O Desprendimento é uma das mais necessárias Qualidades da Alma

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Desprendimento é uma das mais necessárias Qualidades da Alma

O Desprendimento é a Qualidade de Alma Necessária

Nessa época em que as vibrações do Cristo Solar se fazem sentir mais amplamente na esfera pesada da Terra, se formos meditar sobre o Seu imenso sacrifício de Amor renovado em cada Natal, chegaremos infalivelmente ao desprendimento. Porque é pelo desprendimento de Si mesmo que o Adorável Espírito desce anualmente do Seio do Pai, para revitalizar nosso Planeta, e, será também pelo desprendimento, que chegaremos um dia, com Ele, ao Trono do Pai. Portanto, nessa época solene, será oportuno pensarmos um instante no que seja o desprendimento; será interessante considerarmos que se trata de uma força interna que nos ensina a viver na carne uma vida separada, independente, liberta de todas as coisas e de todos os seres. O desprendimento faz, realmente, o ser humano sentir-se em si mesmo, mas desapegado de si mesmo como ser humano, liberto da sua própria tirania e da tirania de todas as coisas que o cercam, das coisas que possam escravizá-lo a qualquer sentimento transitório. Ele poderá, assim, realizar as coisas do mundo sem preocupação com essas mesmas coisas, desligado das decepções, dos desafetos, das traições e das maldades. Viverá aplicando a Lei de Causa e Efeito, e compreendendo que os efeitos e as causas estão no coração de cada ser humano.

O desprendimento desperta a individualidade, leva o ser humano à libertação dos apegos a que a personalidade costuma cingi-lo. Na verdade, o ser humano desprendido não sente necessidade de perdoar os males que lhe fazem, porque ele começa a perceber que o perdão é o resultado do nosso próprio egoísmo, que o ser humano que perdoa as ofensas que lhe fazem, está apenas satisfazendo a si mesmo, procurando agradar ao seu “eu” muito humano. Isso porque, para chegar ao desejo de perdoar, teve que atravessar, em maior ou menor escala, o caminho do ressentimento. Quem não se ressente e não odeia, nada terá a perdoar de ninguém. O próprio Cristo, no momento supremo do Seu martírio, ao ouvir, do alto da cruz, os apupos da multidão, não disse: “Eu vos perdoo! ”, mas, “Pai perdoai-lhes, não sabem o que fazem! ” Isso prova que só Deus tem direito de perdoar. O perdão humano é resultado de um julgamento, e o ser humano não tem capacidade para julgar o próprio ser humano. Mesmo no Pai Nosso, o perdão aos nossos devedores a que se referiu Jesus Cristo quando ensinou a sublime oração a Seus discípulos, quis significar que não devemos imputar dívidas aos nossos semelhantes, quando nós próprios não estamos livres de contrair essas mesmas dívidas. Se formos mesmo refletir um pouco, veremos que as dívidas dos outros para conosco são realmente nossas próprias dívidas, porque tudo o que nos sucede é sempre fruto do nosso próprio merecimento: que o ser humano nada terá que perdoar a outro ser humano; terá, sim, que pedir perdão a Deus por merecer ainda que alguém o ofenda, que a vida lhe seja madrasta, que o mal o persiga na forma de seres ou de acontecimentos adversos.

E, quando chegar a viver sob esse entendimento, o ser humano acabará encarando todas as coisas com naturalidade. Nada lhe causará espanto ou admiração, nada o amedrontará ou há de assustá-lo jamais. Será igualmente equilibrado, tanto na dor, como no prazer, de modo que nada poderá abalar a sua segurança íntima. Manterá uma atitude de completa serenidade, porém, não ficará alheio ao que se passa em torno. Pelo contrário, a todos procurará ajudar com carinho e atenção. Apenas manterá a sua aura fechada a qualquer incursão estranha à própria vontade.

O ser humano desprendido ama seu irmão, sua família, seus amigos, mas não deixa de conservar, mesmo dentro desse amor, a própria individualidade. Será capaz de agir e de pensar, de amar e de viver pelos que lhe são caros, mas viverá sem entregas, para ajudá-los a viver, para lhes minorar os pesares, para confortá-los na mágoa, para dar-lhes felicidade. Isso será justamente o que há de importar mais ao seu coração: dar felicidade, tornando mais fácil e mais bela a vida do seu semelhante. E não só no ambiente do lar, mas a todos os seres com quem entrar em contato, ele estenderá os seus propósitos de Amizade. Será bom, amigo, correto com todos, compreensivo e tolerante, mas tolerante no sentido mais puro, porque a tolerância mal compreendida pode ser uma espada de dois gumes. Tanto poderá resultar de um sincero desprendimento de alma, como do egoísmo dos seres humanos. Isso porque, muitas vezes o ser humano pode tolerar por medo, ou para beneficiar-se, ou para se engrandecer aos olhos do mundo, e não por amor ao seu semelhante e a Deus nele. Para saber tolerar com amor, compreendendo os erros dos outros através da lei de causa e efeito, o ser humano tem que ser desprendido, e desprendido até da própria tolerância. Esse desprendimento tem que vir de dentro, do seu foro íntimo, da sinceridade dos seus pensamentos, do seu equilíbrio de sentimentos.

Para chegarmos ao desprendimento, devemos procurar sentir a todos como irmãos em nossos corações, respeitando igualmente tanto uns como outros; eliminando as preferências, procurando ser igualmente gentis com todos, jamais deixando romper a barreira de nosso próprio “eu” diante de nenhuma pessoa, por mais afins que sejamos com ela, por mais que a estimemos ou a prefiramos dentre outras. Respeitaremos a nós mesmos diante de qualquer criatura, evitando a entrega de nossos pensamentos, de nossas ideias, de nossos sentimentos. Não externaremos nossos pensamentos com frouxidão de palavra, não diremos de nossas qualidades, nem de nossos defeitos, senão em circunstâncias muito especiais, quando servir para ajudar alguém. Devemos sentir pelos outros o mesmo respeito que sentimos por nós mesmos. Poremos de lado as intimidades, jamais dizendo mais a um do que a outro, procurando não sentir mais de um do que de outro.

Não esqueçamos que o desprendimento é uma das mais necessárias qualidades da alma para que possamos enfrentar, um dia e com equilíbrio, o nosso guardião do umbral. Não esqueçamos que, em qualquer circunstância, para viver aqui na Terra entre os seres humanos, em nosso corpo de carne, ou para prosseguir na vida além do véu, é o desprendimento a chave mestra que nos abrirá as portas do nosso próprio céu, permitindo, num futuro grandioso, que atinjamos a glória de nosso Pai Celeste.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1978)

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