Faça-se a Tua Vontade
Em todos os tempos existiram pessoas que procuravam conseguir as suas coisas materiais através das religiões. Hoje em dia, ainda é grande o número delas que chega a se filiar a esta ou àquela entidade religiosa, com o principal objetivo de conseguir emprego, casamento, moradia, saúde e todas as demais necessidades, sem falar naquelas que usam a religião para fazer mal aos outros.
Toda oração bem-intencionada é válida. O abuso ou o pedido mal encaminhado é que constitui o grande perigo.
Porque, além da pessoa estar se expondo a tornar-se presa de forças que desconhece, seus pedidos mal feitos ou feitos com forçada intensidade, poderão trazer consequências desagradáveis e até funestas.
Não há nenhum exagero no que ensina a Filosofia Rosacruz, especialmente no Ritual de Cura, que todo o pedido encaminhado diretamente a Deus, deve ser enfeixado com estas palavras: “Mas faça-se, Senhor, a Tua Vontade e não a minha”.
Esta forma de pedir, aliás, não diminui o valor do pedido, como poderão pensar algumas pessoas. Pelo contrário, até orienta os resultados para que cheguem ao destino de maneira correta, sem nenhum prejuízo. E mesmo que as coisas não aconteçam exatamente como se pediu, podemos ficar tranquilos que o que vier, será a resposta certa do Pai. Mesmo porque, se não usarmos aquela afirmação no final da oração, a responsabilidade de atingir, bem ou mal, este ou aquele desejo, fica por nossa conta. Porque, às vezes, para que se cumpra com exatidão o nosso pedido, poderá haver alguma exigência, alguma necessidade de acomodação que, por seu turno, vai recair em algum sacrifício, a fim de que se chegue ao merecimento do que se quer. Daí, ao transferirmos ao Pai a responsabilidade total no atendimento dos nossos pedidos, ficarmos isentos de qualquer necessidade de acerto em nossos valores.
Às vezes, o pedido feito indiscriminadamente não leva a necessária preocupação em saber se temos, ou não, merecimento da dádiva de Deus. Se pensarmos, mesmo, só nos nossos desejos, talvez nem imaginamos se não será preciso, primeiro, fazer alguns ajustes em nós mesmos, em nosso temperamento, em nosso modo de vida, em nossos contatos com as outras pessoas, enfim, em muitos outros assuntos de vital importância para que Deus possa atender-nos conforme a nossa vontade.
Além do mais, passando para Deus a responsabilidade do acerto estamos cumprindo um ato de fé, pois confiando n’Ele e na Sua Sabedoria estamos acreditando que só Ele, que tudo vê, poderá dar-nos justamente aquilo que é para nós, que será melhor para a nossa vida e o nosso destino divino.
Então, mesmo que muitas vezes a solução pareça demorada e se passem semanas, meses e até anos para que se cumpra o pedido podemos estar seguros de que quando vier será exatamente aquilo que merecemos, além de ter chegado na hora exata, no momento adequado. Nós mesmos, alguma vez podemos ter comprovado que certas coisas que pedimos cegamente e não as conseguimos logo, não teriam dado certo se tivessem vindo antes da hora em que vieram, como aliás, pretendíamos que ocorresse. É que Deus, para tornar possível a nossa aquisição, esteve o tempo todo acertando os ponteiros do nosso relógio, acomodando certas coisas em torno de nós, inspirando-nos talvez a correção de alguns defeitos ou acertando outras coisas dependentes de nós mesmos para que o ambiente se ajustasse à realização perfeita do pedido, sem choques nem desarmonias.
E há, também, um particular nesta questão de pedidos: quando a pessoa vai ter necessidade de receber alguma coisa, ou melhor, quando vai chegar ao ponto de merecer alguma dádiva material ou espiritual, ela própria irá se condicionando a querer aquilo, mesmo que, talvez durante muito tempo antes, se tivesse negado, a si mesma, esse desejo, achando subconscientemente que não o merecia.
O próprio merecimento amadurece o momento, encaminhando as pessoas e preparando-as para receberem tudo aquilo que lhes está reservado pelo destino. Em suma: as pessoas, não raro, começam a querer aquilo que finalmente chegaram à condição de receber.
Por isso, jamais devemos fazer as nossas solicitações com data marcada nem com insistência. Sejamos humildes em nossos pedidos, entregando sempre diretamente a Deus a solução de todos os nossos problemas. Porque aqueles que forçam situações, muitas vezes até acendendo velas e impondo pedidos a entidades, sejam de terreiro ou mesmo dentro do catolicismo, para as almas do purgatório, por exemplo, estão se expondo a receber, no futuro, talvez até depois da morte – a cobrança das suas imposições. Porque as almas do purgatório nada mais são do que espíritos sofredores, atrasados que estão cumprindo pena de seus próprios erros, e que, na sua ignorância e limitações fazem qualquer negócio para saírem da situação em que se encontram, acreditando que as velas em sua intenção poderão abrir portas, cuja abertura, na verdade está dependendo da exposição dos erros de cada um.
Assim, antes de fazermos qualquer pedido por nós ou por outrem, abaixemos a cabeça com humildade, expondo a Deus os nossos problemas, dizendo-Lhe tudo o que desejaríamos, mas colocando, no fim, toda a solução em Suas Mãos. Porque, além d’Ele nos conhecer melhor do que nós mesmos, e só Ele saber das nossas reais necessidades, se assumirmos sozinhos toda a responsabilidade do pedido – como já foi dito – estaremos nos arriscando a sofrer, na pele, a falta dos ajustes necessários, provavelmente até sendo obrigados a passar algumas dificuldades, sofrer alguma perda, ou enfrentar desarmonias no lar, no trabalho ou seja onde for, para que a situação consiga equilibrar-se, colocando-nos à altura de receber o que tanto desejávamos antes sem estar preparados pelo merecimento.
Seja, pois, o nosso modo de orar, correto, finalizando sempre as nossas petições com a frase salvadora: “Apesar de tudo, Pai, faça-se a Tua vontade e não a minha”.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 04/79 – Fraternidade Rosacruz – SP)
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