Caráter é destino. Nunca será demais repetir essa verdade. Afinal, ela diz respeito aos nossos interesses mais íntimos.
Todo ser humano alimenta o desejo de construir para si um destino harmonioso e equilibrado. Não vamos falar em “destino feliz”, porque o conceito de felicidade é muito relativo, variando até, sem exagero nenhum, de pessoa para pessoa. Cremos, portanto, na harmonia e no equilíbrio como o binômio ideal na constituição de um destino.
Esse binômio é atingível? Afirmamos que sim, embora poucos o tenham conseguido.
Todo ser humano anseia por um porvir agradável, sem, contudo, imaginar que ele se condiciona a um caráter bem formado. Ora, somente pelo manejamento adequado das causas, pode-se alterar os efeitos. Todo destino é, em última análise, uma gama de efeitos. Daí ser fácil concluir-se: se almejamos um futuro equilibrado, cuidemos, antes de mais nada, do nosso caráter.
Mas como fazê-lo? Em primeiro lugar, analisando-o.
E como analisá-lo? Max Heindel indica-nos um meio seguro de fazê-lo: o exercício noturno de Retrospecção. É uma forma prática de autoconhecimento.
Conhecidos nossos traços de caráter, em suas profundezas, é bom ressaltar, cabe-nos o segundo e mais importante passo: a reforma.
Não se julgue, todavia, que a correção requer luta tenaz contra o mal. Nada disso.
Resistindo-se-lhe só lograremos, para nosso desespero, reforçá-lo ainda mais. É um erro lamentável julgar que todo malefício provém do exterior. Se não há mal em nosso interior, não atrairemos males de fora.
Tudo, portanto, encontra-se em nosso mundo interno: o bem ou o mal. E o que se pode fazer no sentido de vencer o mal interno, sem luta?
A Filosofia Rosacruz enseja-nos a resposta: através do Corpo Vital, o veículo dos hábitos. Estes se formam pela repetição. O hábito reclama, insistentemente, a repetição.
Ela é o seu alimento, a chave para a gestação de um destino harmonioso ou perturbador.
Eis porque a reforma interna é de suma importância.
Muitos podem objetar essa argumentação alegando ser essa tarefa muito difícil, quase impossível.
Concordamos em que não seja fácil levá-la adiante. Mas não a reputamos impossível, não a configuramos como utópica. É uma questão de esforço e de vontade.
Ocorre que nosso caráter constitui na mescla de tendências antigas e influências novas desta existência. E como o ser humano não se dispõe com facilidade a mudanças radicais em sua vida, qualquer reforma interna encontra muitos obstáculos à sua frente.
A transmutação do “homem velho em homem novo” requer muita dedicação e coragem. Não se deve objetivar outra meta a não ser a realização do BEM. A única recompensa digna é a paz nascida do dever cumprido. O desinteresse deve revelar-se como uma norma fundamental. Fazer concessões ao interesse próprio é compactuar com as antigas e retardatárias mazelas.
Em Atenas, prometiam-se belas estátuas de mármore branco de Paros. Em Roma, belas coroas de oliveira. Maomé oferecia doces carícias de fadas amorosas. Odin, os encantos das louras Valquírias.
Em toda parte e em todos os tempos, se ofereceram recompensas a quem praticasse ou vivesse no Bem. Entretanto, uma cidade nada oferecia aos seus heróis. Era Esparta. Os defensores das Termópilas receberam apenas uma simples inscrição:
“Cumpriram o seu dever”.
O espiritualista sincero conscientiza-se de que promovendo a reforma de seu caráter está apenas cumprindo um dever. Nada reivindica para si mesmo.
Certamente terá de enfrentar momentos difíceis. Em algumas circunstâncias poderá até amargar a tentação de desistir. Fará, no entanto, da coragem a sua bandeira, não se deixando envolver pelos reclamos da personalidade. Esses heróis da alma serão as pilastras da Casa do Pai.
(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 11/1978)
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