Resposta: Esta pergunta foi perfeitamente explicada no “Conceito Rosacruz do Cosmos”. Depende em grande parte do fato que no Mundo invisível as formas são tão plásticas que podem mudar de aspecto quase que instantaneamente, dando assim ao observador não exercitado, uma ideia falsa. O treinamento é tão necessário à observação lá como aqui, mas está enganado quando diz que todos diferem. Há um número considerável de pessoas que desenvolveram a visão espiritual, ou talvez a tenham adquirido involuntariamente e, não obstante, têm coisas semelhantes corroborando mutuamente suas descrições. Temos, por exemplo, diante de nós as provas de um livro escrito por uma enfermeira que presenciou muitas mortes e observou exatamente as mesmas coisas que escrevemos em nossos livros durante os últimos dez anos. O livro chama-se “O Ministério dos Anjos”, uma expressão que a autora aplica não somente à grande Hierarquia que está logo acima da humanidade, como é citado no “Conceito Rosacruz do Cosmos”, mas a todos os seres humanos que passaram para o além. Contudo, independentemente disso, o livro está repleto de experiências que a autora presenciou em milhares de ocasiões. Extrairemos alguns exemplos do resumo desse livro publicado pela “A Revista Oculta”, a fim de mostrar a semelhança das experiências dessa senhora com nossos Ensinamentos Rosacruzes.
Quando ela tinha dezoito anos, uma sua amiga, chamada Maggie, foi acometida de um mal súbito e expirou em seus braços. Logo que o coração de sua amiga cessou de bater, ela descreve: “Eu vi distintamente subir de seu corpo algo semelhante à fumaça ou vapor que sai de uma chaleira onde há água fervente. A emanação elevou-se a uma altura muito pequena e ali transformou-se numa forma idêntica à de minha amiga que morrera.
Essa forma, muito vaga a princípio, mudou gradualmente até tornar-se bem definida e envolta num manto semelhante a uma nuvem de uma cor branco pérola, no interior do qual era distintamente visível o contorno de Maggie.
“O rosto era de minha amiga, porém, embelezado, sem nenhum traço do espasmo de dor que o contorcera pouco antes de morrer”.
Isso aconteceu como sempre ensinamos: no momento da morte, quando se rompe o cordão prateado no coração, o Corpo Vital eleva-se através das suturas do crâneo e paira poucos pés acima do corpo. Escrevendo a respeito das mortes naturais de pacientes a quem serviu de enfermeira, ela faz notar que, muitas vezes, a despeito do estado físico ou da disposição de ânimo do moribundo precisamente antes de morrer, ele parece reconhecer alguém que não é nenhum dos que estão ao lado do leito e que é invisível para eles.
“Eu vi”, relata ela, “uma mulher em estado de coma há já algumas horas, abrir repentinamente os olhos com um ar de alegre surpresa, erguer os braços como se fosse segurar mãos invisíveis estendidas em sua direção, e com o que nos pareceu um suspiro de alívio, expirou. Assisti também a um homem que estava se debatendo nas dores da agonia; repentinamente tornou-se calmo, dirigiu os olhos com uma expressão de alegria para um certo canto vazio mostrando ter reconhecido alguém, e proferindo um nome com uma expressão agradecida, exalou seu último suspiro.
“Lembro-me da morte de uma mulher que sofria da mais terrível de todas as doenças, câncer maligno. Seus sofrimentos eram cruciantes e ela rogava sinceramente para que a morte não demorasse. Durante sua agonia, as dores pareceram cessar subitamente, e a expressão de seu rosto, que um momento antes estava contorcido pela dor, transformou-se, parecendo alegre e radiante. Soergueu-se no leito com um ar feliz nos olhos, estendeu os braços e exclamou ‘Oh, querida Mãe, vieste para conduzir-me ao lar. Estou tão contente”, e no momento seguinte cessou sua vida física”.
Inicialmente, a autora não podia ver esses seres invisíveis, mas, gradualmente, ela desenvolveu a visão espiritual, e agora vê realmente aqueles que vêm dos reinos da vida espiritual a fim de encontrar-se com os moribundos, acolhendo-os para um outro estágio de experiência.
“A primeira vez que tive uma prova ocular”, escreve ela, “foi na morte de L, uma garota meiga de dezessete anos, de quem eu era amiga íntima. Ela estava tuberculosa. Não sofria dores, mas a extrema fraqueza e debilidade causavam-lhe tal fadiga que ela anelava por repouso”.
“Um pouco antes que ela expirasse, eu percebi que havia dois Espíritos junto ao leito, um de cada lado. Não notei quando entraram no quarto. Eles já estavam ao lado da cama quando se tornaram visíveis para mim, e eu podia vê-los tão bem quanto via os outros ocupantes humanos que ali estavam. Em meu coração sempre chamei de Anjos esses seres brilhantes de um outro Mundo, e daqui por diante é assim que os chamarei sempre que falar deles. Reconheci seus rostos, eram duas moças que tinham sido amigas íntimas da doente. Elas haviam falecido um ano antes, e tinham aproximadamente sua idade”.
“Um pouco antes de sua aparição”, a doente exclamou, “Está ficando escuro de repente, não posso ver nada”, mas ela reconheceu-as imediatamente, um belo sorriso iluminou sua face e ela estendeu as mãos e exclamou num tom alegre, ‘Oh, vocês vieram para me levar; estou contente, pois estou muito cansada’.
“Cada um dos Anjos estendeu uma das mãos, um deles segurou a mão direita e o outro a mão esquerda da doente. Suas faces iluminaram-se com um sorriso ainda mais belo e radiante que o do caso anterior, pois sabia que iria encontrar o descanso que tanto desejava. Ela não tornou a falar, mas permaneceu cerca de um minuto com as mãos erguidas, seguras pelos Anjos, e continuava a fitá-los com uma luz nos olhos e um sorriso no rosto. Os Anjos pareceram afrouxar seu aperto de mão e os braços da moça recaíram sobre o leito. Dos seus lábios saiu um som semelhante ao emitido por uma pessoa que se entrega a um sono ansiosamente desejado. O doce sorriso como o qual ela recebeu os Anjos continuava estampado em suas feições”.
Todos notarão, nesse último exemplo, que a moça se refere ao quarto que estava ficando escuro. Esse e muitos outros fatos são explicados no “Conceito Rosacruz do Cosmos” e em outros trechos de nossas publicações e, pelo que sabemos, em nenhum outro lugar é possível encontrar-se uma explicação cabal referente à passagem do Espírito da terra dos vivos para a terra dos mortos-vivos.
A autora comenta a atitude materialista dos parentes e amigos ao encararem a morte, e ela frequentemente sente-se desesperada para convencê-los da realidade que ela própria testemunha. No exemplo acima, o pai da moça era um perfeito cético e estava convencido da inexistência de uma vida futura. Ele tomou como prova de uma imaginação perturbada as últimas palavras de sua filha e o sorriso que iluminou sua face ao reconhecer as amigas que tinham vindo para conduzir seu Espírito. Contudo, nem sempre existe esse ceticismo. No caso de um paciente que estava morrendo de pneumonia, sua mulher estava sentada a seu lado e ele chamou-a querendo mostrar-lhe seu filhinho que havia morrido com a idade de cinco ou seis anos e que estava esperando por ele. “Veja como ele ri e segura minha mão”, ele exclamou, “você não pode vê-lo? ”. Embora ela não pudesse realmente vê-lo, depois declarou: “Estou contente porque ele viu B. antes de morrer. Poderei agora pensar neles sempre juntos e felizes, e quando chegar minha vez sei que eles virão a mim”.
Em certa ocasião, nossa enfermeira deixou o hospital disposta a praticar enfermagem particular. Certa vez, ela acompanhou uma amiga à casa de uma senhora que era inválida há muitos anos e precisava de uma enfermeira. Sua amiga foi contratada. “Quando vi aquela senhora, imediatamente senti que meu coração lhe pertencia”, diz a autora, “pois no momento revelou-se a mim a profundidade e a ternura de sua santa alma. Como, não sei. Não sou capaz de explicar. Esta mulher, pensei, é a amiga por quem tenho procurado tanto, e senti uma grande vontade de conquistar sua amizade”.
Contudo, essa aspiração não se realizou neste Mundo, mas estava destinada a ser satisfeita mediante uma dessas estranhas amizades nas quais uma das pessoas está neste Mundo e a outra no além. “No decorrer do tempo”, escreveu ela, “pouco depois de sua morte, ela tornou-se a amiga mais íntima que qualquer outra que pertença a esta vida. Quando ela me apareceu não foi para se desvanecer quase que imediatamente, mas sim para ficar e conversar comigo, tão simples e naturalmente quanto outro ser humano. Enquanto ela esteve comigo, eu pude vê-la tão claramente quanto os objetos da vida diária, e ela mostrou ser uma individualidade tão marcante quanto a de uma pessoa de fortes características que ainda permanecesse neste Mundo”.
Por intermédio dessa senhora, que se tornou seu “Anjo da guarda”, ela foi levada, em estado de transe, a visitar muitos lugares e pessoas no outro Mundo e, amiúde, ela descreve suas visitas ao que ela denomina jardim celestial e câmara de descanso de sua amiga, onde ela ia para descansar e meditar. Evidentemente essas descrições são simbólicas, mas a experiência não deixa de ser experiência, e a sensação não deixa de ser sensação, embora as descrevamos simbolicamente. O simbolismo, em muitos casos, é o único meio pelo qual nossa consciência pode interpretar certas emoções que, de outro modo, seriam difíceis de ser expressas.
“Meu ‘Anjo da guarda’”, escreve a autora, “conduziu-me por uma das entradas e me encontrei numa sala espaçosa iluminada suavemente, e as várias tonalidades de cor fundiam-se numa harmonia tão perfeita que davam a impressão de uma música visível muito bela e calmante. As paredes estavam revestidas de tapeçarias semelhantes às nuvens, nas quais o verde, o rosado, o vermelho e o dourado combinavam-se tão artisticamente, que não havia um único tom discordante no colorido; as tapeçarias não tinham nada de semelhante com os tecidos terrenos. Elas me pareciam perfeitamente visíveis, mas não ofereciam resistência ao toque. Era como se eu enfiasse a mão numa nuvem. Havia vários sofás e divãs na sala, todos ostentando o mesmo colorido calmante e harmonioso. Muitas plantas e belas flores engalanavam o lugar. “Esta”, disse meu “Anjo da guarda”, “é minha sala de repouso onde eu venho repousar e meditar; você também poderá vir quando quiser”.
Essa região, a Terra de Veraneio dos Espiritualistas, com suas casas, suas flores e seu jardim de repouso, também foi descrita no “Conceito Rosacruz do Cosmos” e em outros livros. Vemos que há um perfeito acordo tanto entre nós e a escritora citada, quanto aos fatos e observações referentes à morte e aos Mundos invisíveis.
Lemos, então, que ela foi levada por sua amiga a visitar os milhões de trabalhadores em alguma cidade da Terra, cujos sofrimentos os habitantes do jardim celestial deviam minorar. Aqui, ela visitou uma fábrica e observou que ela e sua companheira passavam através de paredes e divisões à medida que iam de um departamento a outro do enorme edifício, sem que paredes de tijolos ou vigas de aço oferecessem a menor resistência a seus corpos. “Às vezes, eu costumava admirar”, ela observa, “como poderiam os Espíritos entrar em casas e salas onde não há portas abertas, e como poderiam sair quando todas as saídas estivessem fechadas”. Ela verificou que o que para nós, terrenos, são paredes sólidas, parecem ao corpo Espiritual como se fossem de neblina quando nos aproximamos delas, e são um empecilho tão pequeno à passagem do corpo Espiritual quanto o é a neblina para o corpo físico. Ela observa que muitas coisas que são mistérios insolúveis para a compreensão humana, apresentam-se como mistérios de pouca importância para as faculdades do Espírito, tal como para nós se apresentam as coisas comuns e as experiências da vida diária. Não é surpresa encontrarmos paredes que impeçam nossa marcha, do mesmo modo que não constitui surpresa para o Espírito verificar que uma parede não é empecilho. Esse é um problema da quarta dimensão que embaraça muitas pessoas deste Mundo, e sobre o qual a descrição acima lança alguma luz, embora pareça uma fantasia da terra das fadas. Isto também já foi explanado várias vezes na literatura Rosacruz.
Outro incidente de natureza um tanto semelhante encontra-se no fim dessa narração e lança alguma luz sobre este estranho mistério da interpenetração dos planos. Em uma de suas visitas às regiões celestes, nossa autora travou conhecimento com um homem que ela denomina “o mentor”. O mentor deu-lhe um buquê que ela desejou trazer consigo para a Terra. “Quando eu voltei para casa no corpo Espiritual”, diz ela, “coloquei as flores num vaso, mas quando na manhã seguinte, em meu corpo físico, fui olhá-las, descobri que, embora pudesse vê-las tão nitidamente como quando as recebi do mentor e pudesse ainda sentir seu aroma agradável, elas não eram palpáveis ao meu tato. Minhas mãos passavam através delas como através de um raio luminoso, contudo, elas permaneciam perfeitas sem uma única pétala desfolhada. Nenhum outro membro de minha casa pôde vê-las ou senti-las, a não ser eu. “Os Anjos”, ela acrescenta, e aqui temos um ponto muito curioso, “que me visitam em minha casa podem empunhá-las tal como fazemos com as flores aqui da terra, mas estas últimas, das quais tenho sempre algumas em casa, eles não podem pegar. Eles veem-nas tal como eu as vejo, mas elas não oferecem resistência a seu toque”. Ela pergunta então desnorteada: “Qual é o Mundo da realidade sólida e qual o das aparências intangíveis, o nosso Mundo ou o espiritual? ”.
Esses pontos também já foram explicados na literatura Rosacruz e queremos lembrar aos leitores a história chamada “Enfrentando o Pelotão de Fuzilamento”, que apareceu no número de novembro de 1917 da revista “Rays from the Rose Cross”, onde há a descrição das últimas horas de vida de um espião, como ele enfrenta a morte e como depois da transição visita a irmã. Durante a jornada que empreendeu à casa da irmã, milhares de milhas do lugar onde fora morto, ele intrigou-se com o fato de que o ar parecia povoado com formas espirituais que flutuavam do mesmo modo que ele e o Rosacruz que o acompanhava. Inicialmente, ele tentou evitá-las, mas verificou ser impossível. Então, preparou-se para uma colisão quando percebeu, com surpresa, que essas pessoas flutuavam através de si e de seu companheiro como se não existissem. Isto consternou-o e desnorteou-o até que o Rosacruz, percebendo seu dilema, riu-se tranquilizando-o, dizendo para não se importar pois aquilo era habitual na terra dos mortos-vivos, onde todas as formas eram tão plásticas que interpenetravam tudo facilmente, não havendo o menor perigo de alguém perder a própria identidade.
Uma vez chegados à casa de sua irmã, eles encontraram-na sentada numa confortável sala de estar e o espião lançou-se impulsivamente para ela e abraçou-a, percebendo com assombro que ela ignorava completamente sua presença, e que suas mãos em lugar de segurarem as delas, atravessavam-nas. Ele voltou ao Rosacruz e perguntou o que deveria fazer a fim de ser notado pois essa impalpabilidade de um corpo sólido o embaraçava. Recebeu então as instruções e o método que um morto-vivo deve seguir a fim de atrair a atenção dos que estão no Mundo Físico.
Há mil e um pontos de acordo entre as pessoas que são capazes de operar tanto no Mundo visível quanto no invisível. Além disso, a guerra atual está aumentando muito o número das pessoas capazes desse feito e, futuramente todos nós seremos capazes de fazê-lo, desde os menores até aos maiores. Será então uma faculdade normal como a visão e a audição. Gradualmente, estamos ficando mais relacionados com os Mundos invisíveis, e os pontos coincidentes são em número muito mais elevado que os pontos divergentes. Por esse motivo, não haverá dificuldade em aceitar as histórias do além.
(Perg. 59 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)