Efeitos da Oração
A oração é sempre seguida de um resultado, desde que feita em condições convenientes. “Nunca homem algum orou sem aprender alguma coisa.”, escreveu Ralph Waldo Emerson. No entanto, o orar é considerado pelos homens modernos um hábito que caiu em desuso, uma superstição ou um resto de barbarismo. Por isso, ignoramos quase que completamente os seus efeitos.
Quais são, de fato, as causas dessa ignorância? Em primeiro lugar, a raridade da oração. O sentido do sagrado está prestes a desaparecer entre os civilizados, sendo provável que o número dos franceses que oram não vá além de 4 ou 5% da população. Depois, a oração é muitas vezes estéril, visto que a maior parte dos que oram seja egoísta, mentirosa, orgulhosa e farisaica, incapaz de fé e de amor. Por último, os seus efeitos, quando se chegam a produzir, escapam-se muitas vezes. A resposta aos nossos pedidos e ao nosso amor é dada usualmente de forma lenta, insensível e quase inaudível. A débil voz que murmura essa resposta, no mais íntimo de nós, é facilmente abafada pelos ruídos do mundo e os próprios resultados materiais da oração são obscuros, pois são confundidos geralmente com outros fenômenos. Poucas pessoas, mesmo entre os padres, têm tido ocasião de observá-los de forma precisa. Os próprios médicos, por falta de interesse, deixam muitas vezes sem estudo certos casos que se encontram ao seu alcance.
Por outro lado, os observadores ficam muitas vezes desnorteados pelo fato de que a resposta esteja, em muitos casos, longe de ser aquela que se esperava.
Assim, aquele que implora a cura de uma doença orgânica, continua doente, mas sofre uma profunda e inexplicável transformação moral. No entanto, o hábito da oração, embora seja uma exceção no conjunto da população, é relativamente frequente nos agrupamentos. E é nesses agrupamentos que se torna ainda possível estudar a sua influência. Entre os seus inumeráveis efeitos, o médico tem a oportunidade de observar, sobretudo, aqueles que se chamam psicofisiológicos e curativos.
São os efeitos curativos da oração que, em todas as épocas, têm despertado principalmente a atenção dos homens. Hoje ainda é corrente, nos meios em que se reza, ouvir-se falar de curas obtidas graças às súplicas dirigidas a Deus e aos seus Santos. Mas, quando se trata de doenças suscetíveis de se curarem espontaneamente ou com ajuda de medicamento vulgar, é difícil saber qual foi o verdadeiro agente da cura.
Apenas em casos em que a terapêutica é inaplicável ou em que ela não produziu efeitos é que os resultados da oração podem ser verificados de forma segura. A repartição médica de Lourdes tem prestado grande serviço à ciência, demonstrando a realidade dessas curas. A oração tem, por vezes, um efeito que poderemos chamar de explosivo. Há doentes que têm sido curados quase que instantaneamente de afecções tal como o Lupus facial, o câncer, as infecções renais, a tuberculose pulmonar, a tuberculose óssea, a tuberculose peritoneal e tantas outras doenças. O fenômeno produz-se quase sempre da mesma maneira: uma grande dor e, em seguida, a percepção de que se esteja curada. Em alguns segundos ou, quando muito, em algumas horas, os sintomas desaparecem e as lesões orgânicas cicatrizam-se.
O milagre é caracterizado por uma extrema aceleração dos processos normais de cura. E nunca tal aceleração foi observada, até o presente, no decorrer de experiências feitas por cirurgiões e fisiologistas.
Para que esses fenômenos se produzam não há necessidade de que o doente ore, pois foram curadas em Lourdes criancinhas que ainda não falavam e até pessoas descrentes; alguém, porém, orava por elas. A oração feita por outrem é sempre mais fecunda do que a feita pela própria pessoa. É da intensidade e da qualidade da prece que parece depender o seu efeito. Em Lourdes, os milagres são muito menos frequentes do que eram há 100 anos. É que os doentes já não encontram aquela atmosfera de profundo recolhimento que reinava outrora: os peregrinos tornaram-se turistas e suas preces são ineficazes.
Tais são os resultados da oração de que eu tenho um conhecimento certo. No entanto, ao lado desses, há muitos outros. A história dos Santos, mesmo dos mais modernos, relata-nos muitos fatos maravilhosos e não há dúvida de que a maior parte dos milagres atribuídos, por exemplo, ao Cura d’Ars, sejam absolutamente verídicos. Esse conjunto de fenômenos conduz-nos a um novo, cuja exploração não foi ainda iniciada, mas que será fértil em surpresas. O que já sabemos, de forma segura, é que a oração produza efeitos palpáveis. Por muito estéril que isso nos possa parecer, devemos considerar como verdadeiro: quem pede, recebe; a porta sempre se abre a quem bate.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de novembro de 1970)