A personalidade de Judas Iscariotes representa uma das mais impressionantes figuras da história de Jesus Cristo.
Desde o princípio da cristandade, jamais uma criatura foi tão odiada. Este ódio, faz-se sentir ainda hoje, decorridos mais de dois mil anos.
Este ódio criado no seio da cristandade vem encontrando sua continuidade durante séculos, gerando seus efeitos desfavoráveis dentro da própria comunidade cristã.
Dizemos desfavorável porque, não se pode conceber, absolutamente, que houvesse ou haja ódio em Cristo, o Senhor do AMOR.
Vamos ver onde está a origem desse sentimento tão negativo para com essa figura importante.
1. Para fazer download ou imprimir:
F. Ph. Preuss – Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo
2. Para estudar no próprio site:
Uma Defesa a Favor de Judas Iscariotes Relativa a Traição de Jesus Cristo
Por
F. PH. PREUSS
Fraternidade Rosacruz
Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Revisado de acordo com:
1ª Edição em Português, editada pela Fraternidade Rosacruz de Santo André – SP – 1974
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil
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Sumário
A personalidade de Judas Iscariotes representa uma das mais impressionantes figuras da história de Jesus Cristo.
Desde o princípio da cristandade, jamais uma criatura foi tão odiada. Este ódio, faz-se sentir ainda hoje, decorridos quase dois mil anos. Verificamos este fato pela simples razão de se fabricarem bonecos que são dependurados em árvores e queimados logo após serem surrados.
A alegria das crianças é enorme, quando veem Judas receber o merecido castigo.
E este ato, é feito com pleno consentimento dos adultos, que trazem até seus filhos esta velha tradição que pode ser historicamente confirmada. Na atualidade há um sensível declínio dessas práticas grotescas nas grandes cidades. Se bem que não estejam totalmente apagadas. Este ódio criado no seio da cristandade vem encontrando sua continuidade durante séculos, gerando seus efeitos desfavoráveis dentro da própria comunidade cristã. Dizemos desfavorável porque, não se pode conceber, absolutamente, que houvesse ou haja ódio em Cristo, o Senhor do AMOR.
Tendo em vista dar algumas explicações a respeito da atitude de Judas, devemos levar em consideração os atuais tempos materialistas nos círculos farisaicos em contradição flagrante com o Divino Cristo Espiritual e Ideal.
A ocupação real de Judas era zelar pelo bem-estar físico de Cristo e os demais companheiros, sendo ele o caixa, esmoler e provedor dos pobres. Há-se, também, de se ter em mente que TODOS os Discípulos foram escolhidos por Cristo, inclusive Judas. Cada um deles representava, em suas qualidades internas, uma atividade necessária na marcha da evolução. Iniciava-se, portanto, com a vinda de Cristo, um novo ciclo dessa atividade, uma Nova Era, um movimento maravilhoso e surpreendente, ao qual o Sumo Pontífice e sua hierarquia não tinham acesso. Não compreenderam eles, porém, a mudança dos tempos, isto é, o princípio de uma nova atividade da alma humana, que procurava afastar-se das leis exteriores da vida, firmando-se na lei interior. A hierarquia clerical fora golpeada pela mansidão do Cristo. E o que fazia essa hierarquia? Refugiava-se nas más compreendidas leis mosaicas, as quais executavam rigorosamente.
O Novo Testamento, com relação a Judas, comete tantos erros quanto o Velho Testamento, com respeito às leis de Moisés. Referem-se à Judas como sendo ele um legítimo traidor de Cristo, o que não é uma realidade. A narrativa da traição nos Evangelhos, mostra-nos, de fato, uma traição, mas… com toda legalidade espiritual. O amigo leitor não deverá se admirar com essas palavras, pois, no decurso das explicações, daremos confirmação às mesmas. A própria Sagrada Escritura apresenta ao pesquisador sincero, bem como aos atuais fariseus, profuso material de estudos, provando que, sem o Sacrifício do Senhor, Ele nunca teria sido chamado de: Salvador, o Messias da humanidade. O que desejamos demonstrar é que, a chamada traição foi preparada pelo próprio Cristo! A Profecia tinha que ser cumprida; portanto, Judas levou a traição à efeito com pleno consentimento do Senhor.
Daremos, a seguir, provas do que acima dissemos.
Leiamos as palavras de Cristo, no Evangelho de São João, capítulo 15, versículo 16, quando falando aos Discípulos, diz o seguinte:
“Não fostes vós que me escolheram a mim, ao contrário, EU vos escolhi a vós para que deis frutos e que o vosso fruto permaneça”.
Por essas palavras compreendemos que o Senhor escolhera a Judas para que também desse os seus devidos frutos, cooperando dessa forma com AQUELE que o havia escolhido. O homem de Cariotes havia sido escolhido para realizar um serviço especial dentro do plano estabelecido. Cristo assim o fez porque o conhecia perfeitamente e sabia que, somente ele poderia executar tal classe de serviço, ou seja: a traição, tão necessária ao cumprimento das profecias. No Salmo 22, podemos encontrar o vaticínio do mesmo acontecimento.
Agora perguntamos: teria Judas Iscariotes razões especiais para agir dessa forma com relação ao Senhor? Caso ele não houvesse levado a efeito tal traição, o que teria acontecido a humanidade? Porventura teria sido salva? O capítulo 15, versículo 14, ensina-nos o seguinte:
“Vós sois meus amigos, se fizerdes o que EU vos mando”.
O versículo 19, diz:
“Se vós fosseis do mundo, o mundo vos amaria; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele Eu vos escolhi, por isso o mundo vos odeia”.
Estes versículos nos mostram claramente a atividade espiritual de Cristo sobre os seus Discípulos. Eles haviam sido escolhidos para confirmar e participar da Vida Espiritual com o Mestre. Não apenas deveriam ser iluminados pela presença da AURA DO CRISTO SOLAR, como também dar início a transmutação de seus corpos, constituindo-se dessa forma, numa vanguarda espiritualizante de uma futura humanidade. Na perfeita obediência atenderam à própria libertação espiritual (Pentecostes), em virtude das qualidades recebidas da AURA DE CRISTO. As amarras impostas pela lei até então, haviam chegado a seu fim. A constante transmissão das forças solares sobre os Discípulos, devia ser extraordinária, pois, o Hierofante, Cristo, lhes transmitia, francamente, o Espírito de Vida, consumando esse trabalho na Iniciação de Pentecostes. Cristo lhes havia dito que não mais eram do mundo, e que, todos sofreriam como Ele, profecia então cumprida, porquanto todos sofreram a morte de Cruz, exceto São João, que foi exilado para a Ilha de Patmos. Repetimos novamente: Cristo havia escolhido seus Discípulos, e conhecendo perfeitamente as capacidades internas de cada um, dava-lhes os devidos ensinamentos e os iniciava. Este fato nos faz sentir que a Escola Essênia encontrava em Cristo, a lógica e natural sequência dos ensinamentos espirituais para o mundo moderno. A cristandade tinha que se iluminar com a Luz que se encontrava no mundo (Cristo), Luz esta que constantemente era irradiada dos planos estelares. Na escolha dos Discípulos, notamos que o próprio Judas recebeu do Senhor a mesma consideração dada aos demais, recebendo, como eles, obrigações e deveres, sendo respeitado como qualquer outro.
Após esta digressão que se fazia necessária, voltamos ao assunto em pauta:
A TRAIÇÃO
Na Santa Ceia, quando estavam todos reunidos na mesa, Cristo, dando o pão molhado à Judas, perante os demais Discípulos, diz o seguinte: “Aquilo que deves fazer, faze-o já”.
Cristo tinha conhecimento de Sua Missão, e, portanto, era natural a Sua obediência às Escrituras, que, cerca de 1.000 anos antes já havia anunciado: “Eis que teu Rei virá a ti, justo e salvador, pobre e montado sobre um jumento, um asno, filho de jumenta” (Zacarias, Capítulo 9, Versículo 9-10).
O mesmo fato é também descrito cerca de 1.000 anos depois, no Evangelho de Lucas, no Capítulo 19, Versículo 33 e 35: “Quando eles (os Discípulos) soltaram o jumento, seus donos lhes perguntaram: Porque o soltais?
Responderam: Porque o Senhor o precisa. Então o trouxeram e, pondo suas vestes sobre ele, ajudaram Jesus a montar”.
Mui importante de observação é que, Zacarias, 1.000 anos antes, profetizara a mesma coisa que Lucas, Discípulo de Jesus, descreve em seu Evangelho.
Em sua exaltação espiritual, Zacarias fala com o Senhor – isso é evidente! E assim decorrem-se os acontecimentos, como se impressos numa chapa fotográfica, em negativo, e revelada com a chegada do Salvador, inclusive o drama final de Jesus e Judas.
A declaração de Zacarias no Capítulo 11, Versículo 10 é impressionante:
“Tomei a minha vara (Justiça e Suavidade) para desfazer o pacto que havia estabelecido com todos os povos”.
A consequência do desfeito da união entre Deus e seus povos é relatada no Versículo 12 de Zacarias:
“Eu lhes disse (à Hierarquia); se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido, senão, deixai-o” (trata-se das 30 moedas).
No 13º Versículo fala o Senhor a Zacarias: “Arrojo isto no oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles”.
A expressão: EM QUE FUI AVALIADO, é muito significativa. Quem diz isso é o Senhor.
“Tomei (o Profeta) as trinta moedas de prata, arrojei-as na Casa do Senhor” (Zacarias aí faz o papel de Judas).
Esse Versículo coincide ainda com o Versículo 5 do Capítulo 27 de São Mateus: “Então, Judas, atirando para o Santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se”.
A essa altura, verificamos que Judas rompeu bruscamente os laços que o ligavam a seu povo, pois, impôs-se a si mesmo a justiça, que lhe foi negada na hora em que, arrependido, acusa-se perante os sacerdotes de haver acusado sangue inocente. Esta passagem firma-se, ainda, com o Capítulo 11, Versículo 14 de Zacarias: “Então quebrei a minha segunda vara, os laços, para romper a irmandade entre Judá e Israel”.
Lembremo-nos que Judá representa todo o povo Judeu, e os Israelitas representam os escolhidos, os adiantados. Judas provocou a separação entre aqueles que seguiam a lei e os que aceitaram os princípios cristãos, chamados de Israelitas-cristãos. Ao mesmo tempo, coincide que Pilatos, por não achar falha em Cristo, quebra a sua varinha e lava as mãos, em sinal de inocência no caso.
Lendo a seguir São Mateus 26, Versículo 2, encontramos o seguinte:
“Sabeis que daqui a dois dias celebrar-se-á a Páscoa, e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado”.
Havia, naquela mesma hora, uma reunião no Sinédrio, deliberando tirar a vida de Jesus. São Mateus, Capítulo 26, Versículo 4, diz o seguinte:
“Então os principais dos sacerdotes e anciães do povo, reuniam-se no palácio do Sumo-sacerdote, Caifás, e deliberavam tirar a vida de Jesus, prendê-lo por dolo e matá-lo”.
Na verdade, como ensina a Escritura, não havia necessidade de criar-se um pretexto para prender Jesus, pois, os sacerdotes e Cristo sempre se encontravam no Templo ou nos arredores de Jerusalém. Deve haver, assim, por base da traição, algo mais importante, mais transcendental. Vejamos que em Zacarias está apontado o drama de Cristo. Tentemos desvendar a palavra traição. Segundo o dicionário, é: um ato secreto, de um inimigo da vítima, que deve ser traída.
Novamente levamos o leitor a Escritura pela qual Zacarias predisse a traição do Senhor. No Capítulo 11, Versículo 11 de Zacarias e também no Profeta Jeremias, e ainda conforme o Evangelho de São Mateus, Capítulo 27, Versículo 9, e Capítulo 26, Versículo 12, onde Cristo falando aos Discípulos diz: “Derramando este perfume sobre o meu corpo, ela (Madalena) o fez para o meu sepultamento”.
Verificamos que, não somente Cristo sabia de Sua morte, como também Madalena e os Discípulos, pois Ele declarava todas estas coisas perante eles. Nessa mesma hora crítica, poderíamos perguntar: – Se todos sabiam da hora dramática de Cristo, porque não se ausentaram de Jerusalém, sendo que, Judas, ainda não O havia traído ou entregue? O Capítulo 26, Versículo 14 de São Mateus, explica:
“Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes indo ter com os sacerdotes propôs: Que me quereis dar, eu vo-lo entregarei?
E pagaram-lhe trinta moedas de prata”.
Confirma-se aí o colóquio de Zacarias com o Senhor.
Verificamos que coincide, tanto da parte de Cristo como da dos Discípulos, inclusive Madalena, o Sinédrio e os Profetas, saberem, pela mesma fonte, da Paixão em processamento e sua procedência. O veredito espiritual foi a condenação e o sacrifício pela morte de cruz, como porta de salvação para a humanidade. E assim também deveria ser o veredito humano, em cumprimento à profecia. A Plenipotência Divina apresentou-se por meio do corpo físico de Jesus e das Escrituras antiga e nova. A Paixão, sem dúvida, foi coordenada e admitida pela Hierarquia Espiritual. No caso de Judas, apóstolo do Cristo, não se deve encontrar anátema, mas sim a coordenação harmônica dos acontecimentos em propósito. A coragem de Judas faz-se sentir ainda mais impressionante em face de seu auto aniquilamento. As afirmações acima recebem ainda maior apoio quando lemos o Versículo 18 do mesmo Capítulo 26: “Ide à cidade, ter com certo homem, e dizei-lhe: O MESTRE MANDA DIZER: O MEU TEMPO ESTÁ PRÓXIMO; EM TUA CASA CELEBRAREI A PÁSCOA COM OS MEUS DISCÍPULOS”.
Nota-se, nestas palavras proféticas de Cristo, enviadas a seu amigo, (o evangelista não diz o seu nome) que o acontecimento máximo de sua existência está próximo, acontecimento este ligado à história do Mestre e de toda humanidade. O Capítulo 26, Versículo 21 de São Mateus, diz:
“Enquanto comiam declarou Jesus: Em verdade vos digo, que um dentre vós me traíra”.
Sentimos que os acontecimentos se precipitam, chegando à sua máxima culminância na Paixão, em seu ato final.
Um deles teria que ser o instrumento para esse fim e entre eles pairava a grande interrogação:
“Serei porventura eu?” (Versículo 22).
O Versículo 23 coloca os Discípulos entre a alternativa de trair o Mestre, quando diz: “Aquele que mete comigo a mão no prato, esse me trairá”.
Houve então silêncio e suspense, pois, não se sabia ainda, qual dentre eles teria coragem de tal prova. E Cristo, cheio de mansidão e pena, diz:
“O Filho do Homem vai como está escrito a seu respeito, mas, ai daquele por intermédio de quem será traído. Melhor lhe fora não ter nascido”.
Essas palavras não se tratam, absolutamente, de uma ameaça, como geralmente é entendido nas Igrejas populares. O Versículo 25 define o acontecimento: “Judas perante todos, mete a mão no prato do Mestre dizendo: Então sou eu Mestre? Prontamente responde Jesus: Tu o disseste”.
Com isso os Discípulos ouviram a sentença antes proferida por Jesus. O Versículo 47, fala da chegada de Judas com uma turba, armada de espadas e cacetes.
Entretanto, o Versículo 48 fala a respeito da amizade do Mestre para com o seu Discípulo. Ambos tinham ciência dos acontecimentos. O citado Versículo diz o seguinte:
“Ora o traidor havia dado este sinal: Aquele que eu beijar, este prendei”.
O Versículo 49 diz: “E logo aproximando-se de Jesus, disse-lhe: SALVE MESTRE, e o beijou”.
O Versículo 50 ainda diz: “Jesus disse a Judas: AMIGO, para que viestes?”.
Ambos sabiam que se tratava de suas mortes. É muito difícil crer que um traidor verdadeiro beije sua vítima, e nesse caso, o próprio Mestre que o escolhera!
Também, seria difícil crer que o Mestre Jesus chamasse a seu Discípulo de amigo, se não o fosse realmente. Porém, Cristo tinha razões suficientes para chamá-lo de amigo. Nos Evangelhos segundo São Marcos e São Lucas, os acontecimentos são idênticos. No Evangelho segundo São João encontramos algumas diferenças, que a seguir veremos. Em São João, Capítulo 13, Versículo 23, 24, 25 e 26, encontramos o seguinte:
“Ora ali estava aconchegado a Jesus um dos Discípulos que Ele amava”.
A esse, Simão Pedro fez um sinal dizendo: “Pergunte a quem Ele se refere? Então aquele Discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor quem é? Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e tendo-o molhado, deu-o à Judas, filho de Simão Iscariotes”.
Podemos constatar nesse diálogo, como resposta à pergunta do Discípulo amado, e ainda de Simão Pedro que fizera o sinal, que Jesus apontou, inequivocamente aquele que O havia de trair.
Esse apontamento o fez Jesus abertamente, perante todos os Discípulos. Judas recebeu o pão molhado por Jesus à vista de todos que perceberam a sua tragédia, e, no entanto, ninguém o deteve quando saiu a dar cumprimento àquilo que havia sido ordenado por Jesus.
O Versículo 27, diz o seguinte:
“E após o bocado, imediatamente entrou nele (em Judas) Satanás: O que pretendes fazer, faze-o depressa”.
Nesse Versículo vemo-nos perante um enigma, pelo que o próprio Jesus se fez culpado da tragédia, pois, somente após ter dado a Judas o pão molhado, entrou nele Satanás. E ainda mais: Jesus ainda ordena a Judas, conforme as palavras do Evangelista: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”. Judas recebeu o bocado molhado diante de todos, como sinal de que a hora havia chegado e nenhum discípulo foi contrário. Todos concordaram, senão, o teriam detido com toda certeza. Mas tal acontecimento era essencial, não se podendo contradizer a escritura, pois a salvação da humanidade era o alvo da chegada de Cristo à Terra, não podendo ninguém agir contra essa definição. Se aceitarmos a versão de que somente após haver recebido o bocado, entrou Satanás em Judas, é lógico que antes do bocado não estava nele. Pela lógica poderíamos dizer que Jesus era cumplice de Satanás e que Judas era vítima de uma cilada. CLARO ESTÁ QUE NÃO PENSAMOS ASSIM! Mas, tratando-se de um processo comum, o advogado teria que atender a lógica do caso, chegando à conclusão que acusamos de blasfema. Já dissemos que por detrás do caso há um enigma, e que, da forma descrita pelos Discípulos evangelistas, quase de forma semelhante há realmente uma traição, consentida e justificada por todos.
Outra pergunta pode ser feita: Jesus sendo justo e vidente, deu o bocado à Judas. Mas se o tivesse dado a outro Discípulo, teria esse cumprido a ordem?
Qual deles teria tanta coragem, tratando-se de trair o FILHO DO HOMEM, que se sujeitava ao PAI?
Mais um pormenor: A hora máxima de Jesus e Judas foi quando Jesus se dirigia a Judas com as palavras: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”. Esta é uma ordem, não a Judas, mas ao Espírito do Mal, Satanás. É muito esquisita esta versão, mas foi a última vez que Cristo falou ao Espírito do mal, subordinando-o à sua vontade, a Sua Ordem. E Satanás obedeceu.
Procurando penetrar ainda mais no drama de Jesus e de Judas encontramos o seguinte quadro: “Ele (Judas) tendo recebido o bocado, saiu logo, e era noite”.
Quando ele saiu, disse Jesus: Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado Nele.”
Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar (São João, Capítulo 13, Versículo 30, 31, 32).
Estes Versículos constrangem o simples pensador, pelo fato de Cristo ser glorificado no Pai, como também o Pai em Cristo por meio de traição de Judas. Se torna embaraçoso à nossa compreensão a palavra “traição”, em se falando da glorificação do Pai e do Filho por seu intermédio, pois, não se pode crer que os “Dois” se façam glorificar por meio de traição de Judas e em sua consequente morte. Pela lógica, e humanamente pensando, uma traição não é gloriosa e nem tampouco pode trazer glória alguma.
Admitindo-se haver uma glorificação entre o Pai e o Filho, não teria Judas também recebido sua devida recompensa? Sem dúvida, pois, a Lei Universal recompensa. Vemos morto de um lado Jesus e de outro Judas. Dois homens que ajudaram a completar a marcha da evolução humana, a favor da evolução cósmica. Não podemos, por conseguinte, excluir uma pessoa por meio da qual se completa um ciclo evolutivo. Julgando humanamente o caso, cremos que, como estavam as Leis Divinas em operação, tendo o Cristo que afastar-se do corpo de Jesus, a palavra “traição” não se apresenta em desafetos ou mesmo em exageros emocionais. A situação era definida e clara. A Lei Divina regia os acontecimentos e não homens. Vemos assim, de um lado, o sacrifício de Jesus, morto, e do outro lado de Jerusalém, Judas Iscariotes, Discípulo de Jesus também morto, em favor da libertação dos homens.
FIM