Exercícios Diários para o Cultivo da Alma
Quando Cristo visitou Marta e Maria, a primeira estava muito mais preocupada com o seu conforto material do que com os assuntos espirituais que Ele ensinava; daí a repreensão que recebeu por ocupar-se com coisas sem importância, em vez da “única coisa verdadeiramente necessária”. Indubitavelmente, não devemos descuidar do cumprimento dos nossos deveres, das obrigações que nos são apresentadas na nossa vida diária. Infelizmente, muitos cometem o grande equívoco de reputar como primordiais os deveres e as tarefas materiais, pensando que o desenvolvimento espiritual pode esperar até um tempo propício em que não tenham outra coisa para fazer. Cada vez mais, as pessoas admitem que deveriam dedicar mais atenção aos assuntos espirituais, mas encontram sempre uma desculpa para não o fazer naquele momento. “Os meus negócios requerem toda a minha atenção”, dirá um. “Tenho as horas tão contadas e o meu trabalho exige tanto de mim que não sobra tempo para mais nada.
Mas, assim que ficar mais livre, preocupar-me-ei com os assuntos espirituais e darei mais atenção a eles”. Outros alegam que tem a seu cargo seus familiares, mas tão logo cumpram suas obrigações para com eles, estarão prontos a consagrar o seu tempo ao desenvolvimento da alma.
Sem dúvida, em muitos casos e até certo ponto estas desculpas são legítimas, e aqueles que as apresentam estão se sacrificando real e verdadeiramente por alguém ou por alguma coisa. Lembro-me do caso de uma Probacionista que, cheia de angústia, escreveu dizendo que os seus dois filhinhos requeriam sempre a sua atenção quando ela pretendia fazer os seus exercícios matutinos e vespertinos.
Desejava ardentemente avançar no caminho da vida superior, mas o cuidado dispensado aos seus filhos parecia um obstáculo e perguntou o que deveria fazer. Cuidar dos seus filhos, naturalmente, foi o que eu lhe respondi. O sacrifício ao substituir o desejo de seu próprio progresso pela segurança e cuidado com seus filhos, proporcionar-lhe-ia, indiretamente, um desenvolvimento de alma mil vezes maior do que se houvesse negligenciado os seus filhos em função do seu próprio interesse egoísta.
Mas, por outro lado, existem muitos outros que carecem do verdadeiro vigor mental para fazer o necessário esforço. Por muito extenuante que seja o trabalho de cada um, é sempre possível dedicar algum tempo, diariamente, de manhã e à noite, à espiritualidade. É uma prática extraordinariamente boa a de concentrar a nossa Mente num ideal durante o tempo que dispendemos no trânsito, no trajeto de casa ao trabalho e vice-versa. O próprio fato de existir tanto ruído e confusão que torna o esforço de concentração mais difícil e é, em si mesmo, uma ajuda, pois, quem consegue dirigir seu pensamento para um ponto definido sob tais circunstâncias, não encontrará qualquer dificuldade em obter iguais ou até melhores resultados em circunstâncias mais favoráveis. O tempo assim empregado será muito mais proveitoso do que se o utilizarmos lendo um jornal ou uma revista com assuntos que estão muito longe de ser elevados.
A Mente de muitas pessoas é como uma peneira. Os pensamentos escoam através dos seus cérebros como a água através da peneira. Esses pensamentos podem ser maus, bons ou indiferentes, mas estes últimos são os mais frequentes. A Mente não retém suficientemente nenhum deles para poder conhecer a sua real natureza e, ainda mais, concebemos a ideia de que não podemos impedir que esses pensamentos sejam como são. Por causa disso, muitas pessoas acostumaram-se a pensar displicentemente, o que as torna incapazes de se concentrarem em qualquer assunto e aprofundá-lo. Pode ser difícil conseguir este controle do pensamento, mas aquele que o conseguir tem em suas mãos a chave mestra do êxito em qualquer caminho que empreenda.
Eu recomendaria que, juntamente com esta série de lições, os estudantes refletissem com profundidade sobre o “Efeito Oculto das Emoções”, e reservassem diariamente alguns momentos para conseguir o controle do pensamento. Existem muitos métodos valiosos dados por vários autores. De minha parte, considero que já transmiti muitas ideias e dei vários conselhos a respeito. Reconheço que é um treino difícil, dependendo muito do temperamento de cada pessoa. Por isso, creio que os melhores resultados são obtidos quando esse treino e esse esforço são realizados individualmente.
(Por Max Heindel – livro: Cartas aos Estudantes – nr. 65)
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