Pintor das Folhas
Jeferson esfregou os olhos e olhou de novo. Havia alguém sentado no galho mais baixo da árvore pintando uma folha. Ele a estava pintando cuidadosamente de vermelho vivo, e não estava derramando nem um pouco de tinta. (Certamente fazia melhor do que Jeferson podia fazê-lo. Quando ele pintava na escola, o chão ficava sempre imundo e a professora não ficava muito feliz).
— Oi, disse Jeferson. Por que você está fazendo isto?
A pessoa que estava na árvore olhou para baixo e deu um sorriso tão grande que suas bochechas muito rosadas se estufaram, parecendo duas maçãs vermelhas. Ele enxugou o seu pincel, colocou-o sobre o balde de tinta que estava cuidadosamente pendurado no galho e pulou.
— Olá, Jeferson, disse ele. Eu estava querendo saber quando você viria me visitar.
— Como você sabe meu nome?, perguntou Jeferson. E quem é você?
— Meu nome é Bimbo e nós conhecemos todas as crianças da vila.
— Oh! exclamou Jeferson surpreso. Tão surpreso que esqueceu as boas maneiras e encarou fixamente Bimbo, mas este não parecia estar se importando com isto.
Bimbo era pouco maior que Jeferson. Ele vestia macacão marrom, sapatos vermelhos com bicos virados para cima, e um longo chapéu verde com um sininho na ponta.
— Onde você mora? – perguntou Jeferson repentinamente – E como você conhece todas as crianças? E quem é “nós”?
— Ha, ha, riu Bimbo. Uma pergunta de cada vez, por favor. Nós somos: eu, meus irmãos, irmãs, tios, tias, primos e primas. Moramos aqui na floresta e conhecemos todas às crianças porque observamos vocês todos crescendo, desde que nasceram.
— Oh, exclamou Jeferson de novo, ainda encarando Bimbo. Mas por que você está pintando a folha?
Bimbo sorriu, sentou-se numa grande tora marrom e disse:
— Em que época do ano estamos, Jeferson?
— Bem – disse Jeferson pensativo e sentou-se também – É a época em que as maçãs ficam maduras, as nozes caem, fazemos máscaras com abóboras e — e — é outono. É isso!
— Certo – concordou Bimbo – E o que mais acontece no outono?
— Nós temos que ir para a escola – disse Jeferson de cara feia.
— E isso é muito bom – disse Bimbo – Mas você não consegue se lembrar de outra coisa que acontece no outono?
— Bem – disse Jeferson – puxando a orelha direita.
De repente, seus olhos ficaram grandes e redondos como um pires e ele olhou ainda mais fixamente para Bimbo.
— Oh! – ele disse e – oh! – de novo – As folhas mudam de cor!
— “Ub-huh” – murmurou Bimbo, pegando um galhinho e desenhando no chão com ele.
— Você quer dizer…você quer dizer que você as pinta? – perguntou Jeferson que estava agora mais surpreso do que antes.
— Certamente – disse Bimbo, continuando seu desenho – Sou eu, meus irmãos, irmãs, tios, tias, primos e primas.
— Mas eu pensei que elas tivessem mudado de cor sozinhas – disse Jeferson – Não sabia que alguém as pintava.
— Humpf – bufou Bimbo – parando de desenhar. Seu rosto normalmente alegre, parecia um pouco aborrecido – Coisas como esta não acontecem sozinhas. Alguém tem que as fazer acontecer.
— Oh!- Disse Jeferson pela quinta vez e sentou-se imóvel, olhando para a floresta.
Ele percebeu que as folhas de muitas árvores tinham mudado de cor e que realmente ali tinham muitas, muitas árvores.
— Você tem muitos irmãos, tios, tias, primos e primas? – perguntou, depois de algum tempo.
— Oh! sim – disse Bimbo, que havia recomeçado seu desenho – Muitos e muitos e muitos deles. Em qualquer lugar onde houver um jardim, mesmo com uma árvore apenas, um de nós tem que estar lá para cuidar dele.
Bimbo fez algumas linhas a mais no seu desenho, jogou de lado o galhinho e levantou-se, dizendo:
— Agora você vai ter que me dar licença, Jeferson, tenho muita coisa para fazer e se nós não cumprirmos o horário, as folhas estarão ainda verdes quando a neve começar a cair e aí vai dar confusão.
— Eu posso ver você trabalhar? – perguntou Jeferson.
— Claro – respondeu Bimbo sorrindo – E também converse comigo. Gosto de companhia quando estou pintando.
Então, Bimbo levantou os braços e, com um pulo extraordinário, agarrou o galho mais baixo da árvore, alçou-se e sentou no galho. Mergulhou seu pincel na tinta e começou a trabalhar.
— Muito bom – disse Jeferson – que também era um saltador exímio. Levantou os braços, dobrou os joelhos e saltou o mais alto que pôde. Mas não foi o suficiente. Jeferson tentou de novo, várias vezes, mas não conseguiu alcançar o galho.
Ele olhou desapontado para Bimbo que sorriu e disse:
— Treine, Jeferson, treine. Tudo requer prática.
— Até pintar sem espirrar tinta? – perguntou Jeferson.
— Lógico, até pintar sem espirrar tinta! – respondeu Bimbo, que tinha começado a trabalhar na folha seguinte – Você gosta de pintar, não é, Jeferson? – perguntou.
— Oh, sim, gosto; mas a professora não quer que eu pinte porque faço muita sujeira – respondeu Jeferson.
Sentou-se de novo na tora e ficou pensando por algum tempo. Subitamente, teve uma ideia e exclamou:
— Já sei o que vou fazer. Vou fingir que sou Bimbo pintando as folhas, vou pintar com bastante cuidado e assim, talvez, eu não suje nada.
— Boa ideia, Jeferson – disse Bimbo – Acho que se você tentar vai conseguir.
Por algum tempo, Jeferson ficou sentado na tora e contou a Bimbo sobre a escola, sobre sua irmãzinha e sobre seu cachorro Mike. Bimbo não falou quase nada porque estava muito ocupado, mas Jeferson sabia que ele estava ouvindo.
De repente, o sino da vila tocou seis vezes.
— Oh, oh – disse Jeferson, levantando-se rapidamente – Eu não posso me atrasar para o jantar. Foi um prazer conhecê-lo, Bimbo – disse educadamente – E eu não esquecerei como as folhas mudam de cor!
— Olhe, Jeferson, pegue isto.
Bimbo arrancou a folha vermelha que ele havia acabado de pintar e deixou-a cair flutuando até Jeferson.
— Obrigado, Bimbo – disse Jeferson, apanhando a folha – Vou guardá-la dentro de meu livro novo e talvez a mostre para a professora amanhã. É realmente bonita.
Jeferson olhou para à folha por um minuto, depois acenou para Bimbo.
— Tchau – ele gritou e correu para a vila.
Bimbo sorriu.
— Adeus, Jeferson – disse. Depois levantou-se e cuidadosamente pendurou sua lata de tinta no galho mais próximo, alçou-se e começou de novo a trabalhar arduamente.
(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. IV – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)
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