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Os Pecados Capitais do Mundo Moderno

Os Pecados Capitais do Mundo Moderno

No livro Ensinamentos de um Iniciado lemos que os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz já concluíram, há tempos atrás, de que o orgulho intelectual, a intolerância e a impaciência com as restrições seriam os pecados do ser humano moderno.

Quando mais criticamente observamos o mundo ao nosso redor e o nosso próprio estado interno, nos admiramos com o prognóstico acurado dos Irmãos Maiores. O intelecto se tornou a ferramenta mais forte para o alcance do poder material. Orgulho intelectual ou amor às próprias conclusões, e próprios ditames é a causa de muita miséria social e muita tristeza e mágoa individual. A intolerância e a impaciência com as restrições também advém do amor ao nosso próprio intelecto, que tomamos como palavra final de sabedoria, equidade e justiça.

A Mente é a nossa mais recente aquisição. Enquanto que o Pai toma conta de nosso Corpo Físico, o Filho de nosso Corpo Vital e o Espírito Santo de nosso Corpo de Desejos nenhum Poder Superior toma conta de nossa Mente. Deverá ser domada e desenvolvida pelo próprio ser humano, sem ajuda exterior.

O intelecto, produto da Mente esplendidamente, fornece condições ao desenvolvimento do egocentrismo, o supremo perigo para o aspirante. Fornece um sentido falso de superioridade que facilmente vira intolerância daquilo de que não aprovamos e que não nos assemelha e que consideramos “abaixo de nossa dignidade”. O intelecto é frio e calculista tentando armazenar mais e mais conhecimento. A Mente avalia as muitas possibilidades de lucro trazidas por um vasto conhecimento ao próprio Ego. Assim o intelecto passa a ser a ferramenta, meta e fonte de motivação do egoísmo poluindo a Mente que se torna egoísta procurando o saber para a glorificação do Ego. A segunda força motivadora, o CORAÇÃO é, por definição, altruísta. Sabemos sobejamente da necessidade de equilibrar essas duas formas de motivação humana, porém, devemos lembrar que um perfeito equilíbrio só será conseguido quando atingido o “status” espiritual de Adepto.

Os que desenvolveram mais o lado do coração não são tão ameaçados pelos “pecados da época” apontados pelos Irmãos Maiores, o orgulho intelectual, a intolerância e a impaciência com as restrições. Servem obediente e eficientemente, sem necessitarem de grandes explicações metafísicas, ou informações científicas super atualizadas; simplesmente seguindo as orientações do Cristo interno, não deixando a sua Mente interferir.

Os que se desenvolvem pelo lado intelectual fazem tudo para servir, para dar vazão ao seu conhecimento, de fato se esforçam ao máximo, porém, enquanto se “esforçam” para servir, ainda não houve progresso de seu lado “coração”. O conhecimento, não cabe dúvida, especialmente hoje, é de grande utilidade. Porém, verifiquemos o uso que as pessoas fazem de seu conhecimento. Pelo uso que a pessoa dá a seu conhecimento que determina se ele está seguindo linhas de desenvolvimento material ou espiritual. Pelo nosso ritual devocional sabemos que a meta do desenvolvimento mental deverá ser a Sabedoria, isso é conhecimento temperado com amor e mesmo o conhecimento oculto de avançada ordem não é Sabedoria, até ser usado em serviço humanitário e num contexto de relacionamento fraternal.
“O conhecimento, a prudência, a discrição e a discriminação são produtos da Mente”. Pois, elas mesmas são armas do mal, e o Cristo nos ensinou a orar ao Pai Nosso para que sejamos guardados. Somente quando essas faculdades nascidas da Mente são temperadas pelo amor é que obteremos a qualidade composta que chamamos de Sabedoria.

Aqui vemos quão importante é desenvolver o amor a Deus e ao semelhante, na mesma proporção que aumentamos o nosso conhecimento. Então, o orgulho intelectual, a intolerância e a impaciência com as restrições não constituirão mais um problema, já que a dádiva espontânea de si mesmo sem reservas, sem amor ao seu pequeno eu, em completa obediência ao poder Superior que nos dirige, destroem o egoísmo. Alguma vez fomos culpados de não aceitar pontos de vista alternativos expressos e que achamos contrários à nossa opinião? Ficamos impacientes com as opiniões manifestadas, estimulados por aquele egoísmo intelectual que não permite questionamento de nossa absoluta competência? Impomos ao nosso grupo que façam as coisas só de nossa maneira?

Usando o nosso lado devocional interno, que está em ligação com Deus através do Cristo Interno, não seremos vencidos pelos perigos apontados pelos Irmãos Maiores e submeteremos a atividade de nossos intelectos ao Ego Superior que a usará no serviço altruísta. A humildade intelectual representará a nossa vitória maior e seremos uma ajuda e não um empecilho à raça humana, exemplos vivos de tolerância que os nossos semelhantes poderão seguir proveitosamente em sua evolução.

(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 09/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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Os Três Graus do Discipulado – Parte I – Grau Mestre – São Tiago, São João e São Pedro

OS TRÊS GRAUS DO DISCIPULADO

Parte 1

Grau Mestre

São Tiago, São João e São Pedro

 

Os 12 Discípulos foram divididos em 3 agrupamentos, de acordo com sua preparação e desenvolvimento no Discipulado. Estas 3 divisões podem ser listadas como segue:
• Grau Mestre: os 3 pilares: São Tiago Maior, São Pedro (Simão) e São João.
• Grau Fraternidade: Santo André, São Tomé, São Mateus, São Filipe e São Natanael (São Bartolomeu)
• Grau Aprendiz: São Tiago Menor (o Justo), São Judas Tadeu, São Simão e Judas Iscariotes.

Maria Salomé1, irmã da Virgem Maria, casou com Zebedeu de Cafarnaum, um homem abençoado com abundância material e espiritual. Salomé e Zebedeu, junto com seus dois filhos: São Tiago e São João, eram muito queridos no coração de Cristo Jesus. Esta família estava entre os seguidores mais devotos. Zebedeu dispendeu tempo e dinheiro para a causa do novo Cristianismo, enquanto Salomé cuidava das necessidades físicas dos Discípulos. A lenda relata que Salomé acompanhou Maria e José em sua fuga arriscada para o Egito. Ela é também proeminente entre as mulheres Discípulas ao longo da narrativa do Evangelho.

São Tiago, São Pedro e São João compunham o círculo mais interno dos Discípulos, chamado de “pilares”, porque eram avançados o suficiente para receber os ensinamentos esotéricos mais profundos dados por Cristo.
Contundência, poder e força eram as palavras chaves do caráter de São Tiago. Antes de suas transformações em graças espirituais, estes muitos atributos produziram muitas reações não-Cristãs. Por exemplo, ordenou que fogo viesse do Céu para destruir um vilarejo que não queria receber o Mestre; também solicitou seu lugar mais proeminente no Reino.

Tiago

São Tiago aprendeu rapidamente, contudo, a seguir o caminho onde a vingança é suplantada pelo Amor, percebendo que ninguém pode receber qualquer benefício permanente que não seja ganho pelos esforços pessoais. Após sua iluminação ele disse que “seus pensamentos respiraram e suas palavras queimaram”.

O destemor absoluto de São Tiago, conjugado com a dedicação sincera para com as causas do Mestre antecipou o seu Discipulado. Ele ganhou o profundo e permanente amor de Maria, Mãe de Jesus. Por causa de seu fervoroso zelo, São Tiago foi o primeiro Discípulo a viajar por terras estrangeiras levando a gloriosa mensagem de Cristo, e foi o primeiro a seguir o seu Senhor no martírio. Desdenhando todos os perigos físicos ele se estabeleceu na Espanha: a primeira terra estrangeira a receber a mensagem de Cristo.

Uma das supremas dádivas do Discipulado é saber, verdadeiramente, que não existe tempo ou distância para o espírito. São Tiago teve o privilégio de se aconselhar com a amada Maria, de quem recebeu orientação e direcionamento. Muitas vezes ele teve sua proteção em ocasiões de cansaço extremo e de crise.

Após o seu retorno da Espanha, uma feliz reunião em Éfeso com seu irmão, São João, e a Divina Dama foi abençoada e santificada. Eles estavam cientes de que os dias de companheirismo nesse mundo exterior estavam chegando ao fim, e que o retorno de São Tiago para Jerusalém significava a preparação para o seu martírio.

Maria foi transportada em espírito para a cena de seu martírio. Com uma série de Ministério de Anjos, Maria assistiu e apoiou São Tiago na hora de sua transição. A morte pode não aterrorizar a consciência de um Iniciado, já que este aprende a participar, conscientemente, das águas da Vida Eterna.

Alegremente este nobre espírito colocou de lado seu vestuário de carne. Cercado da glória transcendente dos Anjos, envolto no brilho e na bênção da Virgem, ele também pode entoar o mesmo grito triunfante, de quem tem o conhecimento direto, como assim fez o outro ungido de Deus um pouco mais tarde. “Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?”2.

Segundo o Pentecostes, São Tiago tornou-se líder da igreja em Jerusalém. Sua contundência, força e poder, agora transmutadas em qualidades espirituais, floresceram em tal beleza de vida e ação que quando Herodes, irmão de Herodias, que causou a decapitação de São João Batista, desejou suprimir a heresia do Novo Cristianismo, a figura imponente de São Tiago tornou-se o principal alvo de suas hostilidades. Apenas catorze anos após a Crucificação, São Tiago seguiu seu Senhor para libertação da cruz do martírio.

De acordo com os escritos de Clemente de Alexandria, citado por Eusébio, São Tiago transmutou de tal forma seu espírito de vingança em compaixão, que o homem que o entregou para Herodes ficou tão inspirado, pela nobre atitude de São Tiago, que se tornou seguidor e foi recebido pela fraternidade da pequena igreja Cristã. O último ato terreno de São Tiago foi outorgar uma benção sobre este homem; e suas últimas palavras endereçadas para Herodes foi “que a paz esteja em ti”.

 

João

João foi o idealista entre os Discípulos. Ele foi o mais espiritualmente desenvolvido entre os 12, e seu Evangelho é o mais esotericamente profundo de todos que sobreviveram. Os Capítulos 14 a 17 contém os ensinamentos referentes a mais elevada religião a suceder o Cristianismo – conhecido pelos esoteristas como a “Religião do Pai” – que chamará seus Discípulos para o reino do Espírito Divino. Maria, mãe de Jesus, e João, seu melhor Discípulo amado, foram os únicos avançados suficientemente para entrar em contato com estas elevadas verdades. Um exemplo deste fato aparece na cena aos pés da cruz, quando Jesus apela a Maria para cuidar de João como se fosse seu filho (em Seu lugar), e diz a João para cuidar de Maria como se fosse sua própria mãe; assim, claramente, nomeou João Seu sucessor na Terra.

Pedro foi designado como Apóstolo ou emissário para o Ocidente bárbaro, onde seu caráter rude e simples, sua inteligência assertiva fez dele um líder e professor ideal. João, culto e erudito, falando a língua dos filósofos Helênicos, foi enviado para estabelecer sua escola em Éfeso, com seu conhecimento de civilizações antigas. É dito que Maria peregrinou com ele por um tempo. João é um grande Apóstolo da Gnose. Na Nova Era ele terá seu lugar no Mundo da Cristandade, que Pedro tem ocupado durante a Era de Peixes na Cristandade da Europa.

De “Filho do Trovão”, João se transformou em o mais perfeito exemplo no mundo da encarnação do amor. Sua humanidade foi purgada e saneada em toda chama consumidora do amor. Seu trabalho mais notável, fora de seus escritos, foi fundar a igreja em Éfeso – que foi depois liderada por João Presbítero e que trouxe à cena Policarpo e Inácio, dois dos mais ilustres cristãos primitivos.

Há uma lenda apócrifa que relata que durante o reinado Domiciano3, João foi preso e trazido ante ao imperador que o ordenou tomar o veneno mortal. Domiciano queria aprender se este Mestre, sobre quem João ensinou, protegeria ou não o seu Discípulo. João pegou o copo e disse: “Em teu nome, Oh! Cristo, eu tomo esta poção. O veneno se misturará com o Espírito Santo e se tornará um cálice de vida eterna”. Ele então o bebeu e permaneceu calmo e ileso. Quando um prisioneiro foi trazido e deram-lhe a mesma poção, ele morreu em convulsão, quase que instantaneamente. Por causa desta lenda uma arte sacra foi retratada de João abençoando um pequeno dragão alado, que ergueu sua cabeça de um cálice. Esotericamente, isto nos lembra que o Evangelho de João é correlato à Hierarquia Zodiacal de Escorpião e do mistério da regeneração, por meio do qual o veneno letal no sangue é transmutado em elixir da vida.

A lenda continua ao dizer que o temor supersticioso do Imperador alterou a sentença de morte de João para banimento em Patmos4, ilha onde ocorreu sua grande Iniciação, como descrito no Livro da Revelação5. Em consequência da morte de Domiciano, Trajano, seu sucessor, permitiu que o reverenciado exilado retornasse para Éfeso. A história relata que João, em sua última reunião com seus seguidores, os homens mais jovens carregaram o venerável Apóstolo em seus ombros até o local do encontro, onde todos poderiam reverenciá-lo uma vez mais. Em sua chegada ele estendeu sua mão em benção sobre o grupo reunido, e deu a todos uma ordem de despedida: “Pequenas Crianças amem-se uns aos outros”.

Quando João soube que chegou a hora de seu passamento, ele indicou Policarpo para sucedê-lo, como líder de sua igreja. Então ele ficou olhando o céu e glorificando a Deus. Como os Discípulos falecidos “eles viram-no encerrando-se junto aos demais”.

Essa é uma frase iniciatória que descreve o processo pelo qual o profeta eleva o ritmo vibratório de ambos: consciência e corpo; então ele fica imune à fome, ao frio, à doença e qualquer outro aspecto negativo da existência física. Esta técnica de espiritualização pode continuar até que a substancia física se desintegre ou fique invisível. O “encerramento completo de si para com todos” pertence apenas aos Mistérios Maiores.

Quando os Discípulos retornaram no dia seguinte, João não estava mais lá. Foi encontrado apenas seu manto e suas sandálias. Porém onde ele tinha erguido uma última fonte de água que jorrava, eles recordaram das palavras do Mestre para Pedro: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?” (Jo 21:22)
Este é, talvez, a mais bela descrição de todas as traduções da Terra em espírito puro. O Discípulo aprendeu a superar a morte. Num inquebrantável estado de consciência passou da Terra para o Céu.

João, o mais amado do Senhor Cristo, o mais espiritual de Seus Discípulos, fez esta gloriosa demonstração como supremo ideal a ser realizado eventualmente pela raça humana inteira. Ele foi o primeiro, após Cristo, a manifestar a vida eterna daquelas Águas que o Mestre lhe deu para beber. Ele deixou esta Fonte original com seus próprios Discípulos em Éfeso.

Pedro

É dito que Pedro era alto e robusto, com penetrantes olhos cinzas. Seu pesado cabelo negro circundava sua larga testa em cachos triplos como uma tiara. Ele foi um dos mais importantes e, talvez, o mais pitoresco dos Doze imortais.

O nome Simão significa “ouvinte compassivo”. O novo nome, outorgado sobre ele por Cristo, foi proporcionado com sua espiritualidade em evolução: Cephas ou Pedro, que significa “rocha”.

Maior, impulsivo, inconstante e temeroso são as palavras chaves que descrevem o humano Simão. Valente, destemido, leal, e determinado até a morte: estes são os principais traços do caráter do espiritual Pedro. Entre estes dois extremos estabelece-se um caminho sombreado pela dor, humilhação e fracasso, como poucos têm experimentado. Mas foi o Caminho da Iniciação, onde as deficiências humanas de um homem foram transformadas em atributos espirituais de um super-homem.

As marés inquietas e mutáveis do mar, pelas quais Pedro passou a vida, pareciam pulsar em seu sangue. Simão, o Discípulo prévio, foi verdadeiramente o “homem-água”. Foram pesadas as tempestades e ferozes as marés necessárias para efetuar a metamorfose do “homem-onda” para o “homem-rocha”.

Na Negação é para ser encontrado o primeiro grande incentivo da gradação da envergadura espiritual. Quanto mais escuro a sombra, mais brilhante a luz. Como mencionado antes, Pedro nunca escutou o galo cantar sem verter lágrimas e novamente implorar por perdão. Do começo ao fim de sua vida ele avidamente acolheu toda forma de perseguição como penitência pela traição ao seu Senhor. Após a negação, Pedro retornou ao Getsemani, cena de provação recente de seu Mestre, e o Jardim se tornou, novamente, Local de Agonia. Foi aqui que o verdadeiro Pedro nasceu. Ele veio diante de digna promessa: “tu és Pedro e sobre esta rocha construirei minha igreja”.

Tão prodigiosos eram os poderes do novo Pedro que o doente foi curado, quando sua sombra passou sobre ele e onde a sua presença era respeitada, produzia múltiplas bênçãos. Sua humildade cresceu, ainda mais, com sua grandeza. O Mestre reprovou sua arrogância no Ritual do Lavapés, mas pelo seu profundo arrependimento pela Negação, ele aprendeu bem sua lição de humildade. Em sua Primeira Epístola ele adverte seus Discípulos para se vestirem com humildade. O espírito da humildade predominou até o fim de sua vida. Ele mesmo pediu para ser pregado na cruz do martírio de ponta-cabeça, pois ele era indigno de morrer da mesma forma que o seu Senhor.

Pedro adentrou num grande acontecimento na sua transferência ao circo de Calígula de Roma, onde muitos Cristãos valentes sacrificaram suas vidas em nome da .

[1] N.R.: Salomé foi uma seguidora de Jesus citada brevemente nos evangelhos canônicos e que aparece nos apócrifos do Novo Testamento. Ela é por vezes identificada como sendo a esposa de Zebedeu e mãe de Tiago e João, dois dos apóstolos de Jesus. Em outras tradições, ela é a irmã de Maria e tia de Jesus. É conhecida na tradição católica como Maria Salomé, uma das “Três Marias”. Não confundir com a filha de Herodias, que exigiu a cabeça de João Batista.

[2] N.R. ICor 15:55

[3]N.T.: Tito Flávio Domiciano, habitualmente conhecido como Domiciano, foi imperador romano de 14 de setembro de 81 até a sua morte a 18 de setembro de 96.

[4]N.T.: é uma pequena ilha da Grécia a 55 km da costa SO da Turquia, no mar Egeu.

[5] N.T.: O Apocalipse na Bíblia

(do Livro: New Age Bible Interpretation, Vol VI, Corinne Heline – Traduzido da Revista Rays from the Rose Cross – 11-12-2002)

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Ego: Chama-se de Ego o Espírito Individual o qual possui três aspectos: Espírito Divino, Espírito de Vida e Espírito Humano

Ego – Chama-se de Ego o Espírito Individual o qual possui três aspectos:
– O Espírito Divino cuja contrapartida material é o Corpo Físico;
– O Espírito de Vida cuja contrapartida material é o Corpo Vital;
– O Espírito Humano cuja contrapartida material é o Corpo de Desejos;

O Espírito Tríplice (Ego) dirige o corpo tríplice por meio do Intelecto, traço de união entre o Espírito e seus corpos.

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Escola de Mistérios: há sobre à Terra 7 Escolas de Mistérios Menores e 5 Escolas de Mistérios Maiores

Escola de Mistérios – há sobre à Terra 7 Escolas de Mistérios Menores e 5 Escolas de Mistérios Maiores. Os Mistérios Menores são compostos por 9 graus e se referem à evolução da humanidade ao longo do atual Período Terrestre (o quarto Período). Os Mistérios Maiores são compostos por 4 graus. Eles conduzem ao desenvolvimento que será atingido pela humanidade ao final dos 7 Períodos deste Grande Dia da Manifestação.Os Irmãos Maiores da Rosacruz são todos iniciados nos Mistérios Maiores e sua Escola é a Escola Ocidental dos Mistérios Menores.

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Deus: O nome de Deus designa o Criador do nosso Sistema de Evolução: o Sistema Solar e os 7 Mundos que o compõe

Deus – O nome de Deus designa o Criador do nosso Sistema de Evolução: o Sistema Solar e os 7 Mundos que o compõe. Deus é um “reflexo” do Grande Ser Supremo, criador do Universo.

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Destino: O destino possui as principais lições que nós devemos aprender em uma vida

Destino – O destino possui as principais lições que nós devemos aprender em uma vida. Ele é, por conseguinte, determinado antes do nascimento. Ele nos coloca em um ambiente que nos proverá todas as experiências necessárias ao nosso progresso espiritual. Ele não nos priva jamais do nosso livre arbítrio, e são nossas ações que executamos nas vidas passadas que compõem a base do nosso destino atual.

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Ensino do Mestre

Ensino do Mestre

O Mestre, pela boca da solidão, fala muitas vezes à alma cansada da fatuidade do mundo e ansiosa por nova vida. E diz-lhe: “Não escutes as vozes enganosas que vem de fora. Vem para mim no retiro do teu coração e terás o verdadeiro conhecimento. Não penses deste modo: se eu tivesse num ermo, num vale profundo, numa paragem solitária, poderia realmente encontrar-me, poderia conhecer minha verdadeira vocação”.

“Não é preciso que te afaste para me encontrar. Também habito na tua consciência tranquila, na tua mente sossegada, na tua alma desprendida, nos teus sentidos sabiamente dominados. Eu, a perfeita solidão. Se me buscas, podes encontrar-me em tua casa, no teu lugar de trabalho, entre o ruído da cidade, entre a confusão dos indivíduos. E, então, quando recolhida em ti, atingires tua íntima cela ouvirá a Voz Divina. Saberás que teu primeiro dever é transformar-te e esquecer o passado, bom ou mau, deleitoso ou amargurado, seus triunfos e fracassos”.
A alma, ao receber as sugestões destes belos pensamentos, acende-se em entusiasmo. Faz promessas fáceis e precipitadas. A doçura desses momentos já lhe parece o fim do Caminho, quando não é mais que mínima prenda da promessa divina. No seu encanto, clama, suspira, geme e canta. E diz: “Conduze-me, Senhor, por este brilhante caminho de luz. Abre meus olhos para que veja a Tua beleza. Não te ocultes jamais da minha vista. Transforma a minha vida para que me concentre na única vida, a Tua, Senhor. Que se queime este corpo antigo, para vestir um traje de glória. Tenho trocado tantas vezes de bandeira! Quero, agora, esta nova bandeira, a que é feita de castidade, de renúncias e de sacrifícios. Senhor, por Ti desejaria sofrer todas as provas, todas as dores, padecer mil mortes, passar por mil suplícios, conhecer o martírio por que passaram os Teus servidores mais fieis, só para ser digno do Teu amor! Que se acenda já a chama da minha alma e, quando estiver em flama, que abarque todo o meu ser. Senhor não me deixe agora. Não posso estar só e nem a minha vida é vida sem Ti. Não vês, Sumo Bem, que tenho fome e sede de Ti, cada vez mais ardentes? Já comecei a buscar-Te e não posso mais deter-me, como a flecha que foi arremessada. Fala Senhor. Que queres que eu faça? Que queres de mim? Dize-me, para cumprir somente a Tua vontade”.

Pobre alma! Quanto pede e quanto promete! Não sabe como são duros os espinhos e cortantes as pedras que há de encontrar no Caminho! O Divino Mestre, que a observa com suma ternura, cobre os olhos com as santas mãos, compadecidamente, ao ver, no porvir, todas as suas quedas. Quantas vezes terá que levantá-la; quantas vezes terão de curar-lhe as feridas e afastar de sua mente as nuvens de desencanto e do desespero! Então, o Mestre lhe fala: “Não te levantes, ainda, oh alma, em grandes voos. Não prometas maravilhas nem aspires aos altos cumes da santidade. Contenta-te em viver bem o teu dia e em santificar as pequenas obras diárias. Segue-Me com submissão e simplicidade. Modifica a tua vida sem que nada ou ninguém o note e mantém-te exatamente como antes ainda que teu íntimo esteja completamente transformado. Comece a procurar-Me por toda a parte, todo o dia e sempre. Que teus olhos Me vejam no rosto de todos os seres humanos e, como um véu, suspenso ante todas as coisas. Vê-Me no rico e no pobre, na criança e no ancião, no santo e no pecador, na flor e no céu, no dia e na noite, no trabalho que te desgosta e na festa que te alegra. Todas as coisas têm alguma formosura quando são miradas com olhos serenos, desapaixonados, vistas lá do fundo da solidão interior, da secreta morada. Depois, oh alma, quando a compaixão vibrar em ti e te faça doce e mansa, sossegada e discreta, compreensiva e prudente; quando a dor alheia arder em tua própria carne – então, Me verás. Une-te com a dor, une-te ao Amor, une-te ao saber e à ação – e Me encontrarás. Porém, mais uma vez te recomendo: enquanto esperas, simplifica a tua existência, dia a dia, hora a hora; torna-a cada vez mais suave e mais humilde. Nunca digas: ‘dai-me!’. Que a tua palavra de ordem seja sempre: ‘Tome!’. Compreendes meu filho?”.

A alma ficou serena e tranquila. Aos arranques do entusiasmo, sucederam, em seu coração, a serenidade e a paz profunda. Tendo atingido o umbral da solidão e ouvido a voz do Mestre, começa o seu Caminho. Reina o silêncio em volta. Esta é a hora eterna.

(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 08/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)

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A Importância da Oração

A Importância da Oração

Seria importante que o ser humano, nas suas inúmeras atividades e ocupações, reservassem um lugar de destaque à oração, ao impulso interior que o anima a invocar a ajuda e o olhar luminoso de Deus. Um esforço sincero por caminharmos com retidão e confiança, por nos tornarmos melhores, pode considerar-se uma forma de oração – uma prática espiritual constante. No entanto, quando penetramos profundamente no conceito espiritual por detrás da oração e das palavras expressas, iluminamos o nosso ser de um significado mais pleno e mais vasto. A oração transporta o ser humano aos mais altos pináculos de harmonia divina; o consciencializa para a presença Divina que o habita, e torna-o capaz de responder profundamente a esse Amor que em nós vibra e nos dá vida. Torna-nos sensíveis à necessidade de “orar constantemente”, com um reconhecimento imenso pela luz com que a Sua Presença e proteção nos envolve.

Os Discípulos de Cristo sentiram também a necessidade desta vivência espiritual, e pediram-Lhe que lhes ensinassem a orar, ávidos por uma forma de expressão que manifestasse o seu sentir. O Pai Nosso, a Prece do Senhor a Deus, liga-nos à Obra do Espírito; o ser humano é invadido por uma corrente de poder Divino que o renova. Cada uma das sete partes em que se divide esta oração tem a sua função, e deverá um dia manifestar-se através do nosso ser. Quando a oração “é ditada por uma devoção pura e não egoísta, contendo em si ideais elevados, é muito mais sublime que a Concentração. A oração nunca pode ser fria; ela transporta o místico à Divindade, nas asas do Amor”.

A obra purificadora e regeneradora do Ego, começa quando o AMOR penetra o coração, e o ser se torna consciente do seu desejo de servir a presença interna de Deus, em si, em todos os seres humanos e em todas as coisas. O poder deste amor Divino nos traz arrependimento, e o nosso coração lança, então, os alicerces para uma vida purificada. A oração é o poder, a energia que afasta os obstáculos que se interpõem à espiritualização da vida.

O pecado e a desarmonia que existe nas nossas vidas, não é mais do que a cadeia de pensamentos e atos em que persistimos, e que nos afastam da harmônia e equilíbrio natural do Universo, obstruindo a presença e o amor de Deus nos nossos corações. Este flui livremente quando o invocamos numa prece sentida, pois encontramo-nos, então, libertos dos problemas não resolvidos, que constantemente dificultam a passagem desse amor purificador que se derrama sobre nós. A oração que emana de um espírito e de uma atitude de perfeito amor, atrai para si uma perfeita saúde física, mental e espiritual; vivemos segundo a maneira como oramos e vice-versa. Nem toda a oração surge do arrependimento que nos consciencializa do pecado e da vida desarmoniosa. Existe a prece que brota da alegria, da inspiração e do bem-estar que atrai e conserva a vida moldada no amor Divino. Neste construímos os templos da nossa alma, e encontramos o impulso que nos encaminha para a perfeição “à Sua semelhança”. O fogo do amor que tudo consome em si, a beleza e a Verdade inspiradas por Deus estão eternamente presentes na oração e fluem através dos nossos atos e das nossas realizações, engrandecendo e tornando presente e pleno o Seu Divino Plano no mundo.

(THE ROSICRUCIAN FELLOWSHIP – Departamento Cura – publicado na Revista “Serviço Rosacruz” – 06/82 – Fraternidade Rosacruz)

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Cartas Rosacruzes – Por Antigos Membros da Ordem no Século XVIII

Dotadas de singular eloquência e elevado misticismos, tais Cartas remontam do século XVIII. A presente tradução é atribuída a Francisco Phellip Preuss, e consta na primeira edição do Livro: “Maçonaria e Catolicismo”, publicado no Brasil pela Fraternidade Rosacruz Max Heindel, em 1959.

1. Para fazer download ou imprimir:

Cartas Rosacruzes – Por Antigos Membros da Ordem no Século XVIII

2. Para estudar no próprio site:

CARTAS ROSACRUZES

Escritas por

antigos membros da Ordem

Fraternidade Rosacruz

Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

Avenida Francisco Glicério, 1326 – conj. 82

Centro – 13012-100 – Campinas – SP – Brasil

Revisado de acordo com:

1ª Edição em Português, como Apêndice do Livro A Maçonaria e o Catolicismo, de Max Heindel, editada por Fraternidade Rosacruz São Paulo – SP – Brasil

4ª Edição em Espanhol, como Apêndice do Livro La Masoneria y el Catolicismo, por Max Heindel, editada pela Editora KIER – Buenos Aires – Argentina

Pelos Irmãos e Irmãs da Fraternidade Rosacruz – Centro Rosacruz de Campinas – SP – Brasil

www.fraternidaderosacruz.com

contato@fraternidaderosacruz.com

fraternidade@fraternidaderosacruz.com

Sumário

INTRODUÇÃO.. 4

CARTA I – SABEDORIA DIVINA.. 5

CAPÍTULO II – UM MEIO PRÁTICO DE APROXIMAÇÃO À LUZ.. 9

CARTA III – VERDADE ABSOLUTA E RELATIVA.. 13

CARTA IV – A DOUTRINA SECRETA.. 20

CARTA V – OS ADEPTOS. 30

CARTA VI – EXPERIÊNCIAS PESSOAIS. 37

CARTA VII – OS IRMÃOS. 45

INTRODUÇÃO

Elas são dotadas de singular eloquência e elevado misticismo.

Remontam ao século XVIII, e foram publicadas nos Vols. 8 e 9 do periódico “The Theosophist”, editado pela Sociedade Teosófica, de 1887, assinadas por F.H. e H., no caso da sétima e última carta. É referido que a sexta carta teria sido remetida a Eckartshausen, martinista e autor do célebre livro “A Nuvem Sobre o Santuário”. Segundo A.E. Waite, foram reimpressas num periódico americano, com as iniciais F.H. e H. suprimidas, sendo toda a série atribuída a Eckartshausen, que as teria escrito entre 1792 e 1801. Proclama-se que elas teriam sido traduzidas do Espanhol. Segundo A.E. Waite, “as iniciais sugerem obviamente a mão do Dr. Franz Hartmann”.

Tais Cartas se popularizaram através da revista “Rays from the Rose Cross”, editada pela “The Rosicrucian Fellowship”, posteriormente foi publicada como apêndice do livro “A Maçonaria e o Catolicismo”, de Max Heindel, editado em vários idiomas.

A presente tradução é atribuída a Francisco Phellip Preuss, e consta na primeira edição do Livro: “Maçonaria e Catolicismo”, publicado no Brasil pela Fraternidade Rosacruz Max Heindel, em 1959. Foi revisada pela Irmã Probacionista Ruth Coelho Monteiro, da Fraternidade Rosacruz Max Heindel, em São Paulo.

CARTA I – SABEDORIA DIVINA

Não tentes estudar a mais elevada de todas as ciências se, de antemão, não resolvestes entrar na via da virtude; os incapazes de sentir a verdade não compreenderão minhas palavras. Só os que entram no Reino de Deus podem compreender os mistérios divinos e aprender a verdade e sabedoria, na medida da sua capacidade para receber a luz divina da verdade. Aqueles que se guiam unicamente pela luz da inteligência não compreendem os mistérios divinos da natureza; as suas almas não podem ouvir as palavras que a luz pronuncia. Mas aquele que abandona o próprio eu pessoal pode conhecer a verdade. A verdade só pode ser conhecida na região do bem absoluto. Tudo que existe é produto da atividade do espírito. É a mais elevada de todas as ciências a que permite ao ser humano aprender a conhecer o laço de união entre a inteligência espiritual e as formas corpóreas. Entre o espírito e a matéria não existem linhas de separação porque entre os extremos se encontram todas as gradações possíveis.

Deus é fogo que irradia puríssima luz. Essa luz é vida. As gradações entre a Luz e as Trevas estão para além da compreensão humana. Quanto mais nos aproximamos do centro da Luz tanto maior é a energia que recebemos e tanto mais poder e atividade resultam. É destino do ser humano elevar-se até ao centro espiritual da Luz. O ser humano primordial era um filho da Luz. Permanecia em estado de perfeição espiritual bem mais elevada do que no presente; dela desceu a um estado mais material, tomando uma forma corpórea e rude. Para volver à sua primeira condição tem de percorrer o caminho por onde desceu.

Cada um dos seres animados deste mundo obtém sua vida e sua atividade do poder do espírito. Os elementos grosseiros estão regidos pelos mais sutis e estes por outros de maior sutileza, até chegarmos no poder puramente espiritual e divino. Deste modo, Deus influi em tudo e tudo governa. O ser humano possui um germe do poder divino que pode desenvolver-se e transformar-se em árvore de frutos maravilhosos. A expansão deste germe só pode fazer-se pelo calor que irradia do centro famígero do grande Sol espiritual. Quanto mais nos aproximamos desta luz, mais recebemos o seu calor. Do centro, ou causa suprema original, irradiam continuamente poderes ativos que se infundem nas formas oriundas da sua atividade eterna. Destas formas reverte novamente a causa primeira, dando lugar a uma cadeia ininterrupta de atividade, luz e vida. O ser humano, ao abandonar a radiante esfera de luz, incapacitou-se para contemplar o pensamento, a atividade e a vontade do Infinito em sua unidade.

Daí resulta que, na atualidade, tão só percebe a imagem de Deus numa multiplicidade de imagens. Contempla Deus sob um número de aspectos quase infinito, mas Deus permanece sempre Uno. Todas essas imagens devem recordar-lhe a exaltada situação que outrora manteve e para cuja reconquista devem tender todos os seus esforços.   Se não se esforçar por elevar-se a maior altura espiritual, irá sumindo-se cada vez mais na sensualidade e, depois, ser-lhe-á muito mais difícil voltar ao primeiro estado.

Durante a vida terrestre estamos rodeados de perigos e é bem pequeno o nosso poder de defesa. Os corpos materiais nos encadeiam ao reino do sensível e mil tentações nos assaltam todos os dias. Sem a reação do espírito a natureza animal afundaria o ser humano na sensualidade. Todavia, esse contato com o sensível é necessário: proporciona a força que o faz progredir. O poder da vontade o eleva; e aquele que identifica a sua vontade com a vontade de Deus pode, durante a vida na Terra, chegar à espiritualidade que lhe concede a contemplação e compreensão da sua unidade no reino da inteligência. Tal ser humano pode realizar o que quiser porque, unido com o Deus Universal, todos os poderes da natureza são seus poderes e nele se manifestarão a harmonia e a unidade do Todo. Então, vivendo no eterno, não está sujeito às condições do espaço e do tempo, participa do poder de Deus sobre todos os elementos e poderes do mundo visível e invisível e tem a consciência do eterno.

Dirige todos os teus esforços no cultivo da tenra planta da virtude que cresce em teu seio. Purifica tua vontade e não permitas que as ilusões dos sentidos te alucinem. A cada passo que deres na senda da vida eterna, encontrará um ar mais puro, uma vida nova, uma luz mais clara e, em proporção à ascensão para o alto, aumentará o teu horizonte mental.

A inteligência, só por si, não conduz à sabedoria. O espírito conhece tudo e, no entanto, nenhum ser humano o conhece. Sem Deus, a inteligência enlouquece, adora-se a si, repele a influência do Espírito Santo. Quanto é decepcionante e enganosa a inteligência sem a espiritualidade. Em pouco tempo perecerá. O espírito é causa de tudo; a luz da mais brilhante inteligência deixará de brilhar se for abandonada pelos raios de vida do Sol espiritual. Para compreender os segredos da sabedoria não basta teorizar, é necessário alcançar sabedoria. Só o que se conduz sabiamente realmente é sábio, ainda que não tenha recebido a menor instrução intelectual.

Para ver necessitamos de olhos e para ouvir, de ouvidos. Similarmente, para atingir as coisas do espírito, precisamos de percepção espiritual. É o espírito e não a inteligência que dá vida a todas as coisas, desde o Anjo Planetário até ao menor ser do fundo do oceano. A influência espiritual vem de cima para baixo e nunca de baixo para cima; por outros termos, irradia do centro para a periferia e nunca em sentido contrário. Isto explica por que a inteligência, produto ou efeito da luz do espírito que brilha na matéria, não pode nunca se sobrepor à luz do espírito.

A inteligência humana só pode compreender as verdades espirituais quando a sua consciência entra no reino da luz espiritual. É uma verdade que a grande maioria dos intelectuais não quer compreender. Não podendo elevar-se a um estado superior ao intelectual, consideram tudo que está fora de seu alcance como fantasia e sonho ilusório.

Sua compreensão é obscura e no coração abrigam as paixões que os impedem de contemplar a luz da verdade. O que ajuíza a partir dos sentidos externos não pode compreender as verdades espirituais. Preso ao ilusório, ao eu pessoal, o espírito repete as verdades espirituais que lhe destroem a personalidade. O instinto e o eu inferior levam-no a considerar-se um ser distinto do Deus universal. O conhecimento da verdade desfaz essa ilusão, razão porque o ser humano sensual odeia a verdade. O ser humano espiritual é filho da luz. O ser humano regenerado retorna ao seu primeiro estado de perfeição e essa regeneração, que o põe acima dos outros seres do universo, depende do apagamento das obscuridades que velam sua natureza interna.

O ser humano, por assim dizer, é um fogo concentrado no interior de uma casca material e rude. O seu destino é abrasar neste fogo a natureza animal, os materiais grosseiros, e unir-se de novo com o famígero centro, do qual é uma centelha durante a vida terrestre. Se a consciência e a atividade do ser humano, continuamente, se concentram nas coisas externas, a luz que irradia da centelha, no interior do coração, vai enfraquecendo a pouco e pouco e acaba por desaparecer. Contudo, se o fogo interno é cultivado e alimentado, destrói os elementos grosseiros, atrai outros mais etéricos, faz o ser humano cada vez mais espiritual e concede-lhe poderes divinos. Não só expande a atividade interna, mas também aumenta a receptividade às influências puras e divinas. Purifica e nobilita por completo a constituição do ser humano e converte-o, finalmente, no verdadeiro senhor da criação.

CAPÍTULO II – UM MEIO PRÁTICO DE APROXIMAÇÃO À LUZ

Quem, gratificando os desejos sensuais, tenta encher o vazio da sua alma, não o conseguirá nunca. Tampouco os anelos de verdade poderão ser satisfeitos pela aplicação da inteligência às coisas externas. O ser humano não pode entrar na paz, enquanto não vencer o que é incompatível com seu Ego divino. Para consegui-la ele deve se aproximar da luz, obedecendo à lei da luz. O desejo sensual e do exterior devem desaparecer e dirigir sua visão espiritual para a luz, a fim de afastar as nuvens que a eclipsam. Primeiramente, deve ter consciência da existência, em seu íntimo, de um germe divino. Nele deve concentrar à vontade e, à sua luz, cumprir estritamente todos os deveres, interna e externamente.

Existe uma lei oculta, mencionada com frequência em escritos esotéricos, que só raros compreendem. Diz que todo o inferior tem a sua contraparte superior e, assim, ao agir o inferior, o superior reage sobre ele. Segundo essa lei, todo o desejo, pensamento, a aspiração boa ou má, é seguido, imediatamente, de uma reação que procede do alto. Quanto mais pura é a vontade do ser humano, quanto menos adulterada por desejos egoístas, tanto mais enérgica é a reação divina.

O progresso espiritual do ser humano não depende, de modo nenhum, dos esforços sobre si próprios. Pelo contrário, quanto menos tentar estabelecer leis por si mesmo, quanto mais se submeta à lei universal, tanto mais rápidos são os seus progressos. Aliás, o ser humano não pode dirigir sua vontade em sentido diverso da Vontade Universal de Deus. Se o fizer, se não a identificar com a vontade divina, pervertem-se e aniquilam-se os seus efeitos. Só quando a vontade se harmoniza e coopera com a Vontade de Deus se torna poderosa e efetiva. Demais, em todos os tempos, têm existido entidades espirituais que se comunicam com o ser humano para transmitir o conhecimento das verdades espirituais, ou para lhe refrescar a memória quando em perigo de olvida-las, a fim de restabelecer um laço de forte união entre o ser humano intelectual e o ser humano divino. Os que têm certo grau de pureza podem, mesmo nesta vida, entrar em comunhão com esses mensageiros celestiais; poucos são, porém, os que podem consegui-lo.

Seja como for, é a vontade e não a inteligência que deve ser purificada e regenerada. Portanto, a melhor das instruções é inútil se não houver vontade de pô-la em prática. E como ninguém pode salvar-se sem vontade de salvação, o desejo mais íntimo do coração deve ser o de conhecer e praticar a verdade. O ser humano de reta vontade alcançará o saber e a verdadeira fé sem necessidade de sinais externos ou de razões lógicas que o convençam da verdade daquilo que sabe ser certo. Provas, somente as pedem o sábio pretensioso. De coração vaidoso, de vontade fraca, sem conhecimento espiritual nem fé, nada mais pode saber além do que lhe vem pelos sentidos. Mas as mentes puras e sinceras adquirem a consciência das verdades em que intuitivamente creram.

Todas as ciências culminam num ponto: quem conhece o uno conhece tudo e o que julga conhecer muitas coisas é um iludido. Quanto mais te aproximares deste ponto, quanto mais íntima for tua união com Deus, tanto mais clara será tua percepção da verdade. Se a tal ponto chegares, acharás coisas, na natureza, que transcendem a imaginação dos filósofos e com as quais os cientistas nem sonham.

Toda a vida está em Deus. O que parece viver fora de Deus é simplesmente ilusão. Se desejarmos conhecer a verdade, devemos conhece-la à luz de Deus e não à luz falsa e enganadora da especulação intelectual. A união com a luz é o único caminho para chegar ao conhecimento perfeito da verdade. Como são bem poucos os que conhecem essa senda.

O mundo zomba e ri dos que por ela caminham, porque não conhece a verdade, está cheio de ilusões, cego ante a sua luz. O primeiro sinal de que desponta a aurora da sabedoria é calar-nos e permanecermos tranquilos, impassíveis, ante o riso dos néscios, o desprezo dos ignorantes, o desdém dos orgulhosos. Uma vez conhecida, a verdade será capaz de resistir ao escrutínio intelectual mais severo e aos ataques da lógica mais potente. Podem ser abaladas e transtornadas as inteligências dos que, pressentindo a verdade, não a conhecem, mas os que sabem e a compreendem, permanecem firmes como rocha. Enquanto buscarmos a gratificação dos sentidos ou a satisfação da curiosidade, não encontraremos a verdade. Para encontrá-la temos de entrar no Reino de Deus. Então, descerá sobre a nossa inteligência.

Para alcança-la não é preciso que torturemos o corpo ou que arruinemos os nervos. É indispensável crer em certas verdades fundamentais, intuitivamente percebidas por todo aquele que não tem a inteligência pervertida. Tais verdades fundamentais são: a existência de um Deus universal, origem de todo o bem, e a imortalidade da alma humana. Possuindo o ser humano faculdade de raciocínio, tem o direito e o dever de usá-la, mas nunca em oposição à lei do bem, à lei do amor divino, à lei da ordem e da harmonia. Não deve profanar os naturais dons que Deus lhe deu; antes, deve considerar todas as coisas como dons divinos, a si mesmo como um templo vivente de Deus e, seu corpo como um instrumento para manifestação do divino poder.

Um ser humano separado de Deus é coisa inconcebível posto que a natureza inteira é simples manifestação de Deus. Se a luz do Sol nos ilumina não é por obra nossa, é porque procede do Sol; se nos ocultarmos do Sol a luz desaparece.

Assim também, Deus é o Sol do espírito; devemos permanecer iluminados por seus raios, gozar do seu influxo e exortar os outros a entrar na Luz. Não existe mal nenhum em procurar conhecer essa Luz intelectualmente, se para tal a vontade se dirige. Contudo, se a vontade for atraída por uma luz falsa, tomada pela do Sol, sem dúvida cairemos em erro.

Existe uma relação definida e exata entre todas as coisas e sua causa. Mesmo nesta vida, pode o ser humano chegar ao conhecimento dessas relações e aprender a conhecer-se. O mundo em que vivemos é um mundo de fenômenos ilusórios. Tudo o que se toma por real, assim parece enquanto duram certas condições ou relações entre aquele que percebe e o objeto de sua percepção. O que percebemos não depende tanto das coisas em si quanto das condições do próprio organismo. Se a nossa organização fosse diferente, cada coisa seria percebida sob um aspecto também diferente. Quando aprendemos integralmente essa verdade e discernimos o real do ilusório, podemos entrar no reino da sublime ciência, assistidos pela luz do espírito divino. Os mistérios desta transcendental ciência, que abraça todos os mistérios da natureza, são os seguintes:

  1. O reino interno da natureza;
  2. O laço que une o mundo interno do Espírito com as formas;
  3. As relações que existem entre o ser humano e os seres invisíveis;
  4. Os poderes ocultos no ser humano, por meio dos quais pode agir no reino interno.

— Se, de coração puro, desejas a verdade, encontrá-la-ás. Mas, se tuas intenções são egoístas, afasta estas cartas. Não serás capaz de compreende-las nem te prestarão o menor benefício.

Os mistérios da natureza são sagrados. O malvado não os pode compreender. Se, todavia, conseguir descobri-los, sua luz converter-se-á em fogo consumidor de sua alma e o aniquilará.

CARTA III – VERDADE ABSOLUTA E RELATIVA

Toda a ciência do mundo se funda na hipótese de que as coisas são como parecem ser. Contudo, pouco é preciso pensar para compreender o erro da suposição, visto que a aparência das coisas não depende somente do que são em si, mas também de nossa própria organização, da constituição de nossas faculdades perceptivas.

O maior obstáculo que, no caminho do progresso, encontra o estudante das ciências ocultas, é a crença errônea de que as coisas são o que parecem ser. A menos que possa sobrepor-se a esse erro e considerar as coisas não sob o mero ponto de vista de sua limitada pessoa, mas relativamente ao Infinito e ao Absoluto, não poderá conhecer a absoluta verdade.

— Antes de prosseguir nas instruções sobre o modo prático de te aproximares da luz, será necessário que radiques, com toda a energia, em tua Mente, que todos os fenômenos são ilusórios. O que o ser humano conhece do mundo externo chegou à sua consciência através dos sentidos. Comparando, umas com as outras, as impressões repetidamente recebidas, e tomando o resultado, o que julga conhecer, corno base de especulação sobre o que não conhece, pode formar certas opiniões sobre causas que transcendam o seu poder de percepção sensitiva. Tais juízos serão válidos para si e para aqueles que tenham idêntica estruturação. Para os demais seres, que tenham organização por completo diferente da sua, esses argumentos e especulações lógicos não têm nenhum valor. É de esperar que possam existir no universo incalculáveis milhões de seres de organização superior ou inferior à nossa, mas completamente distinta, que percebam as coisas sob aspectos muito diferentes. Semelhantes seres, ainda que vivam neste mundo podem, contudo, nada conhecer dele, para nós o único concebível. Podemos, também, nada saber, intelectualmente, acerca do seu mundo, apesar de ser uno e idêntico com o nosso.

Para compreender o seu mundo, necessitamos de suficiente energia que arroje todos os erros e preocupações herdadas e adquiridas. Devemos elevar-nos a um nível superior ao do eu inferior, ainda preso ao mundo sensorial por milhares de cadeias, e atingir mentalmente o lugar onde possamos contemplar o mundo sob um aspecto superior. Devemos morrer, por assim dizer, ou antes, devemos viver inconscientes da nossa existência pessoa1, até podermos adquirir a consciência da vida superior e olhar ao mundo sob o ângulo de visão de um Deus.

A ciência moderna é somente conhecimento relativo, o que equivale a dizer que os nossos sistemas científicos ensinam unicamente as relações existentes entre as coisas externas e mutáveis e essa outra coisa, transitória e ilusória, a pessoa humana, mera aparência externa de uma atividade interna completamente desconhecida da ciência acadêmica. Os tão louvados e enaltecidos conhecimentos científicos são pura superficialidade, se referem, tão-só, a alguns dos infinitos aspectos da manifestação divina. A ignorância, ainda que ilustrada, julgando ser a sua maneira especial de considerar o mundo dos fenômenos a única verdadeira, se agarra desesperadamente a essas ilusões que toma por únicas realidades. Aos que distinguem as ilusões qualifica-os de sonhadores.

Enquanto a ciência se mantiver presa destas ilusões, não se elevará acima delas, continuará sendo ilusória e incapaz de transmitir o verdadeiro caráter da natureza. Em vão pedirá provas da existência de Deus enquanto cerrar os olhos à Eterna Luz. Entenda-se, todavia, que não estamos pedindo à ciência moderna para se colocar no plano do Absoluto, porque, neste caso, deixaria de ser relativa para as coisas externas e não teria valor algum.

Admitiu-se que as cores não são realidades por si mesmas, mas produto de certo número de ondulações da luz, o que não impede a fabricação das cores e o seu útil emprego.

Análogos argumentos são aplicáveis às demais utilizações da ciência. Obviamente, não se pretende opô-los aos trabalhos de investigação da ciência, mas instruir aqueles que não encontrem satisfação no meio conhecimento superficial e externo e, se é possível, moderar a presunção dos que creem saber tudo e, escravos de suas ilusões, negam a existência do Eterno e do Real.

Não é o corpo físico que vê, ouve, respira, raciocina e pensa. É o ser humano interno, invisível, que o realiza por meio dos órgãos corporais. Não existe nenhuma razão para crer que o ser humano interno cessa de existir quando o corpo morre; pelo contrário, como adiante veremos, supor tal coisa seria insensatez.

Sem dúvida, se o ser humano interno, pela morte do organismo físico, perde o poder de receber impressões sensíveis do mundo externo e, perdendo o cérebro, perde o poder de pensar, certamente mudarão por completo as relações condicionadoras da sua permanência no mundo. Consequentemente as condições da sua nova existência serão totalmente distintas. Seu mundo não será o nosso mundo, considerando, todavia, que, no sentido absoluto da palavra, não há senão um só mundo.

Vemos, portanto, que pode coexistir com o nosso mundo um milhão de mundos diferentes, desde que exista um milhão de seres de constituições diferentes umas das outras. Por outras palavras, a natureza é uma só e pode se manifestar sob infinito número de aspectos. A cada uma das mudanças de nossa organização, observamos o mundo através de um prisma distinto. Ao morrer, entramos num mundo novo, notando que não é o mundo que muda, mas as nossas relações com ele.

Que sabe o mundo sobre a verdade absoluta? E nós, que realmente sabemos? Sol, Lua, Terra, fogo, ar, água: só os consideramos existentes em consequência de certo estado de nossa consciência que nos leva a crer que existem. A verdade absoluta não existe no reino dos fenômenos. Nem sequer nas matemáticas a encontramos, porque todas as suas regras e os seus princípios estão fundados em certas hipóteses respeitantes à grandeza e à extensão, já, por si, de caráter fenomênico. Mudem-se os conceitos fundamentais das matemáticas e o sistema inteiro será modificado.

Do mesmo modo se pode conceituar quanto à matéria, ao movimento e ao espaço. Tais palavras somente exprimem conceitos, formados sobre coisas inconcebíveis, dependentes do nosso estado de consciência.

Se olharmos a uma árvore, forma-se uma imagem em nossa Mente, o que equivale a dizer que entramos em certo estado de consciência que nos relaciona com um fenômeno de cuja inteira natureza nada sabemos, ao qual damos o nome de árvore. Para um ser organizado de modo distinto, talvez a nossa árvore seja inteiramente diferente, quiçá transparente e sem solidez material. E, assim, para milhares de seres diferentes, isto é, de constituições diversas umas das outras, parecerá ter outros tantos aspectos distintos. O Sol, outro exemplo, pode ser considerado simplesmente como uma bola de fogo. Mas um ser de compreensão superior poderá ver nele alguma coisa para nós indescritível, por carecermos das faculdades precisas para tal concepção e descrição. O ser humano externo guarda certa relação com o mundo externo e, como tal, nada mais pode conhecer do mundo do que essa relação externa.

Algumas pessoas podem objetar que o ser humano deve se contentar com aqueles conhecimentos e não tentar aprofundá-los. Isso equivaleria a privá-lo de todo o progresso ulterior e condená-lo a permanecer preso da ignorância e do erro.

A ciência que depende de ilusões externas é uma ciência ilusória. O aspecto externo das coisas é produto da atividade interior. Se essa atividade não for conhecida, o fenômeno externo não poderá ser compreendido. O ser humano real, interno, residente na forma externa, mantém certas relações com a atividade interna do Cosmos não menos estritas e definidas do que as relações existentes entre o ser humano interno e a natureza externa. Se o ser humano não conhecer as relações que o ligam àquele poder interno, por outras palavras, que o ligam a Deus, não compreenderá a própria natureza divina e não atingirá, jamais, o verdadeiro conhecimento de si mesmo. O único e verdadeiro objetivo da verdadeira religião e da verdadeira ciência deve ser ensinar ao ser humano a relação entre si e o infinito todo e a se elevar àquele exaltado plano de existência para o qual foi criado.

Pelo falo de um ser humano ter nascido em certa casa ou em certa cidade não se conclui que tenha de permanecer ali toda a vida. Do mesmo modo, certa condição física, moral e intelectual não impõe a necessidade de ficar sempre em tal estado, nem que não faça nenhum esforço por se elevar a maiores alturas. A mais sabida de todas as ciências tem por finalidade o mais elevado de todos os conhecimentos. Não pode existir objetivo mais sublime nem mais digno de ser conhecido que a causa universal do bem. Deus é o objetivo mais elevado dos conhecimentos humanos; nada podemos saber Dele, fora da Sua manifestação ativa em nós próprios. Obter o conhecimento do eu equivale a obter o conhecimento do princípio divino que habita em nós ou, por outras palavras, o conhecimento do próprio eu depois que ascendeu ao divino.

O eu interno e divino reconhecerá, por assim dizer, as relações existentes entre si e o princípio divino no universo, se permitido é falar de relações entre duas coisas que não são duas, mas uma só e idêntica. Mais corretamente deveríamos dizer: o conhecimento espiritual, no ser humano, se realiza quando Deus nele expressa sua própria divindade.

Todo poder, quer pertença ao corpo, à alma ou ao princípio inteligente, nasce do centro, do espírito. Ver, sentir, ouvir e perceber são capacidades dos sentidos que o ser humano deve à atividade espiritual. Na maior parte dos seres humanos, despertou somente a potência intelectual que pôs em atividade os sentidos. Mas, há pessoas excepcionais que desenvolveram essa atividade espiritual em grau muito maior e expandiram extraordinariamente suas faculdades internas de percepção. Tais pessoas podem perceber realidades imperceptíveis para os demais e pôr em exercício poderes que os restantes mortais não possuem. Se os pretensos sábios encontram pessoas dessa natureza, geralmente consideram-nas enfermas de corpo, vítimas de uma condição patológica.

Todos os dias a experiência demonstra que a ciência do exterior, da superfície, ignora quase inteiramente as leis fundamentais da natureza, porque, continuamente e equivocadamente, toma as causas por efeitos e os efeitos por causas. Com igual razão e a mesma lógica se, num rebanho de carneiros, um obtivesse a faculdade de falar como ser humano, poderiam os restantes considerar o companheiro enfermo e se ocupar de sua condição patológica. A sabedoria parece loucura para o louco. Para o cego, a luz não se distingue das trevas. Para o vicioso, a virtude é como o vício e o falso diz que a verdade não vale mais que o embuste. Vemos, pois, que o ser humano percebe as cousas pelo que imagina e não pelo que são.

Assim, tudo a que chamam bom ou mau, verdadeiro ou falso, útil ou inútil, tem sentido relativo. E a conceituação difere, ainda, de um para outro, de acordo com as distintas opiniões, objetivos ou aspirações. Consequência: onde começa a linguagem nasce a confusão, porque diferem as constituições humanas, donde resulta, em cada um, uma concepção das coisas distinta das concepções dos outros.

Isto é verdadeiro já nos assuntos comuns, mas se evidencia muito mais nas questões de ocultismo, do qual os seres humanos comuns só possuem ideias falsas. Não será aventuroso dizer que o simples enunciado de uma sentença de natureza oculta daria origem a disputas e a interpretações falsas.

As únicas verdades que se encontram fora de toda disputa são as verdades absolutas. Não precisam ser enunciadas porque são evidentes por si mesmas. Expressá-las pela linguagem equivale a dizer o que todo o mundo sabe e ninguém põe em dúvida.

Dizer, por exemplo, que Deus é a causa de todo o bem equivale, simplesmente, a simbolizar a origem desconhecida de todo bem com a palavra Deus. A verdade relativa respeita unicamente às personalidades transitórias dos seres humanos.

Só pode conhecer a Verdade no Absoluto aquele que, se sobrepondo à esfera do eu e do fenômeno, chega ao Real, eterno e imutável. Fazer isso é, em certo sentido, morrer para o mundo; o que é o mesmo que se desembaraçar por completo da noção do eu pessoal e ilusório e chegar a ser um com o Universal, onde não existe o mínimo sentido de separação.

Se estiveres disposto a morrer assim, podes penetrar no Santuário da Ciência Oculta.

Porém, se as ilusões do mundo, sobretudo a ilusão de tua existência pessoal, te atraem, buscarás em vão o conhecimento do que existe por si e independente de qualquer relação com coisas — é o eterno centro flamígero, o Pai, do qual só pode se aproximar: o Filho, a Luz, a Vida e a Verdade Supremas.

CARTA IV – A DOUTRINA SECRETA

Em seus fundamentos a Doutrina Secreta, fonte dos mais profundos mistérios do Universo, é tão simples que pode ser compreendida por um menino. Por ter essa simplicidade, dela desdenham os que suspiram pela complexidade e pelas ilusões. “Ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”, o conhecimento prático desta verdade é tudo que se requer para entrar no templo onde se adquire a sabedoria divina.

Não poderemos conhecer a causa de todo bem se não nos aproximarmos dela; e não poderemos aproximar-nos dela se a não amarmos e se não formos, por amor, atraídos para ela. Não podemos amá-la sem que a sintamos e não podemos senti-la sem que exista em nós.

Para amar o bem precisamos ser bons. Para, sobre todas as coisas, amar o bem, deve o sentimento da verdade, da justiça, da harmonia, sobrepujar e absorver os outros sentimentos. Devemos deixar de viver no âmbito do eu pessoal, que é o mal, e começar a viver no divino da humanidade como num todo. Devemos amar o que é divino, tanto na humanidade como dentro de nós mesmos. Se alcançarmos esse estado supremo, de esquecimento do nosso ego intelectual e animal e de união com Deus, não haverá na terra ou nos céus nenhum segredo inacessível.

Conhecer Deus, o que é? É o conhecimento do bem e do mal. Deus é a causa de todo bem e o bem é a origem do mal. O mal é a reação do bem, no mesmo sentido em que as trevas são a reação da luz. O fogo divino de que procede a luz não é causa da obscuridade, mas a luz que irradia do centro flamígero não pode chegar a se manifestar sem a presença das trevas. Sem a presença da luz as trevas seriam desconhecidas.

Por conseguinte, há dois princípios: o do bem e o do mal, partindo ambos da mesma raiz, destituída de mal. Nesta raiz só existe o inconcebível bem absoluto. O ser humano é um produto da manifestação do princípio do bem e unicamente no bem pode encontrar a felicidade, visto que a condição necessária de felicidade para cada ser é viver no âmbito a que a sua natureza pertença.

Os que nascem no bem são felizes no bem; os que nascem para o mal nada mais desejam que o mal. Os que nascem na luz buscarão a luz; os que pertencem às trevas buscam as trevas. Sendo o ser humano um filho da luz, não será feliz enquanto, em sua natureza, existir um resquício de trevas.  O ser humano não encontrará a paz enquanto albergar, no íntimo, uma pequena mancha do mal.

A alma do ser humano é como um jardim onde se lançou um número infinito de sementes. Destas sementes podem surgir belas plantas e plantas disformes. O calor necessário para o seu crescimento vem do fogo que se chama vontade. Se a vontade é boa, desenvolverá plantas belas, se é má, plantas disformes. Logo, a finalidade principal da existência do ser humano na Terra é a purificação da vontade, cultivando-a para que se converta numa potência espiritual. O único meio para purificar a vontade é a ação. Para consegui-lo, as ações têm de ser boas até que o agir bem seja mera questão de hábito. E o hábito se estabelece quando na vontade não haja mais desejo de agir mal.

 Que proveito terias em conhecer, intelectualmente, os mistérios da Trindade e o poder falar brilhantemente sobre os atributos do Logos, se no altar do teu coração não ardesse o fogo do amor divino e, nesse templo, não brilhasse a luz do Cristo? Se tua inteligência for abandonada pelo espírito, o dador da vida, se desvanecerá, perecerá, a não ser que a chama do amor espiritual arda em teu coração com a luz da consciência eterna.

Se não estás na posse do amor do bem, mais te vale permanecer sumido na ignorância; assim, pecarás ignorantemente e não serás responsável por teus atos. Mas aqueles que conhecem a verdade e a desprezam por má vontade, sofrerão; cometeram pecado contra a verdade santa e espiritual. O Rosacruz, em cujo coração arde o fogo do amor divino, está iluminado e inspirado por esse fogo e, por causa do mesmo amor, pratica ações nobres. Não necessita de mestre mortal algum que lhe ensine a verdade porque, penetrado do espírito de sabedoria, esse é o seu Mestre verdadeiro.

Todas as ciências e artes mundanas são mínimas e pueris ante a excelência desta sabedoria divina. A posse do saber do mundo não confere valor permanente, mas a da sabedoria divina é um valor eterno. Não pode existir sabedoria divina sem o amor divino. A sabedoria divina é a união do saber espiritual com o amor espiritual, de que resulta o poder espiritual. Aquele que não conhece o amor divino não conhece a Deus. Deus é amor fonte e o centro flamígero do amor. Por isso, foi dito que, ainda que penetrássemos todos os mistérios, fizéssemos boas obras, mas não possuíssemos o amor divino, nada disso nos aproveitaria. Pelo amor é que se pode conquistar a imortalidade.

Que é o amor? O amor é um poder universal que procede do Centro donde surgiu e se expandiu o Universo. No reino elementar, o amor age à maneira de força cega, chamada força de atração. No Reino vegetal obtém os rudimentos dos instintos que, no Reino animal tem completo desenvolvimento. Finalmente, no Reino humano se converte em paixão; essa, ou o impelirá para a fonte divina donde brotou ou, se for pervertida, conduzi-lo-á à destruição. No reino espiritual, o do ser humano regenerado, o amor se transforma em poder espiritual, consciente e vivo. Para a maior parte dos seres humanos o amor não é mais do que um sentimento. O amor verdadeiramente divino e poderoso é quase desconhecido da humanidade. O sentimento superficial a que chamam amor é um elemento semianimal, fraco, impotente, e, todavia, suficiente para guiar ou extraviar os seres humanos. Podemos amar ou deixar de amar uma coisa, mas o amor superficial não penetra, senão os extratos superficiais do objeto amado. A posse do amor divino não depende de escolha; é um dom do espírito que reside no interior; é um produto da evolução espiritual e só os que chegam a esse ponto podem possuí-la. Não é possível alguém conhecer esse amor se não alcança a consciência divina, mas o que a atinge sabe que é um poder que penetra tudo, brota do centro do coração e, tocando o coração do ente amado, atrai os germes do amor ali contidos. A esse amor espiritual chama, se te parece melhor, luz espiritual, pois é tudo isso e muito mais. Todos os poderes espirituais brotam de um centro eterno e ascendem à maneira do vértice duma pirâmide de muitos lados. A esse ponto, a esse poder, a esse centro, a essa luz, a essa vida, a esse Todo, chamamos Deus, a causa de todo o bem. essa palavra é um mero vocábulo sem significação para aqueles que O não entendem; aliás, nem sequer podem conceber Seu significado, porque não sentem nem conhecem a Deus em seus corações.

Como poderemos obter esse poder espiritual de amor, de boa vontade, de luz e de vida eterna? Não podemos amar uma coisa sem que saibamos que é boa; não podemos conhecer se uma coisa é boa ou má sem senti-la; não podemos senti-la sem que nos aproximemos dela e não podemos aproximar-nos se a não amamos. Assim, giraríamos, eternamente em círculo vicioso, sem nos acercarmos jamais da eterna verdade que, do centro do coração humano lança seus raios e, instintiva e inconscientemente, transforma o movimento circular em movimento espiral; se a Luz da Graça não conduzisse os seres humanos para aquele centro, mau grado as próprias inclinações.

Tem sido dito que a inclinação do ser humano para o mal é mais forte do que para o bem. Indubitavelmente, isto é certo; no estado presente de sua evolução as atividades e tendências animais são muito fortes. Os princípios espirituais mais elevados não se desenvolveram suficientemente para dar-lhe consciência de si. Contudo, se as inclinações animais são mais fortes que seus poderes espirituais, a luz eterna e divina que o atrai para o centro é muito poderosa. Se resiste ao poder do amor divino e prefere se dirigir ao mal, não deixará, contudo, de ser atraído, inconsciente e continuamente, para o centro do amor. Portanto, ainda que, em certo grau, seja vítima indefesa de poderes invisíveis, na medida em que faz uso de sua razão é, de certa maneira, um agente livre, livre relativamente, visto que só poderá ser completamente livre quando sua razão for perfeita. A razão se tornará perfeita quando vibrar uníssona e harmoniosamente com a razão divina e universal. Portanto, o ser humano só pode ser livre se obedecer à lei.

Só pode existir uma Razão Suprema, uma Lei Suprema, uma Sabedoria Suprema, noutros termos, UM DEUS. A palavra Deus significa o ponto culminante de tudo que é físico e espiritual. Significa o Centro único donde procedem todas as coisas, todas as atividades, todos os atributos, faculdades, funções e princípios que, por fim, ao mesmo Centro voltarão. O ser humano pode esperar a concretização de sua aspiração quando agir em harmonia com a lei universal. A teoria universalmente aceita da sobrevivência dos mais aptos e a verdade absoluta de que o forte suplantará o fraco, são tão certas no Reino animal como no reino espiritual. Uma gota de água não pode, por si, correr em sentido contrário ao da corrente de que participa. É o ser humano, em toda a sua vaidade e pretensão de sabedoria, mais do que uma gota de água no oceano da vida universal?

Para obedecer à lei precisamos aprender a conhecê-la. Mas, como pode alguém conhecer a lei pura e distingui-la da adulterada, a não ser no estudo da natureza espiritual, em seus aspectos internos e externos? Só um Livro existe que o aspirante ocultista precisa conhecer, livro em que se acha contida toda a Doutrina Secreta, com todos os mistérios conhecidos unicamente pelos iniciados. Tal livro nunca foi modificado ou erroneamente traduzido, nunca foi objeto de fraudes piedosas nem de interpretações absurdas. Está ao alcance de todos, tanto dos mais favorecidos de riquezas como dos mais pobres. Todos podem compreender sua linguagem, sem distinção de idioma ou de nacionalidade. Seu título é “M”, que significa “O Macrocosmos e o Microcosmos reunidos em um volume”. Para bem compreende-lo, importa lê-lo com os olhos da inteligência e com os do espírito. Se penetrarmos nas suas páginas só com a luz do cérebro, fria como a luz da Lua, as páginas parecerão mortas e ensinarão somente o que está impresso numa superfície. Mas, se a luz divina do amor irradia do coração, iluminará as páginas o os sete selos que fecham os capítulos se romperão, um após outro, serão erguidos os véus que os cobrem e conheceremos os mistérios divinos que jazem no santuário da Natureza.

Sem essa luz divina do amor é inútil tentar penetrar no desconhecido, onde permanecem os mais profundos mistérios. Os que estudam a natureza com a mera luz dos sentidos nada mais conhecerão do que uma máscara exterior. Em vão podem esperar que lhe ensinem os mistérios. Unicamente com a luz do espírito poderão ser compreendidos; razão de se dizer que a luz brilhou nas trevas e as trevas não a compreenderam.

A luz do espírito somente se encontra no íntimo. O ser humano só pode conhecer o que existe dentro de si; não pode ver nem ouvir nem perceber nenhuma coisa externa; só contempla as imagens e experimenta as sensações que, em sua consciência, produzem os objetos exteriores.

O que ao ser humano pertence é um resumo, uma imagem do universo. Ele é o Microcosmos da Natureza; nele se acha em germe, mais ou menos desenvolvido, tudo quanto a natureza contém. Nele residem Deus, Cristo e o Espírito Santo. Nele vivem a Trindade, os elementos dos Reinos Vegetal, Animal e espiritual; ele contém o Inferno e o Céu e o Purgatório: tudo está nele porque é a imagem de Deus e Deus é a causa de tudo que existe.

Nada existe que não seja manifestação de Deus e de que se não possa dizer, em certo sentido, que seja Deus ou a substância de Deus.

O Universo é a manifestação daquela Causa ou Poder interno a que os seres humanos chamam Deus. Para estudar as manifestações desse poder temos que estudar as impressões que produz em nosso íntimo. Nada se pode conhecer fora do que existe em nós. O estudo da natureza não é, nem pode ser, nada mais do que o estudo do eu, ou, por outras palavras, o estudo das impressões internas a que as causas externas deram lugar. Positivamente, o ser humano não pode, de maneira nenhuma, conhecer nada, a não ser o que vê, sente ou percebe na intimidade do seu ser; todos os conhecimentos sobre as coisas são meras es­peculações e suposições; podemos chamar-lhes verdades relativas.

Consequentemente, se não lhe é possível conhecer algo sobre as coisas fenomênicas, senão quando as veja, sinta ou perceba em si, como é possível saber das coisas internas que não sejam manifestadas em seu íntimo? Todos os que buscam um Deus no mundo externo, em vez de procura-lo em seus corações, em vão o procuram. Todos os que adoram um rei desconhecido na criação, enquanto fazem por abafar um rei recém-nas­cido em seus corações, adoram uma ilusão. Se aspiramos conhecer a Deus e obter a Sabedoria divina, devemos estudar a atividade do Divino Princípio em nossos corações. Devemos lhe escutar a voz com o ouvido da inteligência e ler as suas palavras com a luz do divino amor, porque o único Deus que o ser humano pode conhecer é o seu próprio Deus pessoal, uno com o Deus do Universo. Por outro modo dizendo, Deus universal entra em relação com o ser humano e alcança personalidade por meio do organismo a que chamamos ser humano. É assim que Deus se faz ser humano e o ser humano se transforma em Deus. Mas tal transformação se efetua apenas quando obtém o conhecimento perfeito do divino Ego ou, em termos diferentes, quando Deus se faz consciente de si mesmo e alcança, no ser humano, ciência de si mesmo.

 Portanto, não pode haver sabedoria divina nem conhecimento do próprio Eu Divino senão depois que, encontrando o Eu Divino, o ser humano se faz sábio. Não sejam os especuladores da ciência e da teologia tão presumidos para dizer que encontraram o próprio Divino Ego. Se o tives­sem encontrado estariam na posse de poderes divinos, desses que possuem os seres humanos “sobrenaturais”, quase desconhecidos entre a humanidade. Se os seres humanos encontrassem seus Divinos Egos, não precisariam de pregadores, nem de doutores, nem de mais livros, nem de outras instruções que as mutuadas do seu Deus interno. Porém, a sabedoria dos nossos sá­bios não é sabedoria de Deus; procede de li­vros, de fontes externas e falíveis. Convém saber que o sentimento do Ego, ao qual os seres humanos chamam seu próprio “eu”, não é o do Ego Divino, mas o do Ego animal ou intelectual em que sua consciência se concentra. Cada ser humano tem um grande e variado número destes egos ou “eu’s”. Deverão perecer e desaparecer todos, antes que o Eu Divino, universal e onipresente, possa vivificar a existência do ser humano. Ai dos seres humanos se conhecessem seus próprios “eu’s” animais e semianimais! A aparição enchê-lo-ia de horror. As qualidades predominantes na maioria dos seres humanos são a inveja, a cobiça, o sibaritismo, a ambição, etc. Estes são os poderes ou deuses que gover­nam os seres humanos. A eles se aferram com amor e carinho como se fossem seus próprios “eu’s”. Tais egos, em cada alma de ser humano, assumem a forma que corresponde ao seu caráter (cada caráter corresponde a uma forma, produz uma forma). Estes “eu’s” ilusórios carecem de vida própria, se alimentam do princípio da vida em cada ser humano, vivem graças à sua vontade e se dissolvem com a vida do corpo ou pouco depois. Imortal, que existiu e existirá para sempre, é unicamente o espírito divino. No ser humano, os elementos perfeitos e puros, unidos ao espírito divino, continuarão vivendo.

Este Ego Divino não experimenta o sentimento de separação que tanto domina nossos “eu’s” inferiores; como o espaço, não estabelece distinção entre si e os demais seres humanos; se vê e a si mesmo se reconhece em todos os outros seres. Porém, vivendo e sentindo com os outros seres, não morre com eles, porque, sendo já perfeito, não requer transformações. esse é o Deus ou Brahma, so­mente reconhecível pelo que se tornou divino. É o Cristo, jamais compreendido pelo que leva em sua fronte o sinal da Besta, o Anticristo, símbolo do intelectualismo sem espiritualidade ou da ciência sem amor divino. Só pode ser conhecido pelo poder da fé verdadeira, essa espiritual sabedoria que penetra até ao centro ardente do amor existente no coração do Uno. esse centro do Amor, da Vida e da Luz é a origem de todos os poderes. Nele se contêm todos os germes e mistérios, fonte da revelação divina. Se encontrares a luz que irradia daquele centro não necessitarás de mais ensinos, achaste a vida eterna e a verdade absoluta.

O grande erro da nossa época intelectual é crerem os seres humanos que podem chegar ao conhecimento da verdade por meras especula­ções intelectuais, científicas, filosóficas ou teológicas, isto é, tão só pelo raciocínio. A teoria oculta deve ser conhecida, mas seria um mero conhecimento teórico, que não prestaria para nada, se não fosse confirmada, experimentada e realizada por meio da prática. Que aproveita ao ser humano falar muito so­bre o amor e, como papagaio, repetir o que ouviu ou leu, se não sente em seu coração o poder divino do amor? De que lhe servirá falar sabiamente da sabedoria, se não é um sábio?

Ninguém chega a ser um bom músico, soldado ou estadista só pela leitura doa livros. O poder não se obtém por simples especulação, mas pela prática. Para conhecer o bem há que pensar e praticar o bem; para experimentar a sabedoria é preciso ser sábio. Amor que não encontre expressão em ações não obtém nenhuma força. Caridade que só exista na imaginação, será sempre imaginária, se não for expressa em atos. A toda a ação corresponde uma reação. Por isso, a prática das boas ações robustece o amor ao bem que, por sua vez, se manifes­tará em forma de novas boas ações.

Quem, não sabendo agir bem, age mal, é digno de compaixão; porém, quem sabe como agir bem e age mal, sabe intelectualmente que é digno de condenação. essa a razão porque é peri­goso para os seres humanos receber instruções sobre a vida superior se a sua vontade é má. Depois de aprendermos a distinguir entre o bem e o mal, optar pelo caminho do mal torna-nos mais responsáveis que antes. Estas cartas não teriam sido escritas se não houvesse esperança de encontrar, entre os seus leitores, alguns que, além de compreen­derem intelectualmente seu conteúdo, entrem resolutamente no caminho prático. A porta deste caminho é o conhecimento do Eu. Ela conduz à união com Deus e sua primeira consequência é o reconhecimento do princípio da Fraternidade Universal.

CARTA V – OS ADEPTOS

Em tua resposta à minha última carta, manifestaste a opinião de que o expoente de espiritualidade exigido pela nossa filosofia, e que combina o intelecto com a moral, é demasiadamente elevado para que o ser humano possa alcançá-lo. E duvidas que alguém alguma vez o alcançasse.

Permite dizer que muitos daqueles a quem a igreja cristã chama santos e muitos outros habitualmente conhecidos por pagãos, obtiveram aquele estado, alcançaram poderes espirituais e realizaram coisas extraordinárias a que é costume chamar milagres.

Se examinares a vida dos santos, acharás muitas coisas grotescas, fabulosas e falsas. Os que só conhecem as lendas conhecem pouco ou nada das leis misteriosas da natureza. Relatam fenômenos autênticos ou apócrifos, mas não podendo explicá-los, atribuem-lhes causas de sua própria invenção. Em todos esses escombros encontrarás uma parte de verdade, o que demonstra que a inteligência de pessoas sem ilustração pode ser iluminada pela Divina Sabedoria, se tais pessoas vivem santamente. Verás que, muitas vezes, frades e freiras pobres e ignorantes, segundo o mundo, sem nenhuma instrução, alcançaram tal sabedoria que foram consultados por papas e reis; e verás que, muitos deles, atingiram o poder de abandonar os Corpos físicos para, em Corpos sutis, visitar lugares distantes e aparecer em forma material em pontos remotos.

As ocorrências desta espécie foram tão numerosas que deixaram de parecer extraordinárias, e nem será necessário descrevê-las porque são todas já bastante conhecidas. Na vida de Santa Catarina de Sena, na de São Francisco Xavier[1] e nas de muitos outros santos encontrarás a descrição de semelhantes incidentes. A história profana também abunda em narrações referentes a homens e mulheres extraordinários. Limito-me a recordar-te a história de Joana d’Arc, que possuiu dons espirituais e a de Jacob Boehme, sapateiro inculto iluminado pela Sabedoria Divina.

Nada seria mais absurdo que disputar sobre semelhantes coisas com um cético ou um materialista. Equivaleria a discutir sobre a existência da luz com um cego de nascença. Nenhum tribunal de cegos pode falar sobre a existência ou não existência da luz e, não obstante, ela existiu e existe. Podemos dar aos cegos alguma ideia sobre a luz, mas não podemos provar-lhe cientificamente enquanto permanecerem cegos à razão e à lógica.

A “civilização moderna” a tal ponto tem degradado os conceitos sobre os valores que, para muita gente, todos os afãs se concentram no dinheiro como meio de satisfazer seus apetites, comodidades, afeições ou luxos. Tais pessoas não compreendem que se possa praticar algum ato fora da mira de enriquecer, comer, beber, dormir e gozar de todo o conforto da vida.

Não obstante, tais pessoas não são felizes, vivem inquietas e ansiosas, correndo atrás de ilusões que se desfazem ao tocá-las, ou que geram desejos mais violentos para outras ilusões.

Felizmente, há muitas pessoas em quem a Centelha Divina de espiritualidade não foi abafada pelo materialismo; algumas, até, converteram essa centelha em chama pelo sopro do Espírito Santo, sopro que ilumina as inteligências e de tal modo penetra os Corpos físicos que mesmo observadores superficiais se apercebem do caráter extraordinário dessas pessoas. Indivíduos desta natureza habitam em diversas partes do mundo e constituem uma Fraternidade pouco conhecida.

Nem é desejável que seja divulgada porque excitaria a inveja e a cólera dos ignorantes e dos malvados, pondo em atividade uma força hostil a si própria.

Todavia, como desejas conhecer a verdade não por mera curiosidade, mas pelo desejo de seguir o caminho, foi-me permitido dar-te as seguintes notícias[2]:

Os Irmãos de quem falamos vivem desconhecidos para o mundo. A história nada sabe deles, contudo, são os maiores da humanidade. Quando se converterem em pó os monumentos erigidos em honra dos conquistadores do mundo, e deixarem de existir os reinos e tronos, estes escolhidos ainda viverão. Tempo chegará em que os seres humanos abandonarão as ilusões e começarão a estimar o que é digno de apreço; então, os Irmãos serão conhecidos e apreciada a sua sabedoria.

Os nomes dos grandes da Terra estão escritos no pó, mas os nomes destes Filhos da Luz estão no Templo da eternidade. Farei que conheças estes Irmãos; poderás converter-te num deles. Iniciados nos mistérios da Religião, não pertencem a nenhuma sociedade secreta, como essas que profanam as coisas sagradas com cerimônias e pompas e cujos membros presumem de iniciados. Não, somente o Espírito de Deus pode iniciar o ser humano na Sabedoria Divina e iluminar sua inteligência. Só o Hierofante pode guiar o candidato para o altar onde arde o fogo divino, mas é o candidato que, por si, deve chegar ao altar. Quem deseja ser Iniciado deve se fazer digno de obter dons espirituais, deve beber na Fonte que a todos se oferece, mas que não mata a sede daqueles que a si mesmo se excluem.

Enquanto ateus, materialistas e céticos da moderna civilização falseiam a palavra filosofia e, aparentando celestial sabedoria, pontificam com as lucubrações dos próprios cérebros, os Irmãos, tranquilamente, iluminados por uma luz mais elevada, constroem, para o Eterno Espírito, um Templo que permanecerá, mesmo depois do desaparecimento dos mundos. Seu labor consiste no cultivo dos poderes da alma. O torvelinho do mundo e suas ilusões não os afetam; no livro misterioso da natureza leem as letras vivas de Deus. Reconhecem e gozam das harmonias divinas do universo. Enquanto os sábios do mundo reduzem a níveis intelectuais e morais o que é sagrado e exaltado, estes Irmãos se elevam ao plano da luz divina e nele encontram tudo quanto, na natureza, é bom, verdadeiro e justo.

Não se limitam a crer, conhecem a Verdade por contemplação espiritual ou viva. Suas obras estão em harmonia com sua : fazem o bem por amor do bem e sabem que é o bem. Sabem que um ser humano não pode se converter em verdadeiro Cristão só por abraçar certa crença. A conversão num Cristão verdadeiro significa se transformar num Cristo, se elevar acima da personalidade e consubstanciar, no seio do divino Ego, tudo que existe nos céus e na terra. É um estado inconcebível por quem nunca o alcançou. Significa uma condição em que o ser humano é, real e conscientemente, o templo onde reside, com todo seu poder, a Trindade Divina. Só nesta luz ou princípio, a que chamamos Cristo, que outros povos conhecem por outros nomes, podemos encontrar a verdade.

Entra nesta Luz e aprenderás a conhecer os Irmãos que nela vivem.   É o santuário de todos os poderes e meios chamados sobrenaturais e proporciona a energia necessária para restabelecer a união que, em remotas eras, ligava o ser humano à Fonte Divina donde procede. Se os seres humanos conhecessem a dignidade das próprias almas e as possibilidades dos seus poderes latentes, só o desejo desse conhecimento os encheria de respeitoso temor.   Deus é Uno e só existe uma verdade, uma ciência e um caminho para chegar a Ele.  Dá-se a esse caminho o nome de Religião; portanto, só existe uma Religião, ainda que haja muitas confissões diferentes. O necessário para conhecer a Deus está, integralmente, na natureza.  As verdades que a Religião pode ensinar existiram desde o princípio do mundo e existirão até que o mundo acabe. Em todas as nações desse Planeta brilhou sempre a luz, mas as trevas não a compreenderam. Em certas regiões a luz foi muito brilhante, noutras, menos: brilhou sempre proporcionalmente à capacidade receptiva do povo e à pureza de sua vontade. Todas as vezes que encontrou grande acolhimento, apareceu com dilatado resplendor e os seres humanos capacitados perceberam-na mais claramente. A verdade é universal, não pode ser monopolizada por ninguém.

Os mistérios mais augustos da Religião, tais como a Trindade, a Queda da Mônada[3] humana, sua Redenção pelo amor, etc., se encontram tanto nos sistemas antigos de Religião como nos modernos. Conhecê-los é conhecer o Universo, é conhecer a Ciência Universal, ciência infinitamente superior a todas as ciências materiais do mundo. Se for certo que estas examinam algumas particularidades, alguns detalhes da existência, não locam, porém, as grandes verdades universais que são o fundamento da existência, até com desprezo tratam semelhantes conhecimentos porque seus olhos estão fechados à luz do espírito.

As coisas externas podem ser examinadas com a luz externa; as especulações intelectuais requerem a luz da inteligência, mas a percepção das verdades espirituais precisa da luz do espírito. Uma luz intelectual, sem a iluminação espiritual, conduzirá os seres humanos ao erro.

Os que desejam conhecer as verdades espirituais devem buscar a luz no seu íntimo e não em qualquer espécie de fórmulas ou cerimônias externas. Quando tiverem encontrado Cristo dentro de si serão Cristãos. Era essa a Religião prática, a ciência e o saber dos antigos sábios, muito tempo antes de aparecer o Cristianismo. Era também a Religião prática dos primitivos Cristãos que, como verdadeiros Discípulos de Cristo, estavam espiritualmente iluminados.

À medida que o Cristianismo se difundia, as interpretações falsas foram suplantando a verdadeira doutrina e os símbolos sagrados perderam sua real significação. As organizações eclesiásticas inventaram ritos e cerimônias e a fraude e um mórbido misticismo usurparam o trono da Religião e da verdade. Os seres humanos destronaram Deus para se assentarem no seu trono. A ciência de tais seres humanos não é sabedoria. Suas experiências não vão além das sensações Corporais. Sua lógica se funda em argumentos falsos. Jamais conheceram as relações do ser humano finito com o Espírito Infinito. Arrogam-se poderes divinos que não possuem e induzem os seus semelhantes a buscar neles a luz que só irradia do divino Ego; e, assim, os enganam com esperanças vãs ou sugerem falsas seguranças que conduzem à perdição.

Eis aí as consequências do poder material acumulado pelas modernas igrejas. Que demonstra a história? Que o aumento do poder material de uma igreja diminui o seu poder espiritual. Ela não pode dizer: “Não possuo ouro nem prata”, nem ao enfermo: “levanta-te e caminha”!

Se não for infundida nova vida nos antigos sistemas religiosos, sua decadência é certa. Sua ineficácia está patente na difusão universal do materialismo, do ceticismo e da libertinagem. Não pode se reavivar a Religião, aumentando o poder e a autoridade material do clero.

O poder central que dá vida e movimento a todas as coisas é o Amor. Uma Religião só pode ser forte e verdadeira quando vivificada pelo Amor. A Religião que se fundasse no Amor universal conteria os elementos de uma Religião universal.

Se o princípio de amor não for praticamente reconhecido pela igreja, não haverá nela verdadeiros Cristãos nem adeptos, e os poderes espirituais que o clero pretende possuir só existirão em sua imaginação. Cesse o clero das distintas denominações de excitar o espírito de intolerância, desista de convidar o povo à guerra e ao sangue, às disputas e questões. Reconheça que todos os seres humanos, de qualquer nacionalidade, professem a Religião que professarem, têm uma origem comum e os aguarda o mesmo destino, todos são fundamentalmente idênticos, diferindo uns dos outros apenas em condições externas. Quando as igrejas pensarem mais no interesse da humanidade do que nos seus interesses temporais, então e só então, reconquistarão seus poderes internos e formarão santos e adeptos.

Outra vez obterão dons espirituais; os fatos milagrosos se repetirão e serão mais apropriados do que todas as especulações teológicas para convencer a humanidade de que, além do reino sensível da ilusão material, existe um poder supremo, universal e divino que diviniza os que se identificam com esse poder. A verdadeira Religião consiste no reconhecimento de Deus, mas Deus só pode ser reconhecido por meio de sua manifestação. Ainda que toda a natureza seja uma manifestação de Deus, o grau mais alto desta manifestação é a divindade no ser humano. Unir o ser humano com Deus, fazer todos os seres humanos divinos, eis o objetivo final da Religião. Reconhecer a divindade em todos é o meio para atingir aquele fim.

O reconhecimento de Deus significa o reconhecimento do princípio universal de amor divino. Quem reconhece plenamente esse princípio abre os sentidos internos e a Mente à iluminação da Sabedoria Divina. Quando todos os seres humanos tiverem chegado a esse cume, a luz do espírito iluminará o mundo, assim como, agora, o ilumina a luz do Sol. Então, o saber substituirá a dúvida, a fé substituirá a crença e o amor universal reinará em vez do amor pessoal. A majestade de Deus Universal e a harmonia de Suas leis serão reconhecidas na natureza e no ser humano. E nas joias que adornam o trono do Eterno, joias que os Adeptos conhecem, resplandecerá a luz do Espírito.

CARTA VI – EXPERIÊNCIAS PESSOAIS

A natureza tem inumeráveis mistérios que o ser humano deseja descobrir. Estão errados os que acreditam na existência de sociedades possuidoras de segredos determinados que, se quisessem, poderiam comunicar a outras pessoas não evoluídas espiritualmente. O ser humano que, por meio de favores, pretenda obter o saber verdadeiro, esse que se consegue pelo desenvolvimento espiritual, deixará de se esforçar no adiantamento e, ao aderir a sociedades secretas na esperança de obtê-lo gratuitamente, sofrerá total desengano.

No verão de 1787, estando eu sentado num banco de jardim, próximo a um castelo em Munique[4], pensava profundamente nesse assunto. Um estrangeiro, de aspecto digno e respeitável, vestido sem a menor pretensão, passeava por uma das áreas do jardim. Diria-se que a tranquilidade suprema de sua alma se refletia em seus olhos. Tinha cabelos grisalhos e o olhar tão bondoso que, ao passar diante de mim, instintivamente levei a mão ao chapéu. Ele também me saudou amavelmente.

Senti um impulso de segui-lo e falar-lhe, mas não tendo a menor desculpa para fazê-lo, contive-me. O estrangeiro desapareceu, mas no dia seguinte, mais ou menos à mesma hora, tendo eu voltado ao mesmo lugar na esperança de encontrá-lo, ali estava ele sentado num banco, lendo um livro. Não me atrevendo a interrompê-lo, passeei pelo jardim durante algum tempo. Quando voltei, o estrangeiro já não estava, mas tinha deixado um livro em cima do banco. Apressei-me a tomá-lo, esperando ter oportunidade de devolvê-lo e, com isso, ocasião para conhecer o distinto personagem. Olhei o livro, mas nada pude ler porque estava escrito em caracteres caldáicos. Só na página do título eslava escrita, em latim, uma breve sentença que dizia assim: “Aquele que se levanta cedo em busca da sabedoria, não precisa ir muito longe, encontra-a sentada defronte da sua porta”.

Os caracteres do livro eram muito formosos, de um vermelho muito brilhante, a encadernação de um azul magnífico, com fechos de ouro. O papel finíssimo, branco, parecia emitir todas as cores do arco íris, à maneira de nácar[5]. Uma fragrância esquisita penetrava as folhas daquele livro.

Durante três dias consecutivos, às doze horas, fui àquele lugar, na esperança, em vão de encontrar o estrangeiro. Por fim, descrevendo o cavalheiro a um dos guardas, soube que era visto com frequência, às quatro da manhã, passeando à beira do Isar[6], perto de uma linda pequena cascata, num sítio chamado “O Praler”. Indo ali, no dia seguinte, fiquei surpreendido ao vê-lo a ler outro livro, parecido com o que eu encontrara.

Acerquei-me para devolver-lhe o livro, explicando como tinha chegado às minhas mãos, mas ele pediu que o aceitasse e o considerasse como presente de um amigo desconhecido. Ao retorquir que não podia ler o seu conteúdo, excetuando os dizeres da primeira página, respondeu que tudo quanto dizia o livro se referia ao que aquela sentença expressava. Pedi-lhe que me explicasse e o estrangeiro, ao longo do passeio que, por algum tempo, demos pela margem do rio, contou-me muitas coisas importantes sobre as leis da natureza. Tinha viajado muito e possuía um verdadeiro tesouro de experiências. Ao nascer do Sol disse: “Vou mostrar-lhe algo curioso”, e sacou do bolso um pequeno frasco deitando na água algumas gotas do seu conteúdo. Imediatamente as águas do rio começaram a brilhar com todas as cores do arco-íris, até uma distância de mais de trinta pés[7] da margem. Alguns trabalhadores das imediações se aproximaram para contemplar o fenômeno. A um deles, que estava enfermo, padecendo de reumatismo, o estrangeiro deu algum dinheiro e certos conselhos, assegurando-lhe que, se os seguisse, em três dias estaria bom. O operário agradeceu, mas o estrangeiro respondeu-lhe: “Não me agradeça, mas sim ao poder onipotente do bem”.

Ao entrarmos na cidade, convidou-me para um novo encontro, no dia seguinte, mas sem declinar o nome nem o lugar de sua residência. Encontrei-o no dia seguinte e dele soube coisas de tal natureza, que ultrapassaram tudo quanto podia imaginar acerca dos mistérios da Natureza. Todas as vezes que me falava das grandezas da criação parecia estar possuído de um fogo sobrenatural.

Senti-me confuso e deprimido ante tão superior sabedoria e maravilhava-me ao pensar em como podia ter adquirido esses conhecimentos. O estrangeiro, lendo meus pensamentos, disse: “Vejo que ainda não vos decidistes a respeito da espécie de ser humano em que qualificar-me, mas asseguro-vos que não pertenço a nenhuma sociedade secreta, embora conheça os segredos de todas as sociedades semelhantes. Amanhã vos darei mais explicações, agora tenho várias coisas que fazer.

— Tendes negócios, perguntei, desempenhais algum cargo público?

— Querido amigo, respondeu-me o estrangeiro, quem é bom encontra sempre em que ocupar-se, e fazer o bem é o emprego mais alto que o ser humano pode desempenhar.

Dito isto, partiu e não o vi mais durante quatro dias. No quinto chamou-me pelo nome às quatro da manhã, pela janela do meu quarto e convidou-me para um passeio. Levantei-me, vesti-me e saímos. Contou-me, então, algumas coisas sobre a sua vida passada e, entre elas, que, por volta dos 25 anos, travara conhecimento com um estrangeiro que lhe ensinou muitas coisas, e lhe ofereceu um manuscrito que continha ensinos notáveis. Mostrou-me o manuscrito e o lemos juntos.

Eis aqui alguns extratos do mesmo:

“Novas ruínas descobertas do Templo de Salomão – Assim como a imagem de um objeto pode ser vista na água, do mesmo modo os corações dos seres humanos podem ser vistos pelos sábios. Deus te bendiz, filho meu, e te permite publicar o que digo para que, assim, aos seres humanos sejas benéfico. Filius Vitis (Filho da Vida), um dos Irmãos mostrou-me o caminho para os mistérios da natureza, mas durante largo tempo absorvi-me nas ilusões que flutuam nas margens desse caminho. Finalmente, convenci-me da inutilidade de semelhantes ilusões e abri meu coração de novo aos cálidos raios do amor divino, do grande Sol espiritual”.

“Então, reconheci a verdade: que a posse da sabedoria divina tem mais valor do que a posse de tudo mais; que o saber humano nada vale, e o próprio ser humano nada é se não se converte em instrumento para a sabedoria divina. essa sabedoria, desconhecida para o sábio do mundo, é conhecida por algumas pessoas. Oceanos separam o país dos sábios daqueles onde moram os néscios. Tal país não será descoberto, enquanto os seres humanos não acostumarem os olhos à radiação da luz divina. Ali, no Templo da Sabedoria, há uma inscrição que diz: ‘Este templo é sagrado pela contemplação das divinas manifestações na natureza’”.

“Sem verdade não há nenhuma sabedoria, nem existe verdade sem bondade. A bondade raramente se encontra no mundo. Por isso, frequentemente, as verdades e a sabedoria do mundo não são mais do que loucuras”.

“Estamos livres de preocupações e, com os braços abertos, recebemos os que vêm até nós trazendo o selo da divindade. A ninguém perguntamos se é judeu ou pagão. Tudo quanto exigimos é que se mantenha fiel à sua humanidade. O amor é o traço de união entre nós, e por ele trabalhamos em prol da humanidade. Conhecemo-nos uns aos outros pelas obras, e quem possui mais elevada sabedoria é o maior entre nós. Nenhum ser humano pode receber mais do que merece. O amor divino e a ciência são-lhe dados proporcionalmente à sua capacidade para amar e para saber”.

“A fraternidade dos sábios é eterna e absoluta. O Sol da verdade eterna ilumina o seu templo. O cristal é aquecido pelo Sol e esfria-se quando afastado da luz: do mesmo modo, quando a Mente do ser humano é penetrada pelo divino amor obtém sabedoria, porém, se se afasta da verdade, a sabedoria se extingue. As sociedades secretas e sectárias perderam a verdade e delas a sabedoria desapareceu. Amam aos que servem seus particulares interesses e empregam fórmulas e símbolos de que não compreendem a significação. De filhos que eram da luz, converteram-se em filhos das trevas. O Templo de Salomão, construído por seus antepassados, foi destruído, não existe dele pedra sobre pedra. A maior confusão reina em suas doutrinas. As colunas do Templo ruíram e, no lugar do Santuário, rastejam agora serpentes venenosas. Se desejas saber a verdade ou não do que digo, empunha o facho da razão e entra nas trevas. Contempla o trabalho das sociedades sectárias realizado no passado e no presente e só verás egoísmo, superstição, crueldade e assassínio”.

“O número dos seres humanos que vivem sumidos nas trevas é de milhões, mas o número dos sábios é pequeno. Vivem em diferentes partes do mundo, à grande distância uns dos outros, mas estão inseparavelmente unidos em espírito. Falam diversas línguas, mas todos se compreendem porque a língua dos sábios é espiritual. Opõem-se às trevas e ninguém mal-intencionado pode aproximar-se da luz, porque suas próprias trevas o destroem. Os seres humanos os desconhecem. Dia virá que movidos como por um impulso do dedo de Deus, num momento, destruirão a obra secular dos malvados. Não busques a luz nas trevas nem a sabedoria nos corações dos malvados. Se te aproximares da verdadeira luz, conhecê-la-ás e iluminará a tua alma”.

Estes são alguns extratos do manuscrito. Continha muitas notícias sobre os Irmãos da Cruz e da Rosa de Ouro. Não me é permitido falar de tudo quanto nele aprendi; em resumo, depreende-se que os verdadeiros Rosacruzes formam uma sociedade espiritual que nada tem a ver com as sociedades secretas do mundo. Não constituem uma sociedade, no sentido literal da palavra, porque não têm estatutos, nem regras, nem cerimônias, nem cargos, nem reuniões, nem nada do que estrutura as sociedades secretas. É certo grau de sabedoria que converte um ser humano em Rosacruz.

Porque é um Iniciado compreende praticamente o mistério da Cruz e da Rosa, a lei da evolução da Vida. Seu conhecimento prático transcende toda teoria e conhecimento intelectual. É inútil meditar sobre questões místicas que estão além do nosso horizonte mental. É inútil tentar penetrar nos mistérios espirituais antes de nos espiritualizarmos. O conhecimento prático supõe prática e só pode ser adquirido pela prática. Para obter poder espiritual é necessário praticar as virtudes espirituais da , Esperança e Caridade. A única maneira de chegar a sábio é cumprir, durante a vida, seu dever. Amar a Deus em toda a humanidade e cumprir seu dever, eis a suprema sabedoria humana, emanada da Sabedoria Divina.

Na medida em que aumenta o amor e a sabedoria, aumenta o poder espiritual que eleva o coração e alarga o horizonte mental. Lenta e quase imperceptivelmente, abrem-se os sentidos internos, adquire-se maior capacidade receptiva e cada passo para o alto dilata o campo de visão. Dignas de lástima são as sociedades e as seitas que tentam obter o conhecimento das verdades espirituais por meio da especulação filosófica, sem a prática da verdade. Inúteis são as cerimônias, meras exterioridades, se não se compreender sua significação oculta. Uma cerimônia nada vale, é mera ilusão e impudor se não expressar um íntimo processo da alma. O símbolo, pelo contrário, é facilmente compreendido quando a íntima vivência é real. A incompreensão do significado dos símbolos e as consequentes disputas e diferenças de opiniões demonstram que as diversas seitas perderam o poder interno e possuem, unicamente, a forma morta.

A religião das seitas e sociedades secretas funda-se no amor e na admiração egoístas do eu pessoal. É certo que algumas pessoas generosas e desprendidas aí se encontram, mas a maioria espera obter benefícios, roga por sua salvação e age bem com mira em recompensas. Por isso, vemos o cristianismo dividido em centenas de sociedades, seitas e religiões diferentes, muitas detestando-se e procurando prejudicar-se umas às outras. Vemos o clero de todos os países ansioso de poder político e de servir os interesses da sua igreja. Perdeu de vista o Deus Universal da humanidade e colocou em Seu lugar o ídolo do eu pessoal. Pretende possuir poderes divinos e emprega sua influência na obtenção de benefícios materiais para a sua igreja. E, assim, o divino princípio de Verdade é prostituído todos os dias e todas as horas nas igrejas, convertidas em mercados. O templo da alma está ocupado por mercadores, o Espírito de Cristo está ausente.

Cristo – a Luz Universal do Logos Manifestado, a Vida e a Verdade – está em toda a parte, não pode ser encerrado numa igreja nem numa sociedade secreta. Sua igreja é o Universo e seu altar o coração de cada ser humano que recebe a sua luz.

O verdadeiro Discípulo de Cristo não sabe o que é desejo egoísta. Não se preocupa com o bem-estar de outra igreja que não seja aquela, suficientemente ampla, que possa conter a humanidade inteira, não lhe importando as diferentes opiniões. Nem se preocupa com a salvação pessoal e muito menos espera obtê-la à custa de outrem. Sentindo o amor imortal, sabe que ele próprio é imortal, reconhecendo que na consciência de Deus mergulham as raízes do seu Ego individual. O verdadeiro Filho da Luz harmoniza a vontade, o pensamento e o desejo com o Espírito Universal. Pôr o Ego receptivo à divina Luz, executar a sua Vontade e, deste modo, converter-se em instrumento do poder de Deus manifestado sobre a Terra, eis o único meio de adquirir a ciência espiritual e de tornar-se um Irmão da Cruz e da Rosa de Ouro.

CARTA VII – OS IRMÃOS

Não perguntes quem são os que escreveram estas cartas, julga-as pelos méritos que apresentam, considera não meramente as palavras, mas o espírito com que foram escritas.

Não nos move nenhum espírito egoísta. E a luz interna que nos instiga a agir, que nos impulsiona a escrever-te. As credenciais são as verdades que possuímos, verdades facilmente reconhecidas por aqueles que põem a verdade acima de tudo. Também a ti as revelaremos, na medida da tua capacidade para receber ou não o que dissermos.

A Sabedoria Divina não clama que a admitam; luz que brilha com eterna tranquilidade, espera pacientemente o dia em que seja reconhecida e aceita.

Nossa comunidade existiu desde o primeiro dia da criação e continuará existindo até ao último. É a sociedade dos Filhos da Luz. Seus membros conhecem a luz que brilha no interior e no exterior das trevas e a natureza do destino humano. Em sua Escola, o Mestre, a própria Sabedoria Divina, ensina aos que procuram a verdade pela verdade e não por qualquer benefício mundano. Os mistérios explicados nessa Escola reportam-se às coisas que é possível conhecer, relativas a Deus, à Natureza e ao ser humano. Todos os antigos sábios aprenderam em nossa Escola. Entre seus membros, alguns são habitantes de outros mundos, distintos deste. Esparsos pelo Universo, todavia estão ligados por um só Espírito. Entre eles não há diferença de opiniões. Estudam num só livro e, para todos, o método de estudo é o mesmo. essa Sociedade é composta de Escolhidos, dos que buscam a luz e podem recebê-la. O que possuí maior receptividade para a luz e o Chefe. O lugar de reunião e intuitivamente conhecido por cada membro e facilmente alcançado por todos, residam onde residirem. Está muito perto, mas tão oculto aos olhos do mundo que ninguém, a não ser um iniciado, pode encontrá-lo. Os que estão maduros podem entrar, mas os que estão verdes esperam.

A Ordem possui três graus: ao primeiro chega-se pelo poder da inspiração divina; ao segundo, pela iluminação interior e, ao terceiro, o mais elevado, pela contemplação e adoração.

Não existem entre nós disputas, nem controvérsias, nem especulações, nem sofismas, nem dúvidas, nem ceticismos. Aquele a quem se apresenta a melhor oportunidade para fazer o bem é o mais feliz. Estamos de posse dos maiores mistérios e, não obstante, não constituímos nenhuma sociedade secreta. Nossos segredos são um livro aberto para quem está disposto e apto. O segredo que mantemos não decorre de pouco desejo de ensinar, mas resulta da fraqueza dos que pedem os ensinamentos. Estes segredos não podem ser comprados por dinheiro nem demonstrados publicamente. Os corações despertados para estes poderes são capazes de receber a sabedoria e o amor fraternos e compreendem-nos. Aquele que despertou o fogo sagrado é feliz e está contente. Percebe a causa das misérias humanas e a necessidade inevitável do mal e dos sofrimentos. Sua visão clara compreende o fundamento de todos os sistemas religiosos, as verdades relativas que contêm e a instabilidade que os caracteriza, por falta, entre os seus membros, do verdadeiro saber.

A humanidade vive mergulhada num mundo de símbolos, incompreendidos pela maioria dos seres humanos. Mas aproxima-se o dia do reconhecimento do espírito vivente que encerram. Então, os sagrados mistérios serão revelados.

Perfeito conhecimento de Deus, perfeito conhecimento do ser humano, são as luzes que, no templo da verdade, iluminam o santuário da sabedoria. Fundamentalmente, só existe uma religião e uma fraternidade universais. Sob as formas, os sistemas e associações religiosos, jaz, somente, uma parte da verdade. São cascas, revelando verdades relativas do que representam e ocultam, mas necessárias aos que não podem ainda reconhecer a verdade invisível e informe representada pelos símbolos.

Ensinar a compreender, pouco a pouco, que a verdade ali existe, ainda que invisível, é cooperar no despertar da crença, base do desenvolvimento da fé e do conhecimento espirituais. Mas, se as formas externas de um sentimento religioso representam verdades ocultas não integradas no sistema, tais símbolos só representam coisas ridículas. Existem tantos erros nas formas como nas teorias porque, sendo infinita a verdade absoluta, não pode circunscrever-se a uma forma ou teoria limitadas. Os seres humanos, equivocadamente, tomaram a forma pelo espírito, o símbolo pela verdade e, deste equívoco, nasceram infinitos erros. Denunciá-los ou estabelecer ardentes controvérsias em nada os corrige; assim também, as atitudes hostis não corrigirão os que vivem no erro. As trevas não podem ser dissipadas ou combatidas com armas. A luz é que as afasta. Onde entra o saber a ignorância desaparece.

No presente século que começa aparecerá a luz. Coisas ocultas durante centúrias serão conhecidas, muitos véus serão levantados. Será mostrada a verdade que está para além da forma. A humanidade, como um todo, mais se aproximará de Deus.

Não podemos dizer-te, agora, por que isto virá neste século. Limitamo-nos a dizer que cada coisa tem seu tempo e seu lugar e que todas as coisas no Universo estão reguladas por uma lei de ordem e harmonia divinas. Primeiro veio o símbolo que ocultava a verdade; depois, a explicação do símbolo e, finalmente, a própria verdade será recebida e reconhecida. A árvore brota da semente, o símbolo, a síntese do seu inteiro caráter.

É nosso dever ajudar ao nascimento da verdade e abrir as cascas que cobrem a verdade, reavivando, por toda a parte, os hieróglifos mortos. Não são os poderes pessoais que nos permitem fazer isto, mas o poder da luz que, como seus instrumentos, opera em nós. Não pertencemos a nenhuma seita, não lemos ambições a satisfazer, não desejamos ser conhecidos, nem somos daqueles a quem desgosta o presente estado de coisas do mundo e desejariam governar para impor suas opiniões à humanidade. Não existe ninguém, partidarismo algum, que influa sobre nós, nem esperamos prêmio pessoal pelo nosso trabalho.

Possuímos uma Luz que nos abre os mistérios mais profundos da natureza e um Fogo que nos alimenta e permite agir em tudo que na natureza existe. Temos as chaves de todos os segredos e conhecemos os elos que unem o planeta a todos os mundos. Temos a ciência universal, que abraça todo o universo, cuja história começou com o primeiro dia da criação.

Possuímos todos os livros de sabedoria antiga. A natureza está sujeita à nossa vontade porque somos unos com o Espírito universal, a potência motriz do universo e a origem eterna da vida. Não precisamos ser informados nem pelos seres humanos nem pelos livros que escrevem porque conhecemos tudo que existe, lemo-lo nesse livro isento de erros, a natureza. Tudo se ensina em nossa Escola, é nossa Mestra a Luz que produziu todas as coisas.

Podemos falar-te das coisas mais maravilhosas, tão longe do alcance do filósofo mais erudito do nosso tempo como o Sol da terra. Todavia, estão para nós tão perto como a Luz está próxima do Espírito donde emana.

Não temos a intenção de excitar a tua curiosidade. Desejamos, sim, criar em ti a sede da sabedoria e a fome do amor fraterno, para que possas abrir teus olhos à luz e contemplar a verdade divina. Não nos cumpre aproximar-nos de ti para dar-te entendimento: o poder da própria verdade é que entra no coração, é o esposo divino da alma que chama à porta. E quantas almas rejeitam esse esposo, submersas nas ilusões da existência externa!

Desejas ser um membro da nossa Fraternidade? Desejas conhecer os Irmãos? Entra em teu coração, aprende a conhecer a divindade que se manifesta em tua alma.

Busca em ti o que é perfeito, imortal, permanente. Quando encontrares, entrarás em nossa confraria e conhecer-nos-ás. Tens que expulsar todas as impurezas antes de entrar em nosso círculo, imune a toda imperfeição. Todos os elementos mortais do teu íntimo deverão ser consumidos pelo fogo do amor divino. Deves ser batizado com a água da verdade e vestido da substância incorruptível originada dos pensamentos. O sensório interno deverá abrir-se à percepção das verdades espirituais e a mente aos clarões da sabedoria divina. Por estes meios, poderão desenvolver-se em tua alma elevados poderes. Com eles estarás apto a vencer o mal. Todo o teu ser será restaurado e transformado num ser luminoso, teu corpo servirá de mansão ao espírito divino.

Perguntas quais são as nossas doutrinas? Não tomamos a defesa de nenhuma. Fosse qual fosse a que te apresentássemos seria mera opinião duvidosa enquanto não te conheceres a ti mesmo. Interroga teu espírito divino, abre tua alma, teus sentidos, à compreensão do que te diz e certamente responderá às tuas perguntas.

Tudo que podemos fazer por ti é oferecer-te algumas teorias. Considera-as, examina-as e não creias nelas só porque procedem de nós. Devem servir-te de balizas e sinais durante tuas excursões pelo labirinto do exame próprio.

Uma das proposições que submetemos à tua ponderação é que a humanidade, como um todo, não será feliz enquanto não reviver no espírito da sabedoria divina e do amor fraternal. Quando isto for realidade, os regentes do mundo terão coroas de razão pura, os cetros serão amor e, ungidos do poder puro, poderão libertar os povos da superstição e das trevas. Então, com tal aperfeiçoamento, melhorarão as condições da humanidade, desaparecerão a pobreza, o crime e as enfermidades.

Outra sentença te apresentamos: os seres humanos seriam mais espirituais e mais inteligentes se a densidade das partículas materiais dos seus corpos não impedissem a ação do próprio espírito. Quanto mais grosseiramente vivem, quanto mais se deixam dominar pela sensualidade animal e semianimal, tanto menos podem alçar o pensamento às regiões superiores do mundo ideal e perceber as eternas realidades do espírito. Repara nas formas humanas que transitam pelas ruas, repletas de alimentos carnívoros, cheias de impurezas, com o selo da intemperança e da sensualidade impresso nos rostos — e pergunta a ti próprio se estarão em condições de nelas manifestar-se a sabedoria divina.

Também te dizemos: espírito é substância, é realidade; seus atributos são indestrutibilidade, impenetrabilidade e duração. Matéria é um agregado que produz a ilusão da forma, é divisível, penetrável, corruptível e está sujeita a mudanças contínuas.

O reino espiritual é um mundo indestrutível que existe agora e sempre. Cristo, o Logos, está no centro e seus habitantes são poderes conscientes e inteligentes.

O Mundo Físico é um mundo de ilusões, não pode conter a verdade absoluta. As causas que explicam o mundo externo são relativas e fenomênicas. esse mundo é, por assim dizer, uma pintura sombria, comparado ao mundo interno e real onde brilha a luz do espírito vivente que opera no interior e no exterior da matéria.

A inteligência inferior do ser humano toma as ideias do reino mutável do sensível e por isso, está sujeita à maior versatilidade. No entanto, a inteligência espiritual, ou intuição, um atributo do espírito é imutável e divino.

Quanto mais etéreas, refinadas, sutis, forem as partículas constituintes do organismo humano, mais facilmente serão penetradas pela luz da inteligência e da sabedoria espirituais.

Um sistema racional de educação deverá fundar-se no conhecimento da constituição física, psíquica e espiritual do ser humano. Será possível quando a constituição do ser humano for conhecida completamente e, acima de tudo, a sua essência, o espírito, não o seu espectro, a matéria. Os aspectos da constituição humana podem ser estudados por métodos externos, mas o conhecimento do seu organismo invisível só pode ser obtido pela introspecção, pelo estudo de si mesmo.

O conselho mais importante que temos a dar-te é, portanto,

 CONHECE TEU PRÓPRIO EU.

 As proposições anteriores são suficientes. Deves meditá-las, examiná-las à luz do espírito, até que recebas mais ensinamentos.

F I M


[1] N.T.: São Francisco Xavier podia praticar o que se conhece hoje com o nome de ubiquidade (ou bilocação) – abandonar os Corpos físicos para, em Corpos sutis, visitar lugares distantes e aparecer em forma material em pontos remotos – pois estando na Itália apareceu a Santo Antônio de Pádua, que se encontrava em Coimbra. Materializou-se em Roma para peregrinas franciscanas.

[2] O que segue foi extraído da carta original escrita por Karl von Eckartshausen, em Munich, cerca do ano de 1792.

[3] N.R.: Mónade, termo normalmente vertido por mónada ou mônada, é um conceito-chave na filosofia de Leibniz. No sistema filosófico deste autor, significa substância simples – do grego – que se traduz por “único”, “simples”. Como tal, faz parte dos compostos, sendo ela própria sem partes e, portanto, indissolúvel e indestrutível.

[4] N.R.: Munique (em alemão: München) é uma cidade da Alemanha, capital do estado alemão da Baviera, no sudeste do país.

[5] N.R.: Madrepérola ou nácar é uma substância, dura, irisada, rica em calcário, produzida por alguns moluscos.

[6] N.R.: é um rio na Baviera, Alemanha. É um afluente do Danúbio.

[7] N.R.: em torno de 9 metros.

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

CUFFEE E O PORQUINHO NANICO – Palavra-chave: Generosidade

Cuffee e o Porquinho Nanico

Palavra-chave: Generosidade

Vocês sabem o que é um nanico? Não? Então vou lhes contar. Um nanico é um animal que não cresceu o quanto deveria. Existe, geralmente, em todas as famílias de porquinhos um nanico – um coitado de porquinho que é menor e mais fraco que seus irmãos e irmãs. Quantos de vocês já viram um porquinho desses? São animaizinhos tão esquisitos e gritam tanto! Um nanico não é acariciado e mimado por sua mãe e por isso não tem chance de tornar-se grande e ficar forte. Realmente, ele é sempre empurrado de um lado para outro, como se ninguém o amasse.

Na hora das refeições, quando a grande mamãe porca chama os filhotes para jantar, vocês deveriam ouvir o barulho que eles fazem. Talvez vocês até tapassem os ouvidos para não ouvir, pois quando a mãe guincha cada um corre e grita mais que o outro. “Wee-ee-eh, wee-ee·eh”. Grunhindo e gritando, procuram conseguir o melhor lugar para comer mais que os outros. Realmente, o barulho é bem desagradável. E o coitado do porquinho nanico é empurrado de um lado, derrubado de outro e é até de se admirar que consiga comer alguma coisa. Como vocês veem a mamãe porca nunca se incomoda em ensinar aos filhotes as boas maneiras a mesa, nunca tendo aprendido também. Ela simplesmente deixa que comam como quiserem. Assim, se os porquinhos são gulosos e egoístas, não devemos nos admirar, pois nunca foram ensinados a se comportarem de maneira melhor.

Não seria chocante se nos deixassem crescer desse jeito e se nossas mães e professores nunca nos ensinassem a respeitar os outros? Ora avançaríamos e empurraríamos uns aos outros rudemente. Iríamos querer o melhor de tudo para nós mesmos, ser sempre os primeiros, e não teríamos boas maneiras à mesa. Na verdade, seriamos tão gulosos e egoístas como os porquinhos, não é mesmo? Mas sabemos também que essa não é a melhor maneira de sermos felizes, não é? Assim, devemos nos lembrar do que o belo Anjo Planetário, Saturno, nos diz. Quem se lembra o que Saturno diz? Ele nos diz:

– Parem e Pensem.

Se pararmos e pensarmos poderemos fazer muitas coisas bonitas e úteis.

Bem, voltando ao porquinho nanico, ele vivia na fazenda do pai de Bento e dava pena ver o coitadinho. Ele era pele e osso! Mas ele era muito forte em uma coisa – sua voz. Podia gritar mais alto do que todos os irmãos e irmãs. E que gritos desagradáveis também.

Talvez vocês se lembrem de como, em nossa última história, Mickey, o gato, ficou perturbado ao ser perseguido por Cuffee. Mas, Mickey não foi o único animal a ser perturbado por Cuffee. Todos os cavalos, vacas, porcos e galinhas eram de alguma forma, molestados pelo cãozinho, que tinha a mania de correr no meio deles. Era realmente muito ativo e brincalhão, achando que era seu dever manter ativos todos os outros animais. Quando os cavalos estavam trabalhando, disparava atrás deles, latindo e mordendo suas patas traseiras. Gostava de fazer uma agitação total entre as vacas, costumava segurar o rabo delas fazendo-as disparar pelo pasto afora. Quanto aos porcos, gritavam e grunhiam quando Cuffee lhes mordia as orelhas, enquanto que as galinhas estrilavam e batiam as asas, cacarejando feito louco quando o viam chegar.

Bento começou a ensinar muitas coisas a Cuffee e, entre elas, como manter as galinhas fora do jardim. Cuffee logo aprendeu que não devia machucá-las, mas ficava feliz em lhes pregar um bom susto. Mas, elas logo se esqueciam do susto e voltavam, pois no jardim havia muitas coisas saborosas que elas gostavam de comer.

Os porquinhos logo descobriram um jeito de entrar no jardim também. Cuffee se divertia fazendo-os sair, enquanto a mamãe porca se lançava furiosa contra ele do outro lado da cerca. Imaginem a surpresa de Bento quando, um dia, encontrou o porquinho nanico comendo o jantar de Cuffee enquanto este permanecia satisfeito, a seu lado.

– Venha ver o que Cuffee esta fazendo, ele disse para Helena.

Helena achou aquilo tão estranho, que correu para chamar a mãe a fim de que ela visse também. Todos sabiam o quanto Cuffee gostava de sua comida e estranharam o fato dele deixar o porquinho nanico comê-la. Quando Mickey olhava somente para um de seus ossos, ele rosnava furioso, mostrando-lhe os dentes. E aqui estava ele, todo feliz, dando todo o seu jantar ao porquinho nanico.

Isso mostra o que o amor pode fazer até mesmo para um cachorrinho. Cuffee aprendera a amar o porquinho nanico e por isso se tornou generoso. Todos os dias, a partir de então, o porquinho nanico atravessava a cerca para comer um pouquinho do jantar de Cuffee e, deste modo, logo começou a crescer. Em poucos meses estava grande e forte que suas costelas estavam cobertas por uma bela camada de gordura. Bento estava muito contente com Cuffee e quando vinham visitas, ele as levava sempre para ver Cuffee e seu amigo, o porquinho nanico.

(do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. V – Compilado por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

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