Pergunta: Uma ideia geralmente aceita que cada alma individual teve um começo, não obstante constituída de tal maneira a ser imperecível. Isso foi posto em dúvida por uma pessoa que acredita ser a morte o fim de todas as coisas; eu gostaria de encontrar alguns argumentos ou passagens da Bíblia de modo a poder convencê-la de que está equivocada. Poderia me ajudar?
Resposta: Embora haja um número considerável de meios pelos quais é possível demonstrar que a morte não é o fim de tudo, tememos que nem mesmo “uma montanha” de argumentos convencerá uma pessoa daquilo que ela não está pré-disposta a crer. O questionador deve estar lembrado da parábola contada por Cristo, a respeito da morte de um rico e de um mendigo chamado Lázaro (Lc 16:19-31). Quando o rico desejou que fosse permitido a Lázaro voltar à Terra para avisar seus irmãos, Abraão disse: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite“. Essa é a questão. Já ouvimos cientistas jactarem-se de não crer na vida post-mortem mesmo que vissem realmente um Espírito. A lógica e a razão os tornaram convictos, para sua inteira e completa satisfação, de que não há Espírito. E considerariam estarem sofrendo de alucinações se vissem realmente um fantasma.
Também não nos é possível extrair citações categóricas da Bíblia. A palavra “imortal” não parece no Antigo Testamento. Aparece a expressão “mortal, deves morrer”, e a vida longa era olhada como uma recompensa à obediência. A palavra “imortal” também não ocorreu nos quatro Evangelhos, porém nas Epístolas de São Paulo ela aparece seis vezes. Em uma das passagens ele fala de Cristo ter trazido à luz a imortalidade por meio da revelação. Noutra ele nos diz que “essa mortalidade deve revestir-se de imortalidade“. Na terceira passagem ele torna claro que a imortalidade é proporcionada aos que a procuram. Num quarto trecho ele fala de nosso estado, “quando este mortal revestir-se de imortalidade“. Numa quinta passagem, declara que “somente Deus é imortal“, e na sexta passagem é uma adoração do Rei Eterno, imortal e invisível. Vemos, pois, que a Bíblia não ensina, por nenhum meio, que a alma é imortal, mas por outro lado ela diz enfaticamente, “a alma que peca deve morrer“. Isto seria uma impossibilidade se a alma fosse inerente e intrinsecamente imperecível. Também não podemos provar a imortalidade da alma usando passagens tais como lemos no Evangelho Segundo São João no capítulo 3 e versículo 16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”. Se basearmo-nos nessa citação, para provar que a alma é eterna, possuída de uma vida interminável, também devemos aceitar as passagens que dizem serem as almas condenadas a um tormento eterno, como o exigem algumas denominações ortodoxas. Na realidade, essas passagens nada provam de uma felicidade ou um tormento eterno. Se tomarmos o dicionário Grego de Liddel e Scott, veremos que a palavra traduzida por “eterno” na Bíblia, corresponde à palavra grega “aionian”, que significa “um tempo, um período indefinido, uma vida toda”, etc. Vemos essa expressão empregada corretamente na Epístola de São Paulo a Filemon, quando lhe devolve o escravo Onésimo com as seguintes palavras: “Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente, a fim de que o recebas para sempre”. A palavra “para sempre” é a mesma palavra “aionian” que é traduzida como “eterna” quando se refere à condenação e à salvação e, facilmente, podemos ver que, nesse caso, pode significar apenas uma parte de uma vida, pois nem São Paulo nem Filemon, dessa forma, viveriam para sempre.
Qual é, pois, a solução? Será a imortalidade apenas uma invenção da fantasia, incapaz de ser comprovada? Certamente que não, porém é necessário que façamos uma diferença rigorosa entre alma e Espírito. Essas duas palavras são tomadas, frequentemente, como sinônimas, sem o serem. Temos na Bíblia a palavra hebreia Ruach, e a palavra grega Pneuma, ambas significando Espírito, enquanto que a palavra hebreia Neshammah e a grega Psuke significam alma. Em acréscimo a essas, temos a palavra hebreia Nephesh, que significa sopro, respiração, mas que foi traduzida por vida em alguns lugares e por alma em outros, de acordo com as conveniências dos tradutores da Bíblia. É isso que causa a confusão. Por exemplo, narra-se no Livro do Gênesis que Jeová formou o ser humano do pó da terra e soprou em suas narinas a respiração, o fôlego (nephesh) e o ser humano tornou-se uma criatura que respira (nephesh chayim), e não uma alma vivente tal como está no Livro do Gênesis, capítulo 2, versículo 7.
Com referência à morte, lemos no Livro do Eclesiastes capítulo 3, versículo 19-20, e também em outros trechos, que não há diferença entre o ser humano e o animal, “como morre um, assim morre o outro; e todos tem o mesmo folego (nephesh, novamente)”. Isso parece indicar que o ser humano não tem preeminência sobre as bestas e que todos vão para o mesmo lugar. Há, porém uma distinção bem definida entre Espirito e corpo, pois sabemos que “quando o Cordão Prateado se rompe, o corpo volta ao pó de onde foi tirado e o Espírito retorna a Deus, de onde saiu”. A palavra morte em parte alguma está associada a Espírito, e a doutrina da imortalidade do Espírito é ensinada de modo conclusivo pelo menos uma vez na Bíblia Evangelho Segundo São Mateus capítulo 11, versículo 14, onde Cristo diz, referindo-se a João Batista: “É este o Elias“. O Espírito que deu alma ao corpo de Elias renasceu como Joao Batista. Deve, pois, ter sobrevivido a morte corporal e ter sido capaz de continuar a viver. Para obter ensinamentos mais profundos e definitivos sobre este assunto, devemos, porém procurar um ensinamento místico, e aprendemos no Livro “Conceito Rosacruz de Cosmos” que os Espíritos Virginais, enviados as asperezas deste mundo como Raios de Luz da Chama Divina (que é nosso Pai que está nos céus), devem primeiro sofrer um processo de involução na matéria, cristalizando-se cada raio num Tríplice Corpo. Receberam, então, uma Mente que se tornou o ponto de apoio sobre o qual a Involução se transforma em Evolução. E a Epigênese, a divina habilidade criadora do Espírito, é a alavanca com a qual o Tríplice Corpo espiritualiza-se em Tríplice Alma e amalgama-se com o Tríplice Espírito, sendo a alma o extrato da experiência com a qual o Espírito é levado da ignorância até a onisciência, da impotência à onipotência, tornando-se, finalmente, semelhante a seu Pai que está nos céus.
É-nos impossível, com nosso intelecto racional limitado, compreender a magnitude dessa tarefa, mas percebemos (intuitivamente) que há um caminho longo para chegar à onisciência e a onipotência. E isso deve exigir muitas vidas. Vamos, portanto a Escola da Vida do mesmo modo que as crianças vão as escolas aqui na Terra. E, assim como há noites de descanso entre um dia escolar e outro, há também noites (a morte) entre nossos dias na Escola da Vida. A criança sempre retoma a lição no ponto em que foi deixada no dia anterior. Também nós, quando voltamos a renascer, retomamos as lições da vida no ponto em que foram deixadas na existência anterior.
Quanto à pergunta de porque não nos lembramos de nossas existências passadas, a resposta é simples. Não nos lembramos claramente do que fizemos há um mês, um ano ou há vários anos atrás; como, pois, esperamos lembrar-nos do que está muito mais recuado no tempo? Só se tivéssemos um cérebro diferente, harmonizado a consciência de vidas anteriores. Não obstante, há pessoas que recordam de suas existências passadas, e muitas mais pessoas estão cultivando essa faculdade cada ano que passa, pois é uma faculdade latente em todos os seres humanos.
Portanto, o neófito que transpôs os umbrais da Iniciação para os Mundos invisíveis é sempre levado ao leito de uma criança moribunda. Ele vê o Espírito sair e cuida de observar esse Espírito no Mundos invisíveis até que ele se apresente para um novo renascimento. Uma criança é escolhida para esse fim, pois está destinada a renascer dentro de um ou dois anos. Desse modo, dentro de um espaço de tempo relativamente curto, o neófito vê com seus próprios olhos como um Espírito cruza os umbrais da morte e volta a entrar na vida física, através do ventre materno. Ele tem, então, a prova. A razão e a fé devem bastar aqueles que não estão preparados para o conhecimento direto, que “não é cobrado em ouro, mas por meio uma vida de abnegado e amoroso serviço aos demais”.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz – 04/1974 – pela Fraternidade Rosacruz – SP – traduzido da Revista Rays From the Rose Cross)
Considere a história do homem rico e Lázaro. O homem rico não estava preparado para encontrar Deus, mas Lázaro estava. Isto mostra que vale viver a vida e estar preparado para ir ao Céu ao invés de ir ao Purgatório. A história é a seguinte:
“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e cada dia se banqueteava com requinte. Um pobre, chamado Lázaro, jazia à sua porta, coberto de úlceras. Desejava saciar-se do que caía da mesa do rico… E até os cães vinham lamber-lhe as úlceras”.
“Aconteceu que o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, em meio a tormentos, levantou os olhos e viu ao longe Abraão e Lázaro em seu seio”.
Isto significa que o homem rico estava no Purgatório, sofrendo devido suas maldades e desejos; enquanto Lázaro estava no Primeiro Céu aproveitando tudo de bom que ele havia feito durante sua vida passada, e sentindo a gratidão de tudo que havia feito em seus muitos atos de bondade.
“Então exclamou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo para me refrescar a língua, pois estou torturado nesta chama'”.
“Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante tua vida, e Lázaro, por sua vez, os males; agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado”.
“E além do mais, entre nós e vós existe um grande abismo, a fim de que aqueles que quiserem passar daqui para junto de vós não o possam, nem tampouco atravessem de lá até nós'”.
“Ele replicou: ‘Pai, eu te suplico, envia então Lázaro até à casa de meu pai,”
“pois tenho cinco irmãos; que leve a eles seu testemunho, para que não venham eles também para este lugar de tormento'”.
“Abraão, porém, respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam'”.
“Disse ele: ‘Não, pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for procurá-los, eles se arrependerão'”.
“Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam nem a Moisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão’ “. (Lc 16: 19-31)
Os Auxiliares Invisíveis acham que isto é verdade, porque eles, às vezes, encontram pessoas no Purgatório, os quais perguntam se tem como ir até seus familiares e dizer-lhes que passem a ter uma vida boa e que viva o melhor possível, para que não tenham que sofrer após sua morte. Ouvi falar de dois casos deste tipo. Nos dois casos, o Auxiliar Invisível disse que não seria bom, uma vez que os parentes não acreditariam de qualquer forma. Outra noite dois Auxiliares Invisíveis encontram uma estudante de uma Escola de Ocultismo, a quem haviam conhecido alguns anos atrás. Ela tinha falecido há algum tempo quando a encontraram no Purgatório. Ela os chamou enquanto estavam a caminho de uma missão.
“Desculpe por não ter tido uma vida melhor” – disse ela. “Fui a reuniões no Centro de estudo, mas não acreditava realmente que os ensinamentos eram verdadeiros e não tentei fazer o melhor. Por favor, me ajude a sair daqui”.
“Você deve orar a Deus” – disse o Auxiliar Invisível – “e prometer-Lhe que procurará viver melhor quando outra chance lhe for dada”.
“Eu farei isto” – disse a senhora. “Por favor, vá e diga as minhas filhas que os ensinamentos são verdadeiros e que sejam boas. Não quero que elas sofram como estou sofrendo agora”.
Os Auxiliares Invisíveis não poderiam ir até suas filhas, porque não as conheciam. Mesmo se pudessem ir até elas, as filhas não acreditariam neles.
(Do Livro: Auxiliares Invisíveis – Amber M. Tuttle)