimento de ciúme e inveja que nos impele a falar deles com desprezo, ou de alguma maneira diminuir seu êxito ou realização, na ilusão de que assim fazendo nos elevamos ao seu nível ou o superamos.
Se por outro lado percebemos que eles não têm tanto como nós, ou sua condição social parece ser mais baixa que a nossa, então é fácil estabelecer sua inferioridade, e, portanto, adotamos logo uma atitude arrogante e falamos de uma maneira “condescendente”, pensando que por tais comparações nos elevamos muito acima das nossas condições atuais.
Se ouvirmos alguém falar mal de outrem, estamos, geralmente, prontos e dispostos a acreditar no pior, porque então, por comparação, parecemos ser muitos melhores, mais santos e, portanto, nos julgamos muito altos sobre o réu. E onde o mérito esteja tão manifesto que não se possa evitar o elogio, geralmente o fazemos de má vontade, pois nos sentimos como se, ao louvar a outrem, nos tirassem algo de nós mesmos ou talvez a outro fique muito exaltado e nos “faça sombra…”.
Essa é a atitude geral do mundo. Por mais deplorável e lamentável que seja, isto é um fato, e entre a grande maioria da humanidade, os seres humanos parecem estar, unicamente, interessados em que todos os demais fiquem para trás deles. Esta é uma das maiores manifestações de desumanidade do indivíduo com o indivíduo, o que faz com que uma grande parte tenha que lamentar-se, enquanto que a outra grande parte também se lamente por sua vez.
Que maior serviço pode alguém prestar aos outros do que adotar uma atitude sistematicamente de ESTÍMULO e de LOUVOR? Não há nada mais verídico do que o sentimento expresso nos versos do poeta: “Sempre há algo bom no pior dos seres humanos, e sempre há algo mal no melhor dos seres humanos”.
No lar, no trabalho e em toda parte encontramos, diariamente, pessoas que sentem necessidade de estímulo, como qualquer pessoa no mundo. Se alguém fez algo de bom e dizemos algumas palavras de apreço, essa palavra o ajudará a fazer ainda melhor na próxima vez. Se alguém fez algo mau ou fracassou, uma palavra de simpatia e confiança lhe dará novas energias que o estimularão a experimentar, mais uma vez, e alcançar o triunfo, exatamente com a mesma segurança que uma atitude de desalento pode arruiná-lo na vida, ao passo que uma palavra alegre poderia tê-lo salvo.
Quando alguém se aproxima de nós com histórias, falando mal de alguém, sejamos vagarosos em crer e mais vagarosos ainda para contar a outrem o que acabamos de ouvir. Esforcemo-nos, por todos os meios possíveis, por evitar que as pessoas que nos vem contar alguma coisa má continue repetindo a mesma história aos outros. Nada de bom pode resultar para nós ou para qualquer outro ouvir e crer em semelhantes histórias.
Esta linha de serviço pode parecer muito fácil à primeira vista, porém, convém considerar que, muitas vezes, será preciso uma grande dose de abnegação própria para agir assim, porque estamos todos tão imbuídos com o egoísmo que é quase impossível para a maioria de nós colocarmo-nos de lado totalmente, pondo-nos na posição de outros, dando-lhes o estímulo e louvor que tão ardentemente desejamos para nós mesmos.
Porém, se persistimos nessa atitude, e a realizarmos consistentemente com todos, em nosso meio ambiente, sempre fazendo o possível para dizer uma palavra de estímulo onde quer que encontremos a oportunidade, veremos que os outros virão a nós não somente com as suas penas, mas também com as suas alegrias; assim alcançaremos também alguma recompensa. Sentir-nos-emos, então, seu sucesso, e em todos esses êxitos de outras pessoas haverá uma alegria e um sucesso que legitimamente nos pertence, um êxito que ninguém poderá tirar de nós, algo que irá conosco para além do túmulo, como um tesouro espiritual.
Não devemos nos esquecer de que cada ato, por simples que seja, está gravado no Átomo-semente em nossos corações, e o sentimento e emoção que acompanham esse ato.
Reagirão sobre nós na existência pós-morte, e toda essa alegria, todo o prazer, todo o amor que tenhamos vertido, por outras pessoas reagirão sobre nós no “Primeiro Céu” e nos proporcionarão uma experiência sublime. Isto desenvolverá em nós uma faculdade maravilhosa de dar mais alegria aos outros, de poder servir mais e melhor. E recordemos que esta é a única grandeza verdadeira, a única grandeza que é digna de nosso esforço, a grandeza de alma que nos permite ser serviçais, servidores do mundo.
Acima de tudo, além de infundir ânimo e valor no trabalho dos outros, recordemos a parte de serviço que se relaciona com o evitar que os mal-entendidos e separações se propaguem. Quando alguém se aproxima com uma história dessas, falando mal de alguém, sem tomar em conta o que possamos pensar disso ou sem considerar qualquer justificação, tenhamos em vista que a repetição dessa história causará realmente um dano. Assim como uma bola de neve que roda de uma montanha abaixo vai acumulando mais e mais neve, crescendo e tornando-se cada vez maior, assim também a história que vai de boca em boca se exagera e acaba por causar uma tristeza e sofrimento. Assim, pois, um dos maiores serviços que podemos oferecer à comunidade é fazer todo o possível para que essas histórias, essas conversas malévolas, não continuem a circular; procuremos corrigir aqueles que por ignorância dos malefícios que produzem, vivem a forjar “histórias” e a falar mal dos outros.
Muitos lares se têm destruído, comunidades têm sido desbaratadas, muitas pessoas têm abandonado suas oportunidades, suas obrigações e aspirações e ainda coisas piores têm acontecido devido a essas histórias que têm sido levadas de boca em boca. Portanto, podemos fazer um grande serviço RECUSANDO ouvir o falar mal dos outros, RECUSANDO ouvir “histórias” e murmurações, dando ÂNIMO àqueles que fracassaram em suas ambições e ELOGIANDO, sinceramente, àqueles que tiveram êxito.
Todos os dias as oportunidades estão batendo as nossas portas, em qualquer lugar que estejamos, seja qual for à condição de vida que tenhamos.
(Revista Serviço Rosacruz – 01/65 – Fraternidade Rosacruz –SP)
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