Senhorita Caranguejo e o Besouro Marinho – Palavra-chave: Discriminação

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

Senhorita Caranguejo e o Besouro Marinho – Palavra-chave: Discriminação

Senhorita Caranguejo e o Besouro Marinho
Palavra-chave: Discriminação

Era uma vez uma caranguejinha chamada Crusti. Morava em uma linda praia, onde havia centenas e centenas de outros caranguejinhos, como também besouros marinhos e outras minúsculas criaturas marinhas. Era um lugar encantador. Podia-se ver o oceano por quilômetros e quilômetros de distância. Em dias claros, se via ao longe grandes navios passando e, bem distante da praia, uma pequena ilha rochosa.

Crusti era só um bebê caranguejo. Ela não era maior do que uma unha de seu polegar. Isso é ser muito pequenininha, não é? Mas, embora fosse tão pequena, chegou o dia em que ela e seus irmãozinhos e primos tiveram que tomar conta de si mesmos e conseguir suas próprias refeições, porque todos os papai e as mamãe caranguejos tinham ido de férias para a ilha rochosa. Lá, a água era fria e funda e, quando o vento do norte soprava, grandes ondas rugiam e se lançavam sobre os rochedos. Era um lugar perigoso demais para os bebês caranguejos e foi essa a razão de terem sido deixados para trás, em suas casinhas na praia.

Vocês já viram uma casinha de caranguejo? É muito diferente das nossas. Os pisos são de areia úmida e fofa e as paredes também são de areia e muito leves. As casinhas não têm janelas nem portas. Quando um caranguejinho quer entrar ou sair, somente precisa fazer um buraco na parede e passar por ele. O teto é a única parte sólida da casa. Consiste em uma pedra lisa e achatada sobre a areia. Talvez alguns de vocês já tenham visto estas casas.

Geralmente ficam ao longo da beirada da água. Se alguma vez um de vocês viesse a pegar uma dessas pedras, que é o teto de uma casa de caranguejo, que comoção teria provocado. Todos os caranguejinhos e os besouros marinhos fugiriam o mais rapidamente possível para se esconderem em uma casa vizinha. Pensem vocês também: não levariam um susto se um gigante enorme aparecesse e lhes tirasse o teto da casa? Vocês não correriam para se esconder?

A pequena Crusti tinha muitos amigos. Era realmente uma caranguejinha muito esperta. Ela podia correr de lado e para trás também. Seu amigo predileto era um grande besouro marinho preto. Era tão preto e brilhante como um botão de sapato e tinha maneiras educadas. Em verdade, pertencia a uma família nobre e muito antiga de besouros marinhos. Gostava muito de Crusti e os dois costumavam comer juntos todos os dias na Poça da Alga Marinha.

Um dia, quando a sineta de conchas do mar tiniu, Crusti não apareceu. O besouro marinho esperou, esperou e ela não veio. Apesar de estar com muita fome não pensava em começar a comer até que sua amiguinha chegasse. Era um cavalheiro muito educado! Quando já estava ficando realmente alarmado, viu-a correr em sua direção.

Imediatamente ofereceu-lhe o braço e conduziu-a para um canto calmo onde o jantar os aguardava. Crusti não conseguiu comer nada e quando lhe foi perguntado o motivo, quase chorou. E teria chorado se não fosse uma caranguejinha valente, que sabia que chorar era tolice. Disse ao besouro que havia decidido lançar-se ao mar e ir para a ilha rochosa.

O pobre besouro ficou muito transtornado. Ficou muito pálido e também não conseguiu comer. Na verdade, sentiu-se tão mal que uma lágrima rolou pelo seu nariz, mas limpou-a rapidamente com uma de suas antenas, pois não queria que Crusti o visse chorar. Sabia que, apesar de ser um bebe caranguejo, Crusti tinha “opinião própria” e gostava de fazer o que queria. Portanto, se ela tinha decidido ir para o mar, ele não poderia impedi-Ia.

Só que não podia suportar a ideia de perder sua companheirinha e, então, lhe pediu que ficasse. Entretanto, ela decidiu que estaria mais segura nas águas profundas.

– Você não imagina que experiência terrível tive esta manhã, disse Crusti, se soubesse não me pediria para ficar.

– Conte-me, pediu o besouro.

– Ouça bem, eu lhe contarei tudinho, disse ela. Esta manhã estava me divertindo, brincando com os peixes-lua em sua poça, quando o chão começou a sacudir e a tremer. Não sabia qual era a causa, talvez um tremor de terra e isto me fez sentir tonta. Nesse instante, duas criaturas enormes, espirrando água para todos os lados, apareceram ali onde eu estava. Que coisas bem estranhas elas eram! As cabeças eram esticadas para cima de um jeito ridículo e tinham só duas pernas para andar. Imagine ter só duas pernas, acrescentou com desdém. Eu morreria mortificada se eu tivesse somente duas pernas, e olhou cheia de admiração para suas próprias e bonitas dez pernas.

O besouro empertigou-se todo com um estalo das mandíbulas, declarando que, se Crusti lhe contasse quem eram essas criaturas, ele iria imediatamente e as beliscaria bem e rudemente. Estava realmente disposto a isso.

Crusti, porém, não sabia quem ou o que eram.

– Você não acha que poderiam ser gigantes? Perguntou ela.

O besouro tocou de leve sua orelha esquerda com uma de suas pernas tortas, uma atitude habitual que o ajudava a pensar.

– Mas isso não foi o pior que aconteceu, continuou Crusti. Quando corria para me esconder nas algas-marinhas, passei sobre um pé enorme que estava no meu caminho e você deveria ter escutado o grito horrível que a criatura deu. Era simplesmente aterrorizante. Então, a outra criatura correu para mim, colocando um de seus pés na água e tentou me agarrar. Oh, fiquei com tanto medo! Perseguiu-me tanto, que fiquei tão cansada que já não aguentava mais correr; finalmente me agarrou e me colocou numa latinha suja. Era tão quente e abafado lá dentro que quase morri. Se o vento não tivesse virado a lata, tenho certeza que não teria condições de escapar. Então, escondi-me sob uma pedra até que as criaturas se fossem. Foi por isso que me atrasei para o jantar e decidi ir para o mar. Mas, diga-me, você tem alguma ideia quem são essas criaturas?

O besouro pensou intensamente por alguns minutos e respondeu um pouco indeciso:

– Estou imaginando que talvez sejam Doroti e Jaque.

– Sim, sim, gritou Crusti, toda excitada. Lembro-me que foi assim que se chamaram.

– Mas, Doroti e Jaque são seres humanos – pessoa, você sabe.

– São? indagou Crusti. Já ouvi falar nas raças humanas. Elas são coisas muito malvadas, não são?

– Não, eu não diria isso, respondeu o besouro.

– Ora, de certo que são, declarou Crusti com indignação. Por que me pegaram então, se não são maus? Minha tia Bengala de Caranguejo bem que me avisou para ter cuidado com eles. Disse-me que, se alguém aparecesse eu deveria me esconder rápido como um relâmpago, para que não me pegassem e cozinhassem para o jantar.

– Não acho que Doroti ou Jaque fossem capazes disso, comentou o besouro. Só as pessoas que não sabem nada melhor para fazer, é que fazem esse tipo de coisa. Tenho certeza de que não tinham intenção de serem cruéis com você. Bem sabe que as pessoas frequentemente fazem coisas sem pensar. Pode ser que tivessem aprendido que você era uma irmãzinha mais jovem deles e estivessem ansiosos por conhecê-la. Talvez não tivessem intenção de ser grosseiros ou fazer-lhe algum mal.

– Bem, disse Crusti, se eles são meus irmãos e irmãs, acho que seria melhor perdoá-los desta vez, e aguardarei mais um pouco antes de ir morar na ilha. Mas, espero que alguém ensine Doroti e Jaque, e também a todos os outros garotinhos e garotinhas, que não está certo perseguir caranguejinhos ou colocá-los em latinhas sujas, mesmo quando só quiserem fazer amizade.

(Do Livro Histórias da Era Aquariana para Crianças – Vol. V – Compilado por um Estudante – Fraternidade Rosacruz)

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