Exame de Consciência

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Exame de Consciência

Exame de Consciência

“Que não caia o sono sobre teus olhos até que tenhas revisado três vezes as memórias do dia passado. Em que me desviei da retidão? Que estive fazendo? Que coisa deixei de fazer, que deveria ter feito? Começas assim desde o primeiro ato e prossegues e, em conclusão, ante o mal que tenhas feito, afliges-te e regozijas-te pelo bem” – Pitágoras.

“Todas as noites deveríamos chamar-nos às contas: Que fraqueza dominei este dia? A que paixão me opus? Que tentação resisti? Que virtude adquiri? Nossos vícios suprimir-se-ão por si mesmos, se são trazidos todos os dias à confissão e ao perdão” – Sêneca.

Como vemos, o fundamento racional da Retrospecção não é novo, nem se originou com os Ensinamentos da Fraternidade Rosacruz. Os pensadores, no curso da História, têm compreendido o valor dessa forma de exame de consciência. Sua utilidade, como instrumento para melhorar a evolução humana, tem sido evidente para muitos que se beneficiam com sua prática.

A natureza específica das perguntas, tais como as que têm sido sugeridas pelos filósofos – Que deixei de fazer? Em que me apartei da retidão? Que fraqueza dominei? A que paixão me opus? -, é essencial para um bom exame de consciência. Devemos pensar em termos de virtudes, se quisermos dominá-las e confessar as tentações e as paixões, se quisermos vencê-las.

O exame de consciência é necessário para o progresso, uma vez que colocamos nossos pés sobre o caminho espiritual. O casual ordenamento de nossas lições e experiências terrenas e nossa resposta a elas, que caracterizaram nossa experiência passada, já não podem ser tolerados se queremos fazer apreciável progresso na busca espiritual, a que agora nos temos dedicado.

O movimento para adiante, intencional e firme, isto é, crescimento espiritual contínuo, deve ser agora a marca de nossa existência. Isso apenas será logrado se somos plenamente conscientes do que estamos fazendo e como o estamos fazendo e, se então, deliberada e conscientemente, damos os passos necessários para fazer o que sabemos que é correto, em todas as situações. Isso será possível somente se mantivermos um programa sincero e regular de contínuo exame de consciência.

Qualquer pessoa, não importa quão iluminada e progressista pareça, engana-se se crê que a necessidade do estudo de si mesma não se aplica a ela. Nossas provas e aflições multiplicam-se à medida que lutamos pelo progresso espiritual e quanto maior a altura, maior o perigo de uma caída. Nossos atos, nossas palavras, nossas atitudes, as próprias auras que nos rodeiam devem fazer-se mais refinados e elevados, à medida que prosseguimos.

Se temos feito algum progresso, as características que possam haver bastado há dois anos, já não seriam agora completamente adequadas. Pelo fato de havermos feito as necessárias mudanças dentro de nós, já agora devemos ter aprendido a avaliar-nos com mais esmero.

“Conhece-te a ti mesmo!” Uma advertência enganosamente simples! Quantas pessoas se conhecem a si mesmas corretamente, neste mundo? É certo que muitos que nunca se ocuparam em examinar-se a si próprios conscientemente, creem que se conhecem definitivamente e indignar-se-iam em ouvir que muito de suas mais íntimas personalidades, todavia, estão escondidas deles mesmos.

Apenas quando sinceramente nos ocupamos da consciente análise de nossos motivos, reações, metas, hábitos, fortalezas, debilidades e perspectiva integral, tal como o que é muito frutiferamente praticado durante a retrospecção noturna, é quando começamos a compreender quão pouco sabemos acerca do que fazemos, o porquê do que fazemos e que características, hábitos e atitudes devem ser fortalecidos ou mudados, com o objetivo de assegurar um automelhoramento contínuo.

Mais frequentemente do que cremos, o “eu” que tem funcionado tanto tempo e com êxito em um nível predominantemente material, deve ser drasticamente alterado para satisfazer as demandas do avanço espiritual. Unicamente quando nos temos observado a atuar, com um olho tão objetivo e claro quanto seja possível, compreenderemos a total extensão das mudanças necessárias.

O egocentrismo toma muitas e sutis formas e qualquer estudante sério dos Ensinamentos da Fraternidade sabe, por experiência, que uma pessoa pode sinceramente crer que está impulsionada por considerações inegoístas para somente depois, em um exame mais apurado, perceber que os subjacentes impulsos não são, no final, senão os do egoísmo. Não descobrimos isso, todavia, como resultado de observação superficial. Somente um autoescrutínio intenso revela todas as inesperadas e escondidas fraquezas mentais e emocionais a que somos propensos.

Em II Coríntios 13:5, São Paulo advertiu a seus leitores, assim: “Examinais a vós mesmos, se estais em fé; provais a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.       J

Se verdadeiramente estamos “em fé”, isto é, conformando-nos com os princípios do Cristianismo esotérico aos quais professamos termos aderido, o exame de consciência certamente revelará isso. Se estamos simplesmente tributando louvores fingidos aos ideais superiores, enquanto na prática estamos seguindo às ordens da natureza inferior, o exame de consciência também fará essa revelação.

O primeiro dos preceitos dados a todo novo estudante da Fraternidade Rosacruz é a simples, mas omni-inclusiva, afirmação de que “Cristo Jesus será seu ideal”. Se fazemos continua comparação entre nossa conduta e a que sabemos que teria sido observada por Cristo Jesus e atuamos em conformidade com tal comparação, ainda quando o resultado seja, ao princípio, decepcionante ao extremo, podemos esperar fazer um progresso gradual.

“Não reconheceis a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós?”. Perguntou São Paulo. Perguntas que poderíamos proveitosamente fazer a nós mesmos cada noite, tais como: Em que grau foi permitido funcionar o Cristo dentro de mim, no dia de hoje?; Tratei de enfrentar esta ou aquela situação como Cristo Jesus teria enfrentado?; Tratei de irradiar a Luz e o Amor de Cristo desde meu interior para os demais?; Foram meus interesses egoístas ou altruístas?; Preguei o Evangelho por meio do exemplo, no dia de hoje?

Um programa conveniente de exame de consciência ajudará, com o tempo, a conseguir os outros elementos de “individualidade” que devem ser alcançados por toda a humanidade evolucionante. O controle de si mesmo, isto é, a sujeição da natureza inferior a superior e a substituição dos desejos pessoais por motivos humanitários desenvolve-se gradualmente, em parte como resultado da profunda avaliação das razões pelas quais fazemos o que fazemos. Se compreendemos plenamente nossos motivos podemos alterá-los, se for necessário, para fazermos nossa conduta mais de acordo com o que se espera de um estudante espiritual. O autossacrifício, a doação de si mesmo, em tempo, pensamento e ação para benefício da humanidade semelhante, é dessa maneira também intensificado.

O exame de si mesmo é também fundamental para o desenvolvimento da autoconfiança. Quanto mais nos estudamos e compreendemos, mais seguros de nós mesmos nos tornamos e somos menos inclinados a nos apoiarmos em outras pessoas.

Certamente, nunca é prejudicial e às vezes ajuda ouvir as diferentes opiniões e bons conselhos, mas devemos gradualmente cultivar o suficiente juízo, discernimento e sabedoria para sermos capazes de tomarmos nossas próprias decisões em toda as coisas. Um programa efetivo de autoexame, repetimos, é fundamental para essa capacidade.

Finalmente, chegaremos à meta final de nossas vidas terrestres, a do domínio de nós mesmos. Nesse ponto o Eu Superior tem completa autoridade: a natureza inferior vencida permanentemente. Aqueles que alcançam esse superior estado de existência levam vidas de serviço irrepreensíveis, impecáveis, virtuosas e completamente inegoístas.

Sabem como conduzir-se, do ponto de vista espiritual, em toda circunstância concebível e o fazem automaticamente, já não tendo que depender de intensos esforços de vontade para manter-se no caminho reto. Alcançam esse mais elevado nível de esforço terreno porque aprenderam a conhecer-se a si próprios completamente e a atuar inteligentemente e de acordo com esse conhecimento.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – 07/86)

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