A Encarnação do Verbo: para isso não dissimule a sua deidade
Deus, o Grande Mestre, nos ensina de muitos modos e com pedagogia inigualável. Um deles é a encarnação do Espírito numa forma, forma como a que estou usando ou as que vocês estão usando, pelas quais nos vemos e nos reconhecemos. As formas fazem parecer que somos “eu” separados. As crianças e os jovens se apaixonam e se apegam à forma. Contudo, o Espírito “adulto” vê além da forma e descobre uma natureza em comum em todas as formas. Em todos os contatos e diálogos há uma referência tácita, como que a uma terceira pessoa, a uma natureza impessoal, que é Deus em todos, irmanando-nos essencialmente.
Essa essência é que dá sentido de unidade a um grupo de pessoas que se empenham na busca da verdade (como fazemos aqui na Fraternidade Rosacruz). Essa essência é que comunica a todos o pensamento e sentimento do orador e de cada presente, permitindo a todos, na proporção em que se lhes afina, assenhorear-se à verdade e internamente crescer. Independentemente da cultura, tal essência confere sabedoria a todos. Infelizmente, a educação tradicional, materializada, busca silenciar e obstruir a expressão nessa sabedoria, considerando como mais importante as experiências sensoriais. Mas, quem aspira à verdade, atrai-a de sua fonte espiritual ou da conjugação de forças espirituais (numa reunião como a nossa), e dela se apropria sem preocupação de a rotular com AUTORIAS. A verdade é eterna e a todos pertence. Uns são melhores canais dessa fonte que a todos deseja abrir-se, mas sem compromisso de pertencer-lhes, porque é universal. Assim, aprendemos pelas circunstâncias, pelas experiências próprias e alheias. Muito se aprende de pessoas simples e intuitivas.
Na sociedade, no trabalho, na família, muitas vezes descemos da nobre condição de seres espirituais para a de seres comuns, quando dissimulamos nossa deidade e nos misturamos aos hábitos comuns que acabam por delongar nossa ascenção. Tal se dá pela falta de convicção: medo de expressar o que essencialmente somos, conveniência de tirarmos proveito econômico, agradando aos demais, o tremendo impacto das opiniões contrárias, etc. Mais sábia é a discrição convicta de quem “vive no mundo e não lhe pertence” e diz as cousas quando, como e a quem seu íntimo o revela, sem trair sua identidade espiritual.
É o Espírito quem percebe e revela-nos a verdade. Ele está presente em todos e em todas as idades. Em minhas relações com meu filho, erijo o Espírito como árbitro entre nós: nos seus olhos jovens assoma o mesmo Espírito como árbitro entre nós: nos seus olhos jovens assoma a mesma essência que ele e eu amamos e reverenciamos, acima de tudo! O entendimento não existe independentemente do Espírito: a característica da inteligência é a de discernir entre o certo e o errado, através do Espírito. Somos muito mais sábios do que supomos.
Se não interferíssemos na ação do pensamento e o deixássemos fluir integramente, então poderíamos aprender muito mais de nosso íntimo, vendo o pensamento e a ação do Espírito sem entraves, em todas as pessoas como em nós mesmos. A comunicação que o Espírito faz da verdade ao coração é o mais sublime acontecimento da natureza, pois a verdade não apenas dá de si, senão que se dá inteira e se converte no próprio indivíduo a quem ilumina. Esse o mecanismo da intuição, o verbo que faz carne, na ação humana, quando o entendimento não o desvirtua ou intercepta.
(Publicado na Revista Serviço Rosacruz de outubro/1971)
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