O Problema da Memória e da Recordação

PorFraternidade Rosacruz de Campinas

O Problema da Memória e da Recordação

O Problema da Memória e da Recordação

Com a intensidade do seu entusiasmo, ao estudar pela primeira ver os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental da Rosacruz, os Estudantes experimentam muitos despertares breves nos planos internos da Natureza. Frequentemente regressam ao corpo pela manhã, depois de uma noite de trabalho nos planos internos, com recordações confusas, recordações de ter visto o Mestre ou os Irmãos Leigos, e entre suas experiências mais comuns está a de lhes terem sido mostradas linhas ou páginas impressas, as quais esperava-se que lessem. Algumas vezes isso é lido exatamente como se lê um livro com os olhos no Mundo Físico. Outras vezes o impresso desaparece e o leitor encontra-se vivendo ele mesmo à narração que havia começado a ler nos planos astrais. Tudo é excessivamente claro e vívido no momento em que sucede, mas ao despertar começa a se desvanecer na memória e causa decepção perceber que se pode recordar apenas um esboço muito pobre do que foi visto e, às vezes, nem isso. Outras vezes a experiência não é totalmente lembrada ao despertar, e logo, no curso do dia, ou talvez, dias ou semanas depois, recorda-se subitamente que tal ou qual acontecimento sucedeu no mundo da alma, durante as horas em que o corpo esteve adormecido.

O Estudante acredita firmemente que quando chegue a ser Probacionista, sua memória será mais brilhante e que recordará tudo o que experimente nos planos internos. Agora, é certo que o Probacionista que vive uma vida intensamente devocional, ao mesmo tempo que conserva sua Mente alerta e concentrada, descobrirá certamente que tenha feito algum progresso, mas novamente deparar-se-á com a decepção ao perceber que a memória e a consciência estão bloqueadas. Poderá, então, desiludir-se e chegar à conclusão de que não alcançará a meta nesta vida, e voltar aos caminhos do mundo.

É bom, portanto, que o Estudante saiba que a memória plena da experiência do mundo interno é raramente alcançada, e isso não acontece senão muito tempo depois da primeira Iniciação, e que ainda assim, é necessário algum esforço para alcançar a plenitude da recordação do mundo da alma, no Mundo Físico.

Max Heindel mesmo nos fala a respeito disso em seus primeiros escritos, e como esses nem sempre são acessíveis ao Estudante de hoje, queremos aproveitar a oportunidade e copiar de nossa revista Rays from the Rose Cross, de novembro de 1945, em que esse problema foi tratado:

Pergunta: — Algumas vezes tenho recordações do trabalho que faço no mundo da alma, durante a noite, mas me incomoda o fato de não poder lembrar sempre a experiência completa. Quanto tempo se passará antes de que possa recordar inteiramente as experiências noturnas?

Resposta: — Essa aberração da memória da alma continua até depois da primeira Iniciação e ainda por esse tempo não é imediatamente corrigida. Max Heindel relata que, depois de sua Iniciação na Europa, encontrou certo número de Irmãos Leigos presentes ao Serviço do Templo em seus Corpos-Almas, entre eles um homem a quem designa como Sr. X. Max Heindel escreve: “Falamos a respeito de muitas coisas em comum interesse e o Sr. X disse ao que escreve que vivia em certa cidade da América do Norte e que esperava que nos encontrássemos ali em alguma oportunidade. Isso foi cordialmente acolhido por mim, porque eu acreditava que quando me encontrasse com o Sr. X, no corpo físico, tal cavalheiro explicaria multas coisas que eu, sendo um jovem neófito, não sabia, porque nesta época não estava preparado para recordar todas as experiências do mundo invisível com a consciência física”.

Note-se que essa afirmação foi feita depois que Max Heindel havia já tomado sua primeira Iniciação: ele, contudo, chamava-se a si mesmo um jovem neófito, e disse que, todavia, não estava preparado para recordar todas suas experiências dos planos internos. Essa capacidade é adquirida mediante a prática contínua, e a primeira Iniciação não confere automaticamente a plena memória contínua das experiências obtidas fora do corpo. Podemos esclarecer dizendo que o desenvolvimento da memória total do Espírito é parte do trabalho da Iniciação; mas a Iniciação propriamente dita não acontece subitamente, mas é a culminação de uma série ascendente de experiências com seu desenvolvimento espiritual concomitante.

O Estudante deve entender que a Iniciação é algo mais que ser liberado do corpo pela primeira vez. Esse é unicamente o primeiro passo da primeira Iniciação. Segue muito trabalho ulterior, como o elevar-se a planos mais altos, e ler nos registros da Memória da Natureza concernentes à Época Polar e à Revolução de Saturno, deste Período Terrestre. Essa leitura da Memória da Natureza não é feita simplesmente como um estudo de história: faz surgir na consciência as forças que trabalharam, então, no ser humano e as faz atuantes mais uma vez, com a vontade de vigília do neófito. Deve-se notar também que o simples fato de sair do corpo, ainda que com plena consciência de vigília, não é a Iniciação. A Iniciação consiste em fazer com que o neófito saia do corpo à vontade e com plena consciência. Há algumas pessoas que foram iniciadas em vidas anteriores e se recordam da maneira de fazer isso; mas esses casos são raros.

Recordação do trabalho feito nos planos internos durante a noite é registrada no Átomo-semente e é lembrado inteiramente depois da morte, quando o Espírito é liberto do corpo.

Contudo, Max Heindel adverte muitas vezes que o fato de ser simplesmente um membro da Fraternidade Rosacruz não abrirá nunca, nem nesta, nem em mil vidas, as portas das faculdades superiores, inclusive a falha recordação das experiências noturnas no Mundo do Desejo. Deve-se fazer um trabalho definido. As faculdades intelectuais e imaginativas devem ser treinadas, e a intuição espiritual que é o dom do Espírito do Cristo Interno, o Princípio do Espírito de Vida, deve Ser conduzida a certo grau de maturidade.

Todo o trabalho é feito pelo Espírito Virginal, que é o verdadeiro Ser Humano, o Eu Sou, feito à imagem e semelhança de Deus. Esse Espírito, como sabemos, possui três “potências” ou “princípios” que se ativam nos planos cósmicos correspondentes à sua natureza, e em cada um desses planos revestem-se a si mesmos com o que pode ser chamado “envolturas” da substância do plano, ainda que à palavra envoltura não expresse adequadamente a ideia pretendida. Essas três potências do Espírito Virginal são o Espírito Divino, o Espírito de Vida (Amor) e o Espírito Humano. Desses, tem se dito outras vezes nos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental que: o Espírito Humano trabalha na Mente como Razão; o Espírito de Vida trabalha na Mente sob a forma de Intuição e que o Espírito Divino trabalha na Mente como Epigênese, que é o poder criador da Divindade, o poder mediante o qual o Espírito faz nascer novas iniciativas e progressos para a evolução. A Epigênese é a que torna possível que o Espírito inicie novas linhas de progresso e desenvolvimento. É ela que capacita o ser humano para “reger suas estrelas”.

Assim como o Espírito Humano se manifesta como Razão, e o Espírito de Vida como Amor e Intuição, assim O Espírito Divino se manifesta como Vontade Criadora.

Em todos os casos a Mente é a ponte, e a essência anímica de toda experiência chega ao Espírito por essa ponte. Não há outro caminho, diz Max Heindel. Com um pouco de reflexão, perceberemos como isso é certo. Se a Mente é descartada, o ser humano regride a um estado animal, ou ainda vegetal.

A Mente humana funciona no Mundo do Pensamento, que está dividido nas duas “regiões”: a Região do Pensamento Concreto e a Região do Pensamento Abstrato. A Memória da Natureza pertencente ao Período Terrestre encontra-se na região intermediária do Mundo do Pensamento, onde também têm seu lugar as forças arquetípicas. Essa Região das Forças Arquetípicas, que é o lugar da Memória da Natureza pertencente o Período Terrestre é, consequentemente, a “memória” do Espírito da Terra. As primeiras nove Iniciações dos Mistérios Menores revelam tudo que está oculto nesse registro. A primeira Iniciação Maior, que faz do Iniciado um Adepto, revela, então, o mistério da própria Mente. Esse é um mistério que pertence a “Deus, O Pai” — O aspecto Pai dos Logos Solar, que é o Líder dos Senhores da Mente. Nesse “mistério da Mente” está a solução dos problemas do Bem e do Mal, da “Queda do Homem” e da Ilusão.

(Publicado na revista ‘Serviço Rosacruz’ – jul./ago./88)

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