A Paciência nos Estudos: tudo virá no devido tempo e conseguiremos o almejado
Um filósofo certa vez afirmou: “a paciência é a maior das virtudes”. A verdade é que tal virtude, sendo bem cultivada, levar-nos-á a alcançar outras qualidades espirituais.
O estudante da Filosofia Rosacruz encontra na paciência uma dura prova, principalmente quando começa a dar os primeiros passos dentro dos sublimes ensinamentos Rosacruzes. Notadamente, os jovens, com a alma ávida de novos conhecimentos e experiências, e, talvez devido a uma má orientação anterior, sentem um desejo ardente de rasgar véus que envolvem mistérios e desenvolver qualidades psíquicas, desconhecendo que o essencial é o crescimento espiritual, pois psiquismo não é espiritualidade.
O passo mais importante a ser dado pelo aspirante é conservar a mente pura, arejada, livres de pré-conceitos que entravam o progresso espiritual; um coração nobre, justo, sensitivo, porém condizente com a situação de quem procura analisar os fatos dentro de um prisma racional e lógico; um corpo sadio, através de um regime alimentar adequado e hábitos salutares, bem como estabelecer, como dínamo a impressioná-lo em suas atividades diárias, o serviço amoroso e desinteressado. O resto virá por acréscimo.
Mesmo no decorrer do estudo da Filosofia Rosacruz, nem tudo nos apresenta claro e compreensível de um dia para outro. Nem todos possuem a mesma capacidade de assimilação de conhecimentos, pois tal capacidade constitui uma bagagem adquirida em existências passadas, conforme o maior ou menor empenho de cada um. Não obstante é necessário perseverar e perseverar sempre. Mesmo que levemos muito tempo para entender algum tópico das lições, e que isto não seja motivo para esmorecimentos e desistência. Cada um deve sobrepor-se as próprias fraquezas e dificuldades, porque é desta conquista da natureza inferior que se removem os obstáculos e as limitações esvaem-se. Estas são criações do próprio ser humano, através de um modo negativo de viver, de pensar e agir.
O estudo constante, a frequência às reuniões sempre que possível, o exercício de retrospecção, o viver leal e sincero de conformidade com os ideais rosacruzes, constituem fatores positivos, que propiciam o vislumbre de horizontes mais amplos.
É evidente que o estudo e demonstração das leis que regem os mundos suprafísicos não implicam em compreensão imediata, pois a natureza não dá saltos e se muitas vezes não entendemos nem aquilo que é perceptível aos nossos sentidos físicos, quanto mais o que é âmbito mais sutil!
Mas, se tivermos paciência, tudo virá no devido tempo e conseguiremos o almejado, pois, o espírito de harmonia e a unidade de propósito, muito nos auxiliarão; assim, constituirão uma força que beneficiará, fortalecerá e sustentará a cada um de nós.
(Revista Serviço Rosacruz – 10/66 – Fraternidade Rosacruz – SP)
O Que Tem Mais Valor: nos capacitando para ajudar, a começar com nossos filhos naturais e espirituais
Os filhos aprendem dos Pais as primeiras ideias do bem e do mal, do certo e do errado. Para as crianças, os pais são os modelos de quem aceitam, sem hesitar, os conceitos que mais tarde lhes vão sedimentar o caráter. Eminentemente ensináveis, dóceis e sensitivas gravam vividamente as lições e, como “vídeo-tape”, vão mais tarde relacionando fatos e modelando juízos.
Disse um famoso educador: “Dá-me uma criança até sete anos; a influência que lhe incutirei nesse período será decisiva para o resto de sua existência”. Avaliem, pois, a responsabilidade dos pais perante os Egos a quem deram oportunidade de renascer e ajudar. Se de um lado há o fator destino, fazendo com que cada um nasça no lugar mais adequado as suas necessidades internas, por outro lado os pais respondem, perante a Lei de Causa e Efeito, pela forma como educam. Pestalozzi afirmou com muito acerto: “primeiramente é necessário educar os pais”. Seu sentido de educação era integral: intelectual, física e moral.
Sabemos que uma criança, à semelhança de um “iceberg”, revela apenas uma pequena parte de sua natureza. O tema astrológico poderá mostrar as tendências que trouxe ao nascer. Essa é a parte submersa no passado. O “meio ambiente” acrescentará algo mais, modificando ou reforçando os diversos aspectos de seu modo de ser. Educar é tarefa delicada e espinhosa. Não se trata, como vemos, de somente das escolas. É, principalmente, o exemplo dos pais, suas reações perante a vida, seus conceitos etc. Olhos atentos os observam e os imitam. São pequenas lições diárias a influir poderosamente no pai ou mãe de amanhã. De fato, o futuro é a soma de pequenos “agoras”.
Só podemos dar aos filhos o que temos e o que somos. Embora não tenhamos a intenção de prejudicar-lhes a formação, é o que muitas vezes fazemos, por falta de preparo ou só egoísmo.
Vejamos um fato comum e diário: a criança comete um deslize e o pai ou a mãe a corrige. Se a falta trouxe algum prejuízo material (rasgar ou sujar a roupa, gastar sem permissão, estragar qualquer coisa) a mãe fica furiosa e depois de gritar-lhe muito que o dinheiro é duro de se ganhar, que ela é ingrata, etc., põe-se no castigo ou dá-lhe uns puxões de orelha. Quando a falta implica, porém, em dano moral (mentira, deslealdade, desobediência) o castigo é menor ou nenhum. Então a criança associa as duas coisas e conclui: “O que traz prejuízo material é mais grave. Portanto, o dinheiro é mais importante”.
Admiramo-nos, hoje, de que nossos filhos não vão a Fraternidade e julgue muito mais importante ganhar dinheiro, lutar pelo supérfluo, pensar mais em “gozar a vida”? Fomos nós mesmos que lhes incutimos, sem o perceber, esse conceito. E quem sabe se no íntimo de nosso ser essa falha, ainda hoje, nos impede prestar justa colaboração financeira à causa Rosacruz?
Analisem-se. Vejam se não é verdade.
Este é apenas um dos inúmeros pontos que trazemos do passado. É preciso rever, reanalisar, reexaminar tudo o que temos dentro de nós. Nossas capacidades de análise, nosso conhecimento das premissas cristãs, hoje, nos permitem separar o joio do trigo. Isto foi o que disse o Mestre de todos os tempos, quando os discípulos, notando a presença do joio entre o trigo, se dispuseram a expurgá-lo: “Agora não, pois, haveria o período de cortarem o trigo, pensando ser joio”.
Separar, cortar o errado, o falso em nosso modo de pensar e sentir é tarefa que devemos fazer, quando devidamente orientados por sãos princípios, como os da Filosofia Rosacruz.
Hoje os estudantes rosacruzes dedicados podem e devem expurgar o joio, sem esperar que a lei de repulsão o faça, contra sua vontade, no estado pós-morte. O que conta em nosso favor, como conquista anímica, é o que realizamos aqui na escola do mundo.
E ao mesmo tempo em que nos regeneramos, tanto mais capacitados estaremos para orientar e ajudar nossos semelhantes, a começar por nossos filhos.
(Revista Serviço Rosacruz – 10/66 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Fortuna – um dos quatro grandes motivos de toda ação humana. A fortuna pela qual se deve lutar é somente a abundância de oportunidades para servir os semelhantes.
Fama – um dos quatro grandes motivos de toda ação humana. A fama pela qual se deve aspirar é a que possa aumentar nossa capacidade de transmitir a boa nova, a fim de os sofredores poderem encontrar o descanso para a dor do seu coração.
Castidade – na Escola Cristã de Preparação Iniciática: somos ensinados a dirigir a força sexual criadora para cima, para o cérebro, e transmutá-la em poder anímico.
O voto de absoluta castidade relaciona-se unicamente com as Grandes Iniciações.
Mesmo nestas, um só ato de fecundação pode ser necessário alguma vez, como um sacrifício, como aconteceu quando se preparou o Corpo para Cristo.
Pode-se acrescentar, também, que é pior estar sofrendo o abrasador desejo e pensando constante e vividamente na gratificação dos sentidos do que viver a vida matrimonial com moderação. Cristo ensinou que os pensamentos impuros são maus e talvez piores do que os atos impuros, porque os pensamentos podem ser repetidos indefinidamente, enquanto os atos têm sempre algum limite.
O Aspirante à vida superior só pode triunfar na medida da subjugação da natureza inferior. Contudo, deve guardar-se muito bem para não ir de um extremo ao outro.
Insistamos no fato: deve-se ter bem presente que a castidade absoluta não é exigida enquanto o ser humano não tenha alcançado o ponto em que esteja apto para as Grandes Iniciações, e que a perpetuação da raça é um dever que temos para com o todo.
Se estivermos aptos: mental, moral, financeira e fisicamente, podemos executar o ato da geração, não para gratificar a sensualidade, mas como um santo sacrifício oferecido no altar da humanidade. Tampouco deve ser realizado austeramente, em repulsiva disposição mental, mas sim numa feliz entrega de si mesmo, pelo privilégio de oferecer a algum amigo que esteja desejando renascer, um Corpo e ambiente apropriados ao seu desenvolvimento. Desse modo estaremos também o ajudando a cultivar o florescimento das rosas em sua cruz.
Obediência – na Escola Cristã de Preparação Iniciática: somos orientados a aceitar verdades “prováveis” e nos capacitar para prova-las – pela fé – e obedecer as leis naturais, as leis de Deus – nossa vontade conformando à vontade de Deus, ou seja: ouvir com o coração; escutar em profundidade.
A Gloriosa Era: revistamos do áureo manto nupcial para a futura comunhão com Cristo
Durante períodos sem conta, de nosso passado evolutivo, aprendemos a construir os diferentes veículos em que hoje, como Espíritos, atuamos. Através desse trabalho fomos passando de classe em classe na Grande Escola de Deus. Em cada fase maior e menor fomos adquirindo gradativo desenvolvimento de consciência.
Porém, cada qual aprendia, assimilava e crescia segundo seu particular modo de adaptação e reação. Uns caminharam depressa, outros regularmente, outros se atrasavam.
Na Época Atlante, quando a neblina se condensou e encheu os recôncavos e a terra, obrigando aos seres humanos a buscar as mesetas e planaltos, muitos pereceram asfixiados, porque não haviam desenvolvido os pulmões, indispensáveis para respirar na atmosfera mais rarefeita das alturas. Esses não puderam passar pelo portal do arco-íris, à nova era, a Ariana, com suas secas condições.
Agora, novamente, amigo, está se aproximando uma grande transformação mundial. Cristo referiu-se a essa transição e como arauto da Nova Era de Aquário, a Fraternidade Rosacruz, tal como Noé, vem preparar-nos.
Acautelemo-nos para que não sejamos apanhados desprevenidos e busquemos a amorosa, eficiente e desinteresseira orientação da Fraternidade Rosacruz.
Aquário é um Signo aéreo, científico, intelectual, inovador, original e independente. A nova chave de nosso desenvolvimento, iniciado nesta Época Ária pela razão, irá encontrar sua sublimação nessa Gloriosa Era Aquariana, quando, então seremos capazes de resolver o enigma da vida e da morte de maneira a satisfazer, igualmente, o coração e o intelecto. Nessa Era, a humanidade, que se prepara desde já, poderá desfrutar da verdadeira felicidade, pela unidade racional da Arte, Religião e Ciência, pois, todas essas atividades, em vez de se digladiarem pela contradição, em consequência da falta de visão de seus pontos comuns e básicos, completar-se-ão coerentemente.
Aquário tem regência especial sobre os Éteres, elemento de transição sensorial. O dilúvio que submergiu a Atlântida eliminou, até certo ponto, a umidade contida no ar, quando a concentrou no oceano. Quando o Sol, por precessão, entrar em Aquário, quase toda a umidade ainda remanescente desaparecerá e as vibrações visuais serão mais facilmente comunicadas por sua elétrica e seca atmosfera.
Os Irmãos Maiores deram o encargo da expansão dos Evangelhos, de mais profunda forma, à Fraternidade Rosacruz, por intermédio de Max Heindel. Ora, nós fazemos parte da Fraternidade Rosacruz e estamos sendo preparados para fazer nossa parte nessa importante Missão. E a maneira de executá-la, também a aprendemos lá pregando o Evangelho através da reta e amorosa ação, em todos os campos, em todos os assuntos. Isto pressupõe começar por nós mesmos, pela vivência convicta e simples daquilo que pretendemos disseminar. Nisso consiste a vida de um verdadeiro cristão: uma Mente Pura, um Coração Nobre e um Corpo São a serviço de Cristo.
Caros amigos: o destino da Fraternidade está em nossas mãos. É ao mesmo tempo um privilégio e uma grande responsabilidade, que nos lembra São Lucas, 12; 48: “A quem muito foi dado, muito lhe será exigido”.
Os primeiros a verem e viverem as ideais condições dessa Gloriosa Era de Aquário serão os ocidentais, que já começaram a preparar uma ciência religiosa e uma científica religião.
O entendimento deste trabalho preparatório e a gradual vivência e comunicação destes princípios irão construindo, “sem ruído de martelos”, o veículo em que funcionaremos nas novas condições: o “soma pushicom” citado por São Paulo, Apóstolo, que nos possibilitará ir ao encontro de Cristo nas nuvens (nos ares) e com Ele cearemos no cenáculo do “Homem do Jarro” (Aquário). Não se realiza tal empresa em pouco tempo. É preciso renúncia aos vícios do ser humano velho e adoção de mais racionais meios de vida (naturalismo, dieta vegetariana, reforma e equilíbrio emocional e mental, exercícios de devoção e disciplina mental, etc).
A Fraternidade Rosacruz lhe oferece orientação conscienciosa e segura, para que nos convertamos num digno discípulo de Cristo e nos revistamos do áureo manto nupcial para a futura comunhão com Ele.
(Revista Serviço Rosacruz – 01/67 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Almas Livres: é chegada a hora de se agir por si mesmo, guiado somente pelo seu Cristo Interno
Um indivíduo quando se predispõe a estudar o Espiritualismo, já desenvolveu a sua consciência ao ponto de, pelo livre arbítrio, escolher um rumo para suas ideias, portanto, para o seu modo de pensar e agir.
Nesse ponto de transição, em que a consciência insatisfeita com o que aprendeu até ali, necessita de esclarecimentos mais amplos, ele entra num mar de dúvidas porque aquilo que já aprendeu ficou gravado atrapalhando o novo aprendizado até que, depois, por si mesmo, ele perceba a lógica nas novas lições e acomode nelas a corrente de suas ideias.
Acontece que, desde séculos passados, o ambiente religioso é o mesmo nestes lados ocidentais. Durante anos e anos duas religiões que não se unem, mas graças a Deus não se perseguem mais, vem prevalecendo na Europa e Américas, sujeitando a sociedade e embaraçando a expansão de ideias livres, ideias individuais.
Dessa maneira o indivíduo que chega ao ponto de libertar a sua Mente e conduzi-la pelo seu livre arbítrio, fica receoso como um pássaro que, engaiolado por muito tempo, no momento de sua liberdade, tem medo do espaço infinito. Quando vê aberta a portinha da gaiola, não tem coragem de arriscar um voo.
O hábito é uma segunda natureza e milhares e milhares de indivíduos vêm se habituando, desde criança, no ambiente familiar e ambiente geral de uma só ordem de ideias, até que sua Mente desenvolvida em outros assuntos, por força das necessidades da vida, chega a um ponto de curiosidade e descontentamento e se põe a procurar novas diretrizes, novos horizontes. Chega a hora, então, de procurar outras religiões, outras filosofias, de ler livros, até ali desconhecidos, de procurar lugares de ensinamentos até então ignorados, e considerados absurdos, mudar de pontos de vista, de adquirir novos conhecimentos.
Nessa altura, muitas pessoas temerosas de abandonar tradições, de mudar de corrente, sempre igual de ideias que influiu durante tantos anos na própria vida, compreendendo ao mesmo tempo, que essas ideias já não satisfazem mais, vacila tanto para dar novo rumo a sua mentalidade que acabam estacionando no seu modo de pensar, sem concordar plenamente com a que já aprendeu e sem vontade de aprender novas razões. Quantas pessoas deixam de progredir na vida, moral ou material, pela força do hábito.
Essa preguiça de natureza mental deve ser afastada desde logo, porque geralmente ela dura sempre e muitas vezes, quando chega a passar por efeito de um impulso, provocada pela experiência, pelo sofrimento, já se perdeu muito tempo, ou mesmo o melhor do tempo.
É natural, pois, que quando se encontre num estado de transição de ideias, mormente se tratando de questões do espírito, se esbarre com muita dúvida; porém é necessária afastá-la desde logo e para se conseguir isso é preciso pesquisar, examinar.
No caso do espiritualismo, é preciso verificar se as lições aprendidas, ou melhor, se as lições que se está aprendendo, são enquadradas na realidade da vida de todos os dias, e se podem ser observadas em você mesmo ou nos outros. Para isso é preciso pensar, procurar dentro do próprio pensamento fatos ou coisas que se relacionem com o que se está aprendendo. É preciso usar a memória, recorrer a lembranças e também observar nos fatos presentes, a relação entre a vida real e a espiritualidade.
O espiritualismo não é mais nada que a própria vida do ser humano, portanto, da nossa própria vida estudada na sua essência, nas suas bases fundamentais, na sua evolução e sua finalidade.
Ora, estudando a nossa própria consciência nos seus foros mais íntimos, e estudando, ao mesmo tempo, os acontecimentos da vida exterior, que se relacionam particularmente conosco de modo direto ou indireto, dando-nos pesares ou prazeres, alegrias ou tristezas, verificamos que tudo o que nos aconteceu e nos acontece está em harmonia com a nossa natureza particular, com a nossa capacidade, com a nosso entendimento, com o nosso grau de inteligência; por isso mesmo que se diz que Deus dá o frio conforme a roupa.
Verificaremos também que se os acontecimentos da nossa vida são diferentes dos acontecimentos das vidas dos outros, muito embora as situações sociais, financeiras, condições de saúde, de família, etc., sejam equivalentes, é por que a nossa natureza íntima, também é diferente, porque os nossos mundos internos tem o seu feitio e o seu desenvolvimento particulares, que não encontramos exatamente iguais em mais ninguém. É por isso que muitas pessoas, em ocasiões de raiva, de desespero, mesmo de coragem, de sacrifício, convencida de sua natureza exclama: “eu sou assim”. Está certo! Cada um é assim do seu modo peculiar e não muda, senão por força da evolução espiritual. O mundo exterior repete continuamente a mesma série de cenas, as mesmas histórias, os mesmos fatos. O nosso Espírito é que, conservando o seu feitio fundamental, as suas linhas características, vai modificando a sua expressão por efeito do desenvolvimento que vai realizando. Quando recordamos certas épocas do nosso passado, certos ambientes, lugares e fatos, sentimos saudades de tudo o que se ligava a esses fatos, a paisagem, o céu, a rua, as pessoas – a verdade nos faz saudades, não propriamente essas coisas e sim o nosso estado interno desse tempo. Sentimos saudades de nós mesmos, de nossa alma mais animada, de nossas emoções mais leves, ligeiras, de nossos pensamentos cheios de entusiasmo e esperanças.
O céu não mudou. Por toda a parte há, como antes, paisagens encantadoras, variadas, objetos interessantes, pessoas agradáveis, moda bonita, etc. Nós, por efeito de nossas experiências, mudamos os sentimentos e a mentalidade, e por isso mesmo olhamos as coisas e os fatos por outro prisma. O nosso Espírito arredou alguns dos véus que o encobrem e enxergamos tudo com mais realidade, mais clareza.
Do mesmo modo recordamos com mais realismo as nossas tolices passadas, erros de toda a espécie, disparates e até dureza de coração e ficamos admirados de termos praticado tais atos. Isso vem mostrar que o nosso Espírito vai clareando aos poucos e continuamente, ampliando a nossa mentalidade, apurando os nossos sentimentos e por isso mesmo é que nossa memória traz à tona, muitas vezes, atos que praticamos, bobagens, até sem importância e que por nada neste mundo seríamos capazes de praticar de novo, porque a nossa consciência não mais aceita. Será porque de lá para cá, cultuamos a nossa inteligência, lemos muito, aprendemos mais coisas? Em parte sim.
Digo em parte apenas, porque muitas pessoas há de cultura intelectual comprovada, capaz de resolver grandes e graves problemas financeiros e políticos, questões internacionais importantíssimas, técnicos aperfeiçoados, magistrados, etc., que sabendo tanta coisa são fechados no orgulho, no egoísmo, na vaidade, que vivem para si somente, ignorando o resto da coletividade formada, entretanto, por seus semelhantes. Torno a dizer que o espiritualismo, é o estudo da nossa própria vida através do desenvolvimento dos nossos mundos internos. Por meio desse desenvolvimento percebemos que temos aprendido já muita coisa; que já conseguimos abrandar um pouco o coração; que ganhamos caminho, e que fomos muito mais atrasados. Já cometemos uma infinidade de erros mais graves dos que cometemos hoje e devemos seguir adiante, quer queiramos ou não.
Devemos desenvolver infinitamente o nosso aprendizado, visto que se estamos adiantados, à vista do estado espiritual em que já estivemos, estamos atrasados, à vista do grau de adiantamento a que temos de chegar.
O nosso aprendizado não é fácil, no ponto de desenvolvimento em que estamos, porque ele depende em boa parte do domínio das nossas emoções, o que quer dizer do cultivo dos nossos sentimentos, o que depende de muita força de vontade. A nossa luta de todos os dias está empenhada com uma coletividade dos mais variados graus de adiantamento espiritual, portanto, estamos, a cada instante, em choque com forças exteriores.
Essas forças exteriores estão, por sua vez, em harmonia com as Leis de Causa e Efeito e de Consequência, portanto, é dentro dela mesmo que temos de agir, para vencer. Para agir com pessoas de todos os graus de adiantamento, evitando o mais possível os choques, é preciso que se tenha seriedade de espírito e isso só se consegue com conhecimento e amor aos semelhantes, sejam eles de qualquer estágio de aprendizado.
Quando se chega a compreender que, cada um só pode dar aquilo que tem, e quanto menos tem para dar mais infeliz ele é, mais caminho tem de andar, de modo que, meus amigos, as ideias de vingança, o desejo de desforra são provas de falta de conhecimento, de pouco ou nenhum raciocínio. Somos auxiliares mútuos no cumprimento da Lei da Causa e Efeito e de Consequência e conforme as nossas qualidades, somos portadores de alegrias ou de tristezas aos nossos semelhantes.
Essas questões e todas as outras que se relacionam diretamente com o cultivo dos sentimentos, com o desenvolvimento da consciência, com o aperfeiçoamento do caráter fazem parte integrante do aprendizado espiritual e o melhor exercício que se pode fazer é a prática das boas ações.
O domínio próprio exercitado diretamente, só pelo esforço da vontade naturalmente tem os melhores resultados, porém, não está ao alcance de todos, porque é muito difícil conter-se o Corpo de Desejos. Há outro exercício mais brando, por isso mesmo mais demorado que chega também a um resultado satisfatório. É o trabalho de se procurar, conscientemente, em todos os fatos, coisas ou pessoas que nos desagradam, o seu lado bom, apreciável, a virtude que existe sempre e que muitas vezes, se oculta atrás de uma aparência má ou feia.
Sempre que fazendo isso conseguimos vencer uma aversão, estamos educando as nossas emoções.
Sempre que, ao julgarmos, dermo-nos ao trabalho de procurarmos a causa que o motivou, estaremos exercitando o raciocínio, portanto o abrandamento das emoções. Esses trabalhos repetidos apresentam geralmente resultados positivos. Há estudantes que, com o desejo de adiantar depressa se propõem a exercitar a domínio próprio, por meios extremados, geralmente acima de suas forças, fora de suas capacidades, chegando a pouco ou nenhum resultado, porque ou se cansam e abandonam o exercício na metade, ou se aniquilam prejudicando a saúde. O domínio próprio tem de ser praticado dentro do princípio da Relatividade, exercitar gradativamente e no seu meio termo. Devagar é que se chega ao longe.
Quando se está subindo uma escada para se chegar ao cimo, seguramente, tem-se de prestar atenção em cada degrau que se está pisando, para nele não falsear o passo, nem pisar muito firme, com risco de torcer o pé.
Não adianta a preocupação antecipada com o que está lá em cima, no patamar, porque só chegando lá é que se pode compreender, e nem adianta também saltar degrau, porque, então, não se fica conhecendo bem a escada, e nela pode haver coisas de utilidade que venham a fazer falta mais tarde. O trabalho de examinar o que se está fazendo é de grande proveito e utilidade no presente e para o futuro; isso em qualquer exercício. Nos estudos espiritualistas, esse cuidado é indispensável por se tratar de questões de ordem superior, que determinam o nosso progresso em linhas mais retas ou explicando melhor, de modo mais direto.
Uma vez que se queira dar às ideias um rumo seguro, que se deseje dar à Mente mais largueza e mais claridade é justo que se empregue atenção em tudo o que diz respeito às lições que se vai aprendendo, que se examinem com a própria consciência os trabalhos indicados.
Os ensinos Rosacruzes têm, como uma das finalidades mais em vista, levar o estudante a libertar as suas ideias a ponto de resolver por si só, com o auxilio único de sua própria consciência, todos os problemas de sua vida. Ideias livres não quer dizer anarquismo, quando são orientadas no espiritualismo.
Todo o estudante esotérico sabe que a verdadeira liberdade é a obediência às Leis e o exato cumprimento de todos os deveres. Que a nossa consciência só pode se desenvolver pelo conhecimento dessas coisas e que entre todos os nossos deveres o mais elevado é a estima, o respeito espontâneo, solícito aos direitos dos nossos semelhantes. É o reconhecimento da semelhança estabelecida no fundo de nossa natureza, pelo princípio que é o mesmo para todos.
O medo de pensar e agir livremente pode desaparecer, uma vez que o indivíduo conheça o verdadeiro conceito da liberdade, que compreenda que o direito é um resultado do dever cumprido, portanto, quem cumpre, voluntariamente, seus deveres morais, materiais e espirituais está agindo com liberdade e segurança e está se aproximando da Espiritualidade, e só consegue se espiritualizar em verdade, quem compreender este axioma de Elifas Levy: “Há apenas um único poder na terra como no Céu e este poder é o do Bem”.
Ora se a verdadeira espiritualidade é a que se apoia inteiramente no Bem, por que duvidar e vacilar, quando a consciência inquieta, insatisfeita reclama diretrizes mais claras, mais lógicas, na corrente das ideias? Quando imperiosa pede Razão? Por que se demorar na decisão? Sujeição do ambiente ou da força do hábito? A nossa consciência é a iluminadora de nossas ações e quando ela chega a encaminhar o indivíduo para os estudos espiritualistas, é porque é chegado o momento dele entrar para o caminho mais curto de sua evolução. É chegada a hora dele agir por si mesmo, guiado somente pelo seu Cristo Interno.
(Revista Serviço Rosacruz – 12/64 – Fraternidade Rosacruz – SP)