Como Tornar a Prece Eficiente
Um dos traços de união entre os aspirantes dos Ensinamentos Rosacruzes é o desejo comum de ajudar o próximo. Um dos principais motivos de nossas reuniões é orar pelos necessitados e tentarmos, seriamente, seguir a advertência de Cristo para rezarmos uns pelos outros. Há pessoas, porém, que sentem que suas preces não estão produzindo resultados; que não podem ajudar um ente querido necessitado, que compreendem o problema alheio, mas estão incapacitados de ajudar a resolvê-lo. Podem sentir também que existem condições além de sua capacidade, chegam a pensar que são dignos de pedir, quanto mais de receber a resposta tão esperada às suas preces. Percebem que suas preces não estão sendo respondidas como esperavam. Se alguém já passou por alguma destas experiências há sugestões que podem ser úteis.
Primeiro, vamos tentar definir a palavra prece. Basicamente prece é:
1) Comunhão com Deus; realização com a unidade Divina. Pode ser um momento em que nos isolamos e nos afastamos do Mundo Físico e, conscientemente, nos viramos para o Pai. Pode ser também uma atividade quase inconsciente onde se pratica e se sente a presença de Deus em tudo que se pensa, diz ou faz.
2) Prece é a harmonização e a fusão da Mente do Ser humano com a Mente Divina. É a ação mental mais rápida que se conhece, na qual o ser humano se sintoniza com o Mundo do Pensamento.
3) Prece é uma afirmação da Verdade que é eterna. Deus é o bem, o saber, o amor, a saúde, etc… e desde que somos seres espirituais feito à imagem e semelhança de Deus, no espírito e na verdade, também somos o bem, o saber, o amor e a saúde. Prece é simplesmente a concretização e a própria realização desta verdade.
4) Prece é a parte do ser humano no processo criativo de tornar aquilo que não é manifestado, em manifestação. O livro de Jó nos diz: “Vós também podereis decretar e assim o será”. O resultado final de nosso processo de evolução é tornarmo-nos co-criadores com Deus. Estamos nos tornando aquilo que deveríamos ser e somos. Foi-nos dado o poder da palavra criadora e temos a nosso dispor, mais força do que jamais imaginamos. Usando-a corretamente, esta força aumentará e se espalhará.
5) Prece é a glorificação de Deus, o mais alto estado espiritual de consciência alcançado pelo ser humano. Glorificar Deus é louvá-Lo, enaltecê-Lo, honrá-Lo e conhecer Sua verdadeira essência.
A prece mais conhecida no mundo Cristão é o Pai Nosso. Max Heindel nos deu a mais sublime explicação para essas santas palavras. Esta prece foi ensinada por Cristo Jesus aos Apóstolos, para ser usada em benefício deles próprios, mas é usada por todos e também pelos aspirantes como uma fórmula para a elevação e purificação dos instrumentos ou veículos que possuímos.
Usando o capitulo XVII do Evangelho de São João como base para fazer com que nossas preces aos outros se tornem mais eficientes, devemos ressaltar 10 pontos:
1) Algumas pessoas que rezam fracassam porque são egoístas. Os 26 versículos deste capítulo podem ser divididos em 3 partes: os primeiros oito versículos constituem a prece de Jesus Cristo para Ele mesmo; os versículos 9 a19 são a sua prece para Seus Discípulos; e os versículos 20 a 26 são para aqueles que irão acreditar Nele mais tarde – o que nos inclui.
Na primeira parte, Jesus Cristo estava rezando não só para Ele próprio, como também para a glorificação do Pai. “Glorifica teu Filho para que teu filho te glorifique”. “Eu te glorifiquei na Terra e terminando a obra que me deste para fazer”. Ele não procurou glória para Si, mas apenas que o Pai pudesse ser glorificado e Sua verdadeira essência revelada.
Ao rezar pelos outros devemos ficar atentos para não glorificarmos a nós mesmos e a nossos desejos. Ocasionalmente podemos não nos aperceber de que nos tornamos ditadores ao procurar impor nossa vontade pessoal ou ao tentar forçar alguém a aceitar modelos pré-concebidos. Talvez estejamos rezando: “Faça-o enxergar as coisas do meu modo”, ao invés de: “Ajuda-me a encontrar a melhor solução”, ou: “Faze com que a luz da verdade ilumine sua mente”, ou simplesmente: “Tuas vontades serão feitas, Pai”.
É fácil desviar as preces que fazemos para os outros, de modo a satisfazer o que nós queremos para eles ou pensamos que eles deveriam querer ou ter. É uma cilada contra a qual precisamos estar sempre de prontidão, especialmente quando se trata de pessoas muito chegadas a nós. Pode não ser difícil parecer que estamos conformados quando pedimos por aqueles que estão longe e não são tão íntimos, mas para aqueles com quem temos uma relação mais chegada, é muito difícil nos desvencilharmos do nosso Ego e tentarmos rezar para o bem dessa pessoa entregando-a a Deus, mesmo que seja contra o que gostaríamos que acontecesse. Portanto, se nossas preces parecem não produzir resultados, vamos examinar nossos motivos e talvez aí encontremos a razão para o fracasso.
2) Devemos sempre reconhecer a qualidade da liberdade no amor puro, mesmo quando vemos que alguém está cometendo o que consideramos um grande erro. Devemos dar liberdade a esta pessoa para que se desenvolva a sua maneira. Talvez vejamos alguém muito querido deixando-se levar para uma situação que sabemos irá causar-lhe sofrimento e queremos evitar que isto aconteça e que a pessoa sofra. Porém, talvez, seja preciso, para que a pessoa aprenda experimentar certas provações e aflições, a fim de receber uma lição necessária. Talvez o engrandecimento da alma venha através desta experiência porque, infelizmente, aprendemos muito mais com nossas próprias experiências do que com conselhos.
Quando bebês, ao aprendermos a andar, tivemos muitas quedas. Se nossas mães nos tivessem carregado sempre em seus braços, certamente não teríamos tido tantas quedas, manchas roxas e choros, mas também não teríamos aprendido a andar. A mãe carinhosa, certamente quer proteger seu filho de quedas físicas, emocionais e espirituais, mas somente experimentando algumas dessas quedas e por meio da liberdade do poder tentar, acertar e fracassar sozinhos é que aprendemos a andar retos, tanto fisicamente como de outras maneiras.
Jesus Cristo disse: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno”. Ele não rezou para que Seus queridos Apóstolos fossem tirados do mundo, mundo este cheio de desafios, provocações, frustrações e conflitos, mas que eles fossem protegidos do mal. Devemos deixar nossos entes queridos livres para encontrar o bem supremo, da maneira que for melhor para eles. Podemos rezar para que Cristo os conduza nos caminhos da honradez e probidade. O Cristo dentro de nós deve reconhecer o Cristo daquele por quem rezamos e dar-lhe liberdade individual para fazer sua própria escolha.
3) Não devemos jamais implorar ou suplicar. Implorar supõe que estamos tentando superar uma relutância por parte de Deus. Não há necessidade de se implorar a Deus em nome de outra pessoa, uma vez que o seu bem estar já é muito conhecido no coração do Pai. Muitas referências nas Escrituras Sagradas afirmam esta verdade. “Nosso Pai conhece as coisas de que necessitamos, antes de as pedirmos” (Mt 6: 8). “Não é da vontade do Pai que nós devamos morrer” (Mt 18: 14). “É prazer do Pai dar-nos o reino” (Lc 12: 32). Podemos estar certos de que a vontade de Deus para nós é perfeição.
A prece de Jesus Cristo era: “Eu dentro de vós e vós dentro de mim, assim sereis feitos perfeitos em um só”. Nossas preces não mudam o que Deus pensa sobre nós. Ele já nos determinou perfeição. Não temos que negociar com Deus. A prece não muda Deus e não o impele a fazer o que Ele não almeja para nós. A prece nos coloca num estado de receptividade do Bem que Deus já planejou para nós. Portanto, ao invés de implorar e suplicar, vamos reivindicar o que há de bom, já estabelecido em espírito. Jesus Cristo corajosamente rezou para o Pai: “Pai, quero que onde eu estou, estejam também comigo aqueles que me deste, para que vejam a glória que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo” (Jo 17: 24).
4) Devemos confirmar a verdade na fé, confiança e agradecimento. Quando Jesus Cristo ressuscitou Lázaro, Ele disse com plena fé e confiança: “Pai, Eu Vos agradeço por me teres ouvido e sei que sempre me ouvis” (Jo 11: 41). Nas duas ocasiões quando alimentou as multidões, Ele primeiro agradeceu pela dádiva que foi dada, muito embora ainda não tivesse sido manifestada no plano exterior. Agradecendo desta maneira, demonstra fé, confiança e desperta estas qualidades em outros, que, por sua vez, se tornam melhores canais pelos quais Deus pode fazer Sua obra.
5) Não volte atrás em suas preces! É de pouca valia rezar com palavras positivas se, continuamente, estamos projetando um quadro negativo na tela da Mente. Se visualizarmos e, deste modo, enfatizamos a parte negativa ou condição que precisa ser eliminada, estamos desfazendo todo nosso trabalho de rezar. Você se lembra da parábola da casa que limpamos de todos os maus espíritos? Depois de estar completamente limpa, ela permaneceu vazia; os maus espíritos voltaram e trouxeram sete vezes piores espíritos com eles. Ideias sombrias e pessimistas sobre quem rezamos devem ser eliminadas de nossa casa de pensamentos. Inclinações duvidosas, temores e ansiedade devem ser varridos com fortaleza e na Mente só devemos colocar pensamentos firmes e positivos.
6) Devemos imaginar os perfeitos resultados da prece. Nossa faculdade de imaginar desempenha um importante papel no que diz respeito a “chamar” as condições desejadas. Se rezamos pela saúde de alguém, vamos imaginá-lo sempre com boa saúde. Se rezamos pela paz de espírito, harmonia ou qualquer outra condição desejada, vamos imaginá-lo já gozando deste estado de espírito. “Vós vos mantereis em perfeita paz se vossa Mente estiver com Ele” (Is 26: 3). Fixando nossa atenção em Deus e na sua bondade, fortalecemos Sua presença e atividade. Ao visualizarmos alguém circundado pela luz de Cristo, estamos protegendo-o do mal e ajudando a antecipar a cura, seja da Mente, do corpo ou de qualquer natureza. Desta maneira nos tornamos co-criadores com Deus e ajudamos a estabelecer o Reino dos Céus na Terra.
7) Não devemos colocar limites nas nossas preces. Com Deus nada é impossível; não há limitações em Deus. “O que pedires em meu nome, será dado a ti” (Jo 14: 14). Jesus Cristo disse: “É prazer do Pai dar-vos o reino” (Lc 12: 32). O desejo do Pai para conosco é o bem, nada a não ser o bem, de maneira que devemos ficar receptivos e abertos para todo o bem que o Pai tem reservado para nós. Poderá vir em bênçãos como um aguaceiro derramado das janelas do Céu.
8) A qualidade sentida, presente, de agora é eficiente na prece. A manifestação da resposta perfeita de Deus é possível agora mesmo, se houver fé e compreensão suficientes para chamá-la. “Antes que perguntes, responderei” (Is 65: 24). Deus está aqui, agora, e basta invocar Seu amor e poder de maneira correta, para recebermos respostas completas e perfeitas.
9) Devemos dar à reza um profundo sentido de alegria. “E falo isto estando ainda no mundo, para que partilhem plenamente de minha alegria” (Jo 17: 13). Se estamos cientes da presença e poder de Deus, como Jesus Cristo estava, não deixaremos de ser agraciados com a felicidade. A prece verdadeira é alegre, porque reflete a convicção que Deus está no comando de seu mundo e que tudo está na ordem divina, apesar de toda a aparência em contrário.
10) Nossas Mentes e Corpos devem estar limpos e puros. No Serviço de Cura da Fraternidade encontramos estas palavras: “Se queremos realmente ajudar no trabalho que os Irmãos Maiores começaram, devemos fazer de nossos corpos instrumentos adequados, devemos purificá-los vivendo uma vida limpa, pois um recipiente sujo não pode conter água limpa e saudável, nem uma lente manchada pode dar uma imagem nítida”. Nem o puro e forte poder da cura pode ser emanado daqui a não ser que mantenhamos nossas Mentes e Corpos limpos e puros. Quando Jesus Cristo subiu o Monte da Transfiguração, Ele levou consigo três de Seus Discípulos: Pedro, Tiago e João. Enquanto estavam com Ele, os demais Discípulos foram abordados por um homem que pedia a cura de seu filho, possuído pelos maus espíritos. Eles tentaram, mas não conseguiram a cura. Quando Jesus Cristo, acompanhado de Pedro, Tiago e João retomou e curou o menino imediatamente. Os Discípulos, desanimados pela inabilidade em demonstrar o poder da cura que Jesus havia ensinado, perguntaram o porquê. Sua resposta foi: “Este tipo de cura só acontece com prece e abstinência”. Que outra manifestação mais clara precisamos ter para nos certificarmos da necessidade de purificar os nossos Corpos e as nossas Mentes? Devemos alimentar-nos com pensamentos saudáveis e puros. Não podemos deixar nossas Mentes se fortalecerem com pensamentos negativos, nem permitir que sentimentos desta natureza nos guiem. Assim como seguimos instruções de nossos Irmãos Maiores para um regime vegetariano, a fim de conservarmos nossos corpos puros, vamos prestar atenção ao conselho de São Paulo para a purificação da Mente: “Quanto aos mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é santo, tudo o que é amável, tudo o que é de bom nome, qualquer virtude, qualquer coisa digna de louvor da disciplina, seja isto objeto dos vossos pensamentos” (Fp 4: 8).
Traduzido da Revista “Rays from the Rose Cross”
(Revista Serviço Rosacruz – 02/81 – Fraternidade Rosacruz – SP)
Sobre o autor