“Como o Ser humano Pensa…”
“O uso da palavra para expressar pensamentos é o mais alto privilégio que só uma entidade racional, pensante, como o ser humano, pode possuir”. Com estas palavras os Ensinamentos Rosacruzes expressam o grande valor que o ser humano deve atribuir ao pensamento e a palavra.
Tudo que o ser humano já fez com suas mãos é pensamento cristalizado. Qualquer coisa que tenha feito até aqui, primeiro foi um pensamento em sua Mente antes de surgir no plano físico. Com nossa consciência objetiva, e por meio dos sentidos, adquirimos conhecimento do mundo externo, e a este conhecimento chamamos “real”. Através de nossa consciência interna surgem as ideias e pensamentos, os quais nos parecem vagos, indistintos e irreais. Contudo, na medida em que avançarmos e nos desenvolvermos, estes poderão se tornam tão claros e reais como quaisquer objetos do mundo físico contemplados à luz do dia.
Na introdução do “O Conceito Rosacruz do Cosmos” lemos: “Tão seguramente como o pensamento existia antes do cérebro, construiu este e continua construindo-o para expressar-se através dele; tão seguramente como agora a Mente abre o seu caminho e extrai segredos da Natureza pela própria força de sua audácia, assim também o coração achará um meio de superar suas limitações e satisfazer seus anseios. Por enquanto ele está impedido, dominado pelo cérebro. Algum dia, porém, reunirá forças para romper seus grilhões e tornar-se um poder maior que a Mente”.
Nosso atual plano de ação é o Mundo Físico, e é aqui, por meio dele, que aprendemos a pensar certo. Vamos ilustrar: ao inventor surge uma ideia. Algo ainda não muito bem definido, mas que ele reconhece como uma boa ideia, de modo que enquanto pondera sobre a mesma vai revestindo-a de matéria mental. É da Região do Pensamento Concreto que atraímos a matéria mental com que revestimos as nossas ideias. O inventor tem em mente construir uma máquina, e esta já aparece em sua Mente criativa como se estivesse concretizada na matéria física e funcionando. Mas continua traçando planos, modificando-os e tornando a traçá-los. Finalmente constrói a máquina. Mas, quando termina e vai testá-la descobre que muitas modificações precisam ser feitas e que talvez tenha até de refazê-la por completo, só que desta vez apoiado na experiência da primeira tentativa, antes que ela seja capaz de funcionar conforme planejado. Assim, a ideia do inventor precisou ser experimentada na matéria física concreta antes que seu funcionamento pudesse ser comprovado.
O pensamento sozinho, vindo da Região do Pensamento Concreto, nada pode testar nem verificar. Por isso, “o Mundo Físico é absolutamente necessário para ensinar-nos a lidar com as forças do pensamento e do desejo”.
Pensamentos-forma oriundos de dentro e de fora de nós são projetados no Corpo de Desejos para despertar sentimentos que conduzam à ação. De modo geral o pensamento tem o poder de modelar e modificar a matéria física, mas seu maior poder consiste na capacidade que tem para modelar os veículos mais sutis que possuímos.
Pensamentos de preocupação e temor inibem o Corpo de Desejos, enquanto que, uma disposição otimista no encarar a vida possa afiná-lo a qualquer tom desejado. Isto consegue repetindo o pensamento tantas vezes que ele se torne um hábito.
A realidade do Mundo do Pensamento torna-se mais evidente quando o ser humano consegue fazer com que seus pensamentos apareçam como forma física tangível e útil para solucionar problemas terrenos. Deste modo fica claro que a Região do Pensamento Concreto não é absolutamente algo vago ou apenas imaginário, mas sim algo muitíssimo real. O que percebemos com a visão dos olhos físicos pertence ao mundo da forma inerte. Quando olhamos para um ônibus elétrico que se move pelas ruas, o veículo que podemos ver é só matéria inerte. A força que o movimenta, porém, não pode ser vista. Podemos apenas notar seu efeito ao ver com nossos olhos o deslocamento do coletivo, porque a força (ou poder) verdadeira, real, pertence aos reinos invisíveis. O pensamento que criou a forma física provém de um reino mais elevado ainda. Provém do Mundo do Pensamento, que é a pátria do Espírito Humano.
Tudo que vemos aqui no plano físico é de fato pensamento cristalizado. Nossas casas, aparelhos, usinas de força e automóveis; nossos rádios, televisores, etc., tudo é resultado final do pensamento; tudo provém da intangível matéria mental. As ideias e pensamentos de Watt e Edison, de Morse e Marconi, aperfeiçoaram-se e possibilitaram a nossa moderna maneira de viver. Mesmo que alguma calamidade – um terremoto, um incêndio – destruísse os resultados físicos de seus inventos (as máquinas e aparelhos), ainda assim outras pessoas poderiam construir com base nas plantas ou esquemas idealizados por seus autores. Só isso demonstra que os pensamentos são mais permanentes que as coisas.
Considerando nossa vida diária, quer nos parecer que seu aspecto mais importante é aquele que reflete nossos atos. Todavia, se nos detivermos no assunto e procurarmos descobrir o que nos faz agir da maneira que agimos, concluiremos que nossos pensamentos são potencialmente muito mais poderosos. Porque se pensamos errado agimos errado e se pensamos certo agimos certo, uma vez que o pensamento precede a ação.
No Capítulo III – o ser humano e o método de evolução – do “Conceito Rosacruz do Cosmos” encontra-se uma explicação bem detalhada de como funcionam os pensamentos-forma e das diferentes maneiras pelas quais eles alcançam os seus objetivos. Todos os veículos do ser humano são envolvidos nesse processo. Antes da humanidade ser dotada de Mente, era relativamente fácil conduzir o ser humano pelos caminhos que devia trilhar, garantindo-se assim a execução daquilo que Deus havia planejado para ele. Foi somente na primeira parte da Época Atlante, quando recebeu a Mente, que ele começou a resistir. Naquele período de nossa evolução a Mente era ainda extremamente fraca, enquanto a natureza de desejos era muitíssimo forte. Por tal razão a Mente bandeou-se facilmente para o Corpo de Desejos. Dessa aliança resultou uma qualidade inexistente até então: a astúcia, que predominou entre os humanos até a Época Ária, quando o pensamento e o raciocínio, já mais evoluído, capacitou-se na formação de ideias.
A força do pensamento é o mais poderoso meio de obter-se conhecimento, e de tal maneira que, se concentrado sobre determinado objetivo, será capaz de vencer quaisquer obstáculos para alcançá-lo. Geralmente, porém, propendemos a desperdiçar nossa força mental, pelo que, do que resta, pouco podemos aproveitar. Por conseguinte, precisamos aplicá-la com esforço persistente, se quisermos conseguir todo o conhecimento possível de determinado assunto ou matéria.
Como Egos, funcionamos diretamente na substância da Região do Pensamento Abstrato e, a que é mais importante, atuamos dentro da parte que especializamos na periferia de nossa própria aura individual. Portanto, tudo que vemos e contemplamos é colorido pela nossa própria atmosfera, pela aura que criamos com nossos sentimentos, emoções e atitudes resultantes. Assim, se não temos dentro de nós qualquer qualidade indesejável não podemos atrair pensamentos sórdidos ou menos sadios dos outros, ao passo que uma Mente serena, francamente honesta, pura e prestativa, só pode despertar-nos outros o melhor que existe neles. Deste modo, e de muitas outras maneiras, somos guardas de nossos irmãos, sendo, pois, responsáveis pelos pensamentos que semeamos pelo mundo.
Certos pensamentos que julgamos nossos, originários de nossas Mentes, às vezes, provém de outras pessoas. Mas para que nos afetem eles precisam harmonizar-se conosco. Quase todos sabem como funciona a diapasão. Quando um deles é vibrado, outro próximo vibra harmonicamente, se ambos estiverem afinados no mesmo tom. Algo semelhante acontece à nossa Mente: os pensamentos-forma que nós próprios geramos juntam-se a outros de idêntica natureza gerados por outras pessoas, e fortalecem-se mutuamente – para o bem ou para a mal, consoante suas naturezas. É claro, pois, que devemos ter cuidado ao emitir pensamentos-forma que não poderíamos jamais ser tentados a seguir. Pode ser que eles estejam precisando só de uma pequena parcela de força para inclinar a balança na direção de algo que o receptor haja apenas pensado, mas nunca tencionado cometer.
Vemos assim que aquilo que pensamos colorido pelos sentimentos que alimentamos sobre qualquer coisa, pode importar em grandes consequências. Se “amamos a pureza e buscamos a bem” nutrimos e mantemos, quais Anjos da Guarda, tudo o que é bom em volta de nós. “Pensamentos são coisas”, de modo que, se nosso propósito é bom, sua intensidade pode fortalecer o bem que desejamos para toda a humanidade. “Como o ser humano pensa em seu coração, assim ele é”.
“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece; não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre; tudo crê; tudo espera; tudo suporta. O amor jamais acaba” (I Cor. 13:4-8).
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 12/85 – Fraternidade Rosacruz – SP)
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