Viver pela Metade
Aqueles que seguem os ensinamentos da Filosofia Rosacruz ou que os elegeram como filosofia de vida, não podem mais manter certas dúvidas a respeito da vida espiritual.
Sabe-se que o primeiro passo e o mais difícil na crença das verdades espirituais, e admitirmos a Reencarnação, ou melhor, a Lei do Renascimento como ponto pacifico para a continuidade de nossos estudos e atividades na senda do Progresso. Entretanto, não ignoramos que existem muitos outros pontos, milhares deles, dos quais pode depender a nossa ascenção.
Em princípio, toda a asserção sábia, contém sempre em si mesma dois sentidos: o material, do qual se reveste para ser enunciada, e o espiritual ou oculto, que deve ser desvendado.
Analisemos de passagem, o que diz a Bíblia pela boca do Mestre, naquele versículo: “Se uma casa se levantar contra si mesma, essa casa não subsistirá”. O valor material dessa assertiva está bem claro e é um chamado à ordem àqueles que não sabem defender sua família, seu lar, seus filhos, tanto de Sangue como de ideal, contra o erro, a agressão, a maledicência, às vezes até contra si mesmo; já o sentido espiritual, faz-nos penetrar num. terreno mais sutil e perceber a face oculta da Verdade.
Então notaremos que tanto pode restringir-se ao relacionamento de alma, como ao próprio relacionamento Interno de cada um, melhor dizendo, aos cheques e entrechoques de nosso eu inferior com a verdade que já existe em nós. Choques esses que muitas vezes se apresentam sob a forma de dúvida, de limitações, de oscilações prejudiciais. Aliás, a dúvida conduz naturalmente às limitações, principalmente se ela atinge os valores espirituais da vida.
“Se uma casa se levantar contra si mesma”, isto é, se os nossos pensamentos espirituais não coincidirem totalmente com as nossas ações, com o nosso modo de vida, se mesmo conhecendo e sentindo os valores reais da vida, ainda perdemos tempo derivando por caminhos da matéria; se mesmo sentindo dentro de nós, maravilhosas verdades cantando sua música num coro divino, e apesar de tudo introduzimos ainda outros ritmos de canções menos celestiais, por algumas notas que sejam., estaremos quebrando a nossa sintonia interna e pondo uma pedra no caminho da nossa elevação espiritual. E é então que “essa casa não subsistirá”, porque não há equilíbrio interno que resista às oscilações a que a natureza externa das coisas muitas vezes nos submete, ou melhor dizendo, oscilações a que nós permitimos ser submetidos por nossas próprias fraquezas, nossa falta de coragem para aceitar integralmente a Verdade como escopo de vida, como única realização justa e aceitável em nosso progresso. Aí é que entra aquela frase bíblica tão conhecida, de que “não se pode servir a dois senhores”.
Porque estaremos servindo a dois senhores enquanto ainda ‘mantivermos dentro de nós, por insignificante que seja, algum interesse material,; quando ainda não tivermos a coragem, a determinação de afastar de nosso Caminho, tudo o que esteja fora das verdades espirituais, quando ainda não nos tivermos revestido o máximo possível daquele equilíbrio que nos leva a selecionar de imediato o joio do trigo, não aceitando nada que possa contrariar nossas verdades internas; quando ainda não soubermos encarar a vida e a humanidade como resultados de algo maior, algo superior à própria vida física e pautar nossa vida por essa crença, sem desvios numa entrega completa a Verdade, numa dedicação sem limites à causa dessa mesma verdade, dessa mesma vida superior, estaremos, repito, servindo a dois senhores. Isso porque, na senda do espiritualismo, chega o tempo em que já não se pode viver pela metade.
Ou somos, ou não somos. Ou cremos, ou não cremos. E, se cremos, temos que manter essa crença no seu verdadeiro nível de pensamentos, de sentimentos e de ações.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/73 – Fraternidade Rosacruz –SP)
Sobre o autor