Pergunta: Qual a atitude Rosacruz para com a oração, à luz das recomendações bíblicas?
Resposta: Num certo trecho, a Bíblia nos manda orar constantemente. Em outro, Cristo repudia a prática, dizendo que não deveríamos imitar aqueles que acreditam ser ouvidos pela quantidade de palavras proferidas. É evidente que não pode haver qualquer contradição entre as palavras de, Cristo e as de Seus Discípulos, portanto, devemos reconstruir as nossas ideias sobre a oração, de tal forma que estejamos sempre orando, sem empregarmos vastas quantidades de expressões verbais ou mentais. Emerson disse:
“Embora teus joelhos nunca se dobrem,
De hora em hora ao céu tuas preces sobem,
E sejam elas para o bem ou para o mal formuladas,
Ainda assim são respondidas e gravadas”.
Em outras palavras, cada ato nosso é uma oração que, sob a Lei de Causa e Efeito, nos traz os resultados adequados. Obtemos exatamente o que queremos. A expressão oral, sob forma de palavras, é desnecessária, mas uma ação sustentada num certo sentido indica o que desejamos, mesmo que nós mesmo não o realizemos e, com o tempo, mais cedo ou mais tarde, de acordo com a intensidade do nosso desejo, realiza-se aquilo pelo qual rezamos.
As coisas assim adquiridas ou atingidas podem não ser o que real e conscientemente desejamos. De fato, às vezes conseguimos algo que teríamos sem dúvida dispensado, algo que consideramos uma desgraça, um tormento, mas o ato-oração nos trouxe isso e teremos que conservá-lo até que consigamos nos livrar dele de forma legítima.
Quando lançamos uma pedra para o ar, o ato só se completará quando a reação trouxer a pedra de volta ao solo. Nesse caso, o efeito segue a causa tão rapidamente que não é difícil relacionar os dois.
No entanto, se dermos corda a um despertador, a força fica armazenada na mola até que um certo mecanismo a liberte. Então, se produz o efeito – o som da campainha – e, embora tenhamos mergulhado no sono mais profundo, a reação ou o desenrolar da mola ocorreu da mesma forma. Similarmente, atos que há muito esquecemos em algum momento irão produzir os resultados consequentes, e assim obteremos uma resposta aos nossos atos-orações.
Contudo, há a verdadeira oração mística – a oração em que encontramos Deus, face a face, como Elias o encontrou. Não é no tumulto do mundo, no vento, no terremoto, ou no incêndio que O encontramos, e sim quando tudo se aquieta, e uma voz silenciosa nos fala vinda de dentro. O silêncio requerido para esta experiência não é um mero silêncio de palavras. Nem há as imagens interiores que passam geralmente diante de nós na meditação.
Tampouco há necessidade de pensamentos, mas todo o nosso ser assemelha-se a um calmo lago tão límpido quanto um cristal. Nele, Deus Se espelha, e experimentamos a unidade que torna a comunicação desnecessária, seja por palavras seja por qualquer outro meio. Sentimos tudo aquilo que Deus sente. Ele está mais próximo de nós do que nossas mãos e nossos pés.
Cristo nos ensinou a dizer: “Pai nosso que estais no céu”, etc. Esta oração encerra a mais sublime forma de expressão encontrada sob forma de palavras, mas a oração da qual me refiro pode, no instante da união suprema, ser expressa numa única palavra não pronunciada: “Pai”. O devoto, quando está realmente submerso em oração, nunca vai mais longe. Ele não faz pedidos, para que? Não tem ele a promessa: “O Senhor é meu Pastor, não me faltará?”. Não lhe foi dito para buscar primeiro o Reino do Céu, e que tudo o mais lhe será acrescentado? Talvez sua atitude possa ser melhor entendida se fizermos a comparação com um cão fiel olhando para a face do seu dono com uma devoção muda, com toda a sua alma transparecendo através de seus olhos cheios de amor. De forma semelhante, naturalmente com intensidade muito maior, o verdadeiro místico olha para o Deus interno e se derrama todo em muda adoração. Desse modo, podemos orar sem cessar, internamente, enquanto trabalhamos como servos diligentes no mundo externo; pois nunca esqueçamos que o objetivo não é desperdiçar nossas vidas sonhando. Enquanto rezamos a Deus internamente, devemos também trabalhar para Deus externamente.
(Perg. 166 do Livro Filosofia Rosacruz em Perguntas e Respostas – Vol. II – Max Heindel – Fraternidade Rosacruz SP)
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