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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Círculo de Fadas

O Círculo de Fadas

Peça de um ato, em verso, para crianças.

Helen M. Mann

(Ao levantar da cortina, vê-se doze fadas de mãos dadas, dançando ao redor de um círculo. Todas estão cantando. O Sol se põe e, ao fundo, pode ser visto o tronco de uma grande árvore como se estivesse na clareira de uma floresta).

A CANÇÃO DAS FADAS

Em grande júbilo, nós dançamos e cantamos,

Por toda a beleza que vemos.

Para vocês, queridos amigos, nós sorrimos e vivemos,

O nosso amor é puro e verdadeiro e nós nele acreditamos.

Vocês disseram que nós vivemos e assim fazemos.

Acreditem numa coisa e é verdade, ela vai acontecer.

Tenham pensamentos amorosos e o amor vai estar

Em todos os lugares em que vocês o possam ver.

(As fadas desfazem o círculo e saem do palco. Enquanto desaparecem, vão cantando novamente):

Tenham pensamentos amorosos e o amor vai estar

Em todos os lugares em que vocês o possam ver.

(Assim que as fadas deixam o palco, um menino e uma menina aparecem vindos do outro lado. A menina vê o círculo que as fadas fizeram para poderem dançar e vai em direção dele).

MENINA

Oh! irmão, olhe e venha me dizer,

O que é isto que meus olhos estão a ver?

MENINO

Um círculo de fadas, um círculo de fadas vemos!

Agora tudo temos.

(Ele se aproxima)

MENINA

Mas, querido irmão, por favor não se aproxime,

O círculo pode algum mal lhe fazer.

Agora, que coisa engraçada é essa que eu ouço?

Aquela forma tão estranha que eu estou a ver?

(A menina olha para o tronco da árvore enquanto fala).

MENINO

Não vejo nada além deste círculo.

Nenhum barulho estou a escutar.

Mas venha e cante dentro desta roda,

Onde o mal não ousa se aproximar.

(Ambos entram no círculo, juntam as mãos e cantam).

CANÇÃO

Oh queridas fadas, tanto as de perto como as de longe,

Por favor, nosso pedido procure ouvir,

Venham brincar conosco e não tenham medo,

Pois o anoitecer já se faz sentir.

(As sombras aumentam, mas um raio de luz bate no tronco da árvore que se abre e revela um duende vermelho e verde dentro dela. Ele sorri e vem para a frente).

DUENDE

Oh crianças, venham, brinquem comigo;

Eu sou agradável de se ver.

Eu chamo os patos ou cisnes;

(Eles aparecem por detrás do palco)

Em vocês, rabos ou chifres eu farei nascer.

(As crianças ficam assustadas ao ouvir isso e olham para ver se neles já tinham crescido, mas ficam aliviados ao perceber que não).

Em qualquer lugar, eu posso fazê-los crescer,

Menos dentro do círculo que estamos a ver.

(As crianças aconchegam-se e permanecem bem dentro do círculo).

Eu peço, não tenham medo, por certo,

Mas venham um pouco mais para perto.

(Agora o pato e o cisne ficam em evidência. O cisne vem direto para o círculo, mas não entra nele. Anda orgulhosamente ao redor do círculo e o pato se bamboleia atrás).

CISNE

É um mau duende aquele, vocês podem ver.

Tomem cuidado!

Ele chamará vocês, mas não o vão atender.

Tomem cuidado!

As fadas novamente voltarão.

Que bom!

E como aquele duende vai fugir, então.

Que bom!

PATO

É melhor ficarem onde estão agora.

Eu faço esta declaração.

Pois apesar de estarem próximo, estão bem longe e fora.

Eu faço esta declaração.

E o duende não os alcançará mais, não.

Quack!

De qualquer forma, eu não me importo, não.

Quack!

(O cisne sai do palco quando diz isso e o pato vai se rebolando atrás dele. O duende que os estivera observando o tempo todo, corre de volta à sua árvore quando ouve uma música suave no palco. Parecia haver vozes à distância, mas elas tornavam-se cada vez mais altas, até que as fadas apareceram).

FADAS

Flores do pôr do Sol e flores do orvalho,

Oh! quanto nós vos amamos.

Tristeza da sombra e tristeza da noite,

Tomem vossa direção.

Viemos com nosso sorriso e nossa música

Efetuar a perseguição.

Estivemos no mundo onde os humanos vivem

E a eles demos satisfação.

(Quando as fadas aparecem, o duende fecha-se na árvore, desaparecendo de vista. A menina está de costas quando as fadas se aproximam e, de início, não as vê).

MENINA

Eu ouço vozes, ó querido irmão,

Distantes a princípio, mas mais claras estão se tornando.

Precisamos ir embora, as fadas estão chegando.

Se elas nos encontrarem aqui, o que dirão?

FADAS

Não temam, queridas crianças e, por favor, não se vão.

MENINA

Eu estou tremendo, irmão, ó irmão.

FADAS

Sobre toda a terra, as sombras estão se insinuando.

Ah! O príncipe do grupo das fadas está chegando.

(As fadas estão agora próximas do círculo, mas olham ao redor quando o príncipe, todo elegante, vestido em púrpura e branco, entra. Ele está cantarolando uma melodia, mas para de cantar assim que vê as crianças e parece surpreso, mas feliz. O menino dá um passo para trás, em evidente surpresa e adoração).

MENINO

Por que meu coração bate tão rapidamente?

O príncipe, o príncipe das fadas, finalmente.

(O príncipe sorri e vai em direção ao menino).

PRÍNCIPE

Venha, meu querido amigo, eu lhe dou as boas vindas,

E você verá que é sincera a minha saudação.

Para sua irmã, meus súditos dançarão,

Um presente eu lhes enviarei e com cuidado vocês o guardarão.

(A luz vai lentamente se apagando. As crianças ainda estão no círculo e o príncipe faz a elas uma grande reverência e depois vira-se para as fadas).

PRÍNCIPE

Minhas fadas, dancem, dancem,

Enquanto eu trago riquezas

Minhas fadas, dancem, dancem

Enquanto cantam belezas.

(Está completamente escuro agora, menos para a Lua que se eleva e que envia sua luz sobre as duas crianças, que estão dentro do círculo. As fadas dançam em torno delas, vivamente a princípio, depois cada vez mais vagarosamente, cantando uma cantiga de ninar).

AS FADAS CANTAM SUAVEMENTE

No mais lindo esplendor, a Lua se levantou,

Enquanto na brisa da noite dançamos.

E suas tranças de longos cabelos prateados lançou

Sobre o topo das árvores que enxergamos.

(A menina olha por cima do ombro).

MENINA

A Lua se levantou, irmão!

(A voz do duende se ouve atrás).

Vocês estão numa prisão.

(As crianças ficam perplexas, mas como as fadas recomeçam suas canções, elas sentam-se e ouvem quietamente).

CANÇÃO DAS FADAS

O sono virá com as estrelas no céu, suavemente.

As lembranças do prazer e da dor fugirão.

Durmam, durmam, gentil e docemente,

E os desejos do mundo dos sonhos acontecerão.

(Vagarosamente as fadas saem, cantarolando. As crianças estão dormindo profundamente, um nos braços do outro. O príncipe retorna e vendo-os dormindo, inclina-se sobre eles).

PRÍNCIPE

Crianças, crianças, saibam que nós somos reais,

Não importa o que OS adultos digam.

Ó, queridas crianças, vocês podem perceber

Que dançamos enquanto vocês brincam?

Doces sonhos, sonhos de paz para ver!

Voltem outro dia, novamente,

E por que não viver alegremente?

(O príncipe se retira e quando parte, um raio de luar atinge o tronco da árvore. Esta se abre imediatamente e surge o duende. Ele se dirige às crianças, mas fica parado bem fora do círculo).

DUENDE

Ugh! Ugh! Ugh! Eu não os pude ter,

Mas esperem — Ugh! Ugh! — até a próxima ocasião.

Esperem para ver o que vou fazer

Com aqueles poderes mágicos na mão!

(Ouve-se uma doce voz de mulher, que se aproxima. O duende a ouve e parece apreensivo e assustado. Ele lança um olhar carrancudo para as crianças adormecidas e corre de volta ao tronco da árvore, que se fecha, tirando-o da vista. Uma linda jovem aparece. Quando vê as crianças adormecidas, vai até elas, toma-as em seus braços e segura-as bem próximo a ela).

MULHER

Eu segui um caminho ao longo de um muro,

Onde crescem lindas flores.

Esse pequeno caminho disse-me tudo realmente

E dirigiu-me para vocês diretamente.

(Quando a mãe disse isso, o tronco da árvore caiu ao chão fazendo um grande barulho, mas como é um mal desconhecido para a mãe, ela não ouve o barulho e inclina-se amorosamente sobre as crianças).

(CORTINA)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Palácio sob o Grande Carvalho

O Palácio sob o Grande Carvalho

— Oh, vocês horríveis criaturas! Vão embora. Vão embora! Disse Rosália, batendo o pezinho. As lágrimas saltaram de seus olhos, e com lábios trêmulos repetia: “Vão embora!”.

Naquele momento, os Pensamentos Secretos a beijaram, dizendo:

— Oh! Rosália, querida, lembre-se, esta manhã você prometeu: Eu serei bondosa com todas as criaturas viventes. Depois, os Pensamentos Secretos enxugaram delicadamente suas lágrimas, sussurrando: peça desculpas às formigas por não ter sido delicada.

Rosália estava envergonhada; ficou em silêncio por alguns minutos e depois admitiu:

— Sinto muito, de verdade; mas, vocês sabem, eu nunca tive uma fatia de bolo de casamento. Eu o deixei por um minuto e, quando voltei para pegá-lo, ele estava coberto de formigas pretas.

Uma risada vinda de algum lugar fez o rosto da menina brilhar e ela chamou, sorrindo:

— Onde está você, duende Elkin.

— Se der mais um passo eu estarei embaixo de seu pé, disse ele.

Isso fez Rosália gargalhar. Depois, ela olhou, parecendo um pouco triste quando comentou:

— Você ouviu o que eu disse há um minuto atrás, Elkin?

— Sim, eu ouvi, respondeu o duende. Mas, já que você está mesmo arrependida, é melhor esquecer tudo. O problema é que você não conhece as coisas maravilhosas que estão ao seu redor. Venha comigo e eu a levarei a um verdadeiro palácio real. Não deixe de levar a Bondade do Coração, pois o Amor reina neste palácio da colina.

Rosália atravessou o jardim, seguindo Elkin e tentando imaginar em que lugar poderia haver um palácio. Ela nunca tinha ouvido falar que existia um por ali, mas, nem por um minuto, duvidou do duende. Finalmente, pararam embaixo do carvalho grande. Rosália olhou ao redor e depois para Elkin. Ele estava sorrindo e olhando para frente.

— Onde está o palácio?, ela sussurrou.

Elkin apontou para o formigueiro embaixo do grande carvalho.

— Um palácio!, exclamou Rosália.

— Sim, um palácio, riu Elkin, e nós chegamos bem na hora do casamento.

Acima do solo, o palácio de formigas era feito de uma estranha mistura de pedaços de folhas, talos de plantas, um pouco de musgo e pedrinhas, tudo unido com um pouco de terra. No subsolo, havia túneis, longas passagens, grandes salões e galerias, cada um com uma utilidade especial. O interior do formigueiro parecia uma cidade em miniatura, com suas ruas e muitas casas.

— Dentro do palácio, disse Elkin, existem muitos cômodos e as formigas que moram aí são muito atarefadas. No palácio moram muitas formigas-rainhas e centenas de formigas crianças. Elas já foram minúsculos ovos, depois transformaram-se em formiguinhas engraçadinhas, brancas e roliças, sem mãos, nem pés. Elas tinham que ser alimentadas como filhotes de passarinhos. Não tomavam banho sozinhas e precisavam de alguém que tomasse conta delas. Mas agora já estão crescidas e hoje é o dia de seu casamento. As noivas estão radiantes em seus vestidos pretos com detalhes vermelhos, calçando minúsculos sapatinhos, também vermelhos. Preste atenção em suas asas transparentes, Rosália, pois elas usam asas no lugar de véus. Os noivos estão todos vestidos de preto. Eles também têm asas. Tudo é reboliço dentro do palácio escuro, pois esta será a primeira viagem das princesas reais ao vasto mundo.

— Princesas! Exclamou Rosália.

— Sim, princesas, disse Elkin. Cada noiva é uma princesa de sangue real. Sente-se, Rosália, e fique atenta quando os portões do palácio se abrirem.

— Quem toma conta das rainhas, das princesas e dos bebês? – Perguntou Rosália.

— Os escravos fazem todo o trabalho, respondeu Elkin. Há milhares deles em todos os formigueiros, pois há sempre muito trabalho a ser feito. Eles não têm asas e assim não podem fugir. Alguns são construtores, cavam túneis e constroem pontes. Eles estão ajudando o reino mineral, transformando a terra em pó. Outros conservam as ruas limpas. Alguns trabalham no palácio e servem as outras formigas. Outros ainda, saem para tirar leite das formigas-vacas para alimentar as bebês formigas. Esse leite é tão doce que é chamado de gotas de mel, e os filhotes gostam muito dele. Os escravos alimentam as rainhas e princesas, mantendo-as sempre felizes. Outros arrumam os enormes salões, limpando os pedacinhos de grama e palha!

Nesse momento, os portões do palácio se abriram e por eles entraram os escravos, deixando tudo em ordem para a festa do casamento. Quando tudo estava pronto, centenas de casais deixaram o palácio alegremente. Oh, como as formigas estavam contentes por verem, pela primeira vez, a luz do Sol! Elas subiram nas mais belas flores, esticaram-se e abriram suas asas transparentes. Como era bom sentir o ar morno! Oh, como era lindo lá fora. Então, todas elas levantaram voo ao mesmo tempo e voaram alto, alto, cada vez mais alto, a perder de vista.

— Onde elas foram? – Sussurrou Rosália para Elkin.

Para muito longe daqui, mas elas voltarão amanhã disse Elkin. E, quando voltarem, as noivas estarão diferentes, pois terão perdidos suas lindas asas, seus véus de núpcias. Elas voltarão para o palácio escuro e viverão exatamente como as outras rainhas têm vivido. Elas botarão ovos e terão seus filhotes formigas.

— E o que os noivos formigas farão?

— Oh, eles nunca mais entrarão no palácio. Só rainhas e escravos vivem neste palácio embaixo do grande carvalho.

— Eu realmente sinto muito por ter sido tão tolinha. Imagine, Elkin, eu não sabia que as formiguinhas eram tão maravilhosas. Pensei que elas fossem apenas insetos rastejantes.

De repente, um pensamento surgiu na mente de Rosália:

— Elkin, deve ter sido algum escravo que pegou o meu bolo — eles queriam migalhas para a festa do casamento, você não acha?

— Bem, eu não ficaria surpreso se assim fosse! De qualquer modo, vamos fingir que foi. Vá agora, Rosália, eu tenho que continuar o meu trabalho. Tchau.

E Elkin foi embora.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Bolinha Marrom

A Bolinha Marrom

Uma noite, no Jardim dos Encantos, onde os espíritos das flores brilhavam como faíscas de luz, a Mãe Natureza chamou seus filhos lírios e lhes disse:

— De todas as minhas filhas flores, vocês parecem ser as mais bonitas. Suas cores são tão radiosas e sua fragrância tão doce, que é difícil escolher a mais formosa. Isso fez com que os lírios ficassem felizes, inclinando-se com respeito.

Mas o lírio vermelho, um dos mais radiosos, era um pouco petulante e comentou audaciosamente:

— Eu sou muito admirado e tido como o favorito pelas crianças da Terra. Se você tiver alguma mensagem para elas, eu a levarei.

A Mãe Natureza sorrindo, disse:

— Sim, eu tenho uma mensagem e você pode levá-la se estiver disposto a perder sua beleza e ser envolto em uma áspera bola marrom para ser atirada e, por fim, colocada profundamente na terra, bem escondida dos olhares admiradores das crianças.

O lírio ficou um pouco mais vermelho e disse:

— Oh! Não, eu não poderia perder a minha beleza nem por um instante. As crianças da Terra me adoram e elogiam e eu gosto disso.

A Mãe Natureza respondeu docemente:

— Então, Lírio Vermelho, você não pode levar a mensagem.

Em grande calma, as luzes das flores flutuavam entre as sombras no Jardim dos Encantados. Dali a pouco um delicado lírio azul sussurrou:

— Mãe Natureza, talvez eu possa levar a mensagem.

— Você está disposto a deixar de lado suas delicadas vestes e usar um feio envoltório marrom e dormir nas profundezas da terra, para que as crianças da Terra possam aprender, por meio de seu sacrifício, as lições da vida eterna?

— Mas meu vestido é como o azul do céu e as crianças da Terra gostam dele. Não, eu não posso trocar o meu delicado vestido azul por um feio envoltório marrom. E o lírio azul abaixou a cabeça.

O coração da Mãe Natureza sofreu um pouco, porque ela não gostava de ver os seus filhos lírios tão egoístas. Estivera sempre tão satisfeita com eles, entretanto, nenhum estava disposto a fazer um pequeno sacrifício. Mas, mesmo assim, deu-lhes uma outra oportunidade.

— Venham cá, crianças, mais perto de mim, eu vou contar qual é a mensagem. Algumas das crianças da Terra estão com muito medo, medo da morte. Assim, elas devem aprender que todas as coisas adormecem por algum tempo e depois tomam novos corpos. Mais uma vez eu pergunto: qual de vocês irá mostrar que, através do sono, elas poderão entrar numa vida muito mais bela?

Tudo estava calmo e quieto quando uma voz suave murmurou:

— As crianças da Terra dizem que eu sou frágil e branco, Mãe Natureza. Talvez eu não tenha beleza para perder e não me importaria de ficar preso numa bola apertada.

— Querido Lírio, disse a Mãe Natureza, você é uma criança corajosa: vai perder sua beleza por algum tempo, porém esse serviço de amor vai torná-lo ainda mais belo.

Então, a centelha de vida do lírio foi colocada cuidadosamente numa pequena bola marrom. A Mãe Natureza vigiou carinhosamente este momento, esperando até que as crianças da Terra estivessem prontas para receber a mensagem.

Dick e Rosalie estavam jogando bola. De repente, Rosalie deixou-a escapar e ela saiu correndo atrás da bola que rolou pela aleia do jardim. Pegando o que pensou que fosse a bola, jogou-a de volta para Dick.

Você deveria tê-lo ouvido rir, quando ele perguntou a ela:

— Que é isto? Eu joguei para você uma bola de borracha macia e esta bolinha marrom é dura como pedra.

— Deixe-me vê-la, disse Rosalie, e Dick arremessou a bola para ela.

Então, Rosalie riu também e disse:

— Não é uma bola, é um bulbo. Espere, eu vou colocá-lo no chão e procurar a nossa bola.

Ela colocou o pequeno bulbo marrom na terra, encontrou a bola de borracha e eles continuaram a jogar.

A bolinha marrom sentiu-se só na escuridão, embaixo da terra, impedida de ver a luz do Sol. De repente, ouviu-se um zumbido e um voz que disse:

— Olhe! Aqui está um recém-chegado. Vamos ajudá-lo, pois ele não pode ficar aí enterrado desse jeito.

Então, o lírio do jardim perguntou.

— Quem são vocês?

— Somos os pequenos Espíritos da Natureza e trabalhamos com as flores. Você é um bulbo de lírio, não é? Você precisa esticar seus braços e suas pernas e nós o ajudaremos.

— Mas eu não tenho braços, nem pernas, disse a bolinha marrom.

— É, ainda não, mas você terá logo, se fizer o que nós mandarmos.

Um estranho sentimento tomou conta do bulbo.

— Ora, que será isto? Perguntou-se o lírio.

— Venha, chamou o Espírito da Natureza, não precisa ter medo de nós.

Aquele tremor era medo? Ele não tinha vindo ensinar às crianças da Terra a não ter medo? Sim, ele iria fazer o que os Espíritos da Natureza mandassem.

— Venha agora, e eu o ajudarei a sair de si próprio, chamou o duende.

Snap! Alguma coisa rachou.

— Dê-me sua mão e estique-a. Muito bem!

— Oh, exclamou o lírio, eu nunca soube que tivesse mão.

— Bem, se você deixar que nós o ajudemos, logo estará pronto para dar a mensagem, disse o duende.

— Você sabe sobre a mensagem? Perguntou o lírio.

— Claro, disse o duende, todos os filhos da Mãe Natureza sabem o segredo.

Uma voz vinda de algum lugar ordenou:

— Estique seu pé para baixo, assim. Não ligue para o escuro. Isto, muito bem! Agora tente de novo.

Snap, crack!

— Oh, exclamou o lírio, eu tenho tantos pés!

Então, os Espíritos da Natureza ajudaram o lírio a se esticar até que todos os pezinhos estivessem firmemente cravados na terra e as mãozinhas estendidas para cima, rumo aos raios de Sol. Todos os dias, os suaves pingos de chuva, os raios dançantes do Sol e os Espíritos da Natureza ajudavam o lírio a sair de si mesmo, até que, finalmente, longos talos verdes cresceram na direção do Sol. E, um dia, o lírio abriu seu coração de ouro — um bonito lírio branco.

Passos leves foram ouvidos pelos caminhos do jardim. O lírio prestou atenção. Depois ouviu alguém exclamar alegremente:

— Oh, que lindo lírio branco! Exclamou Rosalie. Que flor mais formosa! Sua alma deve ser muito bonita para ter esse perfume tão doce!

Depois, ela exclamou:

— Ora, duende, que você está fazendo aqui?

— Estou ajudando este lírio a dar a mensagem da Mãe Natureza para vocês, crianças da Terra, respondeu o duende. Este lindo lírio é a bolinha marrom que você, brincando, jogou para Dick. Ele sacrificou sua beleza, por algum tempo, para fazer uma nobre ação.

A Mãe Natureza frequentemente dá lições de vida por meio de suas flores. As flores e os Espíritos da Natureza lembram o que as crianças da Terra, às vezes, esquecem: que a cada ano o grande Espírito da Terra deixa seu Reino de Felicidade e dá Sua vida para que toda a Natureza tenha vida. Então, durante a bonita estação da primavera, quando Seu trabalho está terminado, Ele volta para o Reino da Felicidade. As brisas da primavera, o trigo balançando ao vento, o canto dos pássaros, as flores alegres e as crianças felizes, todos se juntam numa canção de louvor ao Senhor da Vida, cujo Amor permanece com eles, dando esperança, alegria e felicidade a todas as crianças da Terra.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Duendes da Primavera

Os Duendes da Primavera

Tita estava aborrecida. E muito aborrecida.

As mesmas lições de música todos os dias, até num dia como hoje, belíssimo sábado ensolarado! Oh! não! O melhor mesmo seria sair de casa e ir brincar sozinha no bosque, à beira do regato. E assim fez Tita.

Deitou-se sobre a terra fresca. O córrego cantando para ela, e a canção do riacho eram como gorgolejos de alegria.

Ela se sentia, agora, tranquila e feliz. Fitava as brancas nuvens que passavam e desejou poder embarcar nelas.

Foi então que ouviu a música: tão suave, tão doce, mas tão débil a princípio que ela pensou tratar-se de uma vespa vagabunda. Mas não. Era algo diferente. Voltou, pois, a cabeça e procurou o músico.

A criaturinha era de fato muito pequena. Toda verde e brilhante. Cabelos amarelo-dourados cobriam-lhe o corpo como vestes transparentes. E tocava. Tocava um violino feito de duas das menores folhas de grama que podiam existir. Tita esfregou os olhos.

“Ah! até que enfim você pôde me ver!” A voz da criaturinha era cristalina como o som de um cubo de gelo sacudido num copo de cristal.

Tita a fitava atentamente, repleta de surpresa e espanto.

“Meu nome? Seeba” – disse a menina elfo como se estivesse lendo os pensamentos de Tita.

“Mas… que… que… por que. . .” – Tita gaguejou por fim, olhos arregalados.

“Ninguém consegue me ver” falou Seeba, novamente lendo seus pensamentos – “a menos que compreenda os espíritos da Natureza”.

Tita abriu a boca para uma pergunta, mas Seeba sorriu e acenou-lhe: “Vamos – disse – “vou lhe mostrar.”

Imediatamente Seeba cresceu até ficar tão grande quanto Tita, e juntas acharam-se as duas em uma enorme floresta. Gigantescas árvores e altas montanhas compunham o cenário. E também um turbulento e caudaloso rio, tão largo que-sua outra margem não podia ser vista. Tita olhava em volta amedrontada.

“Não” – disse Seeba – “tudo é o mesmo. Apenas você diminuiu até chegar ao meu tamanho. As árvores não passam de relvas, as montanhas são montículos de terra. E olhe o corregozinho” – finalizou apontando na direção do rio volumoso e agitado.

Seeba tomou-lhe as mãos. E juntas caminharam por aquela estranha terra, até chegarem a uma caverna. Tita pensava. Tinha tantas perguntas a fazer, mas por outro lado havia tanta coisa para ver! Gigantesca rocha erguia-se

próximo à entrada da caverna. Era uma rocha azul – estranhamente azul brilhante.

“Lembra-se daquela conta azul que você perdeu outro dia?” – perguntou Seeba, tocando a enorme rocha e sorrindo ante a expressão pasmada de Tita.

De súbito Tita não pôde reprimir um grito de pavor: uma enorme serpente se arrastava bem perto. Seeba amparou-a e disse calmamente:

“Uma minhoca. Ela carrega para longe os cascalhos e traz na volta terra adubada. Assim as flores podem crescer.”

Então as duas chegaram a um tronco que cruzava o túnel da caverna.

“A raiz de uma violeteira” – explicou Seeba abrindo um par de asas de seda que Tita jamais havia imaginado. E juntas passaram voando por sobre o tronco.

Tita já não podia ver nada. Estava escuro como a noite. Então ela percebeu uma fraca cintilação prata-esverdeada, que a pouco e pouco se aproximava e tornando-se mais intensa. Eram três ou quatro focos piscantes, e mais pareciam pássaros voando e transportando faróis intermitentes.

“Vagalumes” – disse Seeba. “Nosso sistema de iluminação.”

Aí elas avistaram um grupo de estranhos homenzinhos vestidos de marrom, levando nas mãos baldes vazios.

Gnomos” – esclareceu a graciosa Elfo que guiava Tita – “Eles recolhem orvalho nos baldes e regam as raízes das plantas”.

A seguir surgiu uma fileira de graciosas criaturinhas bem parecidas com Seeba. Algumas eram de cor laranja, outras eram cor de rosa, e outras eram verdes. Transportavam baldes cheios de orvalho, que despejavam em algumas raízes aqui e acolá.

Duendes da Primavera” – explicou Seeba, qual guia turista num ônibus de excursão. “Elas não se apressaram hoje, por isso estão chegando atrasadas.”

“Você também é um duende da Primavera?” – Perguntou Tita com voz, sumida, ainda receosa de tudo o que via.

“Oh sim! Estive no sul todo o inverno. Voltamos para o norte num grupo de nuvens há algumas semanas”.

Subitamente Seeba parou, empalideceu e começou a tremer. “A Rainha!” – Disse baixinho – “Ela vai me castigar.

Se pudesse me esconder em algum canto. Mas agora é tarde!”

Um brilho deslumbrante, de tom amarelo-dourado, feriu os olhos de Tita, e diante dela uma visão encantadora! A rainha era mais alta do que Seeba e usava um manto verde claro que resplandecia em todas as cores do arco-íris.

Seu cabelo tinha um tom azulado, mas não parecia absurdo. Tita lembrou-se de que jamais havia visto uma criatura tão linda. Mas os olhos da rainha faiscavam:

“Você não veio hoje tomar suas lições” – falou fitando Seeba. “Fugiu e foi brincar lá fora. Pois bem, por causa disso você ficará na caverna a noite toda., e não poderá subir nas nuvens. Apenas seu violino ficará com você.”

Seeba implorou:

“Esta noite vai chover, querida Rainha. Adoro montar nos pingos de chuva, além disso estarão chegando tanto novos duendes…”

Nesse momento surgiu a poucos passos outra enorme serpente. Tita esqueceu-se de que se tratava apenas de uma minhoca, e largou a correr. Corria cada vez mais depressa, até que se viu fora da caverna, em plena claridade do dia. E sozinha. Esfregando os olhos, parou e contemplou o que estava em volta. Devia ser muito tarde, pois o sol quase desaparecia no horizonte. Pesadas nuvens cinzentas se aproximaram. Tita não esperou mais. Correu para casa.

Naquela tarde ela tocou seu violino enquanto sua mãe tocava piano. Papai lia o seu jornal. Seu irmão Jan engraxava uma luva de baseball.

E aí Tita ouviu novamente aquela música. Suave, doce e quase inaudível como antes. Como sinos de fadas.

“Os duendes da Primavera”, disse excitada.

Seu irmão levantou os olhos e resmungou: “Ih! está chovendo! Assim, não mais poderemos jogar amanhã.”

Tita ergueu o rosto para ele. Como poderia um rapazinho saber? Mas ela compreendia. Os duendes da Primavera estavam chegando em profusão. Todo o esplendor da Primavera ia explodir agora! Os bosques e campos sentiriam a grande mágica! O que estaria fazendo Seeba neste momento? Montando em gotas de chuva ou tocando seu instrumento na caverna?

Tita apanhou seu violino e começou a tocar novamente. E a partir daquela tarde praticou suas lições de música com mais gosto e constância do que nunca.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. II – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

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