A Quem serve o progresso
Salta aos olhos, até do observador menos atento, o decaimento da qualidade de vida, mormente nos grandes centros urbanos. Caso esse processo não seja detido a tempo, suas consequências tornar-se-ão simplesmente catastróficas.
Atualmente, nossas esperanças se voltam para os ecólogos, cujo esforço no sentido de amenizar esse quadro desalentador, merece o apoio de todo cidadão responsável. Essa luta vai lenta, mas seguramente encontrando receptividade em todos os segmentos sociais e culturais.
Inclusive, algumas filosofias espiritualistas já se manifestam a respeito, procurando exortar as pessoas a procurarem alimentação e vidas naturais como um caminho que conduz a um perfeito equilíbrio.
Somos admiradores do progresso, porém, mantendo sempre uma visão crítica a respeito. Há progresso e “progresso”. É necessário submeter todas as suas manifestações a um crivo inteligente.
A princípio, todo progresso é desejável, isto dentro de sua conceituação mais corriqueira, usual ou convencional. O bom senso, entretanto, obriga-nos a analisá-lo sob múltiplos aspectos, além daqueles de ordem material e imediatista.
Quando falamos ou pensamos em progresso, convém sempre perguntar: “A quem ou a quantos ele serve? “. A todos, indistintamente, ou a uma minoria privilegiada? Se apenas alguns são beneficiados, então, suspeite-se dele. É lógico que nem todos têm acesso aos frutos do progresso ao mesmo tempo, contudo, é mister que pelo menos tenham a esperança de mais tempo menos tempo poderem desfrutá-lo.
A tecnologia atingiu, em nossos dias, um estágio admirável. Isso deve ser motivo de regozijo, porque representa a utilização de uma das notáveis faculdades do ser humano, a inteligência. Além disso, veio trazer mais conforto à humanidade, encurtando distâncias, promovendo um maior intercâmbio entre os povos, etc.
Todavia, diante dos quadros que nos são dados a ver e conhecer diariamente, julgamos ser preciso voltar, agora, nossas esperanças, não para a tecnologia, mas para a regeneração do ser humano. Isso porque o emprego pervertido, egoísta e competitivo da tecnologia, vem se tornando insustentável. Até algumas décadas atrás, a euforia com o avanço científico chegava ao seu auge. Hoje, entretanto, já não se lhe deposita tanta confiança. A fé cega que depositávamos na ciência e na tecnologia para solucionar nossos problemas foi abalada até às raízes após o lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima.
Nas décadas mais recentes, as pessoas mais esclarecidas e conscientes passaram a preocupar-se mais com esses problemas. A extinção gradativa de espécimes que enriquecem a fauna e a flora, através dos processos de desmatamento, da caça impiedosa, da degradação do ambiente natural, causada pela poluição atmosférica e hídrica, não pode passar despercebida pela consciência dos seres humanos bem-intencionados. Há que reagir a esse estado de coisas.
Felizmente têm surgido vozes corajosas e idealistas defendendo a preservação da VIDA em nosso Planeta. São pessoas dotadas de uma visão ampla da unidade da vida.
Para elas, o ser humano em vez de Senhor da Criação é apenas uma parte integrante da natureza. Não procura dominá-la ou explorá-la, mas sim harmonizar-se com ela.
Lembro-me neste instante de uma placa escrita no sítio Recanto das Aves: “Aqui os Animais, as Águas e as Árvores são Reis”.
Esses idealistas, apesar da indiferença e omissão de muitos, ainda assim estão encontrando simpatia e até adesão em toda parte. Os órgãos de comunicação estão colaborando nessa campanha de esclarecimentos.
O mundo necessita de um contingente de pessoas com essa visão e capacidade de agir, suficientemente amadurecidos, para sobreporem-se às divergências religiosas e ideológicas, numa busca imparcial da melhoria da qualidade de vida.
Uma bela imagem desse tipo de ser humano é a do tripulante da nave espacial Terra. Numa nave espacial, a colaboração entre os tripulantes no sentido de preservá-la e de usar racionalmente os recursos alimentícios e energéticos de que dispõem é imprescindível para o êxito de uma missão.
Os seres humanos deveriam imaginar-se como sendo astronautas, obrigados a manter sua nave em perfeitas condições de habitabilidade. Começariam aí a conscientizar-se de sua responsabilidade.
(Revista ‘Serviço Rosacruz’ – 05/82 – Fraternidade Rosacruz – SP)
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