Aplique os Princípios Espirituais
Como aspirantes no caminho espiritual, deveríamos sempre encontrar uma forma de aplicar os Ensinamentos Rosacruzes em nossas vidas diárias. Isto não significa, necessariamente, alardear convicções ou tentar converter nossos amigos e familiares. Estamos falando da capacidade de levar os ensinamentos às pequenas coisas, de modo a dignificá-lo.
Tomemos, por exemplo, uma passagem do Ritual: “Para atingirmos essa realização, esforcemo-nos por esquecer, diariamente, os defeitos dos nossos irmãos, procurando servir à divina essência neles oculta, o que é a base da fraternidade”. Poderíamos questionar-nos a respeito desses ensinamentos procurando encontrar uma maneira de levá-los à prática.
Primeiramente, o que significa para nós “divina essência” recôndita em cada ser humano? Se pudermos defini-la, teremos compreendido a base do Ritual. A divina essência, assim expressa, é o Cristo Interno: “Não sou eu quem vive, mas o Cristo vive em mim” (Gl 2:20). Esta é uma força de amor e coesão, assim como as forças cósmicas mantêm harmonia em nosso Sistema Solar e a Terra em sua órbita. Pensemos nisto por um momento. Temos dentro de nós uma fagulha da fraternidade cósmica. Essa consciência constituirá, certamente, um fator de mudanças em nosso relacionamento com os demais.
Alguns dirão, não obstante: “Eu trato com pessoas de caráter débil ou de mente estreita. Como posso valer-me dessa compreensão para equacionar certos problemas?”. “O misticismo é um formoso sonho, mas enfrento problemas reais com pessoas reais”. Isso reflete uma compreensão errônea acerca dos assuntos espirituais. Certamente a vida apresenta seus percalços e temos de encará-los. Poderemos optar pelo caminho mundano, reagindo negativamente, pagando o mal com o mal, etc. Ou, então, afirmar: “Este é o meu destino. Eu o mereço pelo que fiz em vidas passadas”. Ambas as atitudes são inconvenientes ao extremo.
Para o aspirante, a solução é agir conforme preceitua o Ritual, buscando o Cristo Interno. Se tivermos problemas com alguém, peçamos ajuda ao Cristo Interno. Podemos dirigir-nos ao templo interior, solicitando auxílio além da experiência externa. Então, quando enfrentarmos o indivíduo ou a situação teremos fortaleza interior ou a informação necessária com as quais poderemos manejar a dificuldade. Ao mesmo tempo, e isto não é fácil, esforcemo-nos por comunicar-nos com o Cristo na outra pessoa. Não nos preocupemos com seu aspecto pouco atraente. Procuremos apenas a divina essência. Sintamos a força Crística dentro de nós, tratando de irradiá-la nesse contato, apelando para o Cristo em nosso semelhante. Não é necessário dizer alguma coisa, porém, isto influenciará o resultado.
Talvez devamos mudar nossos pontos de vista. Estamos procurando a verdade, não só para os demais, mas para nós mesmos. A Vontade do Cristo pode não se conformar com nossos desejos pessoais. Contudo, se formos receptivos, isto em si mesmo, ajudará a resolver o problema.
Sugerimos aos aspirantes a tentarem uma experiência. Tomem um incidente complicado ou ponha-se em contato com a pessoa complicada, tratando de comunicar-se com o Cristo Interno. Procure ver qual o efeito produzido sobre o problema. Provavelmente, você também concluirá que os princípios espirituais podem e devem ser aplicados na vida diária, ajudando assim a todos os interessados.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/83 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Hipnotismo – Bom ou Mal
Pode-se dizer que a Mente humana consiste de duas partes: a Mente Consciente e a Mente Subconsciente. A Mente Consciente é a parte da Mente onde a informação é conscientemente coletada, onde tem lugar o pensamento lógico e onde são tomadas as decisões. A Mente Subconsciente é a parte da Mente onde estão armazenadas as memórias e os hábitos. A Mente Subconsciente de uma pessoa contém tudo que esta tenha visto ou ouvido (que tenha ou não se conscientizado delas); é também a memória de todos os acontecimentos de sua vida. Quando a Mente Consciente quer se lembrar de alguma coisa precisa reaver a informação da Mente Subconsciente. Quanto maior for à habilidade da Mente Consciente de se comunicar com a Mente Subconsciente mais facilmente a informação será lembrada. A Mente Consciente também se comunica com a Mente Subconsciente quando hábitos estão sendo formados ou rompidos e quanto melhor a comunicação mais eficiente será o controle exercido sobre os hábitos.
O hipnotismo, definido como um estado de comunicação superior com a Mente Subconsciente, está dividido em duas categorias básicas: hipnotismo clássico e auto-hipnotismo. No hipnotismo clássico a Mente Consciente de uma pessoa estabelece comunicação com a Mente Subconsciente de outra pessoa. No auto-hipnotismo a Mente Consciente de uma pessoa estabelece comunicação superior com sua própria Mente Subconsciente. Vamos considerar a natureza e os efeitos de cada um desses tipos de hipnotismo.
No tipo clássico de hipnotismo, o hipnotizador induz a pessoa a se colocar em um estado mentalmente passivo. O hipnotizador, então, pega a cabeça do Corpo Vital da pessoa para separá-la da cabeça do Corpo Denso da mesma pessoa, de modo que a cabeça do Corpo Vital fica enrolada ao redor do pescoço. A ligação entre o Ego da pessoa e o Corpo Denso é, então, separada e os veículos superiores se retraem. O Éter do Corpo Vital do hipnotizador reside agora na cabeça física densa da pessoa e dá ao hipnotizador acesso direto a Mente Subconsciente da pessoa. O hipnotizador pode, agora, obter informação ou dar ordens como desejar. Mesmo depois que a pessoa acorde do transe hipnótico algum Éter do Corpo Vital do hipnotizador ainda permanece na cabeça da pessoa, de modo que pelo resto da vida terrena desta pessoa, ou até que o hipnotizador morra, este terá algum controle sobre esta pessoa.
O hipnotizador clássico tem sido usado, indubitavelmente, por pessoas inescrupulosas, desejosas de adquirir poder sobre outras por objetivos egoístas. Tem sido usado para divertir e maravilhar pessoas em “shows”, mas tem sido usado, também, por outros que tentam conseguir algum bem por meio dele. Os médicos, por exemplo, tem o hipnotismo para aliviar dores de pacientes de maneira a diminuir a necessidade de drogas. Foi descoberto que o alívio da dor pode durar não só durante o transe hipnótico da pessoa, mas também depois de despertado. Foram desenvolvidas experiências nas quais o hipnotismo foi usado para ajudar a obter a cura de doenças. Nestes casos usa-se a teoria de que o estado mental da pessoa é um fator causador de doença e que suspendendo, interrompendo a ação da Mente Consciente da pessoa, o processo de cura ocorre. A hipnose clássica tem sido usada, também, para curar pessoas com maus hábitos como fumar e beber.
Quando observado sob um ponto de vista de curto alcance, o hipnotismo clássico, usado por médicos bem-intencionados, parece ter efeitos benéficos. Mas, por mais bem intencionados que eles sejam, os efeitos de longo alcance do hipnotismo clássico não são bons. Como é de nosso conhecimento, através de nosso estudo dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental, o objetivo da vida é a evolução da alma. No início de cada vida terrena, os Anjos ajudam cada Ego a iniciar o caminho pela vida ao longo do qual ele irá encontrar as privações e tentações que tanto precisa para aprender a enfrentar e vencer as dificuldades da vida, desenvolvendo sua alma. Quando um Ego encontra dor e doença, se estas são aliviadas ou curadas por meio do hipnotismo clássico, o Ego não o desenvolveu, dentro de sua própria alma, as forças para superar a situação. Ao contrário, a vontade do hipnotizador é que foi usada para transpor a situação. Assim, o Ego da pessoa não alcançou o desenvolvimento da alma que a dor e a doença deveriam ter proporcionado, e o Ego terá que enfrentar semelhante dor ou doença em algum momento futuro. Do mesmo modo, quando o hipnotismo clássico é usado para superar maus hábitos é a vontade do hipnotizador que venceu este hábito e, portanto, o Ego da pessoa terá a mesma fraqueza quando renascer em sua próxima vida na Terra. Terá, então, que lutar novamente com o problema até que desenvolva a força interior para superá-lo. Talvez um problema muito mais sério, inerente ao uso do hipnotismo clássico, é o de que é um pecado contra o Espírito Santo. O Espírito Santo, como um foco do princípio criador na natureza, se expressa por meio de órgãos reprodutivos para criar novos Corpos e por meio do cérebro, para criar novos pensamentos.
Quando alguém se deixa hipnotizar cessa de ser seu próprio dono e perde sua faculdade de pensar independentemente. A partir do momento que o hipnotizador interfere na faculdade criativa do pensamento, uma faculdade que é uma expressão direta do Espírito Santo, esta pessoa está, consequentemente, cometendo um pecado contra o Espírito Santo.
Contrastando com isto, o auto-hipnotismo pode ser descrito como um processo no qual uma pessoa coloca sua Mente Consciente em comunicação com sua própria Mente Subconsciente. Descobriu-se, através de experiências, que quando a frequência da onda do cérebro é reduzida para menos de 14 ciclos por segundo, esta comunicação pode ser alcançada. A frequência da onda do cérebro, naturalmente, cai para menos de 14 ciclos por segundo durante o sono, mas aprendendo a relaxar, sem adormecer, é possível alcançar essa frequência acima mencionada estando consciente e tendo o completo controle da Mente Consciente. Assim, a Mente Consciente pode reaver memórias da Mente Subconsciente ou pode dirigir a Mente Subconsciente a agir de determinadas maneiras. Deste modo, hábitos podem ser formados, interrompidos ou cessados e a Mente Subconsciente pode ser dirigida para ajudar no processo de cura.
Ao contrário do método utilizado no hipnotismo clássico, o Ego, ao usar sempre o auto-hipnotismo, mantém total controle de sua Mente Consciente. Além disso, a Ego está usando sua própria vontade e forças geradas de seu interior para enfrentar e superar seus problemas. O uso do auto-hipnotismo para ajudar a superar maus hábitos ou auxiliar no processo de cura, portanto, não traz só benefícios imediatos, mas também benefícios duradouros.
Problemas assim superados não terão que ser enfrentados novamente. O auto-hipnotismo, na verdade, pode aumentar a capacidade do Ego de agir criativamente por meio de seus Corpos. Muitas pessoas querem fazer muitas coisas, mas são incapazes, devido a alguma falta de controle físico ou emocional. Por exemplo, um pianista pode não ter controle muscular para executar uma peça musical difícil, ou um orador pode ficar muito nervoso para fazer um discurso. Usando a auto-hipnose, a Mente Consciente pode programar a Mente Subconsciente para dirigir a execução da peça musical ao piano e para manter o orador calmo durante o discurso.
A criatividade mental, também, pode ser aumentada por auto-hipnotismo. A Mente Subconsciente geralmente tem acesso a soluções de problemas que a Mente Consciente tem tentado resolver. Assim, se a Mente Consciente (quando há um problema) se põe em contato com a Mente Subconsciente, a solução pode ser encontrada. Newton descobriu a Lei da gravidade enquanto descansava debaixo de uma macieira e, igualmente, Albert Einstein descobriu suas ideias revolucionárias sobre espaço e tempo num dia em que descansava na cama devido a uma doença.
Concluindo, podemos dizer que o hipnotismo clássico, qualquer que seja sua intenção ou a maneira de ser usado, não é aconselhável; mas o auto-hipnotismo pode ser usado com resultados benéficos.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – por de Elsa M. Glover – 09/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A Quem serve o progresso
Salta aos olhos, até do observador menos atento, o decaimento da qualidade de vida, mormente nos grandes centros urbanos. Caso esse processo não seja detido a tempo, suas consequências tornar-se-ão simplesmente catastróficas.
Atualmente, nossas esperanças se voltam para os ecólogos, cujo esforço no sentido de amenizar esse quadro desalentador, merece o apoio de todo cidadão responsável. Essa luta vai lenta, mas seguramente encontrando receptividade em todos os segmentos sociais e culturais.
Inclusive, algumas filosofias espiritualistas já se manifestam a respeito, procurando exortar as pessoas a procurarem alimentação e vidas naturais como um caminho que conduz a um perfeito equilíbrio.
Somos admiradores do progresso, porém, mantendo sempre uma visão crítica a respeito. Há progresso e “progresso”. É necessário submeter todas as suas manifestações a um crivo inteligente.
A princípio, todo progresso é desejável, isto dentro de sua conceituação mais corriqueira, usual ou convencional. O bom senso, entretanto, obriga-nos a analisá-lo sob múltiplos aspectos, além daqueles de ordem material e imediatista.
Quando falamos ou pensamos em progresso, convém sempre perguntar: “A quem ou a quantos ele serve? “. A todos, indistintamente, ou a uma minoria privilegiada? Se apenas alguns são beneficiados, então, suspeite-se dele. É lógico que nem todos têm acesso aos frutos do progresso ao mesmo tempo, contudo, é mister que pelo menos tenham a esperança de mais tempo menos tempo poderem desfrutá-lo.
A tecnologia atingiu, em nossos dias, um estágio admirável. Isso deve ser motivo de regozijo, porque representa a utilização de uma das notáveis faculdades do ser humano, a inteligência. Além disso, veio trazer mais conforto à humanidade, encurtando distâncias, promovendo um maior intercâmbio entre os povos, etc.
Todavia, diante dos quadros que nos são dados a ver e conhecer diariamente, julgamos ser preciso voltar, agora, nossas esperanças, não para a tecnologia, mas para a regeneração do ser humano. Isso porque o emprego pervertido, egoísta e competitivo da tecnologia, vem se tornando insustentável. Até algumas décadas atrás, a euforia com o avanço científico chegava ao seu auge. Hoje, entretanto, já não se lhe deposita tanta confiança. A fé cega que depositávamos na ciência e na tecnologia para solucionar nossos problemas foi abalada até às raízes após o lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima.
Nas décadas mais recentes, as pessoas mais esclarecidas e conscientes passaram a preocupar-se mais com esses problemas. A extinção gradativa de espécimes que enriquecem a fauna e a flora, através dos processos de desmatamento, da caça impiedosa, da degradação do ambiente natural, causada pela poluição atmosférica e hídrica, não pode passar despercebida pela consciência dos seres humanos bem-intencionados. Há que reagir a esse estado de coisas.
Felizmente têm surgido vozes corajosas e idealistas defendendo a preservação da VIDA em nosso Planeta. São pessoas dotadas de uma visão ampla da unidade da vida.
Para elas, o ser humano em vez de Senhor da Criação é apenas uma parte integrante da natureza. Não procura dominá-la ou explorá-la, mas sim harmonizar-se com ela.
Lembro-me neste instante de uma placa escrita no sítio Recanto das Aves: “Aqui os Animais, as Águas e as Árvores são Reis”.
Esses idealistas, apesar da indiferença e omissão de muitos, ainda assim estão encontrando simpatia e até adesão em toda parte. Os órgãos de comunicação estão colaborando nessa campanha de esclarecimentos.
O mundo necessita de um contingente de pessoas com essa visão e capacidade de agir, suficientemente amadurecidos, para sobreporem-se às divergências religiosas e ideológicas, numa busca imparcial da melhoria da qualidade de vida.
Uma bela imagem desse tipo de ser humano é a do tripulante da nave espacial Terra. Numa nave espacial, a colaboração entre os tripulantes no sentido de preservá-la e de usar racionalmente os recursos alimentícios e energéticos de que dispõem é imprescindível para o êxito de uma missão.
Os seres humanos deveriam imaginar-se como sendo astronautas, obrigados a manter sua nave em perfeitas condições de habitabilidade. Começariam aí a conscientizar-se de sua responsabilidade.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 05/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
A literatura Rosacruz oferece-nos temas fascinantes para estudo e meditação. Max Heindel desvenda, principalmente no Conceito, com sabedoria e encanto as raízes metafisicas da evolução humana. Contém o fruto de profundas investigações ocultistas realizadas nos planos internos da Natureza. Mais do que isso, em cada letra vibra a alma do autor, um autêntico Apóstolo do Cristianismo nos tempos modernos.
Não obstante a diversidade de temas tratados na obra básica, entre eles subsiste a coerência, alinhavando-se numa unidade perfeita. E o que é mais admirável: cada obra aparenta ser uma extensão das outras. Em conjunto englobam as mais ousadas concepções da filosofia oculta.
Ao espírito acadêmico do século XX, sequioso de se elevar sobre as limitações do materialismo, os Ensinamentos Rosacruzes são uma dádiva dos céus. O grandioso plano do sistema filosófico e religioso em que se apoiam, conferem-lhes poder para esclarecer os mais intrincados problemas, atualmente afligindo a humanidade.
Os Ensinamentos Rosacruzes satisfazem plenamente a natureza intelectual dos povos ocidentais, podendo ser submetidos ao mais rigoroso crivo da lógica. Mas não foi essa a única intenção dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, quando autorizaram sua divulgação ao público, no início deste século. Sancionados pelo intelecto há que encontrar ressonância no coração: eis porque foram disseminados.
O próprio Max Heindel revelou sua preocupação em que o Conceito Rosacruz do Cosmos deixasse de cumprir sua finalidade precípua, qual seja: a de tornar o ser humano um ser espiritualmente elevado.
Os encômios estampados nos mais famosos jornais da época, muito menos as expressões entusiásticas dos leitores, afastavam Max Heindel da realidade: de pouco valor seriam os Ensinamentos Rosacruzes, se lograssem apenas informar ou enriquecer cabedais de cultura, sem, entretanto, sensibilizar o íntimo de cada leitor. Isto, diante dos mais elevados objetivos da Ordem seria um fracasso lamentável.
Os Ensinamentos Rosacruzes, quando nas mãos de diletantes, constituem pérolas atiradas aos porcos. Infelizmente algumas pessoas são conduzidas às portas da Fraternidade por mero diletantismo intelectual, não lhes sobrando nenhuma motivação de ordem espiritual. Sua curiosidade superficial, entretanto, não lhes ensejará mais que tímidos passos na Senda. Buscam novidades. Mas, não há novidades: há verdades antigas em novas roupagens, em vestimentas desconhecidas do grande público. As novidades não se encontram em inusitadas formas de apresentação, exigidas pela época. A novidade está na constante descoberta interna daquilo que o estudante vai vivenciando. Isto, porém, requer “penetração”, além do estudo superficial. Os Ensinamentos da Rosacruz são práticos por excelência. Podem e devem ser empregados no cotidiano, transformando-se, mesmo, num estilo de vida. Mas, reconhecemos, não é uma tarefa das mais fáceis. Exige sacrifício, persistência e idealismo. Quantos estão dispostos a empreender tais esforços?
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 05/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Amor e Colaboração
A vida é inexpressiva e vazia se vivemos apenas para nós mesmos. Ela perde seu sentido maior se vivida introvertidamente. Segregar-se, não participar, é excluir-se da harmonia universal. Quem não colabora com o mundo aliena-se dele. Quem não ajuda a seu semelhante encontra-se afastado do sistema de leis suprafísicas que regem o progresso humano. No Universo só cresce, só se desenvolve quem ajuda, quem colabora, quem serve aos demais, consciente ou inconscientemente, mas sempre amorosa e desinteressadamente.
Dentro deste espírito, vez por outra esta revista dirige apelos aos estudantes, exortando-os a cooperar com a Fraternidade Rosacruz. Não o faz pela simples necessidade de ajuda na tarefa de disseminar os ensinamentos Rosacruzes. Não! É verdade que a Obra carece de um número maior de trabalhadores para alcançar maior expressão na comunidade. Ainda há muita coisa por ser feita. A consecução de seus elevados objetivos exige, a cada dia, maiores recursos materiais e humanos. A seara é imensa.
Não importa o grau de cultura: toda pessoa de boa-vontade encontra, na Fraternidade Rosacruz, setores onde possa empregar suas aptidões. Todos podem dar alguma coisa.
No transcurso de diversos renascimentos vimos aumentando nosso cabedal de conhecimentos, além de desenvolver qualidades. Temos acumulado, por meio de experiências as mais variadas, uma dose considerável de energia e capacidades. Cabe-nos, agindo de conformidade com as Leis Cósmicas dirigi-las a finalidades construtivas.
Somos, inerentemente, seres ativos, face ao princípio divino de MOÇÃO-ATIVIDADE – característica do Espírito Santo – palpitando em cada espírito. A inércia e inutilidade não existem na Natureza. Ao órgão que não se emprega não resta outro caminho senão o da atrofia.
Diariamente nossa capacidade de ação é testada nos mais variados desafios. São estímulos necessários. Quanto a isso não pode haver meio termo nem omissão: ou agimos construtivamente e progredimos ou paramos e retrocedemos. Eis aí o verdadeiro conceito de mocidade e velhice: no sentido interno quem desiste e para, morre para a existência, cuja finalidade é o desenvolvimento a graus ainda inconcebíveis para o entendimento humano, das faculdades herdadas do Criador.
O indivíduo consciente e sincero esforça-se ao máximo por harmonizar e aperfeiçoar tudo o que esteja ao seu alcance. Sabe muito bem que ao retardar o cumprimento de seu dever ou negligenciar suas tarefas, negligencia a si mesmo. Isto é válido para os indivíduos, como para as empresas e agrupamentos sociais.
Quanto mais produzem, construtiva e legitimamente, tanto mais crescem em todos os sentidos.
A Fraternidade Rosacruz constitui uma oportunidade de cooperação no sentido de erigir um mundo melhor. Sua tônica é servir. Todavia, requer-se uma corajosa disposição para trilhar o caminho do serviço. Os desafios surgem em momentos inesperados; caso o estudante não esteja alerta, poderá sentir abalado o seu idealismo. Trilhar essa vereda íngreme não é empresa das mais fáceis, mas espiritualmente é edificante. O estudante não raro poderá até perguntar-se se vale a pena tanto sacrifício. Fernando Pessoa, o grande poeta místico, responde:
“Valeu a pena?
Vale sempre a pena.
Se a alma não for pequena”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 07/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
As Duas Faces do Conhecimento
O conhecimento pode ser uma faca de dois gumes. Imprescindível ao nosso avanço em qualquer campo de atividade, se, todavia, for mal empregado atravancará nosso desenvolvimento. Pouco ou superficial, mesmo quando aplicado com a melhor das intenções, torna-se perigoso. Muito conhecimento, por outro lado, é conveniente apenas àqueles espíritos preparados para recebê-lo, caso contrário, dará à pessoa uma noção exagerada de sua importância e capacidade de influenciar os acontecimentos. Em si mesmo, não é bom nem mau.
O conhecimento é acessível a todos aqueles que, sinceramente, se devotam a sua busca. Em toda Natureza nota-se uma realização lenta e persistente precedendo o desenvolvimento superior. Isto se aplica ao conhecimento estritamente físico como ao dos mundos superiores. A pessoa que admite sua ignorância já deu o primeiro passo no caminho do conhecimento. Só podemos conhecer o superior quando compreendermos o inferior.
“Homem, conhece-te a ti mesmo”. Estas palavras estavam gravadas no frontispício do templo de Delfos na Grécia antiga, como uma lição e advertência. Para compreender o mundo que nos cerca temos de fazê-lo, primeiramente, com nós mesmos. Em assim agindo, conscientizar-nos-emos da verdade prática subjacente na chamada “regra de Ouro”: “Não fazer a outrem o que não desejamos que nos façam”.
O conhecimento total de qualquer assunto requer um estudo intensivo. Renascemos inúmeras vezes no Mundo Físico, entretanto, quem o conhece em toda a sua complexidade? Que dizer, então, dos mundos suprafísicos?
Obter conhecimento direto dos mundos superiores é particularmente difícil para a humanidade atual. É necessário querê-lo tão ardorosamente como uma pessoa que se afoga deseja respirar. Mas, não basta apenas querê-lo. Há outros requisitos necessários a sua obtenção.
O primeiro passo no caminho do conhecimento direto é a purificação dos veículos do espírito, tornando-os cada vez mais sensíveis. Os exercícios de Retrospecção e Concentração ministrados pela Fraternidade Rosacruz são importantes nesse processo, por abrirem vias de aperfeiçoamento de caráter e sensibilização.
O desenvolvimento do sexto sentido ou clarividência coloca-nos no umbral do conhecimento direto. São as primícias do trabalho realizado pelo Aspirante, ao longo de muitos anos ou, quiçá, de muitas vidas.
A aquisição do conhecimento encontra-se estreitamente relacionada com o Corpo Vital e tem, necessariamente, que se alimentar da vida fundamentalmente derivada de produtos do veículo etérico, ou seja, a força criadora e o sangue. Por esta razão, os ensinamentos rosacruzes sempre reiteram que todo desenvolvimento oculto principia pelo Corpo Vital.
Há muito que dizer a respeito do conhecimento. Mas, se queremos evidenciar uma lição moral a respeito do mesmo, podemos fazê-lo nestes termos: o conhecimento implica em grande responsabilidade, e a quem muito é dado, muito será exigido.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 02/82 – fraternidade Rosacruz – SP)
Transplante de Coração
Tendo em vista a frequência com que são realizados os transplantes de coração e o interesse despertado por este assunto, cremos ser importante considerar o fenômeno do panorama do doador e sua imediata experiência após a morte.
Porque os transplantes cardíacos devem ser efetuados imediatamente ao desenlace do doador toma-se impossível evitar a interferência no processo de revisão panorâmica, que ocorre logo após a morte. É possível o prosseguimento do processo panorâmico do doador (embora imperfeitamente, devido à dor provocada pela cirurgia), enquanto se realiza o transplante, o rompimento do Cordão Prateado e a liberação dos veículos superiores do Corpo Físico, incluindo o coração.
Entretanto, o que acontece com o Átomo-semente de quem recebe a doação?
Encontram-se, assim nos parece, na contraparte etérica de seu coração, ainda em seu corpo. Nos casos de amputação, de alguma parte do Corpo Denso, somente o Éter planetário acompanha a parte separada.
A contraparte etérica do membro extraído decompõe-se gradualmente, à medida que o mesmo ocorre com a parte física. Sabe-se que pessoas submetidas à cirurgia de amputação queixaram-se de dor no membro amputado. Isto acontece porque a contraparte etérica ainda não se desfez, demorando, às vezes, anos para decompor-se.
O Cordão Prateado do recebedor deve permanecer intacto, ainda quando o órgão físico tenha sido removido. Pois, se o Cordão romper, o recebedor não sobrevive.
Alojado o coração físico do doador (sem o Átomo-semente) no coração etérico do recebedor, surge esta pergunta: Os Anjos e seus Auxiliares, sábios controladores dessas situações, transferem o Átomo-semente denso do recebedor ao ápice do coração do doador, neste momento, executando sua função de bombear sangue? Pode ocorrer, sem dúvida alguma.
É importante considerar, também, a relação existente entre o doador e o recebedor nesta vida, e nas anteriores. Atente-se, igualmente, para o arquétipo do recebedor, por este elaborado, quando de sua permanência na Região do Pensamento Concreto, e que somente pode durar um tempo específico, correspondente à duração de sua existência física. Devemos recordar sempre, com respeito aos transplantes de coração ou qualquer outro órgão, que o átomo de cada corpo e seus órgãos, nervos, tecidos, etc, constitui a soma total da forma com que o espírito interno viveu suas existências passadas e a maneira como construiu a contraparte de seu corpo físico, nos períodos intermediários entre um renascimento e outro.
Qualquer enfermidade, incluindo a do coração, é uma manifestação de ignorância ou transgressão das leis superiores; somente pode ser eliminada por uma modificação na natureza interna do ser humano. Transplantar um órgão não curará a causa fundamental da enfermidade do paciente. Este, se não promover transformações espirituais em seu íntimo, acabará por defrontar-se de novo com o problema, seja nesta vida ou em outra. De uma forma ou de outra acabará por aprender a lição.
Pode-se dizer que o coração é um órgão já principiando a demonstrar seu glorioso potencial como o instrumento pelo qual o verdadeiro AMOR de Cristo tornar-se-á uma realidade universal. Ele encerra a essência individualizada de cada Ego, ampliada a cada vida física. Tratar de transferir esse órgão de um ser humano a outro pode criar situações conflitantes com os objetivos idealizados pelos arquitetos de nossa evolução. E, talvez, o resultado seja pior para o recebedor do que o destino que lhe estava determinado sem o transplante.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10\81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Um Significado para: “Buscai Primeiro o Reino do Céus”
Nunca é demais ressaltar a importância de estarmos em Deus a cada instante. Só Ele pode resolver os nossos problemas, da forma como devem ser resolvidos. Só Ele nos poderá orientar para o certo, iluminar-nos em nossas atividades, para acertarmos o maior número de vezes possível.
Porém, é preciso que não se confunda esta entrega com inércia, supondo que, ao colocarmos nas mãos de Deus os nossos problemas possamos descansar na cômoda impressão de termos transferido, também, a Ele as nossas tarefas. Longe disto. Nossos deveres nós não os podemos negligenciar, até pelo contrário, quanto mais ativos nos mantivermos procurando dar de nós a cada momento do dia, tanto mais estaremos nos tornando merecedores da Sua confiança e do Seu merecimento. Sim, porque para estar em Deus, é preciso merecer Deus.
Diz o Ritual de Cura da Fraternidade Rosacruz que: “num vaso sujo não pode haver água pura e saudável, nem uma lente manchada transmitir uma imagem clara”. Da mesma maneira, se não nos tornarmos merecedores de Deus, cumprindo bem todas as nossas tarefas, com sinceridade e pureza, procurando ajudar sempre com isenção de ânimo, tornando-nos um elemento útil e de boa vontade no contexto geral, nossas portas internas manter-se-ão fechadas ao ingresso d’Ele.
É claro que: “em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser”. E esta asserção não invalida o que foi dito acima. O caso é que nem todas as pessoas são sensíveis à presença de Deus nelas. E é a essa sensibilidade, a esse contato que deve ser empreendido constantemente, que nos referimos antes. Estar em Deus é, pois, ter consciência da presença de Deus em nós. E só abriremos a nossa consciência para senti-Lo cada vez mais próximo, sempre que estivermos atentos para não perder nenhuma oportunidade de realizar o Bem. Porque o Bem é o reflexo de Deus, e realizando o Bem estaremos realizando Deus, atraindo mais força d’Ele, maior contato, mais luz e, consequentemente, maior ajuda d’Ele.
Na verdade, o ser humano quanto mais se eleva e mais puro se torna, menos necessidade terá de preocupar-se em pedir auxílio à Deus. Porque o fato de realizar-se n’Ele já o coloca em condições de não precisar pedir, pois, tendo a Ele em si e consigo nada mais necessitará; já terá tudo.
Daí o que disse Cristo Jesus aos apóstolos: “Buscai primeiro o Reino do Céu e todas as outras coisas vos serão acrescentadas”. É isso. O Reino do Céu está em nós, dentro de nós, e é só preciso tomar consciência disto. Eis porque a Filosofia Rosacruz nos orienta a procurarmos aumentar a nossa consciência pelo serviço, que é a prática dos ensinamentos cristãos que Cristo Jesus deixou e que os lrmãos Maiores nos transmitiram por meio de Max Heindel. Sabemos que, para isto, não nos serão necessários grandes exercícios, como outras religiões ocultistas preconizam. Bastam-nos os dois exercícios: de retrospecção à noite e o de concentração logo ao acordar – que, com a continuidade vai passando para a meditação e, depois, para a elevação – e mais a realização na prática das coisas boas, que vamos descobrindo por meio dos referidos exercícios e de nosso Serviço no mundo.
Assim, o que é exigido de nós estará sempre dentro das nossas possibilidades, pois seremos nós mesmos, com o nosso esforço no bem viver, que delinearemos as bases do nosso progresso e, consequentemente, do nosso merecimento. Quanto mais trabalharmos para acertar o pé no mundo em que vivemos, tanto mais despertaremos nossa consciência crística, crescendo internamente, construindo nosso céu interior, colocando-nos, assim, em posição de atrair para nós tudo àquilo que deverá ser nosso, tanto espiritual como material.
Por isso, nosso cuidado maior não deveria ser com as coisas materiais, mas com o nosso preparo interno, porque só esse preparo, esse céu interno que buscamos e realizamos em nós coloca-nos em condições de receber tudo o mais que Deus sabe que necessitamos.
Tomemos nota: quanto mais nos elevarmos, tanto menos falta vamos sentindo das coisas materiais e tanto mais nos vamos aproximando da nossa herança divina.
Não vá agora, alguém, por outro lado, sentir-se inibido pensando que, se por fazer algum pedido a Deus, estará com isso provando a sua incapacidade de estar n’Ele. Pensar assim seria fruto de nosso orgulho, porque é preciso uma boa dose de humildade para admitir as nossas limitações. O que deve servir-nos de escopo é o fato de sabermos que agindo sempre no bem, estaremos em progressivo desenvolvimento para aquele estado de graça, que nos coloca em posição de conquistar cada vez mais o Céu dentro de nós.
(Revista ‘Serviço Rosacruz” – 10\81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
PUREZA: um ideal a ser diuturnamente cultivado
Falar em pureza nos dias de hoje pode até parecer um contrassenso. Para o ser humano comum este tema será recebido com ironia. Não poderia ser outra a atitude predominante diante do bombardeio de apelos ao sexo e vícios desencadeados pelos meios de comunicação.
Não estamos exagerando ao afirmarmos que grande parte da população já está condicionada a tudo o que é degradante. E isso ocorre sob conivente complacência de quem deveria zelar para que tal não acontecesse.
Não pretendemos insinuar que as pessoas, em sua quase totalidade, são moralmente tíbias. Queremos crer que a maioria seja bem formada e intencionada. Mas a repetição contínua dos bombardeios apelativos acaba, fatalmente, por alcançar o subconsciente, findando por obscurecer as boas qualidades. Eis porque o vício se converte numa segunda natureza.
Com pesar notamos alguns indivíduos intelectualmente bem dotados, e outros até estudiosos do espiritualismo, conhecedores dos benefícios de uma vivência pura, se deixar dominar por vícios e maus hábitos de toda espécie.
Não basta conhecer a verdade e almejá-la. Entre compreender e almejar há uma grande distância. Os médicos em geral conhecem muito bem a higiene e as enfermidades. “Conhecem”. Acabam, porém, adoecendo e sofrendo tal como os ignorantes do assunto.
Muitos estudantes do Ocultismo sabem discorrer brilhantemente acerca de temas transcendentes, mas, incoerentemente, vivem como pessoas comuns. Parecem encontrar-se muito distantes dos princípios que tanto alardeiam. Por quê? Porque falta a reforma interior, capaz de atingir o subconsciente. Em primeiro lugar, não possuem a fibra e a coragem necessárias para encetarem uma transformação purificadora em seu íntimo. É mais fácil ceder e condescender. São teóricos do espiritualismo, nada além de teóricos.
Não só o Cristo, mas os nobres cavaleiros de nossos ideais estão ameaçados. Parsifal continua lutando e sofrendo pelo mundo, sem poder usar a espada a seu favor. Amfortas continua sofrendo as dores do remorso. O lírio entreaberto, na fachada do templo de Salomão, espera pacientemente pelos puros de coração.
A realização da pureza antecede uma jornada de lutas e quedas. Os valorosos engolem o pó do caminho, mas não desistem. Lamentavelmente muitos ficam. As dores sempre encerram uma lição. Exercita-se a pureza na batalha diária da existência, em meio aos pequenos desafios da vida. Quem não se esforça e morre sem lutar não merece o “Valhala” (NR. Era um Palácio) das bem-aventuranças. Não pode desfrutar da verdade nem provar a sabedoria.
A pureza é um ideal a ser diuturnamente cultivado.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 10/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Bem do “Mal”
Não te revoltes contra as adversidades nem te alquebres diante delas.
Busca isto sim, o bem que nelas existe. Diz-se que elas são injustas, dolorosas: sinal de que ainda não estás maduro e não compreendeste as Leis. Não que seja um castigo dos céus. Deus é um Pai perfeito e não castiga.
Sua voz, dentro de nós, está constantemente a chamar-nos, como o magnetismo do Norte a uma agulha de bússola. Estamos aprendendo a orientar-nos e temos o direito de experimentar todas as direções. Mas, verificamos que quanto mais nos afastamos para o Sul, tanto mais sentimos o vazio que os prazeres do mundo não podem preencher.
As causas são teus desvios. A Lei é automática: para cada causa, um efeito correspondente. Não podes dizer que tuas vicissitudes sejam um mal. Elas o estão advertindo!
Não as escutas?
Acaso a repulsão é um mal, quando age nos planos inferiores buscando alertar-nos contra os enganos?
Acaso é mau um fogo se nos queima os dedos que inadvertida ou propositadamente colocamos nele?
A Lei é Lei. Quanto mais nos afastamos tanto mais fortemente age, na tentativa de mostrar-nos o verdadeiro sentido. Como um mero impulso, não dói. O que dói é o nosso desejo egoísta de continuar errando, de não voltar ao norte, de não nos conformarmos em deixarmos velhos hábitos, vícios e apegos.
Analisa tua vida.
Achas ela boa? O que é o bem? E do que gostas? Ou é o que é realmente bem, independentemente de teus gostos?
O bom, o belo e o verdadeiro são objetivos, independentes de nós, míseros mortais. Quem somos nós para ditar as leis de harmonia? Estamos apenas aprendendo e quanto mais sabemos, tanto melhor vamos percebendo esses atributos, porque sendo eles eternos e perfeitos como Deus, eterna também deve ser a nossa busca.
Sê em primeiro lugar sincero contigo mesmo. Medita, e o teu Cristo te iluminará. Ao perceberes tuas falhas terás dado o primeiro passo. Depois, arma-te de coragem para reformar-te, expulsando de teu templo interno, os ladrões de teu sossego.
Devemos ser cristãos verdadeiros, intrínsecos, embora não seja fácil compreender e aplicar as leis do amor a Deus e ao próximo.
Não penses em ti. A revolta, a incompreensão, as mágoas só existem quando julgamos estar sendo injustiçados. Mentira. Tudo aparente. Tudo egoísmo. O que nos parecem males e inimigos são instrumentos de nossas correções. O semelhante atrai o semelhante. Despoja-te do egoísmo e vive o bem, com discernimento. Difícil?
Quanto mais difícil te parece, mais perto estás da realização, porque mostra que começas a compreender a luta interna de tuas naturezas opostas. Nossa natureza animal só luta quando ameaçada de extermínio. A lei de preservação existe em todos os planos.
Não desanimes. Nossa vida atual é de alternâncias: noite e dia, verão e inverno, tristeza e alegria, tudo transitório, até que o eixo de nossa vida coincida com a trilha eterna da evolução. É a época decisiva. Temos de resolver; ou servimos a Deus ou ao mundo. Não podemos servir a dois senhores!
Desconfia das facilidades e comodidades da descida, porque, se continuada, poderão levar-te aos portais do inferno. Alegra-te com as asperezas e dificuldades da subida, porque elas te levam certamente a maiores alturas. E à medida que sobes, as névoas dos vales pecaminosos vão se desanuviando e enxergarás melhor, percebendo que o aparente bem era um mal e que o aparente mal lhe era um bem. Quanto mais subires, mais vastos horizontes se descortinarão ante teus olhos, dando-te forças para prosseguir.
Além disso, não estamos sozinhos. A teu lado estão seres compassivos e sábios, deixando que aprendas a andar com tuas próprias pernas, porque és um Deus em formação e teu destino é glorioso. Tenha fé! O Senhor é o Bom Pastor, não nos faltará!
Esquece-te e dá-te aos demais, com discernimento. Olha a teu redor, mais vale a terra fértil do que a pedra; mais a árvore frutífera do que a estéril; o grau evolutivo se mede sempre pelo serviço amoroso prestado. A árvore dá simplesmente. Não se queixa das podas, porque não tem uma Mente enganosa como nós. E, contudo, também nós somos podados por jardineiros sábios, para que fortaleçamos em todos os pontos e possamos dar melhores frutos. Sejamos humildes! Quem somos nós para julgar?
Deus e Sua Sabedoria estão manifestos claramente. Basta que os saibamos ver. Alegra-te de tuas caídas porque elas te ensinam mais do que os outros meios.
Levas, orgulhosamente, teus arranhões como medalhas. E quando caíres outra vez, levanta-te sem lamúrias. Só os fortes recebem provas maiores.
O único fracasso é deixar de lutar! O tempo de que dispomos os recursos financeiros, sentimentais, intelectuais, físicos, tudo enfim, que temos e não nos pertencem em realidade, porque somos simples administradores e aprendizes neste mundo, todos esses valores devem ser postos conscienciosamente a serviço de nosso próximo, a começar por nossa família, prevenindo os perigos do egoísmo, da vaidade, que amiúde deturpam seu emprego. Sê pois, compreensivo e amoroso servidor!
(Revista Serviço Rosacruz – 01/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)