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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Sócrates em Breve Perfil

Sócrates em Breve Perfil

“Só sei uma coisa: é que nada sei”. Essa frase, estranha para alguns, hilariante para outros, sem significado para muita gente, notabilizou a Sócrates, o maior de todos os filósofos.

Vez por outra publicamos, nesta revista, a coluna “Filosofia Rosacruz Pelo Método Socrático”. Por esse método, aprende-se perguntando e obtendo respostas.

Profundo conhecedor da alma humana, Sócrates sondava a natureza das pessoas, revelando ideias preconcebidas e pondo em dúvida suas convicções. Se os seres humanos faziam menção à justiça, ele, calmamente, indagava:

— Que é isso? Qual é o significado dessas palavras tão abstratas através das quais vocês pretendem explicar com tanta facilidade o problema da vida e da morte? O que compreendem por “vocês mesmos?”

Esse grego célebre apreciava tratar de questões morais e filosóficas. Em seu diálogo com outras pessoas verdadeiramente cultas ou com pretensos intelectuais, tinha por hábito solicitar-lhes definições precisas e análises acuradas. E como é fácil deduzir, nem todos se sentiam muito à vontade diante dessas situações. Alguns se queixavam, afirmando que ele mais perguntava do que respondia, deixando os espíritos mais confusos ainda.

Em realidade, essa não era sua intenção. Simplesmente mostrava-se avesso à superficialidades. Bem se pode imaginar que dificuldades encontraria se vivesse na época atual. Não lhe faltariam críticos tenazes, a censurar-lhe a mania de querer aprofundar-se em todas as questões. Afinal, em nossos dias exorbita-se a importância da cultura extraída de aguadas apostilas e insossos fascículos. O audiovisual da televisão acomoda letargicamente as pessoas a receber conhecimentos sem assimilá-los. Há, talvez, excesso de informação, mas nenhuma FORMAÇÃO. Isso predispõe a uma distorção de valores. O banal ganha as honras de prioridade. Em contraposição, a busca do essencial em todas as coisas passa a ser encarada como uma atitude bizantina ou mania classicista. O Método Rosacruz de Desenvolvimento, contudo, oferece, aos estudantes, exercícios capazes de ensejar o rompimento do enganoso verniz que envolve as coisas, possibilitando-lhes que penetrem em suas profundezas. Na obra básica CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS encontramos uma clara exposição de tais exercícios.

Mas, voltemos à Grécia antiga.

Como era o grande filósofo? A julgar pelo busto, salvo entre as ruínas da escultura helênica, estava longe de ser belo. Descreve-o Will Durant como sendo calvo, rosto grande e redondo, olhos fundos e arregalados, um nariz largo e túrgido, indicando sua assiduidade em numerosos simpósios. Sua cabeça lembrava antes um trabalhador braçal do que um filósofo. Apresentava aspecto um tanto quanto rude, contrastando com sua bondade e encantadora simplicidade. Ar desajeitado, vestindo sempre a mesma surrada túnica, bem poucos acreditariam que se imortalizasse por suas ideias.

Uma coisa intrigava todo mundo: como vivia Sócrates? Não trabalhava. O dia de amanhã não se lhe constituía motivo de preocupação.

Sua vida conjugal por certo não era nenhum “mar de rosas”. Xantipa, sua esposa, espírito prático, vivia reclamando. Para ela, pouco dada a voos de pensamento, Sócrates não passava de um mandrião imprestável, que dava à sua família mais notoriedade do que pão. Ele, a despeito dessas divergências, reconhecia-lhe os méritos, afirmando que sua visão objetiva da vida mantinha o equilíbrio no lar. Xantipa gostava de falar quase tanto como Sócrates. Os dois juntos deveriam ter travado ásperos e interessantes diálogos. Ela, entretanto, amava-o.

Esse grande pensador exercia um impressionante fascínio sobre os jovens de seu tempo. Cobrava-lhes, a todo momento, a definição dos termos daquilo que afirmavam. Reuniam-se, costumeiramente, no pórtico do templo. Alguns desses moços se notabilizaram. Os ricos, como Platão e Alcebíades, deleitavam-se com sua análise crítica da democracia ateniense. Outros, mais simples, como Antístenes, apreciavam sua pobreza despreocupada. Alguns anarquistas, como Aristipo, sonhavam com um mundo livre de senhores e escravos. Para essa empolgada juventude, a vida sem os debates perder-se-ia na vacuidade. Quem sabe quantas escolas de pensamento tiveram sua origem no seio daquele grupo de idealistas?

A existência de Sócrates não se compôs apenas de filosofia. Houve, também, rasgos de heroísmo. Conta-se ter salvo a vida de Alcebíades em uma batalha. E para quem não acreditasse em sua coragem, ele a revelou de sobejo nos lances dramáticos que antecederam sua morte.

Era um homem sinceramente modesto. Jamais se proclamou sábio ou detentor da sabedoria. Afirmava viver em sua busca. Para quem fizesse questão de mais amplos pormenores, não vacilava em confessar: “sou um amador e não profissional da sabedoria”.

A filosofia, segundo ele, principia quando começam a surgir dúvidas envolvendo nossa crença, seus dogmas e axiomas. A verdadeira filosofia nasce quando o espírito enceta o exame de si próprio. GNOTHI SE AUTON — “Conhece-te a ti mesmo”, disse Sócrates. Essas lapidares palavras foram inscritas no frontispício do templo de Delfos, naquela época, mas sua sombra projeta-se sobre nossos dias. Nunca a necessidade do auto-conhecimento tornou-se tão premente. Por ignorar as multifacetas de sua própria natureza, o ser humano perde-se num imenso cipoal de conflitos. Logrou a proeza de pousar na Lua, desvendando os segredos de um mundo exterior. Por outro lado tem acumulado sucessivos fracassos por não irromper seu deslumbrante universo interior. E a Esfinge, plantada nas areias do deserto do mundo, continua a lançar seu desafio: “Ou me decifras, ou te devoro”.

O ser humano ainda padece de uma incrível indiferença em relação à sua natureza interna. Falta-lhe interesse e força para garimpar o EU. Bem a propósito, Max Heindel considerou o exercício noturno de Retrospecção como sendo o mais importante ensinamento da Escola Rosacruz. É um meio significativo de autoconhecimento.

Precedendo a Sócrates, outros filósofos também se celebrizaram, como por exemplo Tales de Mileto, Parmênides, Heráclito, Empédocles e o notável Pitágoras. Com exceção deste último, os “outros, em sua maioria, procuravam conhecer a PHYSIS, ou natureza das coisas exteriores e as leis vigentes no mundo material. Sócrates não os censurava por isto, mas afirmava haver elementos infinitamente mais dignos de atenção dos filósofos do que árvores e pedras. O espírito do ser humano, por exemplo. “Quem é o ser humano?, perguntava, e, em que poderá tornar-se”?

Sua grande preocupação voltava-se para os jovens atenienses daqueles tempos. Procurou incentivá-los a discutir problemas tais como a virtude e o melhor governo. Proclamava que, aparentemente, não havia motivo para um indivíduo não proceder como bem entendesse, uma vez se mantivesse dentro dos limites traçados pelas leis. Cria numa moral natural e não imposta. “Como desenvolver uma nova moralidade em Atenas, e como salvar o país?”, perguntava. Por responder tais perguntas encontrou a morte.

Quanto à questão do melhor governo, propugnava uma posição de destaque para os mais apurados espíritos, pois uma sociedade só consegue tornar-se estável quando guiada pelos mais sábios.

Atenas era um campo onde as ideias se entrechocavam. E numa fase de violência exacerbada, a sorte de Sócrates foi lançada. Acabou encarcerado, sob a acusação de disseminar uma “abominável filosofia aristocrática” e corromper a mocidade. Foi condenado à morte. Sentenciaram-no a beber cicuta.

Amigos fiéis organizaram-lhe uma fuga. Mas ele recusou. Talvez julgasse ser tempo de partir, melhor ocasião de morrer tão utilmente por certo nunca mais se lhe oferecesse. Após ingerir gota por gota o veneno mortal, ainda encontrou forças para dirigir um último apelo a seu amigo Críton: — “Devo um galo a Asclépio, não se esqueça de resgatar essa dívida”.

Críton fechou-lhe as pálpebras. Tinha setenta anos de idade. Corria o ano de 399 A.C.

(de Gilberto A.V. Silos – Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1978)

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Senso de Valor: veja onde está o seu

Senso de Valor: veja onde está o seu

“Disse o Senhor a Samuel: não atentes para a aparência nem para a altura de sua estatura, pois o tenho rejeitado. O Senhor não vê como vê o homem; o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” (ISm 16:7)

A passagem citada, do Velho Testamento, foi extraída do trecho em que Jeová manda Samuel escolher seu sucessor entre os 7 filhos de Jessé. Samuel julgava que o eleito seria dos mais fortes e de mais belo parecer. No entanto, foi escolhido David, rapazito ainda, que logo depois prostrou o gigante Golias com uma pedra atirada por uma funda.

Eis um belo tema de meditação. Influenciados, a todo passo, pelas opiniões da sociedade materialista em que vivemos, somos levados a avaliar as coisas segundo suas aparências, quando Deus nos solicita buscar os valores internos.

Na antiga Grécia, o conceito de elite era mais correto. Os realmente mais sábios e virtuosos pontilhavam na vida política, científica, artística e social. Sabemos que Xantipa, esposa de Sócrates, tinha violentas discussões com o sábio, porque ele trazia fama e não dinheiro para casa. Ainda hoje existem pessoas de grande valor, em todos os campos, que mal ganham para suas necessidades. Poucos são os que se guindam na opinião pública, como Einstein e Schweitzer, ainda em vida.

Heróis anônimos, aos milhares, estão por aí, na classe média, participando da elite de Deus, mas não da dos seres humanos.

É muito comum ouvirmos falar: “minha filha casou muito bem. Seu marido é diretor de tal firma e ganha muito bem”. Casou com o conforto, com o dinheiro, que torna lindo o noivo. Todos os dias, vemos falsos destaques serem agraciados por falsas honrarias. E, como dizem os Evangelhos, “quem já recebeu seu galardão dos homens, nada tem a receber de Deus”.

Não podemos negar que o simples fato de um indivíduo se diplomar médico, engenheiro etc., pressupõe esforço e mérito individual, que para chegar a determinado posto deve ter provado o desenvolvimento de qualidades incomuns, a menos que se haja guindado por apadrinhamento.

Mas não basta isso. A conquista de maiores faculdades ou bens sejam quais forem suas naturezas, se de um lado acarreia mérito individual, de outro lado atrai maiores responsabilidades, porque “a quem muito foi dado, muito lhe será exigido”. O uso que fará então, das faculdades ou bens que conquistou é que provará seu verdadeiro valor perante Deus. “De que vale ganhar o mundo e perder sua alma?”

O abuso de autoridade, de faculdades e de propriedade tem trazido muito sofrimento aos seres humanos. Somos apenas despenseiros dos bens que o Senhor põe à nossa disposição. Veja-se na parábola dos Talentos que o Senhor “deu mais ao que multiplicou seus talentos e tirou o único que tinha dado ao que, por medo de perdê-lo, o havia enterrado”.

A Fama, o Poder, o Dinheiro e o Amor são os meios mais usados atualmente, pelos Senhores do Destino, para adiantar a evolução humana. Por um deles somos capazes dos maiores sacrifícios, vidas inteiras. Mas quem é capaz de renunciar a si mesmo e servir os demais com o mesmo entusiasmo?

Sem exigir tanto, quantas pessoas se dedicam diariamente à prática de virtudes cristãs, pelo menos duas horas? Ou quem ora sinceramente meia hora por dia?

— Não tenho tempo! — é o que ouvimos constantemente. E lembramo-nos daquela passagem: “onde está o teu tesouro, ali está o teu coração…”

Sabendo isso e não exigindo mais do que podem dar os seres humanos, os Senhores do Destino lhes apresentam os incentivos da Fama, do Poder, do Dinheiro e do Amor. Em sua conquista tudo fazem e nesse esforço, sem o saberem, vão desenvolvendo qualidades de confiança própria, de persistência, de luta, que mais tarde serão aproveitadas num sentido superior. Quanto ao mau uso que agora fazem disso tudo, sofrerão inevitavelmente as consequências e seu efeito saturnino far-lhes-á crescer a alma, pela dor.

Muito mais, contudo, farão os que com o mesmo empenho constroem o mundo para servir seus semelhantes dos mais variados modos, administrando os bens e faculdades com perfeita renúncia de si mesmos. Esses crescerão muito e depressa, recebendo, com toda certeza, progressivamente mais, para verter no mundo, os recursos de Deus, pela evolução de seus filhos menores.

Cuidemos, pois, de avaliar devidamente as coisas e as pessoas. Muitas vezes o vidro brilha mais do que um diamante bruto… Melhor é não nos iludirmos com as aparências e buscarmos em todos “a divina essência que existe em cada um, pois isso constitui a verdadeira fraternidade”. Melhor dizendo, encaremos cada semelhante como irmão espiritual, com suas virtudes e defeitos. Não sejamos servis com os poderosos e superiores nem déspotas e infraternais com os inferiores na escala social. Tratemos a todos com a mesma lhaneza, amor e prudência, cuidando de merecer, por nossa conduta equânime e coerente, a graça de nos tornarmos dignos de ser “fiéis administradores dos bens do Senhor”.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz de maio/1966)

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