A Paciência e o que ela tem a haver com a Sabedoria

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

A Paciência e o que ela tem a haver com a Sabedoria

A Paciência e o que ela tem a haver com a Sabedoria

Há muitos e muitos anos vivia em uma cidade, cujo nome não me lembro, um jovem que, apesar de sua grande instrução, não estava satisfeito com os conhecimentos que possuía e queria aumentá-los ainda mais.

Um dia, falando com um viajante que chegara de outras terras, este lhe dizia que em uma aldeia muito longe vivia um sábio que era a pessoa mais virtuosa do mundo e que, apesar da fama que possuía, trabalhava humildemente como ferreiro, ofício que também havia sido o do pai e o do avô.

Ahmed, assim se chamava o jovem, quis logo colocar-se sob a proteção daquele homem virtuoso, imitá-lo, escutar-lhe os conselhos. Num belo dia, tomou as sandálias, o alforje, o bordão e se encaminhou para o país, rapidamente, ansioso por adquirir a sabedoria do humilde ferreiro que, segundo o viajante, era o assombro das gentes, que o consideravam como a um ser superior devido às virtudes que possuía.

Depois de andar muitos dias, chegou, enfim, à cidade e perguntou onde ficava a casa do sábio ferreiro. Indicaram-na e lá se foi Ahmed.

Chegando à presença do ancião, beijou-lhe a fímbria do manto, como prova de respeito.

— “Que desejais, filho meu?” — Perguntou, com afabilidade o ferreiro.

— “Aprender, mestre…” respondeu o jovem, inclinando-se novamente. “Disseram-me que sois sábio e quero que me guies”.

O ferreiro, como resposta, fez o rapaz entrar na ferraria, pôs-lhe a corda da forja nas mãos e lhe disse que a pusesse em função.

Ahmed, obediente e sem protestar, pôs mãos à obra. Nela persistiu dias, semanas, meses sem que o mestre ferreiro e seus discípulos — que também desempenhavam rudes tarefas — se queixassem delas e, o que é mais estranho, sem que ninguém lhe dirigisse a palavra, como se o ignorassem inteiramente.

Assim transcorreram cinco anos. Ahmed ia todos os dias à ferraria e, terminadas as horas de trabalho, se recolhia ao albergue, sem ter nenhuma distração.

Uma tarde, por fim, encorajou-se a falar:

— “Mestre! ”

O ferreiro, suspendeu o trabalho e seus discípulos, ansiosos o imitaram.

– “Que queres? ” – Perguntou o sábio.

— “Ciência! ” — Pediu Ahmed.

“Continua puxando a corda da forja” — retrucou o ferreiro, voltando à tarefa.

Assim transcorreram outros cinco anos, durante os quais, da manhã à noite e sem que nada falasse, Ahmed continuou puxando a corda grossa da forja, sem queixar-se, com a maior resignação. Dava exemplo de laboriosidade incansável e de interesse por aquele trabalho monótono que a outro aborreceria.

Um dia, finalmente, o velho ferreiro, que durante todo aquele tempo parecia não notar sua presença, acercou-se dele e tocou-lhe o ombro.

— O jovem sentindo uma agradável emoção, soltou a corda e o Mestre lhe disse:

— “Filho meu, já podes voltar à tua Pátria com a certeza de levar em teu cérebro e em teu coração a ciência do mundo e da vida”.

— “Oh Mestre! ” — Retrucou Ahmed, cheio de assombro. “Será possível que eu possua a ciência da vida? Não posso crer, não posso ser a pessoa de admiração que me inspiram vossas sábias palavras!”

— “Sim, filho meu, não duvides nem te admires” — insistiu o sábio ferreiro – “Conseguiste toda a ciência do mundo e da vida ao adquirir a virtude da paciência”.

E, dando-lhe um beijo na testa, como em um filho, o despediu atenciosamente.

E Ahmed voltou para seu país levando em sua alma uma grande serenidade, uma paz incomparável e viveu feliz, pensando que o velho ferreiro tinha razão, pois a paciência é a suprema sabedoria.

(Publicado na revista Serviço Rosacruz em junho/1967)

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