Faz sentido ter Temor às Provas quando no grau do Probacionismo?

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Faz sentido ter Temor às Provas quando no grau do Probacionismo?

Faz sentido ter Temor às Provas quando no grau do Probacionismo?

Há dias, encontrei-me com um amigo e perguntei-lhe: “Como vai você no caminho Rosacruz? ”. Respondeu-me: “Recusei o Probacionismo. Disseram-me que a vida da gente piora quando se entra nesse grau”.

Esclareci-o. Não o encontrei mais, depois daquele dia.

A conversa que tivemos e as meditações que ela suscitou, me fizeram pensar neste artigo. Creio ser útil a muita gente.

O Probacionismo, ou melhor, o PROBATÓRIO – como registra o dicionário – de fato concerne à prova: “é o grau que serve de prova; que contém prova”. Notem bem: Ele NÃO leva à prova; NÃO conduz à prova exterior; ele SERVE de prova; CONTÉM prova – porque traz à tona da consciência as falhas internas; porque convida à purificação dos próprios defeitos. Não se trata de nos expormos a uma série de provas que os Mestres programam e às quais nos submetemos. Não! É a nossa própria prova; é nos convidar a remover, a pouco e pouco, aquelas limitações de caráter que nos retardam a caminhada.

Assim como ajudamos o Corpo, com uma pomada especial, a amadurecer e soltar o carnegão de um furúnculo que nos incomoda; assim também temos de tomar consciência de nossas limitações, para não mais repeti-las. O alimento dos hábitos errôneos é a ignorância. Quando compreendemos que eles são prejudiciais à nossa caminhada e ficamos alertas para não cair na repetição mecânica a que o hábito induz – eles vão perdendo força e se dissipam. Por isso diz Max Heindel: “Todo esforço Iniciático começa pelo Corpo Vital”.

Mas é preciso ter cuidado. O Corpo Vital é um veículo de hábitos, formados pela repetição. Por falta de esclarecimento ou por fraqueza (condescendência ao vício dominador) podemos repetir hábitos inconvenientes e fortalecê-los desse modo – reforçando os grilhões que nos condicionam.

São Paulo apóstolo disse: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém; examinai de tudo e escolhei o melhor”.  Temos livre arbítrio.  Somos livres para morrer ou para viver; para descer ou para subir pela escada evolutiva. Mas um aspirante à espiritualidade tem um só propósito: SUBIR.

Pensar em espiritualidade é admitir, de início, a TRANSFORMAÇÃO, sem a qual é impossível atingi-la. Alcançar a Iniciação, continuando a ser o mesmo ser vicioso de hoje, é um absurdo. A “queda do homem” não foi geográfica: foi de consciência. Embrutecemo-nos; caímos de sensibilidade, de vibração, de sintonia com o Divino. Evoluir é conscientemente conquistar maior sensibilidade, pela remoção das escórias que nos pesam.

Para descer ao fundo do mar e vencer a resistência da água, o mergulhador leva pesado escafandro. Qualquer um de nós sabe que ao mergulharmos a certa profundidade para alcançar o fundo temos de vencer a pressão da água. Mas para voltar à superfície é muito fácil: a própria pressão da água nos impele de volta à superfície.

Assim também com nossa natureza espiritual. A tendência natural da Essência divina é buscar o alto. O que nos mantém nos baixos estados de consciência é a ignorância, a crença falsa de que não podemos viver sem certos vícios, vícios esses que podemos reunir em um único: o tirano apego! Como o macaco preso à cumbuca, de punhos fechados, agarrados às ilusões e hábitos daninhos, não podemos desprender-nos!

Além desse apego ignorante, há outro fator retardante: a COVARDIA. O ser humano de nível comum é medroso, é covarde, é comodista. Quer alcançar as coisas sem esforço e a curto prazo. Quer alcançar certas coisas sem pagar o preço correspondente – como os alunos que procuram escolas desonestas e pagam bem para obter um diploma que envergonha a classe, a profissão. De onde vem essa pretensão idiota? Da personalidade. Ela quer pegar sem pagar. Já viram um PEGUE sem PAGUE? Tudo, no mundo, é um balanceamento de direito e de dever. A cada direito há um dever.

Ainda mais: no desenvolvimento das faculdades, há sempre o sacrifício de uma para dar nascimento a outra. Por exemplo: sacrificou-se metade (ou um polo) da força criadora unitiva do ser hermafrodita de antanho, para com ela formar-se a laringe e o cérebro, que nos atendessem as funções superiores e criadoras da palavra e do pensamento.

Tal é o preço na transformação do ser interior. Os olhos estão se transformando para alcançar a visão etérica; o Corpo Denso está se eterizando, aos poucos, nos espiritualistas sinceros que seguem as normas do Probacionismo de: “uma Mente pura, um Coração amoroso e um Corpo são”.

Para a Mente ficar pura; para o Coração tornar-se nobre e amoroso; para o Corpo se tornar são é indispensável uma transformação de hábitos, uma purificação gradual e decidida.

Que pensaríamos de uma pessoa que se recusasse a entrar na escola e submeter-se à sua disciplina – para não ter o trabalho de estudar; para ficar livre de horários? É claro: permanece ignorante.

O mesmo se dá em relação ao probatório: por que vou recusá-lo?

Para não me livrar dos vícios e limitações ignorantes? Seria o mesmo que permanecer no fundo d’água; não querer sair dali – e ao mesmo desejar o ar e o céu. Para alcançar uma coisa é preciso deixar outra. TRANSFORMAÇÃO pressupõe movimento: transitar para além da forma atual de ser. Tirar o pé do degrau de baixo para pô-lo no degrau de cima. Do contrário, não posso subir a escada; fico onde estou. Querer subir, sem “desgrudar o pé de baixo”, é impossível.

É uma triste pretensão querer brilhar como um brilhante e ao mesmo tempo negar-se ao despojamento das escórias que enfeiam o diamante bruto. É uma má compreensão querer que a árvore dê belos e abundantes frutos, sem submetê-la à poda. Ora, a poda existe igualmente na espiritualidade. Temos energia potencial; se a utilizamos egoisticamente, apenas na promoção da personalidade, ficaremos uma árvore folhuda, bonita por fora, mas completamente inútil, estéril. Lá, diz o Evangelho: “a árvore que não dá frutos, será cortada e lançada ao fogo”. Mas se podamos, isto é, se reservamos uma parte da energia potencial aos propósitos fisiológicos do corpo e dirigimos a parte sobrante aos propósitos espirituais, seremos aquele ser equilibrado e produtivo; aquele que, na definição de Max Heindel: “Assume perante si mesmo a obrigação de servir, obedecer e amar ao Eu verdadeiro e superior. ”

Só há um Eu verdadeiro – que chamamos de EU real. Mas o dizemos verdadeiro e superior, para destacá-lo claramente de outro eu falso e inferior – formado pela ignorância. Esse “eu” falso, inferior, o ladrão de nossas energias – a grande prostituta referida na Bíblia, que prostitui ou desvirtua a pureza dos intentos espirituais.

Atualmente estamos decaídos e divididos. Pensamos no “eu” pessoal e no Eu espiritual – como se fôssemos dois. O Cristo interno, à parte e separado do “eu” humano – a natureza inferior. Mas não há essa divisão. Há um só EU – que é o VERDADEIRO E SUPERIOR…

Enquanto houver a dualidade ilusória, é sinal de que “a casa estará dividida contra si mesma, sem possibilidade de subsistir”. Enquanto houver a identificação com um “eu” inferior e falso – haverá uma válvula de escape – que desviará as energias do EU REAL para propósitos egoístas.

Ora, o que se propõe no probatório é o despojamento do “eu” inferior e falso – até certa medida que nos permita alcançar o portal da iniciação, onde contaremos com mais recursos para uma purificação mais intensa e esclarecida, mercê dos recursos extrassensoriais.

No probatório contamos com uma ajuda preciosa durante o sono, que nos esclarecerá, na medida de nossa consciência, sobre os pontos falhos e o despojamento deles. No probatório se amplia nossa possibilidade de servir, porque somos aproveitados para constituir equipes de auxílio e de cura no trabalho inconsciente durante o sono, após a restauração do corpo. E, com o tempo, segundo a sinceridade e esforço de cada Probacionista, ocorrem vislumbres para mostrar-lhe a seriedade do trabalho.

Sim: o probatório é um grau que serve de prova; que contém prova para aqueles que desejam entrar pela porta da escola, enfrentando lealmente as próprias limitações – não para os covardes, os desonestos, os comodistas que tiram os diplomas pelos fundos, a um preço “X”, iludindo-se a si mesmos e conservando-se na ignorância estagnadora.

A vida é um convite de subida, para descortinar horizontes mais largos, visões mais amplas. Mas cobra o preço do esforço da subida.

Quem não quer pagá-lo tem o direito de permanecer nas fraldas escuras da montanha, de mãos estendidas, a pedir luz, que ninguém lhe pode dar.

(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de junho/1976)

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