No momento em que as crianças se voltaram e viram o portão seguinte, exclamaram: “Que lindo!”
De certo era o portão mais bonito de todos os que já viram. Os pilares eram semelhantes a pessegueiros, com cachos de frutos pendentes dos ramos. O portão propriamente dito era de cobre polido tendo em cima um sol de cobre meio mergulhado num mar também de cobre. Cada raio do sol terminava por um ponteiro.
No centro do portão erguia-se outro pilar em cuja extremidade, que ficava justamente sob o sol de cobre já mencionado, havia uma balança de dois pratos. Um dos pratos estava erguido e o outro abaixado; neste último estava uma bola que cintilava com muitas cores.
– “Esta é a terra da Balança”, disse Rex; “não me admira se antes de podermos entrar tivermos de procurar algo para botar no outro prato a fim de equilibrar a balança”.
– “O melhor que fazemos é procurar logo”, disse Zendah, examinando os bolsos. Neles encontrou apenas um lenço. Rex achou apenas o canivete que deixara cair nas proximidades do portão anterior.
Ficando nas pontas dos pés, colocaram esses objetos no prato da balança; nada aconteceu. Aquilo não era bastante para equilibrar a bola.
Olhando em torno, viram no pilar central uma pequena caixa onde se lia:
“PROCURA BEM; ESCOLHE SABIAMENTE”
Abrindo a caixa, encontraram dentro dela pequenos grãos de ouro, alguns corações também de ouro, pequenas espátulas e vários livros pequenos. Rex apanhou os grãos de ouro e empilhou-os no prato da balança, mas esta não se moveu. Apanhou então uma porção de espátulas que colocou no prato. Nada; a bola continuava em baixo. Tentaram com os livrinhos, mas não obtiveram resultados.
– “Bem só ficou faltando uma coisa”, disse Zendah; “talvez dê certo”. Apanhou os corações de ouro e colocou-os no prato da balança. Imediatamente a balança começou a movimentar-se, ora súbito um dos pratos, ora outro, até que ficou em equilíbrio, com os dois pratos nivelados…
Nessa ocasião ouviram-se vozes entoando um acorde, acompanhadas de sons musicais.
– “Dê a senha do equilíbrio perfeito”.
– “Harmonia”, responderam os meninos.
O portão abriu-se tão silenciosamente que os meninos ficaram maravilhados.
Lá dentro estava de pé o Pai Tempo. Os meninos olharam para ele espantados pois estava diferente daquele que já conheciam. Não estava com a capa que aparecera na Terra de Capricórnio; agora vestia uma túnica branca prateada, coberta de pedras cintilantes e de ornamentos verdes.
Vendo-o, as crianças lembraram-se daqueles magníficos dias de sol no inverno, quando a neve cintilava como diamante nos pinheiros. Pai Tempo sorriu vendo o espanto dos meninos e disse-lhes:
– “Eu só visto esta túnica quando venho visitar a Rainha Vênus. Em geral, nas outras terras, todos me julgam malvado, mas não sou assim tão severo. Vocês verão quando me conhecerem melhor. Aprendam tudo o que puderem aqui e reflitam. A Rainha Vênus lhes dirá como”.
Apanhou sua capa escura e sua ampulheta em um nicho próximo ao portão pelo qual saíra, fechando-o após passar.
– “Refletir, refletir em que? – Perguntou Rex.
– “Sei lá”, disse Zendah, “mas espero que logo saberemos”.
Olharam em volta; tudo era bonito; o céu iluminado pelo mais bonito crepúsculo como jamais viram. O perfume de várias flores chegava até eles, mas era difícil identificar tais flores porque a fragrância era muito diferente daquela a que estavam acostumados.
Sete estradas abriam-se defronte deles e por uma delas, vinha em direção aos meninos um homem e uma mulher de braços dados. Era agradável olhar para esse casal, mas o que surpreendia era que eles não caminhavam pelo chão, mas flutuavam. Ambos trajavam roupas da mesma cor azul que o mar mostra quando o sol quente do verão brilha. Em sua cintura traziam cintos de cobre com camadas de opalas. Não pareciam ser sólidos pois, por vezes as crianças julgaram ver através deles.
Quando chegaram perto de Rex e Zendah, a eles se juntou outro casal e os quatro entoaram o acorde que os meninos ouviram na estrada: Fá sustenido, lá sustenido, e fá sustenido, imediatamente surgiram centenas de pequeninas fadas segurando um tapete de várias cores que mais parecia uma nuvem ao pôr do sol. Com sorrisos e gestos, as fadas convidaram os meninos a se sentarem nesse tapete.
Os meninos sentaram-se e o tapete deslizava tão suavemente que os meninos nem perceberam quando ele se elevou nos ares. Viajando assim era muito mais fácil verem tudo. Esse meio de transporte foi que utilizaram na visita às Terras do Zodíaco, pensam os meninos. Coisa curiosa eles puderam observar: todas as casas estavam suspensas no ar; nenhuma estava construída em terra firme. Não puderam compreender como eram feitos os alicerces.
Por toda a parte viram lindos jardins cheios de flores nas quais as abelhas sugavam o néctar.
Ouvindo uma música em surdina, procuravam ver de onde vinha. Eram as fadas cantando para adormecer as flores a fim de poderem depositar nelas o mel que as abelhas encontrariam no dia seguinte, sobre suas cabeças precipitaram-se os sons de uma música gloriosa. Eles olharam para cima e viram um palácio.
O palácio era feito de nuvens; suas torres e ameias , multicores: vermelho, alaranjado, verde, púrpura e aquele azul bonito que você vê no céu durante o crepúsculo de um dia claro. Subindo sempre, os meninos chegaram à entrada. Ao seu encontro vieram fadas para saudá-los e orná-los com colares feitos de rosas que colocaram em volta dos seus pescoços.
Descendo do tapete, subiram os degraus mágicos do castelo e entraram na antecâmara. Por toda a parte, havia flores e fadas. Logo chegaram a um corredor com muitos quartos, sete dos quais tinham o mesmo tamanho, mas diferiam na cor; vermelho, alaranjado, verde, amarelo, azul, violeta e índigo.
Cada quarto parecia mais bonito que o anterior e quando os meninos passavam pelos seus umbrais, dos quartos, ouvia-se uma nota musical. Cada quarto agia sobre os meninos de modo diferente. Passando pelo quarto vermelho, eles sentiam-se cheios de vida e de energia; nada os perturbava e caminhavam através desse quarto como que marchando; de fato, a nota musical desse quarto soava como marcha para os meninos. No quarto alaranjado eles sentiam-se como se estivessem ao sol; queriam sentar-se a gozar desse sol e planejar sobre o que desejavam fazer.
O quarto amarelo fê-los sentirem-se capazes, Rex pensou nas notas que não conseguira no colégio e imediatamente achou todas as respostas às questões que não soubera responder. Zendah lembrou-se de todas as datas da História que, para ela, sempre foram difíceis de guardar.
No quarto verde Zendah lembrou-se que não havia dado comida aos seus coelhos na noite anterior e que não ajudara sua mãe na jardinagem conforme havia prometido. Rex lembrou-se do rapaz de perna quebrada que morava na casinha isolada da estrada e que lhe pedira para ler um livro para ele.
O quarto azul dava a sensação de estarem numa igreja e eles o atravessaram nas pontas dos pés e falavam baixinho, murmurando. Imaginaram ver Anjos em torno, e ouviram um órgão tocando, como ouviam aos domingos.
O quarto violeta, os meninos nunca puderam explicar exatamente como se sentiram dentro dele. Era uma sensação algo parecido com a que tiveram na terra dos Peixes e no Templo do Santo Graal.
Finalmente entraram no quarto azul marinho, no grande hall. Lá no fim, viram a Rainha Vênus sorrindo para eles, sentada em seu trono de marfim.
O trono era alto e seu espaldar curvava-se para a frente por cima da cabeça da rainha dando a impressão que ela estava sentada dentro de uma bola de marfim. No trono havia uma bonita almofada azul e por trás dele, nas paredes, pendiam cortinas de seda azul pintadas a várias cores. Por toda a parte viam-se vasos com flores e as pessoas presentes tinham grinaldas na cabeça. A Rainha Vênus estava vestida de pura seda branca bordada em azul com opalas. As crianças correram para ela e seguraram suas mãos.
– “Sentem-se nas almofadas, perto de mim”, disse ela, “e reflitam. Os meninos entreolharam-se e murmuraram:
– “De novo, refletir? Que quer dizer isso?”
Sentando-se nas almofadas que lhe foram designadas, eles observavam. Chegavam à sala muitas pessoas com o rosto triste, melancólicas e irritadas. A Rainha Vênus voltava-se para elas, murmurava algumas palavras nos seus ouvidos e mandava-as sair acompanhadas por um dos presentes.
Em pouco tempo voltaram, completamente diferentes, e beijando as mãos da Rainha, retiravam-se da sala.
– “Sabem o que passa com essas pessoas? Perguntou Vênus às crianças. Rex fez que não com a cabeça.
– “Todos sentem-se infelizes ou estão descontentes. Vem aprender a fazer a paz em vez de serem causadores de perturbações no mundo. Eles não compreendem que cada um tem sua nota musical particular, sua cor própria, e se eles não usarem sua nota própria, sairão do tom. Por isso mando tais pessoas através dos quartos pelos quais vocês já passaram, para que encontrem sua nota musical e aprendam a usá-la corretamente. Depois eles voltam para a terra com sua tonalidade restaurada e não mais se queixam.
Tudo tem sua nota própria; prestem atenção às quedas d’água e ao vento que sopra entre as árvores e vocês ouvirão suas tônicas. Até as estrelas tem seu acorde. Ouçam!”
A Rainha ergueu sua mão e fez-se silêncio na sala. Ela levantou-se e entoou algumas notas de um acorde. No ar, sobre os assistentes apareceu uma lira com sete cordas. A primeira corda vibrou e emitiu um som, depois a segunda, a terceira, a quarta, até que as sete cordas vibraram conjuntas. Sobre a lira relampagueou uma estrela que desapareceu em seguida. Os meninos jamais ouviram sons iguais, tão sublimes que eles sentiram medo e foram para perto da Rainha Vênus.
Rindo do receio dos meninos, disse Vênus:
– “Esta é a música dos sete Planetas; na Terra, somente os poetas e os grandes músicos podem ouvi-la. Os grandes músicos nunca ficam satisfeitos com o seu trabalho porque é muito difícil transportar a música das esferas para o papel, a fim de que outras pessoas possam tocá-la. Se vocês sempre pensarem em coisas bonitas e procurarem causar felicidade por onde andarem poderão voltar a esta Terra e ouvir de novo a música dos Planetas, porque esta é a “Terra da Harmonia”.
– “Foi isso o que o Pai Tempo quis dizer quando disse a vocês para refletirem; reflitam antes de falar, para que não pronunciem palavras más que vão ferir e prejudicar a harmonia do mundo. Reflitam antes de agir, para verem se o que vão fazer será de ajuda para os outros e não para vocês mesmos”.
– “Para que vocês se lembrem desta terra tomem esta estrela de opala com cinco pontas, Zendah. E você Rex, tome esta pequena lira de sete cordas para com ela tentar fazer músicas de verdade para o mundo”.
Os meninos beijaram as mãos de Vênus ao se despedirem dela, e disseram que se sentiam muito entristecidos por terem de deixá-la, mas Vênus sorriu e disse-lhes que eles a veriam de novo antes de regressarem para casa.
Fora do palácio retomaram o tapete mágico e voaram para o portão. Em vez de saírem pelo portão aberto, os meninos sentiram que passavam através do portão fechado.
O tapete e as fadas desapareceram, e os meninos desceram lentamente até o chão, no lado de fora.
A balança pendia novamente para um lado. O sol, que se punha no alto do portão, desapareceu sob o mar de cobre e aos poucos fez-se a escuridão.
(The Adventures of Rex and Zendah In The Zodiac – por Esme Swainson – publicado pela The Rosicrucian Fellowship – publicado na revista Rays from the Rose Cross nos anos 1960-61; As Aventuras de Rex e Zendah no Zodíaco (as Ilustrações são originais da publicação) –Fraternidade Rosacruz – SP – publicado na revista Serviço Rosacruz de 1980-81)
Sobre o autor