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PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Cuffee – Palavra-chave: Afeição

Cuffee
Palavra-chave: Afeição

Beto queria um cachorro. Foi mesmo a primeira coisa que ele quis na vida e se lembrava muito bem disto, e já fazia muito, muito tempo; porque meninos e meninas também podem se lembrar de coisas passadas, se pensarem bastante sobre elas.

Bem, quanto mais Beto pensava como seria bom ter um cachorro, tanto mais queria ter um.

– Oh! dizia ele, se eu tivesse um cachorro, seria o menino mais feliz do mundo!

E que tipo de cachorro vocês acham que Beto queria? Um collie? Um fox? Lógico que ambos são bons cachorros; mas não, Beto não queria nem um, nem outro, e nenhuma raça especial de cachorro; queria um companheiro, um amigo para amar, que fosse alegre e divertido.

Finalmente, Papai e Mamãe concordaram em arrumar-lhe um cãozinho. Como o garoto ficou contente! Pensava que encontraria o tal cachorro imediatamente. Mas, depois de se passarem semanas e semanas, viu que não era tão fácil assim, pois, apesar de suas buscas, ainda não tinha cachorro. Havia muitos cachorros por aí, mas nenhum cujo dono estivesse disposto a dá-lo de presente. Havia o inteligente collie do tio Bruno, por exemplo, mas Beto sabia que não adiantava pedir, pois, tio Bruno precisava dele para trazer as vacas na hora da ordenha. Havia também o pequeno poodle da tia Matilde, mas ela não se separaria dele.

Mas, em algum lugar do mundo deveria haver um cachorro que lhe fosse destinado, sendo assim, Beto em vez de ficar sentado e chorar, continuou procurando, pois, era realmente um garotinho inteligente. Toda vez que encontrava um homem, perguntava-lhe:

– Por favor, Senhor, onde posso encontrar um bom cachorro?

O homem quase sempre conversava algum tempo com ele até descobrir que tipo de cachorro queria e a resposta era:

– Não, meu rapazinho, não sei. Mas se eu souber de alguém que tenha um cachorrinho bonito para lhe dar, avisarei.

E a intenção do homem era mesmo essa, pois ainda se lembrava do tempo em que era criança e tinha um cachorro que amava; entretanto, se também não tivesse tido um cãozinho, sabia perfeitamente quanto o desejara naquela época.

Finalmente, quando Beto já estava bastante desanimado, chegou um homem com um cachorrinho chamado Cuffee.

Que nome estranho para um cachorro! E que cachorrinho desgrenhado e desajeitado era Cuffee! Mas Beto não pensou assim, nem por um minuto. Para ele, aquele cachorrinho estranho e magricela, com pelo marrom, áspero como arame e com seus esquisitos olhinhos marrom-avermelhados que brilhavam como duas bolas de fogo, era uma criatura linda. Quando correu para afaga-lo, uma pequenina língua vermelha e úmida esticou-se para lamber-lhe os dedos, dando-lhe uma estranha e vibrante sensação e ele teve a certeza de que o cachorrinho tinha gostado dele. Tremendo de emoção e quase que temendo perguntar e ficar desapontado olhou para o homem, que estava sorrindo, e pediu-lhe se podia ficar com o cão.

– Ora, sim, filho, respondeu o homem, pode ficar com ele, se o quer tanto. Fiquei sabendo que havia um menino por aqui querendo um cachorro, por isso o trouxe. Você é o garoto?

Com os olhos brilhantes, Beto assegurou-lhe que era, e ajoelhou-se para abraçar o animalzinho.

– Oh, Beto, protestou sua irmã Helena, ele é tão feio. Espere mais um pouco para ver se arruma um cachorrinho gordinho e fofo como o da tia Katia.

– Não é a aparência que conta, senhorita, disse o estranho, e sim o que o cachorro é. Este aqui vale muito. Não tem medo de nada. Quando ficar um pouco mais velho e engordar um pouquinho, vai ficar uma beleza. Mas você tem que tratar bem dele, filho, ou ele não vai prestar para nada.

– Serei bom para ele, prometeu Beto, quase sem folego, tentando se esquivar de uma amigável lambida no rosto. Desce Cuffee, desce! ordenou energicamente.

– Assim é que se fala com ele, filho, mas não bata nele para não o estragar. Naturalmente ele vai fazer alguma travessura, o que é de se esperar de um bichinho ou de uma criança. Os cachorros têm que ser educados como os seres humanos, e aprender o que é certo e o que é errado.

No minuto seguinte, a confusão era total. De um salto, Cuffee deixou Beto estatelado no chão, tropeçando em Helena que caiu, e partiu a toda pressa atrás de uma risca preta e branca que passou voando e subiu ao alto da vara de roupas. Cuffee ficou embaixo, latindo. Mickey, o precioso gatinho de Helena, curvou-se no alto da vara, tendo o pelo todo eriçado, o rabo levantado e olhou fixamente para Cuffee, tentando desafiá-lo.

– Cuffee é um cachorro mau, soluçou Helena, levantando-se e correndo para salvar o gatinho.

– Não, não é mau, Helena, acalmou-a a mãe. Apenas um cachorrinho ignorante que não aprendeu ainda a ser amigo de gatos. Leve Cuffee embora, Beto, e o amarre até Mickey se recuperar do susto.

Enquanto amarrava Cuffee, Beto falava com ele num tom tão magoado que o cãozinho ficou triste e confuso, pôs o rabinho entre as pernas e estendeu a patinha como que pedisse um aperto de mão ao Beto com jeito tão bajulador que o menino teve que rir. Vocês percebem que Cuffee precisava ser ensinado a diferenciar o certo do errado, pois, quando não se sabe é fácil cometer um erro, não é?

(do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. V – Compilado por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

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