Do Merecimento de Cada Um
Não raro acontece encontrarmos na vida pessoas que habitualmente atribuem aos outros a causa dos seus malogros, quando não, à sua própria falta de sorte. Em princípio, sabe-se que a sorte não existe, que tudo o que nos acontece é sempre resultado de nosso próprio merecimento. Até aquilo que vulgarmente chamamos de “coisa feita”, “despacho”, “feitiço”, e que tem sido, em muitos casos, apontado como responsável por ocorrências funestas na vida das pessoas a quem se dirige, até aquilo, não deixa de ser fruto de um merecimento. Porque se não houver culpa nenhuma — ou do presente, ou do passado — não existirá força negativa capaz de causar danos a quem quer que seja. Temos de ter sempre em mente que a pureza de sentimentos, de ações, de viver, enfim, fecha todas as brechas, reforçando os pontos fracos que poderiam dar acesso a qualquer maldade exterior.
E, na ordem de pureza, deve ser reconhecida, não só a nossa constância no bem, em todos os instantes do dia, como também uma fé inabalável em nossa autoprojeção que será conquistada através de nossa permanência na luz, procurando evitar tudo o que possa facilitar qualquer incursão de forças negativas em nosso mundo interior. Principalmente no início de nossa jornada, será necessário evitarmos contatos com ambientes em que se pratica o espiritualismo de forma passiva; ambientes que possam favorecer qualquer fragilidade nossa, como por exemplo, sortistas e adivinhos. Aliás, já o fato de sentirmos interesse ou necessidade de tais “apoios”, significa por si mesmo uma fragilidade em nosso campo de força interno.
Isso porque só o semelhante atrai o semelhante. E, se aceitamos certas ideias espiritualistas, e ainda mais se convivemos com elas por anos e anos, fazendo delas nossa forma de vida, não se justifica o fato de não encontrarmos nossas mesmas ideias — que já se devem ter transformado em vivência — não se justifica, repetimos, a necessidade de partilhar de outras ideias, nem que o façamos levados apenas por uma simples curiosidade. E, se alguém, por acaso pensar que há muita rigidez nesse modo de proceder, que uma vez possuindo força própria conquistada no bem realizado, não haverá razão para temermos outros ambientes ou outras ideias contrárias às nossas, será bom que analise as verdadeiras razões que o estarão induzindo a procurar outros canais de força. Tenhamos em mente que liberdade total nesse sentido só será real, deixando de se constituir em prejuízo, quando não houver mais nenhum interesse pessoal, nenhuma atração íntima a esses contatos, mas apenas uma imparcial e sincera necessidade da prática do Serviço que, de outra maneira talvez não fosse possível em tais meios.
Quando isso acontecer, estaremos amparados por nossos próprios recursos internos e, então, nada teremos a temer, nem da vida, nem das criaturas, tanto encarnadas como desencarnadas.
Portanto, se alguém chegar a sofrer alguma vez esse tipo de tentativa destrutiva por parte de um semelhante mais atrasado, não esqueça que o merecimento próprio será a sua melhor proteção, seu melhor apoio. Lembre-se que se tiver sido persistente no certo, essa proteção há de fazer-se notar de uma forma ou de outra, dependendo do seu grau de entendimento e aceitação das coisas. Melhor dizendo, sempre que estivermos no ponto de merecer auxílio das forças superiores, havemos de ter, um vislumbre que seja, ou das orações a serem feitas, ou de algum sacrifício necessário, ou de alguma atitude mental de despreocupação, ou ainda, de outro qualquer recurso positivo que deverá ser empregado no caso.
Uma coisa é bem clara: quem já penetrou um pouco mais na consciência de si mesmo, jamais pensará sequer em lançar mão, para se defender, de um recurso semelhante ao impacto negativo recebido. Seu próprio estado de merecimento não justificará tal reação, na certeza de que esse não seria o recurso acertado para libertar-se do jugo que lhe foi imposto.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de set/1973)