O Buquê da Fadas
Era uma vez, no tempo em que os reis governavam as nações, vivia numa cabana velha, mas, muito limpa, bem no meio da floresta, um pobre cortador de lenha junto com sua filhinha Alice.
Todos os dias esse bom homem saía com sua enxada, logo que os primeiros raios de sol apareciam através das altas árvores, para tirar da madeira o seu sustento e o de sua filhinha. Alice também fazia sua parte, pois, enquanto seu pai se afastava para trabalhar, ela cuidava da casa e das flores de seu pequeno jardim. Ela nunca estava sozinha porque era muito afeiçoada as flores e sempre conversava com elas em termos amorosos. Parecia-lhe que quando a brisa as tocava, elas inclinavam suas cabeças em resposta.
Frequentemente, enquanto fazia o serviço da casa, corria a uma pequena janela para olhar um magnifico palácio que ficava imponente e majestoso, no topo de uma alta colina, a poucas milhas de distância. Muitas vezes sonhava estar nele, mas o que mais desejava era poder ver uma princesinha de verdade.
– Como ficaria feliz se pudesse ver uma princesinha, ela costumava dizer.
Ao pensar em poder ver uma princesinha, ela suspirava, pois sabia que o seu sonho era em vão. Nenhuma princesinha morava no palácio.
Um dia, entretanto, quando a tarde terminava e ela estava ocupada demais para poder passar algum tempo a janela, deu só uma rápida olhada ao palácio. Umaestranha cena chegou ao seu olhar. Estava flutuando de cada torre e de cada janela uma linda bandeira de seda.
– Deve ser algo muito bonito. O palácio está em gala, exclamou Alice excitada. Oh, o que poderá ser? Devo descobrir.
Ela olhou para o Sol. De onde ele brilhava nos céus, sabia que tinha tempo para correr ao pequeno vilarejo que ficava entre sua casa e o palácio, antes de preparar o jantar para seu pai.
Rapidamente, seus pés impacientes correram na trilha da floresta e, em pouco tempo, encontrava-se na estrada principal que levava ao vilarejo. Quando se juntou a multidão, nas ruas movimentadas, outras cenas maravilhosas a surpreenderam. Do topo de cada casa flutuava uma bandeira. O doce e melodioso som de instrumentos de corda, em alegres canções, fazia-se ouvir na delicada brisa de muitos jardins, enquanto as crianças nas ruas riam e brincavam. As ruas calçadas de pedras arredondadas estavam apinhadas de pessoas alegremente vestidas, indo em direção ao palácio. Em seus braços levavam pacotes misteriosos e os animais de carga estavam carregados com arcas e caixas de joias que Alice sabia deviam conter ouro, ricos perfumes e sedas de terras distantes, enquanto o soar dos sinos, colocados ao redor do pescoço dos animais, misturava-se com o riso de seus donos.
Puxando gentilmente a manga de um dos transeuntes, ela perguntou, timidamente:
– Por favor, bondoso amigo, diga-me o que significa tudo isto?
– O que significa? – respondeu o homem, atônito.
Então, gentilmente, ele perguntou:
– Menina, você não sabe que uma princesinha nasceu para o rei e para a rainha no palácio?
Não vendo presente algum, ele acrescentou:
– Você deve trazer a ela um presente. Deve ser o mais precioso que puder encontrar.
Assim dizendo, ele seguiu seu caminho.
Por um momento, Alice ficou atordoada.
– Uma princesinha! Uma princesinha, ela exclamou alegremente. Então existe uma princesinha!
Seu coração pulou de alegria, mas instantaneamente entristeceu-se ante a lembrança de que não tinha qualquer riqueza, como as outras pessoas, para ofertar a sua princesa e nem tinha dinheiro para comprar um presente. Triste, de cabeça baixa, ela virou-se e voltou vagarosamente para casa. Seu coração pesado doía em contraste com os alegres corações que acabara de deixar.
A estrada parecia longa e deserta. Ela ficou muito cansada antes de chegar a seu pequeno jardim. Quando passou através do portão, levantou os seus olhos em direção ao Palácio onde os últimos raios do sol faziam reluzir suas muitas janelas coloridas, com suas bandeiras alegres.
Ela imaginava, mentalmente, a pequenina princesa aninhada em suas roupas de seda e, de seu berço real, admirando os que se ajoelhavam diante dela e depositavam a seus pés seus preciosos presentes. Um soluço sufocou-a. Deprimida, ela prostrou-se num pequeno banco de madeira e recostou sua cabeça próximo aos galhos de jasmim que ficavam atrás do banco, até que o seu perfume acalmou seus pensamentos inquietos. Ela não estava lá há muito tempo, quando uma rosa vermelha, que estava perto de uma pequena lagoa, mexeu-se e abriu suas pétalas. Ou não?
Alice não estava muito segura, pois poderia ter sido somente a brisa movendo as folhas. Mas, outra vez ela fez o mesmo. Desta vez Alice não se confundiu. Ela olhou ao seu redor. Para sua surpresa, alguma coisa tinha mudado no jardim. A noite tinha caído e através das enormes árvores, a Lua prateada espalhava uma luz tremula sobre o local. Lá estavam os heliotrópios, rosas, margaridas e todas as flores que ela conhecia tão bem, mas: oh! Como estavam diferentes! Oheliotrópio espalhava suas verdes folhas e soltava miríades de minúsculas ametistas.E, de seu leito, as margaridas brancas como a neve, levantavam suas delicadas pétalas, uma abundancia de diamantes em miniatura. Perto da violeta de raios púrpuros, o jacinto amarelo espalhava uma luz dourada nas vestes cor-de-pérola dos Sírios do vale, enquanto as ricas vestes vermelhas que preenchiam o coração da rosa vermelha aumentavam cada vez mais, até que cada pétala refletisse o brilho ígneo do rubi. A grama abaixo dela irradiava estranhas luzes verdes, cada esmeralda inclinando-se gentilmente como se estivesse acompanhando uma música.
De repente, como se tivesse vindo despercebida enquanto as flores estavam se transformando em joias, apareceu a mais encantadora criatura tipo flor, uma pequena Fada Rainha. Ela estava sentada no mais delicado trono das fadas. Suas longas tranças douradas, combinando com seu vestido delicado eram uma visão tão linda que Alice tinha certeza que nunca mais esqueceria.
Na sua cabeça radiante estava uma coroa de flores que brilhava com as luzes das opalas. Em sua mão, uma varinha prateada atraia e refletia os raios da Lua.
Com a chegada de sua Rainha, as flores inclinavam suas cabeças e enchiam a noite com seu perfume. Ao mesmo tempo, de cada botão saíam criaturas minúsculas com asas transparentes e cabelos dourados. Suas roupas, àmedida que elas dançavam, cintilavam como pedras preciosas, enquanto a música de suas vozes era como o tinir de sinos prateados. Rodando e rodando, elas dançavam num círculo mágico até que a Rainha levantou sua varinha e todas se inclinaram obedientes, em silêncio.
– Vinde, minhas filhas – ela disse com sua voz musical clara e doce -Vinde até mim, para que eu possa confiar-vos os vossos admiráveis encargos.
A fada dos jacintos deu um passo à frente. A Rainha tocou gentilmente na sua cabeça e disse:
– Oh, filha da doçura e de encanto, eu te encarrego de guardar sempre o espírito doce de encanto.
A seguir, uma fada do amor-perfeito, vestida em suaves safiras e topázios, inclinou sua cabeça perante a Rainha.
– Lembra-te, querida filha, a solicitude é uma virtude sagrada – a Rainha disse sorrindo para ela.
Então, a pequena margarida levantou seus olhos confiantes.
– Bebê das flores – cantarolou suavemente a Rainha – retém sempre tua inocência.
Seguindo, a rosa esplendorosa abaixou sua gloriosa cabeça. .
– Formosa flor – a exaltou – conserva tuas pétalas sempre novas na beleza.
Timidamente, a violeta saiu debaixo de seu manto verde-esmeralda e vagarosamente inclinou sua cabeça.
Com gravidade, a Fada lhe deu este encargo:
– A modéstia éo teu encanto. Conserva-a bem,pois, uma vez perdida, ela o é para sempre.
Depois a violeta, a orquídea e a flor da paixão, de mãos dadas, ajoelharam-se diante da sua Rainha.
– Ah – suspirou ela – constância e fé, dois presentes apreciados são confiados àvossa guarda.
Em seguida, o lírio branco como a neve, inclinou-se com graça e simplicidade e a rosa vermelha ruborizou-se ao seu lado. A Rainha beijou-os gentilmente enquanto se levantava e dizia:
-Pureza de pensamento é o presente de Deus e o amor é seu atributo perfeito. Possas tu, casto lírio, manter tua alma muito pura, e tu, querida rosa, manter o teu coração apaixonado sempre resplandecente, a fim de que o mundo possa ver que a pureza e o amor são supremos sobre todas as coisas.
Tão lindos eles estavam quandoinclinaram suas cabeças que a menina, sentada no banco, levantou-se para tocá-los. Instantaneamente desapareceram as flores joias, a Rainha e sua corte – Alice ficou sozinha à luz da tarde que desvanecia. Ela esfregou seus olhos, mas, já se fora o mágico encanto. Lá estavam as flores, como antes, quando ela se reclinou no banco, suas cores se diluindo no crepúsculo da tarde.
Por um momento, ela as observou balançando na brisa, depois, batendo palmas, feliz ela exclamou:
– Já sei o que vou fazer. Encontrei o meu presente para a princesinha.
Assim dizendo, foi de flor em flor e pensou.
– Qual delas devia ser?
Cheirando o jacinto, ela murmurou: Sublime amor. Oamor-perfeito pensativamente retribuiu sua admiração. A inocente margarida e a modesta violeta se inclinaram timidamente. Um traço de rara beleza a aguardava quando a rosa-damasco abriu suas lindas pétalas rosadas e graciosamente balançou na brisa.
A flor da paixão e a orquídea entrelaçaram seus longos caules e vendo-os assim, ela disse:
– Estou lembrada: Constância e Fé; dois presentes apreciados.
Continuando, ela chegou a uma minúscula lagoa e lá, num branco como a neve, estava o maravilhoso lírio.
Reclinando-se sobre ele, à beira d’agua, a rosa avermelhada acenou sua cabeça.
Juntando sua mão em delicada reverência, ela disse suavemente:
– Pureza e amor. Em todo o mundo, não conheço melhor presente. Levarei essas flores.
Ela parou para colhê-las. Nesse momento, o perfume de todas as outras flores parecia alcançá-la, como se os botões a chamassem. Foi, então, que percebeu que todas as flores eram necessárias para tornar um presente perfeito.
Cuidadosamente, foi de flor em florcolhendo, de cada uma, seu botão mais delicado.
Na manhã seguinte, no meio a alegre massa que se apinhava nos corredores do palácio, ninguém tinha o coração mais feliz nem mais humilde do que essa menina que habitava a cabana na floresta. Ajoelhando-se ante o delicado berço real, ela timidamente, ofereceu seu presente:
Uma onda de risadas percorreu a multidão ricamente trajada, mas o sábio e bom Rei silenciou-os.
Pegando o buque variado, ele o contemplou demorada e pensativamente. Havia jacintos, violetas, margaridas e todas suas irmãs adoráveis, mas coroando tudo, bem no meio, estava o símbolo do amor e pureza. Nenhum botão com seu precioso significado passou despercebido para ele. Sorrindo, ele olhou para Alice.
– Querida menininha – ele disse – você superou todos os demais presentes dando àprincesinha o presente mais precioso, porque todo o ouro de meu reino não poderia comprá-lo. É um buquê das fadas. E, como o mais feliz dos reis, eu beijo a mão de quem o trouxe.
Assim dizendo, ele inclinou sua cabeça real e trazendo a mão de Alice aos seus lábios, beijou-a. Isso não foi tudo, pois para o espanto de todos, ele levantou o Bebê Real, a princesinha, e colocou-a cuidadosamente nos braços de Alice. Alice, que viu seu sonho finalmente realizado, admirou com felicidade a pequena Princesa Real, enquanto as flores colocadas na coberta de seda acenavam suas cabeças e enchiam a sala com a fragrância delas.
(do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. I – por Rowena Greenwood Noyes – Compilado por um Estudante – Fraternidade Rosacruz).
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