Os Sapatos Dourados

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Os Sapatos Dourados

Os Sapatos Dourados

Era uma vez, uma Princesa com pés doloridos, que morava num castelo rodeado por altas muralhas de pedra e um fosso guardado por um dragão.

Seus pés estavam sempre doloridos. Doíam quando ela usava chinelos. Doíam quando usava sapatos de baile ou sapatos para caminhar, sapatos de escola ou sapatos de domingo. Doíam quando usava sapatos novos, doíam quando usava sapatos velhos. Doíam quando usava botas na neve, galochas na chuva, sandálias ao sol ou tênis nos intervalos.

A Princesa não gostava de andar, correr ou saltar, porque sempre que fazia essas coisas seus pés doíam. Não gostava de pular corda, disputar uma corrida, brincar de boca de forno ou de amarelinha, porque quando fazia essas coisas, seus pés doíam. Não gostava de passear no bosque, arrastar os pés nas folhas caídas do outono, andar nas águas dos regatos ou correr na areia, porque quando fazia essas coisas, seus pés doíam.

A Princesa só gostava de sentar-se e ler, sentar-se e comer, deitar-se e dormir, deitar-se e ficar sem fazer nada, porque quando fazia essas coisas, seus pés não doíam. Ela só gostava de ser carregada na sua liteira, passear na sua carruagem ou ser carregada para cima e para baixo nas escadas por um lacaio, porque quando fazia essas coisas, seus pés não doíam.

Mas, como a Princesa passava muito tempo sentada e deitada, sendo sempre carregada e quase nunca andando, correndo ou subindo escadas, ela fazia muito pouco exercício. E, porque fazia muito pouco exercício, engordava.

Embora os cortesãos não lhe dissessem nada, comentavam bastante quando ela virava as costas.

— Você notou como a Princesa está engordando? – perguntavam uns aos outros. A Princesa está ficando muito gorda, contavam para seus parentes em outras partes do país, quando iam visitá-los.

O Rei e a Rainha estavam muito preocupados com a princesa e seus pés doloridos. Estavam muito preocupados porque ela estava engordando tanto. Eles não gostavam de vê-la sentada e deitada em todos os lugares e ser carregada para todos os lugares. Eles queriam que ela andasse, corresse e subisse escadas. Eles queriam que ela emagrecesse. Eles queriam que ela se apoiasse em seus próprios pés.

Até que um dia, o Rei resolveu oferecer uma recompensa a quem pudesse ajudar a Princesa. Mandou mensageiros para os quatro cantos da Terra, proclamando que daria a mão de sua filha em casamento, a quem conseguisse fazer passar a dor de seus pés.

Depois que os mensageiros do Rei espalharam a notícia, sapateiros de terras distantes começaram a chegar ao castelo.

Um sapateiro trouxe o couro mais macio que o Rei e a Rainha já tinham visto, disse que se a Princesa usasse sapatos feitos com aquele couro, poderia subir até a mais alta montanha facilmente, e seus pés nunca mais doeriam.

Então, o sapateiro tomou cuidadosamente a medidas dos pés da Princesa e fez um par de sapatos tão leves, que não pesavam mais que uma folha, e tão macios que podiam ser dobrados de todos os lados e enrolados como uma bola.

Mas, quando a Princesa os calçou, ela gritou:

— Ai! Chorou. Ai! Ai! Eles machucam! Eu não aguento! Tirem!

O sapateiro ficou aflito. O Rei e a Rainha ficaram aflitos. Os cortesãos ficaram aflitos. A Princesa continuava a chorar.

— Tirem! tirem! Eu não os aguento!

Então, um velhinho com longos cabelos brancos e uma longa barba branca se apresentou. Era o mais sábio dos conselheiros do Rei.

— Majestade, disse, é o couro do qual os sapatos foram feitos que está machucando a Princesa. O couro vem de animais que foram mortos para se poder obtê-lo. Por isso, há muita maldade no couro. A Princesa é sensível e não pôde suportar a dor dessa maldade.

O Rei refletiu sobre as palavras de seu conselheiro.

— Sim, eu entendo, disse por fim.

Então, ordenou ao sapateiro:

— Remova os sapatos.

E o sapateiro não pôde fazer outra coisa senão tirar os sapatos dos pés da Princesa e abandonar o castelo, envergonhado.

No dia seguinte, chegou outro sapateiro. Ele trouxe um rolo da mais linda e macia casca de árvore que o Rei e a Rainha já tinham visto. Disse que se à Princesa, usasse sapatos feitos com aquela casca de árvore, poderia subir até a mais alta montanha facilmente e seus pés nunca mais doeriam.

Então, o sapateiro tomou cuidadosamente a medida dos pés da Princesa e fez um par de sapatos tão leves que não pesavam mais do que uma folha, e tão macios que poderiam servir de travesseiro para a cama da Princesa.

Contudo, quando a Princesa os calçou, ela gritou:

— Ai! chorou. Ai! Ai! Eles machucam! Eu não aguento! Tirem!

O sapateiro ficou aflito. O Rei e a Rainha ficaram aflitos. Os cortesãos ficaram aflitos. A Princesa continuava a chorar.

— Tirem! Tirem! Eu não aguento!

Então, o velhinho de longos cabelos brancos e longa barba branca se apresentou de novo.

— Majestade, disse, é a casca da árvore da qual os sapatos foram feitos que está machucando a Princesa. A casca da árvore é realmente muito macia e muito bonita, mas não é muito resistente e os sapatos não iriam durar muito. A Princesa é sensível e não pôde suportar a dor dessa fraqueza.

O Rei refletiu sobre as palavras de seu conselheiro.

— Sim, eu entendo, disse por fim.

Então, ordenou ao sapateiro:

— Remova os sapatos.

E o sapateiro não pôde fazer outra coisa senão tirar os sapatos dos pés da Princesa e abandonar o castelo, envergonhado.

No terceiro dia, chegou outro sapateiro. Ele trouxe um pedaço de vidro tão claro que brilhava ao sol da manhã. Disse que se a Princesa usasse sapatos feitos com aquele vidro, poderia subir até a mais alta montanha facilmente e seus pés nunca mais doeriam.

Então, o sapateiro tomou cuidadosamente a medida dos pés da Princesa e fez um par de sapatos que eram transparentes como cristal e brilhavam ao sol da manhã.

Mas, quando a Princesa os calçou, ela gritou:

— Ai! chorou. Ai! Ai! Eles machucam! Eu não aguento! Tirem!

O sapateiro ficou aflito. O Rei e a Rainha ficaram aflitos. Os cortesãos ficaram aflitos. À Princesa continuava a chorar.

— Tirem! Tirem! Eu não aguento!

Então, o velhinho de longos cabelos brancos e longa barba branca se apresentou mais uma vez.

— Majestade, disse, é o vidro do qual os sapatos foram feitos que está machucando a Princesa. O vidro é realmente transparente como cristal e brilha ao sol da manhã, mas é muito duro. Nada pode passar através dele. Nada de bom, que está do lado de fora pode vir para dentro, e nada de ruim que possa estar por dentro, pode sair. A Princesa é sensível e não pode suportar a dor dessa dureza.

O Rei refletiu sobre as palavras de seu conselheiro.

— Sim, eu entendo, disse por fim.

Então ordenou ao sapateiro:

— Remova os sapatos.

E o sapateiro não pode fazer outra coisa senão tirar os sapatos dos pés da Princesa e abandonar o castelo, envergonhado.

Então, a Princesa ficou tão infeliz que ordenou ao lacaio que a levasse para cima, onde ela se reclinou em sua cama e comeu uma caixa inteira de doces. O Rei e a Rainha estavam tão infelizes que não comeram nada, mas passaram o resto do dia na biblioteca consultando manuscritos antigos, quase desfeitos, esperando encontrar algo que orientasse o que fazer para pés doloridos. Os cortesãos estavam tão infelizes que comeram um farto jantar em silêncio, na sala de banquetes, e depois foram para seus quartos, dormir.

Somente o velhinho de longos cabelos brancos e longa barba branca não estava infeliz. Ele deixou o castelo quando os cortesões estavam jantando e ninguém o viu sair. Ele voltou quando os cortesãos estavam dormindo e ninguém o viu voltar.

Contudo, no dia seguinte, quando a Princesa, o Rei, a Rainha e os cortesãos estavam tomando o café da manhã, um jovem estranho entrou na sala de banquetes. Ele era alto, garboso, belo, seu andar era firme, seu olhar doce. Seu rosto resplandecia como se fosse feito da luz do sol e seu sorriso iluminava toda a sala. Era Jovem, mas havia nele qualquer coisa que fazia com que ele parecesse ter mais sabedoria do que sua idade aparentava.

Ele se inclinou diante do Rei, da Rainha e da Princesa, saudou graciosamente os cortesãos e perguntou se ele podia acompanhá-los no café da manhã, enquanto lhes contava sua história. Deram-lhe um lugar de honra na mesa, entre o Rei e a Princesa, uma taça de ambrosia e uma colher de prata foram colocadas diante dele.

Depois de ter comido, ele disse à Rainha que a ambrosia era a mais deliciosa que já tinha saboreado, e começou a sua história:

— Eu sou um sapateiro da Terra do Sol, e tendo ouvido as palavras de seus mensageiros, eu também gostaria de ter a honra de tentar obter a mão da Princesa em casamento.

— A Terra do Sol! exclamou o Rei, atônito. Mas a Terra do Sol é inacessível para nós. Nenhum habitante da Terra pode cruzar suas fronteiras. Meus mensageiros não poderiam ter entrado nesse reino de luz.

— É verdade, Majestade, concordou o sapateiro. Nenhum mortal pode agora entrar na Terra do Sol, embora algum dia todos os homens viverão lá conosco. Mas nós, da Terra do Sol, sabemos de tudo que acontece na Terra, e há muito tempo que sentimos pena da Princesa por sua aflição. Agora que vocês pediram auxílio, estamos ansiosos por ajudar. Recebi permissão do Rei da Terra do Sol para confeccionar um par de sapatos para a Princesa, com os quais ela poderá subir até a mais alta montanha facilmente. Se ela usar estes sapatos, seus pés nunca mais doerão.

O Rei olhou para o sapateiro longa e pensativamente.

Depois disse:

— A Princesa experimentou muitos sapatos e teve muitas desilusões desde que meus mensageiros saíram. Eu não desejo que ela fique novamente decepcionada. Mas, como você é da Terra do Sol, talvez seus sapatos lhe deem o alívio que ela espera. Vou deixar que ela decida.

Voltou-se para à Princesa e disse:

— Minha filha, você ouviu as palavras deste sapateiro e sabe de que lugar ele veio. Você quer experimentar seus sapatos?

— Quero, Papai, disse a Princesa com um leve sorriso. Se um sapateiro da Terra do Sol não puder fazer os sapatos que eu preciso, ninguém mais poderá. Por favor, deixe-o tentar.

— Muito bem, disse o Rei, pode fazê-lo.

Então, o sapateiro tomou cuidadosamente a medida dos pés da Princesa e disse que tinha que ir à floresta que cercava o castelo, para buscar o material com o qual faria os sapatos. O Rei, a Rainha, a Princesa e os cortesãos, muito intrigados, o seguiram.

No meio da floresta havia um círculo encantado, onde a Princesa frequentemente pedia para ser levada em sua liteira. Aí, o sapateiro parou. Andou lentamente ao redor do círculo, tocando delicadamente cada uma das árvores que o circundavam e, quando já havia feito toda a volta, foi até ao centro do círculo e levantou os braços em direção ao Sol. Ao fazê-lo, um raio de sol o envolveu e ele desapareceu na Terra.

O Rei, a Rainha e os cortesãos abafaram um grito, consternados, mas antes que pudessem fazer alguma coisa, a não ser olhar uns para os outros, o sapateiro reapareceu no centro do círculo. Em suas mãos havia um pedaço de ouro que tinha saído do fundo da Terra.

Ele segurou o ouro à luz do sol e ele brilhou e cintilou. Parecia receber os raios da luz do sol e refleti-los. O sapateiro mergulhou o pedaço de ouro no frio regato da montanha que corria suavemente por ali, e depois deixou-o secar, segurando-o contra a fresca brisa que soprava.

Depois começou a amassar o pedaço de ouro com os dedos e, ante os olhos espantados de todos que estavam observando, o pedaço de ouro transformou-se em um par de sapatos de ouro.

O sapateiro ajoelhou-se na frente da Princesa e delicadamente calçou-lhe os sapatos.

A Princesa deu um passo, cautelosamente, depois outro. Seus olhos se arregalaram e os cantos de sua boca se transformaram num pequeno sorriso, que não sabia de que tamanho iria ficar.

— Eles servem, murmurou.

O Rei e a Rainha olharam-se felizes e alguma coisa parecida com um suspiro veio de todos os cortesãos, que tinham estado segurando a respiração.

— Ande um pouco mais, Alteza, insistiu o sapateiro. Ande em volta do círculo.

Então, a Princesa deu uma volta inteira no círculo encantado, a princípio devagar, mas, gradualmente, foi mais depressa, mais depressa, até que no fim estava quase correndo.

— Eles servem mesmo! exclamou. Meus pés não doem nada!

Depois, ela olhou para o sapateiro e o pequeno sorriso em seu rosto tornou-se radiante. Os cortesãos nunca tinham visto sua Princesa tão bonita.

— Eu vou subir a montanha, ela disse ao sapateiro, que fez um sinal que sim.

— Eu vou com você, ele disse.

— Você tem certeza de que está preparada para isso, meu bem? – perguntou o Rei, avançando para impedi-la.

Contudo, antes que ele pudesse segurar sua mão, a Princesa se virou e correu pelo bosque em direção à mais alta montanha. O sapateiro, correndo também, alcançou-a facilmente, e o Rei e a Rainha, que os seguiam, não estavam longe deles. Atrás do Rei e da Rainha vinha uma longa fila de cortesãos, alguns correndo, alguns andando, e alguns apenas conseguindo avançar um pouco.

A Princesa e o sapateiro logo chegaram à base da montanha e começaram a subir. A encosta era inclinada e rochosa e, em muitos lugares, parecia impossível encontrar um lugar para colocar o pé. Mas, para os que estavam olhando, parecia que a Princesa e o sapateiro tinham asas nos pés, pois eles mal tocavam o chão, pulavam de rocha em rocha até que desapareceram de vista.

O Rei e a Rainha, que podiam tê-los seguido, ficaram na base da montanha. Nenhum dos cortesãos teve coragem de tentar a subida inclinada.

Quando a Princesa e o sapateiro chegaram ao topo, a Princesa olhou ao redor e ficou extasiada. Lá, abaixo deles, até onde a vista podia alcançar, estavam todas as terras, oceanos e rios do mundo. Havia florestas de pinho verde-escuro e bosques verde-claro de álamos e choupos. Havia picos de montanhas cobertos de neve que refletiam a luz do Sol, torres e torreões de castelos distantes. Os oceanos eram azuis escuro e rios serpejavam pelo mundo como fitas de prata. Havia muitas manchas de cores vivas onde flores se abriam. Acima da linha do litoral, muito longe, havia nuvens escuras de onde caia uma chuva prateada e, ainda mais longe, havia um magnífico arco-íris.

Enquanto a Princesa e o sapateiro estavam olhando, uma águia solitária voando abaixo deles, mas muito acima da Terra onde o Rei, a Rainha e os cortesãos estavam esperando, levantou as asas como se estivesse saudando-os e continuou seu voo.

Por muito tempo, a Princesa ficou olhando o mundo sem dizer nada. Depois, deu um grande suspiro e virou-se para o sapateiro.

— É lindo, murmurou. Gostaria que todos pudessem ver o mundo como ele realmente é.

— Algum dia eles o verão, garantiu o sapateiro. Seu pai e sua mãe já o viram e há outros que logo irão subir na montanha mais alta, com sapatos iguais aos seus. Aos poucos, todas as pessoas da Terra o farão.

Depois, de mãos dadas, a Princesa e o sapateiro desceram a montanha e foram calorosamente recebidos pelos que estavam esperando embaixo.

Logo no dia seguinte, a Princesa e o sapateiro da Terra do Sol se casaram. Construíram um castelo no topo da mais alta montanha, onde não havia necessidade de muralhas, nem fosso guardado por um dragão, e moraram nesse castelo por muito mais luas do que o mais brilhante matemático da Terra poderia contar.

Aos poucos, como o sapateiro tinha predito, outras pessoas também subiram a montanha com seus sapatos dourados. Cada um que chegava lá em cima, era abraçado pela Princesa e pelo sapateiro e levados para morar com eles no castelo, por muito mais luas do que o mais brilhante matemático da Terra poderia contar.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. I – Compiladas por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

Sobre o autor

Fraternidade Rosacruz de Campinas administrator

Deixe uma resposta

Idiomas