Que o Mundo todo se Rejubile!
Música sempre encantou as Fadas e, por muito tempo, cinco delas permaneciam quietinhas, ajoelhadas próximas a uma janela aberta, ouvindo as crianças cantarem. Nenhum dos meninos e das meninas, que juntos ensaiavam sua canção para o Serviço da Páscoa, sabiam que elas estavam ali.
As vozes claras e jovens fundiam-se no ar, e as Fadas ali permaneciam reverentemente e ouviam cada palavra de louvor enquanto as crianças cantavam:
“Ele ascendeu, Ele ascendeu resplandecente,
Vamos proclamar isto alegremente;
De sua prisão de três dias, Ele se libertou,
E o mundo todo se rejubilou”.
As Fadas pularam para o peitoril da janela, impelidas pela beleza e encantamento da música. Elas permaneciam em fila na borda estreita da janela, suas faces erguidas, em adoração, por encontrar o amoroso poder do Cristo Nascido e, mesmo assim, as crianças não perceberam sua presença. Mesmo quando a música parou e as crianças se prepararam para voltar às suas casas, nenhuma delas notou que as fadinhas as olhavam.
Enquanto as Fadas olhavam, elas também escutavam o que a professora de música dizia às crianças.
— Quando vocês desfilarem amanhã de manhã, ela disse, cada uma de vocês carregará um vasinho com o Lírio da Páscoa.
As crianças bateram palmas de alegria.
— E, continuou a professora, quando vocês chegarem ao tablado, por favor, coloquem ali os seus vasinhos.
Ela dirigiu-se ao tablado e as crianças a seguiram para aprender o que deveriam fazer.
Mas, as Fadas não esperaram para ver ou ouvir mais nada. Elas flutuaram graciosamente para o chão e correram a fim de reunir alguns equipamentos que certamente ajudariam na grande ocasião. Não havia tempo a perder, porque o dia seguinte era Domingo de Páscoa.
Sem qualquer embaraço, as Fadas dirigiram-se a uma árvore e voltaram em um minuto. Uma delas carregava uma vassoura. Era feita de penas, tão suave como a chuva recém caída.
— Eu vou varrer as folhas dos lírios e fazê-las brilhar, ela cantarolou.
A segunda Fada segurava um pano de pó. Era grande e inteiramente tecido de teia de aranha.
— Tirarei o pó das pétalas, uma por uma, ela disse, e elas estarão radiantemente brancas para a manhã da Páscoa.
A líder das Fadas quase caiu do tronco da árvore, tão grande era sua carga. Ela carregava um enorme sabão de aroma de eucalipto, uma escova de cerdas de raios lunares torcidos e uma toalha que se arrastava no chão, debaixo de seus pés, de tão grande que era.
As outras duas Fadas tinham mãos com o poder de cura. Assim, usavam-nas para restaurar as plantas machucadas e descoloridas, devolvendo-lhes a beleza. Elas tinham um coração amoroso e, com o sussurro de suas doces vozes, convidavam os insetos a se retirarem dos botões e das flores onde frequentemente dormiam. Todas as fadas tinham um alegre senso de sua própria responsabilidade para tornar os lírios muito bonitos para o Domingo de Páscoa.
— Alguém sabe onde estão os vasinhos de lírio? – Perguntou a fada com a vassoura. Ninguém sabia!
— O que devemos fazer? – Gritavam as outras, em desespero.
A líder estendeu a toalha no chão e sentou-se nela, cruzando suas pernas enquanto pensava.
— Rápido! Ela gritou finalmente. Vamos voltar para o peitoril da janela antes que seja tarde demais. Talvez devêssemos escutar mais do que a professora de música tem a dizer às crianças.
Numa nuvem de esperança e felicidade, as fadas voltaram à janela para espiar de novo, mas era muito tarde. Não havia ninguém à volta. Mais uma vez, sua líder sentou-se de pernas cruzadas para pensar.
— Há mais janelas!
E lá se foram as Fadas espiar em todas as outras salas. Em frente a uma delas havia uma mesa, um telefone e lá estava a professora de música. As Fadas ouviram atentamente o que ela dizia:
— É da Floricultura Tempo-Feliz? Ela perguntou ao telefone.
E as pequeninas Fadas quase caíram do peitoril da janela de tão excitadas que estavam. E estavam tão excitadas que nem a ouviram perguntar sobre os lírios. Mas, uma outra voz bem longínqua, saiu do aparelho e desta vez as Fadas conseguiram ouvir.
— Os vinte e cinco vasinhos de lírios estarão prontos para as crianças no Domingo pela manhã, disse a voz distante.
As quatro fadinhas não esperaram para ouvir mais nada. Elas pularam para o chão e se aproximaram de sua líder, dizendo-lhe o que tinham ouvido.
— Continuem com seu trabalho normalmente, ela disse, até ao pôr-do-sol. Quando o último raio desaparecer no céu, ao anoitecer, encontremo-nos aqui. Enquanto isso localizarei a Floricultura e voltarei para levar vocês até lá na quietude da noite.
Todas concordaram e quatro Fadas voltaram a seu trabalho costumeiro de formar as folhas e as flores das plantas e das árvores. A fada líder flutuou sobre sua toalha por todo o local, como se estivesse sobre um tapete mágico. Enquanto ela estava fora, as outras não podiam pensar em nada além dos vasinhos de lírios e nas crianças que cantavam. Elas cantarolavam ao ouvido de cada planta sobre a qual trabalhavam, instilando em cada uma delas amor pela vida ressuscitada. Muitas formas lindas surgiam, enquanto elas cantavam suavemente:
“Abençoado Senhor, vamos todos adorar-Te,
Os Santos na Terra e os Santos nos céus juntamente;
Todas as criaturas vão reverenciar-Te,
Por Tua vida ter-lhes dado, amorosamente”.
Os pássaros ouviam e as borboletas ouviam e também ouviam as abelhas e os insetos. Uma por uma, elas elevavam no ar o alegre refrão, enchendo o mundo com sua música. Assim, toda a Terra rejubilava.
Enquanto isso, a Fada líder localizara a Floricultura Tempo-Feliz. Lá dentro, numa fileira suntuosa, estavam vinte e cinco vasinhos de flores. Em cada um deles havia um lírio branco. O Elfo ergueu seus olhos para dizer, “Obrigado” e, quando olhou para o céu, o Sol derramava seu último raio na tarde calma. Rapidamente a Fada líder juntou-se às outras.
— Tudo está pronto, anunciou. Iremos imediatamente à Floricultura.
Durante toda a noite elas trabalharam na Floricultura, escovando, tirando a poeira, limpando, até que todos os vasinhos de lírios brilhassem. Elas abriram os botões para enchê-los de luz e muitos dos insetos, ali alojados, saíram. Suas mãos curadoras, gentilmente, tratavam dos botões que estavam feridos e descoloridos e sussurravam uma prece de bênção para cada um. Quando o primeiro raio de Sol despontou para iluminar a Floricultura na Manhã de Páscoa, cada lírio estava limpo, inteiro e radiantemente branco.
A líder das Fadas sentou-se de pernas cruzadas sobre uma folha para avaliar o trabalho que tinham feito. A vassoura e o pano de pó continuaram a polir, mesmo onde não havia mais necessidade. Outros insetos saíram dos botões: um par de mãos curadoras transformaram o último botão ferido num botão saudável, e as Fadas declararam que seu trabalho estava terminado.
— Está bem, elas disseram, pois agora até os lírios cantarão ao Cristo ressuscitado.
Elas voltaram às suas casas nas árvores e esperaram o soar dos sinos que chamavam as pessoas para o Serviço da Páscoa. Vestidas com seus melhores trajes de festa, as Fadas sentaram-se em silêncio no peitoril da janela para tomar parte na cerimônia. Nenhum dos participantes suspeitou que elas estivessem lá. Todos olhavam para uma coroa de rosas vermelhas colocadas numa cruz branca.
Uma estrela dourada, luminosa, num fundo azul, brilhava como um halo de luz e amor atrás da cruz florida, e as Fadas, com suas bocas minúsculas, sussurravam eloquentes “o-o-o-s”. A música do órgão vibrava pela sala e ressoava em cada coração enquanto as crianças entravam. Os meninos e as meninas, cada qual carregando um brilhante Lírio de Páscoa, cantavam mais triunfalmente do que nunca:
“Aleluia! Aleluia!
Cristo ressuscitou”.
E as Fadas ouviram os lírios cantarem também.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. III – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)