Resposta: Os mitos contêm profundas verdades ocultas. O antagonismo entre a luz e as trevas é descrito em inumeráveis desses mitos que são bastante semelhantes em suas linhas gerais, embora variem as circunstâncias de acordo com o estágio evolucionário dos povos onde são encontrados. À Mente normal eles geralmente parecem fantásticos porque os fatos são descritos de maneira puramente simbólica e, portanto, em completo desacordo com as realidades concretas do mundo material. Contudo, essas lendas encarnam grandes verdades de suas escamas de materialismo.
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que o antagonismo entre a luz e as trevas, existente aqui no Mundo Físico, é apenas a manifestação de um antagonismo semelhante, existente também nos reinos moral, mental e espiritual. Esta é uma verdade fundamental, e todo aquele que conhece a verdade deve saber que o mundo concreto, com todas as suas coisas que julgamos serem tão reais, sólidas e duráveis, não passa de uma manifestação evanescente criada pelo pensamento divino, e que reverterá ao pó dentro de alguns milhões de anos, antes que também se dissolvam os outros mundos que supomos serem irreais e intangíveis, quando então voltarmos mais uma vez ao seio do Pai, para repousar, até que chegue a aurora de um outro e maior Dia Cósmico.
É especialmente por ocasião do Natal, quando há pouca luz e as noites são longas (no Hemisfério Norte), que a humanidade volta sua atenção para o Sol Meridional, e aguarda ansiosamente o momento em que ele recomeçará sua jornada em direção ao norte, trazendo luz e vida ao nosso hemisfério gelado. Vemos na Bíblia como Sansão, o Sol, tornava-se cada vez mais forte à medida que cresciam seus cabelos, como as forças das trevas, os Filisteus, descobriram o segredo de seu poder e cortaram-lhe os cabelos, ou raios, privando-o de sua força: como privaram-no da luz vazando-lhe os olhos e, finalmente, como o mataram no templo, no Solstício de Dezembro.
Os Anglo-Saxões falam da vitória do rei Jorge (1) sobre o dragão; os Teutões recordam como Beowolf (2) matou o dragão ardente e como Siegfried (3) venceu o dragão Fafner. Entre os Gregos encontramos Apolo (4) vitorioso sobre a serpente Pitão, e Hércules (5) sobre o dragão das Hespérides. A maioria dos mitos conta apenas a vitória do jovem Sol, mas há outras que, como a de Sansão acima citado, e Hiram Abiff da lenda Maçônica, contam também como o Sol, ao ficar velho, era vencido após ter completado seu circuito, estando pronto para dar nascimento a um novo Sol, que surge das cinzas da velha Fênix (6) para ser o portador da luz para um novo ano.
É uma lenda semelhante a que lemos na origem do agárico (7), uma história contada na Escandinávia na Islândia, porém, mais particularmente em Yuletide, quando o azevinho (8) vermelho mescla-se num maravilhoso efeito decorativo como o agárico branco – um símbolo vivo do sangue que era escarlate como o pecado, mas que se tornou branco como a neve. A história é a seguinte:
Antigamente, quando os deuses do Olimpo reinavam sobre a região do Sul, Wotan com sua companhia de deuses, imperava no Walhalla onde os pingentes de gelo decompunham a luz do Sol de inverno em todas as cores do arco-íris e o belo manto de neve fazia luzir até mesmo a noite escura, mesmo sem auxílio da flamante Aurora BoreaI. Eles constituíam uma companhia maravilhosa: Tyr, o deus da Guerra, ainda é lembrado entre nós, pois à terça-feira em inglês: Tuesday. Wotan, o mais sábio, é relembrado na quarta-feira: Wednesday; Thor continua conosco como o deus da quinta-feira: Thursday. Era ele quem brandia o malho, e quando o lançou contra os gigantes, os inimigos de deus e dos seres humanos, deu origem ao trovão e ao relâmpago, devido à força terrífica com a qual o martelo chocou-se contra as nuvens. A gentil Freya, a deusa da Beleza, de cujo nome derivou a sexta-feira em inglês Friday, e o traidor Loke cujo nome ainda vive no sábado Escandinavo, são tantos outros fragmentos atuais de uma fé esquecida.
Mas jamais houve algum deus como Baldur. Ele era o segundo filho de Odin e Freya, o mais nobre e mais gentil de todos os deuses, amado por todas as coisas da natureza. Ele excedeu a todos os seres não só em delicadeza como também em prudência e eloquência, e era tão belo e gracioso que a luz irradiava de si. Foi-lhe revelado em sonhos que sua vida estava em perigo, e isto pesou tão fortemente sobre seu espírito que fugiu da sociedade dos deuses. Sua mãe Freya, tendo conseguido que ele lhe contasse a causa de sua melancolia, convocou um concílio de deuses, e ficaram todos cheios de sombrios pressentimentos, pois sabiam que a morte de Baldur seria o prenúncio de sua derrota – a primeira vitória dos gigantes, ou das forças das trevas.
Por isso Wotan traçou “runes”, caracteres mágicos usados para predizer o futuro, mas todos lhe pareciam obscuros. Não podia obter deles um conhecimento mais profundo. O “Vaso da Sabedoria” que podia servi-los na presente conjuntura, estava sob a guarda de uma das Parcas, as deusas do Destino, de maneira que de nada lhes poderia ajudar, então. Ydum, a deusa da Saúde, cujos pomos dourados mantinham os deuses sempre jovens, tinha sido traída e caíra em poder dos gigantes, devido às trapaças de Loke, o espírito do mal, mas foi-lhe enviada uma delegação a fim de consultá-la sobre a natureza da doença que ameaçava Baldur se é que se poderia chamá-la de doença.
Contudo, ela só pôde responder com lágrimas, e finalmente, depois de um solene concílio convocado por todos os deuses, ficou determinado que todos os elementos, e tudo o mais existente na natureza, deveriam ser obrigados a fazer o juramento de jamais magoar ou ferir o deus gentil. Todos obedeceram à ordem, exceto uma insignificante planta que crescia a oeste do Palácio dos deuses; ela parecia tão débil e frágil que os deuses a acharam inofensiva, Contudo, a mente de Wotan avisava-o de que nem tudo estava certo. Pareceu-lhe que as Parcas da boa sorte tinham se afastado. Por isso resolveu visitar uma célebre profetisa chamada Vala. Era o espírito da terra e por ela ficaria sabendo da sorte reservada aos deuses, mas não recebeu nenhum conforto, e voltou ao Walhalla mais deprimido do que antes.
Loke, o impostor, o espírito do mal, era na realidade um dos gigantes, ou uma das forças das trevas, mas vivera durante certo tempo com os deuses. Era um vira-casaca que não dependia de ninguém e, portanto, era geralmente desprezado tanto pelos deuses como pelos gigantes. Um dia em que estava sentado lamentando do seu destino, numa densa nuvem elevou-se do oceano e pouco depois surgiu dela a figura do Rei dos Gigantes. Loke, aterrado, perguntou-lhe o que o trouxera àquele lugar. O monarca increpou-o acerbamente fazendo-lhe ver sua vileza, pois ele, um demônio por nascimento consentia em ser uma ferramenta dos deuses em sua ação contra os gigantes, a quem ele, Loke, devia sua origem. Não foi por afeição a ele que foi admitido na sociedade dos deuses, e sim porque Wotan sabia bem a ruína que ele e sua descendência acarretariam sobre os deuses, e pensava assim apaziguá-lo para adiar o momento funesto. Aquele que, por meio do seu poder e de sua astúcia, poderia ter-se tornado o chefe de um dos partidos, era agora desprezado por todos. O Rei dos Gigantes o repreendeu, além disso, por já ter várias vezes salvo os deuses da ruína e mesmo por já lhes ter fornecido armas a serem usadas contra os gigantes, e finalizou apelando ao proscrito para que inflamasse seu peito contra Wotan e toda a sua raça, como uma prova de que seu lugar natural era entre os gigantes.
Loke recolheu a veracidade de tudo aquilo e prontificou-se a ajudar seus irmãos com todas as suas forças e por todos os meios. O Rei dos gigantes lhe disse então que chegara o momento em que podia selar o destino dos deuses; que se Baldur fosse morto seguir-se-ia, mais cedo ou mais tarde, a destruição dos demais, e que a vida dos deuses pacíficos estava então ameaçada por um perigo ainda desconhecido. Loke lhe respondeu que a ansiedade dos deuses estava se extinguindo, pois Freya tinha obrigado todas as coisas a jurar, comprometendo-se em não ofender seu filho. O monarca negro replicou que deixara de prestar o juramento. Contudo, ninguém sabia o que se ocultava no coração da deusa. Voltou então a mergulhar no seu abismo negro, deixando Loke entregue a pensamentos ainda mais sombrios.
Loke então, assumindo a figura de uma anciã, apareceu a Freya e usando de astúcia extraiu-lhe o segredo fatal, isto é que julgando ser o agárico uma planta de natureza tão insignificante ela deixara de obter da humilde florzinha a promessa com a qual havia sujeitado todas as demais coisas. Loke não perdeu tempo e logo descobriu o local onde medrava o agárico arrancou-o inteiro com todas as raízes, entregou-o aos anões, que eram hábeis ferreiros, para que o transformassem numa lança. Eles fizeram esta arma usando de muitos encantamentos, e quando pronta pediram o sangue de uma criança para temperá-la. Foi lhes trazida uma criança pura, um dos anões mergulhou a lança em seu peito e cantou:
“The death-gasp hear,
Ho! Ho! – now’tis o’er –
Soon hardens the spear
In the babe’s pure gore –
Now the barbed dead feel,
Whilst the veins yet bleed,
Such a deed – such a deed –
Might harden e’en steel”.
Tradução livre:
“Ouve, da morte o exterior!
Haaa! Já terminou! A lança
fica temperada por
sangue puro da criança!
Sente, agora, a ponta afiada
Enquanto dá-se a sangria
tal façanha, consumada,
até o aço temperaria”.
Nesse ínterim os deuses, e os bravos mortos que estavam reunidos a eles para um torneio fizeram mira sobre Baldur, alvejando-o com todas as suas armas, a fim de convencê-lo de que suas apreensões não tinham fundamento, assim o julgavam, agora que estava invulnerável, pois sua vida havia sido protegida por um sortilégio.
Loke também se encaminhou para o local levando a lança fatal, e ao ver o atlético deus cego, Redor, apartado dos dentais, perguntou-lhe por que não honrava, também, a seu irmão aludindo à sua cegueira e à falta de uma arma. Loke colocou-lhe então nas mãos a lança encantada, e Hoedur, não suspeitando da maldade, feriu Baldur no peito com a lança feita do agárico, e Baldur tombou sem vida ao solo, para grande dor de todas as criaturas.
Baldur é o Sol do verão, amado por todas as coisas da natureza, e no deus cego Hoedur, que o mata com a lança, reconhecemos facilmente o signo de Sagitário, pois quando o Sol entra em Dezembro nesse signo emite uma luz muito fraca, e por isso dizemos que é morto pelo deus cego, Hoeduro. A figura de Sagitário, tal como aparece no Zodíaco ao Sul, apresenta simbolicamente a mesma ideia que a lança na história dos Eddas.
A lenda da morte de Baldur nos ensina a mesma verdade cósmica que tantas outras lendas de natureza semelhante, isto é, que o Espírito Solar deve morrer para as glórias do Universo quando, como Cristo, entra na terra para lhe trazer vida renovada, sem a qual cessariam todas as manifestações físicas do nosso Planeta. Assim como aqui a morte precede um nascimento nos reinos espirituais, também ali há uma morte no plano espiritual da existência antes que haja um nascimento num corpo físico. Como Osíris (9) no Egito é morto por Tifon antes que possa nascer Hórus, o Sol do Novo Ano, assim também Cristo deve morrer para o mundo superior antes que possa nascer na terra, trazendo-nos o necessário impulso espiritual anual; mas a nossa Santa Estação não comemora maior manifestação de amor do que aquele da qual o agárico é o símbolo. Sendo fisicamente de uma fragilidade extrema, ele adere ao carvalho, o símbolo da força. É a máxima fraqueza do mais fraco dos seres que fere o coração do mais nobre e pacífico dos deuses, de modo que, impelido por seu amor aos humildes, ele desce às sombras do submundo, como Cristo que, por nosso amor, morre anualmente para o mundo espiritual, para tornar a nascer em nosso planeta impregnando-o novamente com Sua Vida e Energia radiantes.
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(1) Jorge – Trata-se do S. Jorge do hagiológio católico, padroeiro da Inglaterra, Aragão e Portugal. O único elemento histórico a seu respeito parece ser seu martírio em Lydda, na Palestina. Outros elementos de veracidade duvidosa são sua rápida ascensão na carreira militar, sua visita à Grã-Bretanha numa expedição militar e seu protesto contra as perseguições efetuadas por Diocleciano. Calvino impugnou a existência desse santo, mas as igrejas sírias e o cânon do papa Gelásio (494) aceitam-no como real. Sua ligação com um dragão apareceu no século VI. Em Arsuf ou Joppa, Perseu havia morto um monstro marinho que ameaçava a virgem Andrômeda, e Jorge herdou a veneração anteriormente votada ao herói pagão.
(2) Beowulf ou Bjolf – Rei dos Getas, na Jutlândia (século VIII A.D.). Após um reinado de 50 anos vê sua pátria ameaçada por um dragão ardente. Enfrenta-o com onze de seus guerreiros que o abandonam, ficando apenas um, Wiglaf; com sua ajuda mata o dragão, mas é ferido e morre nomeando Wiglaf seu sucessor.
(3) Siegfried – Herói germânico, fruto dos amores incestuosos de Sigmund e Sieglinda. Foi educado pelo anão Mime que dele quer se servir para roubar ao gigante Fafner o anel mágico dos Nibelungos, que dá ao seu possuidor o poder e a fortuna. Siegfried investe contra o gigante transformado em dragão; vence-o e apodera-se do amuleto.
(4) Apolo – Um dos grandes deuses da Grécia; personificava o Sol; filho de Júpiter e Latona nasceu em Delos, segundo Homero. A luta da Luz com as trevas simbolizada pela vitória de um deus ou de uma serpente em todas as mitologias arianas é na mitologia grega, o triunfo de Apolo sobre a serpente Pitão, morta no vale de Crissa, nas proximidades do Parnaso com setas forjadas por Vulcano.
(5) Hércules – Herói e semideus romano, o Héracles da mitologia grega. Filho de Zeus e Alcmena, dentre suas façanhas são famosos os Doze trabalhos, dos quais o décimo primeiro é o roubo das maças de ouro das Hespérides, ninfas filhas de Atlas e Héspero. Habitavam num grande jardim custodiando os frutos dourados com o auxílio do dragão Sadão. Hércules matou o dragão e apoderou-se dos pomos de ouro.
(6) Fênix – Ave fabulosa, animal sagrado entre os egípcios. Este nome, de origem grega, corresponde ao egípcio benu. Diz a lenda que quando se sentia morrer fazia um ninho de ramos de canela e incenso e depois se deixava sucumbir. De seus ossos nascia uma espécie de verme que logo se transformava numa nova ave.
(7) Agárico ou visco – Cogumelo venenoso, em forma de lança que medra de preferência em troncos de carvalho.
(8) Azevinho – Arbusto espinhoso; produz pequenos frutos vermelhos; suas folhas e frutos são muito usados na Europa e Estados Unidos como ornamento por ocasião do Natal.
(9) Osíris – Um dos deuses do antigo Egito; filho de Seb e Nut, marido e irmão de Isis, e pai de Hórus. É o deus do bem, que personifica a vegetação, o Nilo e o Sol. Governava o Egito quando Tifon, seu irmão, assassinou-o, encerrou-o num esquife e o lançou às águas do rio, que o transportaram até Biblos, em cujo local brotou um tamarindeiro. Isis desesperada procura o corpo do esposo até que o encontra. Beija-o e nesse momento supremo toda a terra estremece de alegria. Osíris reanimado levanta-se do ataúde. A terra cobre-se de vegetação e os egípcios, associando-se àquela alegria universal, celebram com ruidosas festas o renascimento do seu protetor.
(Pergunta nº 165 do livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Volume II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz)
O mundo está experimentando as convulsões que inevitavelmente acompanham a passagem da humanidade de uma Era para outra, quando o Velho cede lugar ao Novo.
Em uma forma de arte de beleza incomparável, Wagner traça o processo com discernimento profético, revelando as forças que levam à dissolução da velha Ordem e as que estão trabalhando sob os destroços externos, preparando o terreno para um amanhã melhor e mais brilhante.
1. Para fazer download ou imprimir:
Livro: O Ciclo do Anel de Richard Wagner – por Corinne Heline
2. Para estudar no próprio site:
O CICLO DO ANEL DE RICHARD WAGNER
Por
Corinne Heline
Fraternidade Rosacruz
Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP
Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82
Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil
Traduzido de acordo com:
1ª Edição em Inglês, 1961, Part III from book: Esoteric Music of Richard Wagner: Richard Wagner’s Ring Cycle – Issued by New Age Interpreter
Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz em Campinas – SP
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ÍNDICE
Introdução aos Pioneiros da Nova Era
PARTE IV – DIE GOTTERDAMMERUNG
O Ciclo do Anel de Wagner será apresentado pelo menos três vezes nesta temporada pela Companhia Metropolitana de Ópera de Nova York[1]. Essas produções têm muito mais a oferecer do que entretenimento e prazer estético. Elas são um comentário profundo sobre os tempos em que vivemos. Neste século, o mundo está experimentando as convulsões que inevitavelmente acompanham a passagem da humanidade de uma Era para outra, quando o Velho cede lugar ao Novo. Em uma forma de arte de beleza incomparável, Wagner traça o processo com discernimento profético, revelando as forças que levam à dissolução da velha Ordem e as que estão trabalhando sob os destroços externos, preparando o terreno para um amanhã melhor e mais brilhante.
A seguir, procuramos chamar a atenção do leitor para as características mais salientes dos dramas musicais, vistas do ângulo de sua história, significado evolucionário e cósmico.
Nos quatro dramas musicais que compõem o que se tornou conhecido como o Ciclo do Anel, Wagner previu o conflito que está destruindo o século XX, uma agitação que tem sua origem na insegurança econômica e uma perda cada vez maior de valores espirituais. Wagner também aponta para uma conclusão centrada na nova Ordem mundial que substituirá o caos existente. A Nova Era estará centrada em igualdade e bem universal, enquanto a velha estava situada no bem de um judeu, independentemente do bem-estar das massas.
Richard Wagner foi um prenúncio verdadeiro e dedicado da Nova Era. Tanto sua vida como sua arte gloriosa carregam a impressão do idealismo da Nova Era. No ano de 1848, ele foi exilado da Alemanha por causa de suas ideias radicais e atividades revolucionárias; ainda assim, a mensagem que deixou pode aparecer em qualquer periódico liberal de hoje.
“Vemos ou cheiramos nisto a doutrina do comunismo? Somos tão tolos ou perversos que declaramos que a necessária redenção da raça humana da escravidão mais grosseira e imoral que foi usada para estruturar o materialismo é o mesmo que colocar em prática a doutrina mais absurda e sem sentido, o comunismo? Não vemos que nesta doutrina de uma divisão matematicamente igual de propriedades e ganhos há uma tentativa impensada de se resolver o problema? Mas vamos, assim, descrever o problema como absurdo e sem sentido? Cuidado!”.
“O resultado de trinta e três anos de paz mostra a sociedade humana hoje em tal estado de ruína e pauperismo que até o final deste ano veremos ao seu redor as figuras medonhas da fome pálida! Tomemos cuidado, antes que seja tarde demais! Não demos esmolas, mas reconheçamos o direito, o direito humano concedido por Deus, ou nós poderemos viver o dia em que a Natureza, violada e zombada, vai se erguer em vingança brutal. Então seu clamor selvagem de vitória poderá anunciar o comunismo; e se durar apenas um breve período, porque é impossível que seus princípios prevaleçam, essa regra temporária seria o suficiente para destruir, talvez por muito tempo, todas as conquistas de uma civilização com dois mil anos de idade. Você supõe que eu lhe esteja ameaçando? Não, estou avisando!”.
No ato de abertura do primeiro drama musical do Ciclo, O Ouro do Reno, o brilho cintilante e derretido do ouro é visto flutuando livremente nas águas do rio Reno. Sua massa de beleza dourada simboliza a consciência do Bem. O anão Alberich — que, com seus gigantes, tipifica a Ordem antiga — tira o ouro das águas e o converte em um Anel, simbolizando assim o confinamento ou limitação do Bem. Entretanto, para fazer isso, ele precisa renunciar ao amor. Em outras palavras, deve sacrificar o bem da humanidade em geral ao engrandecimento de poucos.
Wotan, pai dos deuses, representa a mente das massas de uma Ordem cujos poderes estão diminuindo como resultado de seu mau uso. Sua esposa Fricka caracteriza as regras e regulamentos rígidos pelos quais essa Ordem foi mantida. Sua casa, o magnífico castelo gótico de Valhalla, a fortaleza da Ordem, foi construída para eles pelos gigantes. Wotan se alegra em seu trabalho — pois os de um estado passageiro não podem conceber algo superior a si mesmos e esperam com confiança uma existência eterna.
Desejando aumentar seu poder, Wotan, por astúcia e insinuações, apanha o Anel de Alberich. Antes de abandoná-lo, no entanto, o anão o amaldiçoa: “A morte será a porção de quem o possuir. Ele nunca conhecerá felicidade ou alegria, porém será consumido pelo cuidado e pela ansiedade; enquanto quem não o possuir será dilacerado pela inveja. Quem é dono do Anel se tornará seu escravo até o dia em que for devolvido a sua liberdade no rio Reno”. Podemos notar os efeitos trágicos dessa maldição quase todos os dias, nas manchetes de nossos jornais.
A turbulência mundial é o resultado de um conflito entre duas classes, os “que têm” e os “que não têm”. Desigualdades trágicas podem ser vistas em todas as nossas grandes cidades, onde a minoria vive de luxo, enquanto números incontáveis suportam as condições de pobreza das favelas. Situação semelhante é mantida em toda a América do Sul; nos países do Oriente Próximo e do Extremo Oriente isso, agora, atrai atenção geral. Uma civilização construída sobre essas desigualdades não pode e não vai durar. A consciência da Nova Era não permitirá que aqueles que possuem uma riqueza fabulosa gastem centenas de milhares de dólares em uma noite de prazer egoísta, quando milhões de outros seres humanos quase morrem de fome.
Dois temas musicais, o Amor de Golã e a Maldição do Ouro, estão entre os mais poderosos de todo o Ciclo do Anel. No final de O Ouro do Reno, Wotan e os deuses retornam a Valhalla, significando o apego mental das massas ao padrão estabelecido pela Ordem antiga. Há, no entanto, um raio de luz que se manifesta nesse retorno: eles devem voltar pela ponte do arco-íris. O arco-íris é simbólico e representa um novo dia cheio de beleza e luz. É uma promessa para o futuro. Isso está bem descrito na requintada Música do Arco-íris.
Enquanto Wotan refaz seus passos em direção a Valhalla, um brilho enevoado surge da terra; sob sua luz pode-se discernir a forma de Erda, deusa da terra e mãe dos três destinos: passado, presente e futuro. Seu tema musical é uma expressão da Sabedoria Antiga. Ela representa a Lei imutável e inescapável de Consequência, descrita biblicamente em Gálatas 6: 7 — “Tudo que o homem semear, isso também ele ceifará”. Erda emite um aviso a Wotan: “Fuja do anel amaldiçoado. Há ruína sem fim para você, em seu poder. Tudo que foi, eu conheço. Tudo que será, eu também conheço. Erda, a eterna, convoca-lhe. Tudo que existe chegará ao fim. A noite cairá sobre os deuses. Eu lhe aviso: desista do Anel”.
Quando a primeira cena de A Valquíria acontece, uma tempestade terrível atinge a floresta e curva as árvores poderosas. No centro do palco, há uma pequena cabana, a casa de Hunding e sua bela esposa, a jovem Sieglinde. À porta da cabana chega um estranho que está ensopado de chuva: é Siegmund, o Andarilho. Ele entra e se joga perto da lareira, diante de um fogo aberto. Quando Sieglinde aparece, ele pede abrigo noturno contra os elementos furiosos, dizendo a ela que foi atacado por inimigos que pegaram sua espada e, então, ele se perdeu.
Logo surge Hunding, sombrio, grosseiro, desconfiado. Quando descobre que o estrangeiro esteja em guerra contra seus parentes, imediatamente declara sua inimizade, jurando que, embora a hospitalidade seja concedida durante a noite, no dia seguinte eles devam se enfrentar em combate.
Hunding tipifica a convenção. Ele mantém as regras e regulamentos da Ordem antiga, demonstrando animosidade imediata em relação a tudo que pertença à Nova Ordem. Siegmund e Sieglinde são pioneiros do Novo Dia; portanto, há reconhecimento instantâneo um do outro, de seus ideais e objetivos comuns.
Quando Hunding se recolhe, Sieglinde retorna e pede a Siegmund que fuja enquanto ainda há tempo. Ele responde que seu nome seja Infortúnio e ela diz que ele não possa trazer mais tristeza à casa do que já existe ali. O preço do pioneirismo é sempre o ridículo, o mal-entendido e a perseguição.
Sieglinde informa ao estranho que, na noite de seu casamento forçado com Hunding, outro desconhecido enfiou uma espada no coração do grande carvalho diante da porta, prevendo que, quando um herói alcançasse o poder para retirar a espada, chamada Nothung, sua escravidão terminaria. Cheio de entusiasmo, Siegmund corre ao local e retira facilmente a arma mágica, quando Sieglinde grita: “Seu nome não é mais Infortúnio, pois agora você é o Vitorioso. Veja”, ela continua, “a tempestade acabou e a primavera chegou!”. De mãos dadas, eles caminham em direção às belezas da floresta.
A espada, que desempenha um papel muito importante em todo o Ciclo do Anel, caracteriza a verdade em sua pureza original. Ela pode ser usada bem e sabiamente apenas por aqueles que possuem a mente iluminada e dedicada. E de toda a música magnífica em A Valquíria, nenhuma é mais requintada do que a Canção do Amor e a Canção da Primavera, ouvidas nesta primeira cena.
Provavelmente as mais familiares e amadas de todas as músicas de Wagner, essas composições o tornaram imortal. As Valquírias são donzelas ousadas que, em corcéis de fogo, correm pelo ar para reunir os guerreiros que tiveram mortes de herói e carregá-los até o Valhalla. A música delas eleva nosso espírito a uma altura que transcende as limitações de tempo e espaço. É verdadeiramente “música infinita”.
Brunnhilde, a líder das Valquírias, simboliza o espírito da verdade. Suas simpatias vão imediatamente para Siegmund e Sieglinde, embora Wotan e Frika exijam que durante o próximo combate ela deva prestar assistência a Hunding. Ela se recusa e, na passagem alta da montanha onde a batalha acontece, é vista pairando sobre Siegmund para lhe proteger dos golpes de Hunding. O sucesso de Siegmund está quase garantido, quando surge um tremendo trovão e Wotan aparece no ar, acima de Hunding. O deus quebra a espada de Siegmund, deixando-o indefeso contra o golpe final de Hunding. Segue um silêncio ofegante, enquanto Siegmund está morrendo. É como se o próprio batimento cardíaco do universo estivesse quieto e toda a natureza prendesse a respiração, aguardando um evento sinistro.
Brunnhilde assenta a chorosa Sieglinde sobre seu corcel e corre para a floresta. Ela então sussurra para a donzela de coração partido: “Mantenha seu rosto sempre em direção ao leste. Seja sempre corajosa e ousada, pois você carrega em seu coração alguém que trará nova luz aos homens. O mundo ainda está preso à Ordem antiga, mas no horizonte surge um brilho de promessa”. O espírito da verdade não declarou, assim, que Siegfried, filho de Siegmund e Sieglinde, seja o portador da luz de um novo dia?
Depois que Brunnhilde esconde Sieglinde na floresta, ela volta e enfrenta Wotan, que está irado. De forma lamentosa, diz a ele que, ao ajudar Siegmund em vez de Hunding, estivesse vivendo mais perto de sua própria natureza superior do que ele mesmo. Wotan, de forma relutante, admite a acusação.
É significativo notar que em O Ouro do Reno os dois gigantes, Fafner e Fasolt, mantêm Freia, deusa do amor e beleza, em cativeiro e se recusam a deixá-la ir até que esteja tão completamente coberta de ouro que não possam vê-la.
Wotan diz a Brunnhilde que, por causa de sua desobediência, ele lançará um feitiço sobre ela — o que significa que a verdade não possa funcionar da maneira ideal, se o mundo estiver preso à antiga Ordem. Ele acrescenta que ela deva dormir em uma montanha alta, cercada por fogo mágico, para que apenas um herói possa despertá-la. Enquanto ela afunda no sono profundo, três vezes Wotan golpeia a pedra com sua lança, enquanto exclama: “Durma até que alguém chegue para despertar quem é mais livre do que eu”. Ao pronunciar essas palavras, o tema de Siegfried, anunciando musicalmente o libertador que está por vir, é ouvido na orquestra.
Na beleza celestial e mágica de sua Música do Fogo, Wagner deu livre reinado a seu gênio. É a música de um fogo sobrenatural que não queima, porém exalta; o fogo celestial do espírito que produz luz, não calor.
Wagner sempre se referiu a Siegfried como “o homem do futuro”. Todo o alto idealismo com o qual ele dotou a “Nova Ordem das Eras” ele concentrou em Siegfried, seu amado herói.
Dois dos números mais bonitos da ópera são o Filho da Floresta, tema musical de Siegfried, e a Canção da Espada. Em Filho da Floresta, Wagner uniu a beleza da infância ao encanto e harmonia da primavera. Canção da Espada é uma expressão alegre e brilhante do espírito de coragem e liberdade.
Quando Sieglinde morre, ela deixa Siegfried na floresta e coloca ao seu lado os dois pedaços de Nothung, a espada quebrada do seu pai. Aqui ele é descoberto por Mime, irmão do anão Alberich que renunciou ao amor para transformar o ouro do Reno em um anel. Fasolt e Fafner, os dois gigantes que possuíram o Anel pela última vez e um tesouro de ouro resultante, imediatamente começam a brigar por sua posse. Um mata o outro, após o que o vencedor coloca o tesouro dentro de uma caverna e se transforma em um enorme dragão que fica de guarda dia e noite. Essa é uma imagem adequada do egoísmo e da ganância que animam a velha Ordem, qualidades que mantêm a maior parte do mundo em escravidão.
Reconhecendo a magia possuída por Nothung, Mime planeja segurar Siegfried até que ele tenha idade suficiente para consertar a arma — pois o anão se vê matando o dragão e, assim, possuindo o Anel.
Siegfried cresce como um filho da natureza, no meio da floresta encantadora. Ele é capaz de domar animais selvagens porque não tem medo. Pela mesma razão, é fácil para ele refazer a espada quebrada. Quando isso é feito, ele decide matar o dragão e não tem dificuldade em eliminar o monstro que, morrendo, avisa sobre a traição de Mime. Tendo sido avisado, quando Mime lhe oferece uma bebida envenenada, o jovem também mata o falso e deixa seu corpo ao lado do dragão.
Tal ação delineia um passo importante no caminho do discipulado. Mime e o dragão simbolizam os aspectos mais baixos da natureza de desejos do homem. Alguns desejos devem ser eliminados completamente, como Mime foi; outros podem ser transmutados em qualidades mais elevadas da natureza espiritual do homem, como o dragão que auxilia Siegfried. A paixão então se torna compaixão, a intolerância cede à tolerância, o ódio se transforma em amor, o egoísmo é vencido pela abnegação e o espírito de competição é transmutado no de cooperação.
Depois que Siegfried mata o dragão, descobre que se apoderou de muitos segredos da natureza. Ele agora pode entender a linguagem dos pássaros. Assim, à medida que um discípulo refina e sensibiliza suas faculdades puramente humanas, as capacidades superiores tornam-se operacionais, especialmente a intuição. Ele aprende a ouvir sua voz mansa e a seguir sua orientação implicitamente. Na ópera, um passarinho conta a Siegfried que no topo de uma montanha distante jaz uma bela donzela que ele esteja destinado a despertar.
Wotan, a Mente de massa da antiga Ordem, está ciente da vinda de Siegfried. Temendo que seu poder sobre o mundo diminua, ele pede a Erda, deusa da Terra, que lhe diga como parar a “roda rolante”. Ela responde, perguntando por que motivo ele não obtém esse conhecimento de Brunilde, aquela que possui toda a verdade e toda a sabedoria. Wotan é forçado a confessar que, como Brunilde patrocinou uma nova Ordem de eventos, em vez de permanecer leal à antiga, ele a fez dormir. Erda responde tristemente: “Você deveria ser o defensor da verdade; contudo, foi falso, patrocinando o que é injusto e desleal”. Ela então prevê o declínio do seu poder e a chegada de uma nova Era.
Quando Siegfried finalmente chega ao pé da montanha, ele encontra seu caminho barrado pela lança de Wotan. Com sua espada mágica, ele quebra a lança do deus e se vê livre para atravessar. A aparência de Wotan é sempre acompanhada pelos temas de Escravidão e Sono Eterno (cristalização). No início da ópera, o poder de Wotan, a Ordem antiga, é maior. Nesse encontro, no entanto, a Nova Era se aproxima rapidamente, de modo que o poder de Siegfried, a Nova Ordem, permite que ele seja vitorioso.
Em uma carta escrita por Wagner, ele declarou: “Depois que se separou de Brunilde, Wotan na verdade nada mais é do que um espírito apagado; seu objetivo mais alto pode ser apenas deixar as coisas seguirem seu curso, abraçando seu próprio caminho, não mais interferindo definitivamente; por esse motivo, também ele se tornou o ‘Andarilho’. Dê uma boa olhada nele! Ele se assemelha a nós como um fio de cabelo; ele é a soma do intelecto do presente, enquanto Siegfried é o homem do futuro, o homem que desejamos, o homem que queremos e não podemos fazer; ele é o homem que deve se criar mediante a nossa aniquilação”.
Siegfried começa, de forma exultante, a subida da montanha junto da incomparável Música do Fogo. Wagner não estava descrevendo o fogo que queima; a saber, as ilusões e fantasias do mundo material. Ele descreveu o fogo espiritual que inspira, ilumina e exalta. O Caminho do Discipulado, comum a todas as religiões em todo o mundo, leva os aspirantes ao topo da montanha para ficar de frente com o próprio espírito da verdade, pois todas as religiões apontam o caminho para esse mesmo objetivo.
Siegfried passa ileso pelas chamas para se ajoelhar ao lado da Brunilde, adormecida, e a beija nos lábios, quando ela acorda e o aclama como “Senhor da Vida e do Mundo”. De modo contente, ele se dirige a ela como sua estrela e juntos, de mãos dadas, sonham com a nova e mais nobre Ordem, que está por vir.
A mais alta conquista de todos os verdadeiros discípulos é a imortalidade consciente. É nesse clímax que Brunilde e Siegfried cantam seu requintado dueto de amor, onde suas vozes flutuam para cima em êxtase, parecendo até mesmo tocar os reinos celestes:
“Amor iluminado
Rindo da morte”
O caos do mundo atual é motivado, em grande parte, pela terrível desigualdade entre os seres humanos. Isso provocou inquietação, o descontentamento das pessoas e contínuas revoltas entre nações e povos. O Planeta Terra está muito atrasado em relação ao desenvolvimento programado para ele. Hoje, deveria haver um Mundo Unido, manifestando harmonia, abundância e paz permanente.
Ao longo dos tempos, grandes apóstolos surgiram, tentando espalhar um evangelho de fé e liberdade. Na maioria das vezes, encontraram o ridículo, a perseguição e a morte. Richard Wagner foi um desses pioneiros da Nova Era. Ele usou seu gênio para esclarecer a humanidade sobre a causa encoberta na crescente turbulência mundial e a cura para ela. Toda a sua mensagem pode ser encontrada no Ciclo do Anel.
Quando alguém é escolhido para executar um serviço abrangente, ele é guiado ao topo da montanha da inspiração para receber sua comissão. Muitas vezes ela é fornecida em uma visão ou por mensagem direta. Em seguida, ele deve ser experimentado e testado, antes de receber a função de mensageiro confiável. Mesmo o Senhor Cristo, Aquele que mostrou o caminho à humanidade, teve que descer entre os seres humanos, está para realizar Seu maior ministério.
E assim aconteceu com Siegfried. Brunilde lhe dá lições de sabedoria sobre as alturas da inspiração; depois, ela o envia para as estradas e caminhos para proclamar as glórias do Novo Dia. Nesta missão, ele vai ao castelo onde vive o rei Gunther e sua irmã, Gutrune, com o mau Hagen, filho do anão Alberich. Hagen preparou Gunther e Gutrune para a vinda de Siegfried, contando-lhes sobre a gloriosa Brunilde e como ela treinou Siegfried para a função que lhe foi destinada. Além disso, Hagen sugere ao rei que ninguém menos que Brunilde seja a companheira adequada para ele; enquanto que, de Gutrune, extrai a promessa de exercer todos os seus artifícios femininos para ajudar a alcançar o fim desejado de conquistar Siegfried por si mesma.
A maldição do Anel ainda se mantém, embora esteja agora na posse de Siegfried. Hagen planeja afastar os jovens da proteção mágica de Brunilde e, assim, livrar-se de sua interferência, ficando livre para obter o Anel. “Então”, ele exclama alegremente, “eu serei o mestre do mundo inteiro!”. Hagen é um antigo conceito familiar que dominou ditadores em todas as épocas. Eles acreditavam que, se pudessem reprimir todo o reconhecimento dos valores espirituais e sufocar os fogos da liberdade, poderiam governar o mundo por meio de suas proezas humanas. Tal é o sonho daqueles que obteriam o poder dentro de uma ordem mundial em rápida desintegração.
Siegfried entra na presença de Gutrune, que lhe dá um copo de hidromel no qual Hagen jogou a “droga do esquecimento”. Enquanto leva a xícara aos lábios, um passarinho avisa sobre o seu conteúdo envenenado, mas ele não lhe dá atenção. Bebe e perde instantaneamente toda a memória da bela donzela que o espera no topo da montanha, porque sob o feitiço da poção ele se apaixona pela mulher sensual e atrativa que está diante dele. Quando Hagen lhe pergunta se entende a linguagem dos pássaros, ele responde, rindo: “Agora que escuto o riso das mulheres, não consigo mais ouvir os passarinhos”.
Não podemos servir a dois senhores ao mesmo tempo. Devemos fazer uma escolha entre a natureza superior e a inferior. Todos os que alcançam um lugar de destaque, riqueza ou liderança são confrontados com o teste sutil de fazer a escolha entre ganho pessoal e autoengrandecimento, por um lado, ou serviço disposto e auto apagamento, por outro. “Todo aquele que for chefe entre vós, que seja seu servo” é uma advertência sussurrada através dos tempos. Infelizmente, poucos têm sido aqueles que, em lugares altos, foram sábios o bastante e fortes o suficiente para cumpri-la.
Siegfried não apenas esquece Brunilde como, sob o disfarce de Gunther, ele a procura e leva ao vale. Lá, ela é forçada a se casar com o verdadeiro Gunther, enquanto ele próprio está casado com Gutrune. Hagen se alegra com o sucesso do seu esquema maligno. Em seguida, ele organiza uma caçada para o entretenimento de Gutrune e Siegfried, durante a qual mata este.
A Jornada do Reno e a Marcha Funeral de Siegfried são dois dos maiores números musicais que destacam o Crepúsculo dos Deuses. Ambos são compostos de vários temas que descrevem os eventos da vida de Siegfried desde o nascimento até a morte, quando estes se desenrolam diante do seu olhar moribundo, em ordem inversa. (Esta fase da ópera foi abordada em detalhes na MÚSICA ESOTÉRICA, com base na participação musical de Richard Wagner).
O esquife onde Siegfried foi posto é colocado no grande salão do castelo, com o Anel ainda brilhando em sua mão. Hagen o reivindica por si próprio. Quando Gunther proíbe que o pegue, ele puxa sua espada e mata seu companheiro de conspiração. Brunilde tira o Anel do dedo de Siegfried e o coloca por conta própria, dizendo: “Agora tomo minha herança por conta própria! Ó, Anel fatal, eu te pego na minha mão para que possa jogar fora. Irmãs Sábias das Águas, filhas sorridentes do Reno, devolvo o que a vós pertence. Levem para vós: as chamas limparão o Anel e a maldição será lavada no rio”.
Hagen pula no rio, gritando: “O Anel é meu! O Anel é meu! Mas ele está muito atrasado. As Donzelas do Reno já recuperaram o Anel. Dois dos espíritos da água o pegam e seguram sob as ondas, enquanto o terceiro devolve o Anel a seu devido lugar. Pela última vez, a música amaldiçoada soa debilmente e não é mais ouvida. As Donzelas do Reno nadam, enquanto cantam alegremente. O ouro do Reno novamente flui livre, porque não está mais sob a maldição do Anel.
A atual Era de materialismo está centrada no eu e meu: tem sido egocêntrica. A Nova Era estará centrada no “nós e nosso”: será altruísta. A Velha enfatizou a individualidade separatista; a Nova enfatizará a unidade coletiva. Chegará o dia em que a ganância e sua inevitável dor não existirão mais. Uma consciência mundial do Todo-Bem prevalecerá, mais uma vez, entre os seres humanos, como aconteceu quando estavam em paz e sem pecado.
Brunilde declara que acenderá a tocha com a qual queimará o esquife de Siegfried entre as torres do Valhalla, o reduto da Antiga Ordem. Então ela o faz. As chamas e a música aumentam cada vez mais, até a Terra parecer uma massa trêmula e crescente de labaredas com sons que sobem até se perderem entre as estrelas. A fumaça se afasta lentamente e as águas do Reno rastejam sobre as brasas fumegantes.
Wotan, o deus de um dia que acabou, olha tristemente para a destruição de Valhalla. Ele percebe que a Ordem Antiga está morta e que ele era o responsável por sua morte. Ele reconhece que seu poder começou a diminuir quando lançou o feitiço do sono em Brunilde (a verdade) e recorda a acusação de Erda, Deusa da Terra: “Tu deverias ser o defensor da verdade, mas foi falso e patrocinou o que é injusto e desleal”. Enquanto observa as brasas moribundas do seu adorado Valhalla, ele murmura consigo mesmo: “Eu não sou mais um servidor; eu sou apenas um observador”.
No entanto, é apenas um modo de vida e não a própria vida que chega ao fim — um modo que foi tão impedido por obstáculos de chegar ao progresso construtivo que o terreno precisou ser limpo para que uma estrada mais ampla pudesse ser construída.
Neste ponto, temos o motivo da promessa: alto, puro, exultante, acima do tumulto das formas estrondosas: é a Redenção pelo Amor, sem dúvida a música mais transcendente e magnífica de todo o Ciclo. É tão pungente e requintada que tira bastante do fôlego do ouvinte. É a melodia que canta no coração de todo pioneiro que trabalha pela liberdade e irmandade; a mesma música que soou no coração daqueles seres humanos corajosos que assinaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América em 1776. De fato, é a música que foi cantada por Anjos acima da pequena cidade de Belém, na noite em que nasceu o Abençoado Emancipador, porque é a palestra musical da “Nova Ordem das Eras”, centrada na Paternidade de Deus e na irmandade dos seres humanos.
Richard Wagner dedicou seu trabalho à grande mensagem do Ciclo do Anel com estas palavras: “Meu precioso conhecimento eu lego ao mundo. Não é mais ouro, nem pompa, casas ou tribunais, nem magnificência nobre, nem o engano dos tratados sombrios, nem a lei hipócrita de maneiras duras; entretanto, apenas uma coisinha tão valiosa nos dias bons quanto nos maus — e isso é o Amor”.
F I M
[1] N.T.: em 1961