Câncer: Tenacidade

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Câncer: Tenacidade

CANCER: TENACIDADE

Marsha recuou, sufocou um gemido em sua garganta e sentou-se novamente na cama.

– Dói – disse com uma careta.

– Sim, dói, mas quanto mais você demorar em usar a sua perna, mais difícil será para andar de novodisse o Dr. Miller, que se mostrou inflexível.

Marsha achou que ele era desumano. Ela tinha sofrido um acidente algumas semanas antes, mas agora estava melhorando rapidamente, menos a perna. Ainda estava inchada, e os ligamentos e músculos afetados protestavam cada vez que ela se mexia. O doutor quis que ela ficasse em sobre essa perna nos últimos dias, mas a dor era insuportável e ela continuava se recusando a tentar.

– Não posso Doutor – choramingou Marsha – Dói!

– Muito bem, você é quem sabe – disse o médico – mas você vai ter alta dentro de alguns dias. Nós precisamos desta cama para pacientes que estão realmente doentes. Você acha que sua mãe vai carregar você para lá e para cá quando você voltar para casa?

E com isso ele saiu do quarto .

Marsha começou a chorar baixinho. Aquele médico era tão mau. Era muito fácil ele falar – não doía neIe. E porque ele tinha que falar aquilo sobre a mamãe? Ela também estava no acidente e embora não tivesse ficado ferida, eIaestava muito abalada e preocupada com Marsha, e estas semanas não tinham sido fáceis para ela. E é claro que ela não podia carregar Marsha pra lá e pra cá na casa!

Marshaparou de chorar e ficou deitada, quietinha algum tempo, olhando para o teto e pensando. Depois se sentou.

– Muito bem – disse em voz alta – eu vou mostrar para esse médico!

Cautelosamente, ela deslizou da cama, e gemeu quando se apoiou na perna doente. Doía mesmo, e, por um momento, tudo pareceu escurecer ao seu redor. Ela se agarrou na mesa de cabeceira e esperou passar a tontura. Deu um passo, depois outro, e ainda que a dor não diminuísse, havia um alívio quando levantava a perna ferida e se apoiava na outra.

– Bem – pensou – tudo que preciso fazer é pensar como vai ser bom apoiar no pé esquerdo, depois de levantar o pé direito. De qualquer maneira, já é alguma coisa.

Marsha manquitolou ao redor do quarto por várias vezes e finalmente caiu na cama, extenuada pela dor. Adormeceu quase que imediatamente e só acordou na hora do almoço. À tarde, tentou de novo e, embora a dor não tivesse diminuído ela achou um pouco mais fácil andar. Não falou a ninguém sobre a sua façanha. A mãe não desconfiou que Marsha já pudesse estar andando, e o Dr. Miller, que a examinava por um minuto, não falou mais no assunto.

No dia seguinte, depois do café da manhã, quando a enfermeira tinha saído, Marsha saiu da cama outra vez. A dor era ainda bem forte, mas Marsha raciocinou que era por não ter se apoiado naquela perna durante toda a noite e, então, ela se apoiou nela firmemente. Novamente teve a sensação de “escurecimento”, e novamente Marsha suou frio e aguentou e depois começou o seu passeio ao redor do quarto. Gradualmente a dor pareceu diminuir e ela não ficou tão exausta como no dia anterior. Quando à tarde tornou a experimentar, a dor foi menor e, na manhã seguinte, embora ainda desagradável, Marsha percebeu que andar já era bem mais suportável.

Ela se levantou muitas vezes durante o dia, mas só quando estava sozinha, e achava que ninguém sabia o que ela estava fazendo. Nessa tarde, durante a visita de sua mãe o Dr. Miller chegou.

– Sra. Fulton, vamos dar alta para Marsha amanhã; acho que a senhora vai querer alugar uma cadeira de rodas.

– Sim – suspirou a mãe de Marsha – e também vou ter que transformar o sofá em cama. Vai ser difícil até que Marsha possa andar.

Marsha calmamente levantou o cobertor e ficou de pé.

– Para que você quer uma cadeira de rodas, e por que eu não posso dormir lá em cima na minha cama? – perguntou ela, atravessando o quarto e olhando casualmente pela janela.

– Ela está andando – ela disse ao doutor, sem poder acreditar.

– Sim, está. Ela vem fazendo isso nestes últimos dias e eu sei o quanto doeu no começo.

Marsha voltou-se.

– Como é que soube? – perguntou.

– Minha querida – disse Dr. Miller bondosamente – nós temos que averiguar o que nossos pacientes estão fazendo. Teria sido prejudicial a você andar quando você não deveria fazê-lo. Mas, em determinado momento, você precisava começar, e nós estamos orgulhosos de sua força de vontade. Valeu a pena, não acha?

Marsha sorriu.

– Sim, valeu. Acho que se alguma coisa vale a pena mesmo, é importante começar e seguir em frente, por mais difícil que seja. Obrigada por ter-me incentivado a fazê-lo, doutor.

A mãe de Marsha, surpresa, perguntou:

– O senhor estava usando uma terapia que eu não conheço, Dr. Miller?

– Sim, estava, e suponho que por um tempo Marsha achou que eu era um bruto insensível e sem coração. Mas, como vocês veem, obtivemos ótimos resultados.

No dia seguinte, devagar, mas sem desanimar, Marsha subiu as escadas até o seu quarto. Ela sabia que maisuma semana, já estaria correndo para cima e para baixo como antes do acidente. Que horror, pensou, se ainda tivesse que dar aqueles primeiros passos dolorosos.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Adolescentes – Vol. VI – Compilado por um Estudante Fraternidade Rosacruz).

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