A datilógrafa tirou da máquina a ficha e começou a passar a borracha em um certo ponto. Havia errado e estava apagando. Primeiramente passou o lado de “tinta” para remover com mais força. Depois aplicou o lado branco, de “lápis”, para completar a limpeza do erro. Terminada a tarefa de raspagem virou a ficha e despejou os detritos no cesto de lixo. Era uma mistura de papel branco raspado, de borracha verde e branca.
Fiquei pensando nesse trabalho. Muitas vezes nos distraímos na vida e erramos. Um pensamento errado, um sentimento indesejável, um ato feio, são gravações íntimas que não condizem com nossa natureza espiritual.
Vale a pena rever as “fichas” de nossa vida diária, no exercício noturno da Retrospecção. Assim, podemos “apagar”, com o arrependimento sincero, o que, consciente ou inconscientemente, “escrevemos” de mal.
Parece que desse modo a vida vai mais devagar, mas a alma fica limpa… Assim, como nosso patrão nos avalia a eficiência pela segurança, honestidade, limpeza e discernimento demonstrados em nosso serviço, igualmente não podemos fugir de revelar o que vamos gravando dentro de nós por meio dos pensamentos, sentimentos, emoções, palavras, ações, obras e atos. E é por aí que nos capacitamos, perante Deus, a mais elevados cargos, a mais nobres missões em seu Reino.
É do mesmo modo como a melhoria de condições numa firma nos acarreia conforto, consideração, bem-estar, também as consequências favoráveis que provocamos com nossos esforços internos cumulam-nos de paz, de sabedoria, de felicidade, que se refletem em condições físicas melhores.
Melhor seria que não errássemos: a tarefa sai mais depressa e perfeitamente limpa. Mas, estamos aprendendo neste mundo… Errar é humano. Persistir no erro é que é diabólico. Meditei nos detritos jogados no cesto, na dor e nos esforços de que não podemos nem devemos fugir, na correção dos enganos. Vale a pena. Assim é que o diamante se transforma em brilhante.
A bancária interrompeu minhas reflexões. Entregou-me o comprovante, o que havia sido raspado… Olhei-a com simpatia. Havia-me proporcionado uma importante lição.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz da Fraternidade Rosacruz em São Paulo-SP em outubro/1969)