A Única Salvação é o Conhecimento Aplicado
A preocupação dominante nas grandes metrópoles é encontrar meios de humanizá-las. Nos vastos centros urbanos emergem as mais contraditórias paisagens, os mais chocantes contrastes, os mais intrincados e aparentemente insolúveis problemas. Por suposto, seus reflexos fazem-se sentir nas pessoas, traumatizando-as, neurotizando-as, gerando toda sorte de enfermidades.
Deverá ser eternamente assim? Não haverá uma saída? Vejamos. Se a vida nas palpitantes urbes apresenta uma série de inconvenientes, em contrapartida oferece uma gama valiosíssima de experiências, impossíveis de serem encontradas em outros lugares. À experiência traz consigo um conhecimento real, comprovado, não haurido livrescamente. A fonte maior dessas experiências é o relacionamento humano. Através do relacionamento promove-se um importante e rico intercâmbio de valores culturais, morais e espirituais.
Só assim tomamos conhecimento e sentimos mais intimamente os problemas dos outros. O contato com os seres humanos faz-nos recordar sempre a humanidade existente dentro de nós mesmos. Não podemos prescindir disto, a menos que sejamos frios e duros blocos de concreto, como os que compõem a paisagem cinzenta das megalópoles.
No Livro: “O Conceito Rosacruz do Cosmos” Max Heindel assinala que “a única salvação é o conhecimento aplicado”. Se a cidade grande enseja multivariadas experiências — e decorrente conhecimento — por que não aproveitamos as mesmas para humanizá-la, tornando-a um lugar aprazível, mais habitável? Podemos e devemos fazê-lo.
O ser humano isolado é uma impossibilidade. Não podemos fugir à interdependência no relacionamento diário. Este enfatiza a necessidade de amar ao próximo, mormente porque o próximo dos outros somos nós mesmos. À competição desenfreada, o temor de ser passado para trás, a pressa em fazer alguma coisa ou chegar a algum lugar, tão característicos dos grandes centros, produzem angústia devoradora. Afinal, o ser humano é uma vítima da cidade, ou de si mesmo?
O ser humano descarrega sua insatisfação acusando uma cidade de ser desumana, quando, realmente, ele é que a torna assim pela sua vivência egoísta. Nós a envolvemos com nossos sentimentos e pensamentos, e estes, em sentido coletivo, imprimem-lhe características básicas, gerando inclusive seu destino. A cidade em que vivemos, é, de certo modo, uma soma do que somos. A menos que, pensemos e ajamos sempre visando o bem comum, continuaremos a fazer parte da “indesejável” paisagem do lugar em que vivemos.
Uma comunidade urbana é, em essência, algo maravilhoso. É o campo de evolução onde os seres humanos coexistem em torno de necessidades, de ideias e ideais. As experiências que ensejam devem, antes de mais nada, apurar a sensibilidade de seus habitantes em relação às suas belezas e aos anseios do próximo. A experiência deve conduzir o ser humano à maturidade. Mas é mister identificar este termo no seu sentido mais profundo. “Alcançar a maturidade”, como definiu Weissman, “não significa envelhecer. É passar da arrogância, cavadora de abismos, para a humildade unificadora; da indiferença para o amor: da inveja para a gratidão; da insegurança para a tranquilidade. É aumentar em si os impulsos construtivos, livrando-se dos sentimentos destrutivos”.
Assim, a maturidade há de acompanhar a purificação do sentimento, tornando-nos verdadeiramente cristãos na vida comunitária. Amemos nossas cidades, amando e servindo seus habitantes.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de maio/1976)
Sobre o autor